Eu: Eu quero falar com você.
Charles: Não abro aos domingos.
Eu: Não vim comprar nada. Quero falar com você.
Charles: Não tenho nada para falar com você.
Eu: Me desculpa, eu estava bêbada, e-eu não sabia o que estava falando.
Charles: Agora a culpa é da bebida? ! Sabe aquele carro foi uma das heranças da minha avó. Aí você chega e fala umas merdas insinuando que eu sou interesseiro. Ah! Quem você pensa que é?
Eu: Quem eu penso que sou?
Charles: Se você pensa que eu sou que nem esses garotos populares de colégios, você está muito enganada. E se você gosta desse tipo, sinto muito.
Eu: É o que?! Ah, me poupe. Não sei porque eu estou discutindo com você.
Eu peguei minha bicicleta.
Charles: É melhor ir mesmo.
Eu sair.
No meio da estrada recebi uma ligação, anônimo.
- Oi, é a Luna.
Eu: Oi Luna.
Luna: Você pode vim no cemitério agora?
Eu: Cemitério? Am? Quem morreu?
Luna: Ninguém. Só vem, por favor.
Eu: Tô perto, rapidinho chego aí.
Luna: Tô te esperando.
Desligou o celular.
Minutos depois cheguei no cemitério.
Eu sabia o que ela queria ou talvez achava.
Quando eu era mais nova gostava de ir no cemitério para pensar. É estranho? Muito. Mas realmente, eu saia de lá espiritualmente calma.
Eu: Luuuuunaaaa?
Luna: Tô aquiii.
Eu segui a voz dela.
Vi o túmulo dos meus pais.
Parei e passei a mão em cima da cerâmica fria.
Eu: Sinto falta de vocês.
Passou um vento forte e eu me arrepiei.
Foi como se eles tivessem me respondido.
Luna: Eu tô te vendo. Vem moça.
Eu me virei e a vi.
Eu: Aí esta você.
Ela estava sentada com uma bebida.
Eu me sentei ao lado dela.
Eu: Qual é o problema da vez?
Luna: Como sabe?
Eu: Você não é a única que vem em um cemitério para pensar.
Luna: Achei que você achava isso esquisito.
Eu: E acho, só que eu tenho uma atração pelo esquisito.
Luna: Não sou única, isso é bom.
Eu: E a Bia?
Luna: Viajando.
Eu: Então desabafe.
Luna: Homem.
Eu: Nem me fale.
Luna: Peguei o Kaio, tipo aconteceu tudo.
Eu: E?
Luna: Ele é um idiota.
Eu: Não quero nem saber o que aconteceu.
Luna: Sério?
Eu: Não vai te ajudar em nada, eu acho. Nunca me apaixonei, não sou a melhor pessoa para te dar conselho.
Luna: Não acredito.
Eu: Sério. Não sou de falar muito isso, mas todo cara que eu começava a ficar ou começava a ter algo sério, acontecia algo ruim.
Luna: Como assim?
Eu: Não era do tipo morte, mas coisas estranhas. Ah, não que eu tive muitos, na verdade foram 3. Me lembro que um foi internado em um hospício.
Luna: Porque?
Eu: Dizem que ele estava vendo coisas sobrenaturais, mas não se sabe o certo.
Me lembro de uma vez ele ter dito que via algo obscuro em mim, isso me assustou muito.
Luna: E se ele tivesse visto?
Eu: Eu gostava dele mas isso para mim é demais.
Luna: Kat, você nunca percebeu algo de diferente em você?
Eu: Lu, eu sou estranha. Mas você diz diferente como?
Ela riu.
Luna: Deixa.
Eu: Então tá.
Luna: Sim, agora me diz, qual é o teu problema?
Eu: Na verdade é, quais.
Luna: Talvez eu te ajude.
Eu: Resumindo?! Bebi muito ontem, cheguei atrasada e minha avó percebeu. Essa manhã ficou um clima meio tenso.
Luna: Não é um problema muito grande.
Eu: Ah! E para piorar ontem eu falei muita merda para um garoto que me levou até em casa.
Luna: Um garoto?
Eu: É. Aí né, fui pedir desculpas para ele e ele me tratou super mal.
Luna: Desculpas?
Eu: É.
Luna: Desculpas a um garoto que provavelmente você mal conhece pois só tem uma semana que você está aqui.
Eu: É.
Luna: Sério?
Eu: Porque esse questionamento todo?
Luna: Parece coisa de quem tá afim.
Eu: Não. Eu só achei ele legal, dava pra sermos amigos. Mas ele não colabora.
Luna: Sei.
Eu: Me passa essa bebida aí.
Ela me deu, eu dei uns 3 goles.
Luna: Vai com calma. Não quer que aconteça o mesmo que ontem né.
Eu: Ah, nem me importo mais.
Eu apontei a um túmulo.
Eu: Sabe aquele túmulo ali?! É o dos meus pais.
Luna: Meus pêsames.
Eu: Obrigada.
Luna: Que nada.
Eu: Sabe?! Eles morreram a um mês e ainda mentem para mim sobre o verdadeiro motivo da morte deles. Isso é injusto.
Luna: Muito.
Eu: E pior. Parece que ninguém se importa. Fiquei um mês morando em um orfanato, antes de vim para cá porque meus "familiares" não poderiam ou não queriam ficar comigo, sei lá.
Luna: Mas olha pelo lado bom, você tá aqui, você conheceu eu e a Bia. Isso é bom!
Eu: Eu não sou uma pessoa popular e isso vale pela escola, você viu. Sinceramente, eu nunca fui. Mudava muito de escola porque me consideravam esquisita e a última, eu tinha conseguido ter um apreço. E quando finalmente um apreço, eu tenho que mudar.
Luna: Que droga!
Eu dei um gole na bebida.
Eu: Não, não, tá tudo bem. Mas isso é o de menos. O pior é que realmente acontecia coisas estranhas e eu sei disso.
Luna: Não posso te dizer sobre isso, mas eu posso te ajudar.
Eu: É insuportável. Você tem que dizer.
Luna: Não, não posso. Só saiba que você não está sozinha.
Eu: Eu nunca falei isso com alguém, a não ser minha mãe. Ela dizia que ia chegar o tempo certo. Eu ainda acho que é puberdade ou algo do tipo. Se for isso mesmo, quero já pular essa fase.
Luna riu.
Luna: Calma. Mas sobre sua suposta estranheza, eu posso te ajudar. Amanhã a gente resolve, está na minha hora.
Eu: Desabafei demais né? Me desculpa. Era pra mim ter vindo aqui te ouvir e aí os papéis são invertidos.
Luna: Mas eu desabafei, só não foi no nível do seu.
Eu ri.
Luna: Mas vai ficar tudo bem com a gente, eu acho.
Eu: Palavras confortantes, mas enganadoras.
Luna: Achei que ia dar certo com você.
Eu: Talvez sirva para você.
Luna: Não me engano mais.
Ela se levantou e estendeu a mão.
Eu peguei-a e me apoiei para levantar.
Luna foi para um lado e eu fui para outro.
Quando eu cheguei em casa, fui para meu quarto e fiquei trancada, passei a noite toda dentro dele sem conversar com alguém.
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