História Bulletproof - Workout day.

Mary Louise.

Acordo cedo, o relógio no quarto indicava que eram oito e meia. Eu geralmente dormia bastante, pois era a única coisa que tinha para fazer. Decido ir tomar um banho rápido. Após isso, faço minha higiene matinal e me visto. Coloco uma calça jeans e uma blusa azul marinho. Faço uma trança lateral no meu cabelo, calçando uma sandália e antes de sair do quarto arrumo minha cama. Adorava quando as coisas estavam arrumadas.

Desço as escadas escutando um barulho não tão alto, mas quanto mais me aproximo da sala, mais ele aumenta. Estavam todos sentados no sofá e me sinto envergonhada. Não sei se devia ir para lá ou simplesmente ir a cozinha tomar um copo d'água, mas Maxon interrompe minha indecisão.

– Louise! Vem pra cá. – grita ele, sempre sorridente. Aproximo-me e sento-me ao seu lado no sofá. Todos eles conversavam 

– Bom dia. – digo. Todos sorriem para mim, com exceção, claro, de Justin.

– Mary Louise, após o café da manhã irá iniciar seu treinamento. Vou pedir para levarem as roupas de treinamento para seu quarto, hoje para início será comigo e com Maxon, iremos te ensinar sobre defesa. – sinto-me um pouco entediada com Justin. Não consigo imaginar o porquê de um treinamento já que se alguém vier me fazer mal posso matar com apenas um toque, mas dou de ombros e aceno com a cabeça.

– Lembro do meu tratamento de iniciante. – diz Kim, ela havia contado que havia sido a última a chegar aqui. – Com Maxon e com Isaac é uma maravilha, mas quando chega em Justin, é péssimo. – todos gargalham e percebo que Justin revira os olhos.

– É verdade. Nunca sofri tanto na mão de alguém quanto na de Justin. Jurava que quando eu errei um tiro ele iria me ensinar atirando em mim. – conta Violet. Gargalho.

– Vocês eram péssimas, garotas. Mas me agradeçam por isso, agora vocês são fortes. E por minha causa. – ele falava como se fosse o centro do universo. Quase reviro os olhos.

– E por minha causa também! Afinal, sou o melhor treinador. Você vai se divertir hoje, Louise. Vamos dar um jeito de fazer Justin sair, realmente treinar com ele é péssimo. – fala Maxon, sorrio para ele.

– O café da manhã está servido. – diz uma das mulheres que ali trabalhavam. Se não me engano, a galega era Mariah. Todos se levantam e faço o mesmo, andando ao lado de Maxon até chegar à sala de jantar. Sento-me ao lado dele que nem em todas as refeições que já fiz nessa casa.

A mesa estava repleta de comida. Opto por panquecas e waffles e para beber, suco de laranja. A comida nessa casa era sempre boa. Quando acabo, peço licença e vou até o quarto para colocar a roupa de treinamento e escovar os meus dentes. Era uma calça preta com uma blusa sem mangas, também preta. Após escovar meus dentes e trocar de roupa, calço o tênis que ali também havia sido deixado e desço as escadas. Justin e Maxon me esperavam na sala e conversavam entre si, mas param ao me notar ali. Ao contrário de mim, eles vestiam roupas normais. Calças de moletom e camisas. Lembro-me que eu sou a iniciante.

– Onde vamos treinar? – questiono.

– Existe um centro de treinamento nosso, há pouco tempo daqui. Vamos, você quer ir comigo ou com ele? – mordo meus lábios. Mal conhecia Maxon e muito menos Justin, mas ele não era a melhor companhia que eu poderia ter.

– Vou com ele. – digo indo para perto de Maxon, que gargalha.

– Claro que iria, todas as garotas me preferem Bieber, apenas aceite. – diz e vejo Justin sorrir. Eles pareciam bem próximos. – Vamos, Louise. – diz colocando a mão em meus ombros. Vamos até onde devia ser a garagem e fico um pouco surpresa, existiam muitos carros, e pelo que já vi em algumas revistas, muitos luxuosos. Justin entra em um preto muito bonito e Maxon me guia para um vermelho, tão bonito quanto o de Justin.

– São muitos carros. – digo entrando no carro.

– Ainda existem mais, Justin ama, quer fazer uma coleção. E também somos muitas pessoas, sabe? Todo mundo precisa de um, e sempre revezamos. Quando você fizer dezesseis provavelmente vamos te ensinar a dirigir. – aceno com a cabeça para ele que dirigia calmamente. Noto que Maxon falava demais enquanto Justin mal se pronunciava, pelo menos não comigo. Eram bastante diferentes. Mas eu também não era a pessoa que mais gostava de falar, então apenas encosto a cabeça na janela e escuto a música que tocava no carro. Era um rap, gostava de música, mas não reconheci o cantor. Maxon batia as mãos no volante e parecia tão jovem, mas sabia que ele era mais velho do que eu podia imaginar.

– Chegamos. – diz. Olha e vê o carro de Justin entrando em uma garagem. Maxon faz o mesmo e quando estaciona o carro, pulo dele. Justin abre uma porta e olha para mim, mordo os lábios antes de entrar por ela. Não tinha nada além de uma escuridão e uma escada.

– Suba. – a voz rouca de Justin soa mais perto do que notei que ele estava. Faço o que ele diz, subindo os degraus nas pontas dos pés, uma mania que tinha. Paro na frente da primeira porta que vejo, mesmo possuindo outros degraus para subir. Eu era sedentária, então estava querendo muito que tivéssemos que ficar ali. – Está esperando o que para entrar? – questiona Justin. Engulo em seco sua ignorância e abro a porta. Era uma sala não tão grande. Possuía apenas um tatame que cobria todo o piso, dois sacos de luta e um armário pequeno no canto da sala. – Como disse mais cedo, hoje vamos apenas treinar sua defesa pessoal. Acho que você não deve saber o básico, ou sabe? – nego com a cabeça. – Tudo bem. Maxon vem aqui. – chama o amigo. Ele vai até Justin, ficando ao seu lado. De repete, as mãos de Justin vão com velocidade para o rosto de Maxon, qual pega seu braço e o torce. Justin não parece sentir nenhuma dor, invés disso, da um pequeno sorriso. Ele só sorria quando estava com Maxon. Será que assim como Kim e Ginna eles também eram um casal?  – Existem várias maneiras de se defender de um soco, Mary Louise. Venha aqui. – diz. Chego até ele em poucos passos. – Me de um soco. – diz. Devo parecer confusa, pois ele me mostra como o fazer. Deixo minha mão exatamente como a sua e me preparo para dar um soco em seu peito. Não deveria ser difícil, então o faço e Justin não saí nem do lugar, ao contrário de mim. – Não, Mary Louise, sua intenção não é me empurrar e sim me machucar. Vamos de novo. – novamente tento dar um soco nele e falho. Porque diabos era tão difícil? Percebo que Justin está perdendo a paciência comigo quando passa a mão pelo cabelo. Maxon vem até nós.

– É simples, Louise. – diz Maxon se posicionado atrás de mim. Fecho meu punho e ele segura meus braços. – Não se mova certo? Você só tem que depositar sua força em seus punhos e socá-lo. Sei que você é iniciante então pode estar sendo difícil, mas não é. Pronta? – aceno com a cabeça para ele. Justin levanta as sobrancelhas para mim, então soco o seu peito. Ele não parece sentir dor, mas também não me olha com o mesmo olhar repreendedor de antes.

– Um bom soco. Iremos trabalhar para que fique ótimo. – diz.

– Boa, garota. – fala Maxon. – Vem cá. – me chama. – Vou te ensinar a se defender de um soco. Você viu como eu e Justin fizemos, certo? – aceno com a cabeça. Ele repete meu movimento e vira de frente para mim. Vejo seu punho vindo em minha direção e por reflexo, desvio. Ele nega com a cabeça. – Sem desviar. – mordo os lábios. Novamente seu punho vem, e empurro seu braço. – Podemos melhorar isso. – diz.

– Realmente não vejo necessidade. Vocês são os únicos que não posso matar com um toque, por acaso vocês pretendem me matar? – Justin olha para mim. Realmente sinto medo dele.

– Não pretendemos te matar, Mary Louise. Porém não somos os únicos imortais no mundo, não somos apenas um grupo de dez pessoas. Existem mais de milhares de nós em vários países e você não pode se garantir com apenas um toque. O mesmo feitiço que jogaram em você pode ter certeza que algum feiticeiro bastante poderoso pode removê-lo, não sabemos quem e onde está provavelmente não pretende tirar isso de você, mas deve ter alguma chance. Então enquanto você viver conosco, irá participar de todos os treinamentos e parar apenas quando te liberarmos. Irei beber água e quando voltar quero você pronta. – diz e saí da sala. Sinto uma extrema raiva dele. Como o ser humano consegue ser tão insensível quanto ele?

– Não liga. – diz Maxon. – Justin é péssimo quando quer ser, sei disso. Amanhã seus treinamentos vão ser só comigo, e você só vai ter que treinar com Justin na última etapa, a das armas. É só colaborar que vai passar rápido.  – diz sorrindo para mim. Tão diferente de Justin que me pergunto como eles convivem tão bem. Aceno com a cabeça para ele e logo Justin chega.

Depois de cinco horas de socos e chutes - e tudo que eu aprendi em exatas cinco horas de treinamento, sinto-me exausta. Queria comer e tomar banho. Sei que mais tarde todos os meus ossos irão doer.

– Por hoje é só. Tenho algumas coisas para resolver então Maxon irá te levar para casa. – balanço a cabeça, quase gritando um “Graças a Deus”. Ele sai tão rápido quanto uma sombra e sei que ia me acostumar com isso um dia.

– Cansada? – pergunta Maxon.

– Demais. Quero tomar um banho, comer e dormir. – ele sorri. Sigo seus passos quando ele saí da sala e o acompanho pela escada.

– Sinto te dizer que hoje também começam as etapas da teoria. Quem cuida dessa parte é Tyler e Kim, mas, hoje vai ser com Tyler. Ele está ansioso. O treinamento físico é apenas comigo, Justin e Isaac. – suspiro decepcionada. Tyler era até legal, mas não fazia idéia que ia ter aula teórica. O que eles iriam me mostrar? Como dar um chute? Posição da perna? Céus.

– O que tem na aula teórica? – pergunto entrando no carro. Ele novamente liga o som e toca alguma música pop.

– Geralmente são sobre seres do submundo, caçadores de sombras e demônios. É falado bem pouco sobre os imortais, não sei por que, de todo jeito sabemos tudo sobre, somos um, então nunca nos interessou, mas você pode perguntar se quiser saber. Também irá aprender línguas. – diz concentrado na direção. A rua movimentada de Londres era a mesma de sempre que eu me lembrava. Questiono-me como eles moravam em uma casa numa região tão vazia aqui.

– Você trabalha? – pergunto. Justin era arquiteto, sei disso, mas imagino que os outros também deviam ter um trabalho.

– Trabalho com Justin, sou engenheiro civil. Eu, ele e Isaac, que é engenheiro elétrico, trabalhamos todos juntos. – era legal saber que eles tinham uma profissão, isso explicava todo o luxo que eles tinham. – Você quer trabalhar com alguma coisa? – pergunta.

– Não sei, quando era bem pequena queria ser médica, mas é tão irônico que invés de salvar vidas, eu as tiro. Então não sei, nunca pensei sobre isso. – ele morde os lábios quando olha para mim, penso ter pena em seu olhar. Não queria que sua pena, apesar de odiar meu toque, eu era extremamente poderosa. Não precisava que ninguém sentisse pena de mim.

– Aposto que sempre vão ter outras coisas para você fazer, Louise. Você gosta de desenhar? Escrever? – aceno com a cabeça. Amava desenhar, ler e escrever. – Viu? Você pode ser artista, escritora. Pode até trabalhar como arquiteta com Justin. É um mundo de muitas possibilidades. – ele era tão animado com tudo que me fez dar um sorriso fraco. – Sempre vai ter alguém disposto a te ensinar alguma coisa, te ajudar a ser o que você quiser. – diz estacionando o carro. Mal percebo que já havíamos chegado a casa. – Não se esqueça disso. – diz e saí do carro. Faço o mesmo e não o espero para entrar na casa.

– Oi, como foi? – pergunta Ginna quando passo pela sala.

– Péssimo. Estou muito cansada. – digo, ela sorri para mim.

– Se acostume. – diz Tyler. – Vamos ter aula teórica hoje.  De quatro horas vou estar na biblioteca, pois você terá aula teórica comigo. – aceno com a cabeça para ele, e sigo meu caminho pelas escadas. Quando chego ao meu quarto, me jogo na cama. Alguém veio arrumá-lo, pois estava em perfeito estado e eu apenas havia arrumado a cama.

Vou para o banheiro e tomo um banho longo. Lavo meu cabelo e só saio quando me sinto limpa e não grudenta como estava antes. Visto minhas roupas íntimas e pego o secador de cabelo na minha mala. Seco meus cabelos em trinta minutos e me visto para procurar algo para comer. Uso um vestido soltinho, calço uma sandália, coloco perfume e saio do quarto. Desço as escadas e vou em direção a cozinha.

– Quer alguma coisa para comer, Senhorita Louise? – questiona Mariah.

– Ficaria agradecida, Mariah. E só Louise. – digo, sentando-me a mesa que havia ali na cozinha. Mexo no celular que Justin havia me dado. Eu não mexia muito nele, apenas conversava com Camille e Daniel, e Justin havia baixado um aplicativo qual eu podia assistir filmes e séries, então era basicamente o que eu fazia nele. Tinha o número de todos da casa, mas nunca havia falado com nenhum pelo celular porque morávamos juntos.

Mariah traz um prato com dois sanduíches mistos e um copo com refrigerante e agradeço a ela. Devoro um rapidamente e parto para o outro. Maxon entra na cozinha e sorri para mim, pegando uma lata de refrigerante na geladeira e saindo de lá. Acabo de comer e vou até a pia com os pratos.

– Eu lavo. – diz Mariah.

– Não precisa. Eu mesma faço. – sempre lavava pratos, pois era uma das únicas coisas que eu tinha para fazer, então lavo meu prato e copo rapidamente. Vejo as horas no celular e faltavam quinze para as quatro. Dou um suspiro decepcionada e subo as escadas apenas para escovar meus dentes e vou para a biblioteca. Tyler não estava lá, mas chega pontualmente às quatro.

– Oi. – diz sorrindo para mim e senta-se ao meu lado. Ele era bonito. Com a pele bronzeada e os cabelos em um topete, os dentes brancos e exatamente onde tinham que estar. Era forte e parecia um lobisomem, percebo. Mas era muito bonito. Noto que ele colocou dois livros em cima da mesa. – Vamos falar sobre seres do submundo, essas coisas. Às vezes acho que me colocaram para isso porque não gosto de participar do treinamento físico, não tenho paciência. Mas tudo bem, é até legal. – da de ombros.

Pego um dos livros que tem escrito na capa “Filhos de Lilith”. Um tanto irônico querer ensinar sobre feiticeiros para uma.

– Seres do Submundo são criaturas híbridas. É o termo mais utilizado para se referir aos seres que são parte humana e parte demônios. Entre eles existem os filhos da Lua, filhos da Noite, filhos de Lilith e o Povo das Fadas. Como você deve saber, respectivamente, vampiros, lobisomens e feiticeiros, assim com você. E fadas, não preciso falar. – diz e abre o livro qual tinha escrito na capa “Filhos de Lilith”. – Acho interessante falar com você sobre isso, pois você é filha de Lilith, feiticeira ao mesmo tempo é uma Ifrites. Nunca havia conhecido um. – parece empolgado sobre tudo isso. Sinto-me confusa.

– O que diabos é uma Ifrite? – questiono.

– Oh, feiticeiros que não podem praticar magia. – diz. Aceno com a cabeça. Antigamente, antes de o meu toque ser fatal, eu podia praticar magia. Mas como eu era pequena, o máximo que sabia era como causar uma dor de cabeça forte e incendiar. O básico. – Lilith, sua mãe, é um demônio maior e o primeiro dos demônios. Feiticeiros possuem o sangue de Lilith, sendo assim, são metade humana e metade demônios. – nada que não soubesse.

– Não sou filha de Lilith. Quer dizer, sou, mas não sou. Fui amaldiçoada por aqueles que eram para serem supostamente meus irmãos, por ordens de Lilith. Não tive culpa de nada e fui amaldiçoada por aquela que se diz minha mãe e ainda assim fez isso comigo. Não posso realizar magia então me recuso a ser chamada de filha de Lilith. – digo. Ela me olha um pouco nervoso e novamente vejo pena em um olhar. Céus…

– Tudo bem, nada de Lilith. Você já deve saber demais sobre feiticeiros. – aceno com a cabeça. – Certo, os filhos da noite. É um povo sábio e cuidadoso. Conheço alguns e nunca queira se meter com eles. Já fomos várias vezes confundidos com eles, mas somos completamente diferentes. O que temos em comum é apenas a imortalidade, assim como temos isso em comum com… – se corta automaticamente. – Com apenas eles. – diz sorrindo para mim. Dou de ombros. – São aqueles qual necessitam de sangue e não podem sair à luz do sol. – ele falava coisas bastante óbvias, mas sempre concordo com ele.

Passamos bastante tempo conversando sobre seres do submundo e logo após ele se vê sem ter o que falar, começamos a conversar sobre outras coisas.

– Então você não vai participar do meu treinamento físico? – nega com a cabeça.

– Tentei treinar Dylan quando ele chegou aqui e saímos aos socos. Não treino ninguém desde então, sou um pouco impaciente. De todo jeito, apenas Maxon, Justin e Isaac participam do treinamento físico. – diz algo que eu já sabia, passando as mãos pelos cabelos pretos.

– Qual a melhor parte do treinamento? – questiono curiosa.

– Com certeza a das armas. Pode ser a pior pois é com Justin, mas ainda assim é incrível. Ele te ensina o que são as armas, como usar todos os tipos, existe armas de anjos até armas dos demônios, e ele sabe tudo sobre elas. Justin é cruel, mas é muito inteligente e sem dúvidas a pessoa mais forte que já vi. Se souber lidar, você vai aprender muito com ele.

Ficamos mais algum tempo conversando até que me sinto exausta demais e peço licença para sair de lá. Vou até meu novo quarto e apago na cama.