Rap Monster ouviu uma batida qualquer quando seu celular tocou. Era o despertador. Ele o desligou, e chamou os outros, embora se erguesse sonolento.
— Vamos, crianças.
Rap Monster coçou os olhos. Os outros demoraram a se mexer. O líder foi acordando-os. Como de costume, a maior dificuldade foi acordar J-Hope.
— Onde estão Jin e Jimin? — perguntou Suga.
— Devem estar na cozinha — respondeu Rap Monster.
Pouco mais tarde, os cinco saíram do quarto. Foram para a sala com cozinha americana, onde encontraram Jimin tentando fazer alguma coisa.
— O que é isso? — perguntou V.
— Não é óbvio? Estou fazendo o café da manhã.
— Cadê o Jin Hyung? — perguntou Jungkook.
— Ah, ele saiu. Não sei pra onde, ele disse que ia dar uma volta.
— Que estranho… — disse Rap Monster. Seu celular tocou logo em seguida.— É o PD-nim. — informou, logo antes de atender. — Bom dia, chefe.
— Bom dia, Namjoon… O que aconteceu com o Jin?
— Com o Jin Hyung? Bom, até onde eu sei, ele foi dar uma volta…
— Você não sabe de nada?
— Como assim? Do que está falando?
— Ligue a televisão, rápido.
— Alguém liga a TV — pediu Rap Monster. Assim fez V.
A televisão mostrou o píer. Uma repórter estava do lado de fora de uma área isolada onde havia um carro sendo inspecionado. Era possível ver parte de um guindaste.
— ...foi retirado da água há alguns minutos e está passando por uma minuciosa perícia para tentar descobrir se foi um acidente ou uma tentativa de suicídio. A família da vítima acabou de chegar e confirmou que se trata de Kim Seokjin, de apenas 23 anos.
O nome do hyung mais velho fez os seis membros ficarem extremamente chocados. Alguns cobriram a boca com a mão. Rap Monster rangeu os dentes. Todos olharam para ele, esperando que o líder dissesse que era mentira. Mas ele não conseguiu dizer nada. Só conseguiu ficar olhando para a televisão e mantendo o celular na orelha.
— Temos que ir até lá — concluiu Suga. — Namjoon?
— PD-nim… Nós vamos ao píer.
— Me mande notícias quando puder.
— Pode deixar — Rap Monster desligou o telefone. — Pra caminhonete, agora.
Os meninos não pensaram duas vezes. Desligaram a TV e o fogão, pegaram casacos nos quartos e saíram. Rap Monster conduziu a caminhonete a toda velocidade, até chegar ao píer. Foi difícil encontrar uma vaga. Havia várias pessoas curiosas no píer, e eles tiveram que enfrentar um empurra-empurra para chegar ao limite da fita. Esperavam constatar que se tratava de um engano, mas a placa do carro denunciou: era mesmo o carro dos pais de Jin. Eles ficavam olhando uns para os outros, e de novo para o carro, tentando entender, tentando acreditar.
Rap Monster pediu informação a uma pessoa que observava atentamente.
— Onde está o garoto que se acidentou?
— Ah, já levaram. — Ao ouvir aquilo de forma tão ignorante, Rap Monster rangeu os dentes novamente, da forma que fazia quando tinha raiva.
— Pra onde?
— Não sei, moço.
Rap Monster saiu de perto e tentou procurar informações mais sólidas. Enquanto isso, Suga estava de olho em alguns papéis que o vento levava de um lado para o outro. Notara aquilo desde o começo, e estava torcendo para que o vento desse a ele uma chance. Finalmente, um pedaço embolado se arrastou para perto do limite da fita. Suga rapidamente abaixou, esticou a mão por baixo da fita e pegou, reparando que não era um tipo qualquer de papel. Era papel fotográfico. Depois de se certificar de que não estava sendo observado, Suga desamassou lentamente. Não esboçou nenhuma reação à imagem de Jungkook e Yumi, mas aquilo era o que ele mais temia. Não olhou por muito tempo. Dobrou de qualquer jeito e guardou no bolso interno do casaco.
— Não vão deixar a gente entrar — disse Rap Monster, se aproximando dos outros depois de bater boca com alguém da perícia. — Mas não temos o que fazer aqui. Jin foi levado, mas não disseram pra onde.
— E o que vamos fazer? — perguntou Jungkook, aflito.
— Vamos à casa dos pais dele.
— Eles não devem estar lá — opinou V.
— É o que nos resta agora.
Assim, eles voltaram à caminhonete e foram para a casa dos pais de Jin. Ao chegar lá, todos saíram do carro. Rap Monster chamou várias vezes, mas ninguém atendeu. Depois de algumas tentativas, notaram um carro chegar e estacionar bem em frente à caminhonete. Um homem sério saiu de dentro dele.
— Pois não?
Rap Monster sabia que aquele não era o pai de Jin, mas se apressou em informá-lo.
— Estamos procurando os pais de Seokjin.
O homem olhou Rap Monster dos pés à cabeça.
— Não vão encontrá-los aqui por um bom tempo. Eles acabaram de partir para Gwacheon, para cuidar dos ritos fúnebres.
— Ritos fúnebres? — a voz de Jimin parecia querer sumir. Mais uma vez, eles se entreolharam, sem acreditar, exceto Rap Monster, que mantinha seus olhos fixos no estranho.
— Sim, serão feitos na cidade natal dele — respondeu o homem. — Ah… Vocês não sabiam?
Rap Monster olhou para os cinco atrás dele, antes de responder com a voz afetada.
— Não. Só sabíamos do acidente.
— Queríamos que ele tivesse sido mais forte… mas infelizmente não aconteceu. Desculpem, não me apresentei. Sou Kim Chung-Ho, tio de Jin. Vim pegar algumas coisas que os pais dele pediram, e logo mais irei para Gwacheon.
— Nós somos… — Rap Monster tentou dizer, mas foi interrompido.
— Eu sei quem são. Sei que eram amigos dele, e que ele estava morando com vocês nos últimos tempos, mas gostaria de pedir que respeitassem este momento familiar. Nossa família está sofrendo muito.
— Claro… — disse Rap Monster, com a voz baixa. — Nós… Já estamos de saída. Vamos, crianças.
Rap Monster foi para a caminhonete, sendo seguido pelos outros. V e Suga entraram na cabine. Jungkook e J-Hope subiram na parte traseira. Jimin permaneceu na calçada, olhando para o tio de Jin como se esperasse que ele dissesse que era mentira. Mas ele não disse nada.
— Jiminie — chamou J-Hope, em tom de alerta. — Temos que ir!
Jimin virou o rosto para J-Hope, devagar. Finalmente, subiu na caçamba como se estivesse no piloto automático.
Rap Monster ligou o carro e partiu para a casa deles.
A caminhonete parou na garagem e foi desligada. Ninguém se moveu.
Suga foi o primeiro a abrir a porta. Ele foi para a caçamba, onde Jungkook estava sentado. Sua expressão revelava a vontade de chorar.
— Vamos, Kookie — disse Suga, com firmeza. Jungkook ficou de pé e pulou, parando em frente a ele. Ele sussurrou.
— Hyung… Ele fez isso porque…
— Não. Não, Jungkook. Não faz isso com você. — Jungkook virou o rosto para o lado e chorou. — Olha pra mim. Olha pra mim, Jeon Jungkook. — Suga segurou o rosto do maknae com as duas mãos, puxando-o delicadamente para a frente. — Você não fez isso. Você não fez.
Suga abraçou o maknae com força. Ele proibiu a si mesmo: não derramaria nenhuma lágrima… e não diria a Jungkook o que ele sabia.
Rap Monster e V tinham saído da cabine e estavam abrindo a porta da casa. Na caçamba, J-Hope olhou para Jimin, que tinha uma expressão tão indecifrável que parecia não estar ali.
— Chim Chim… Eu sei que é difícil, mas…
Do nada, Jimin se levantou muito rápido e pulou da caçamba. Correu para dentro da casa com tamanho desespero que deixou os amigos preocupados. O caminho pelo curto corredor não durou muito tempo. Ele chegou ao quarto dos mais velhos e vasculhou as coisas de Jin com avidez. Finalmente encontrou a handycam. Ele a abriu e apertou os botões, passando pela galeria furiosamente, enquanto J-Hope e V chegavam com pressa. Eles se ajoelharam, cada um a um lado de Jimin, tentando ver o que ele procurava com tanto desespero. Finalmente, ele achou.
Deu play no vídeo como se dependesse daquilo para respirar. A imagem mostrou o Jin sorrindo. Na mesma hora, Jimin começou a chorar muito, como se estivesse precisando daquilo para finalmente acreditar, finalmente entender que nunca mais veria Kim Seokjin. Talvez por isso ele tivesse se recusado a chorar antes.
Suga, Jungkook e Rap Monster entraram no quarto, sem pressa. Depois de notar o que estavam fazendo, Suga pegou um cabo nas coisas de Jin, e entregou a Jimin.
Não foi preciso dizer nada. Jimin pegou o cabo, se levantou e foi para a sala, sendo seguido de perto por todos. Ele conectou a handycam à televisão, e eles passaram o resto da manhã assistindo vídeos, como se aquilo pudesse trazer Jin de volta.
Mas não podia.
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