História Quando comecei a te ver com outros olhos? - Uma proposta desafiadora.

~Blake P.O.V~

Um som irritante de despertador soou pelo quarto nos arrancando de nossos sonhos e nosso sono, pelo visto amanheceu, temos que levantar para cumprir nossas obrigações como estudantes.

Abri lentamente meus olhos e notei que não estava em minha cama, eu estava deitada no chão sobre o tapete que há em nosso quarto, tal tapete que cabem duas pessoas deitadas. Virei meu rosto para o lado enquanto me acostumava com a iluminação do quarto, repentinamente e inesperadamente dei de cara com uma loira adormecida. Meus olhos se arregalaram de surpresa, pois nossos rostos estavam perigosamente próximos, eu até ouvia a respiração serena da garota e sentia um leve calor que emanava de seu corpo. Afastei rapidamente meu rosto do dela e fui com meu corpo para trás a fim de não ficar tão perto assim. Eu não sabia porquê, mas me sentia confortável e desconfortável ao lado dela ao mesmo tempo.

Subitamente lembrei-me da noite anterior enquanto olhava para ela, lembrei-me do filme, da brisa gélida, da luz da lua... Aquilo de certa forma era consolidante para mim, mas ao mesmo tempo me deixava desconcertada, pois Yang acabou tocando meu ponto fraco sem saber, acabou me deixando estranha. Aquilo fixou em minha mente, parece que não me esquecerei do ocorrido tão fácil.

Fui arrancada de meus devaneios ao ouvir um bocejo, tal bocejo que não vinha de mim e não vinha de Yang, afinal ela nem se moveu, deve ter vindo ou de Ruby ou de Weiss que estão atrás de mim.

— Uwah...

— “Espere... Cadê meu laço?! Ela não pode ver minhas orelhas!” — Apavorei, desesperei. Escondi-me debaixo do cobertor encolhendo-me, precisava ganhar tempo pra levantar e buscar meu laço, ele deve estar do lado de Yang jogado no chão.

Ouvi som de membros estralando levemente, ela estava se alongando. Após um tempo, ouvi um leve som de alguém se mexer e novamente outro leve estralo, deve ter levantado certamente. Em seguida, ouvi-a caminhar em direção ao banheiro, no qual é do lado direito do quarto, onde eu estava de costas. Virei para trás levemente para ver quem acordou, acabei vendo um cobertor bagunçado ao chão e uma Ruby sozinha, Weiss havia despertado.

Uma brecha, uma oportunidade, preciso pegar meu laço!
         Levantei rapidamente me sentando no chão averiguando desesperadamente em volta a procura do acessório, e de fato ele estava ao lado de Yang, mas um pouco distante. Fiquei de pé apressadamente e fui até onde ele estava jogado, peguei e voltei ao lugar onde repousava, dormia, e me escondi novamente embaixo do tecido, cobertor, porém no caminho acabei esbarrando na loira com a perna. Tive receio que ela acordasse, então parei todo e qualquer movimento de meu corpo enquanto observava atentamente o rosto dela, verificando se a mesma acordaria ou não. Por sorte a garota não fez nada de mais além de franzir o cenho levemente, mas retornou ao normal, à sua expressão serena enquanto dormia depois de alguns segundos. Fui para debaixo da coberta e amarrei o laço no topo de minha cabeça, ocultando minhas orelhas faunus tipicamente, também voltei minha cauda para dentro de minha roupa, dobrando-a. 

Logo acordo e acontece uma coisa dessas... O que me aguarda até o final do dia?

Eu e a herdeira sempre somos as primeiras a acordar, somos pessoas pontuais e responsáveis, sabemos de nossas obrigações, já Ruby e Yang são praticamente arrancadas da cama de vez em quando, pois se deixar, nunca levantam, escolhem dormir o dia todo, coisa que não podemos fazer, a não ser em feriados e fins de semana.

Iria dar bom dia para a recém-acordada assim que ela retornasse ao quarto, mas fui pega de surpresa por um braço que me envolveu pela cintura me puxando para mais perto do corpo de quem pertencia aquele membro. Corei de imediato com a ação e paralisei por completo, não sabia como reagir, não sou tão acostumada com coisas assim, é imprevisível, surpreendente.

—“Droga Yang!” — Yang foi a primeira pessoa que pensei, afinal ela é a única que está atrás de mim, a distância em que estamos é possível alcançar a outra com um braço, acho eu.

Minha cabeça agora estava um pouco abaixo de seu queixo, meus braços estavam enrijecidos travados na lateral do meu corpo, meus olhos estavam arregalados, meu coração pulsava cada vez mais rápido e gradativamente meu rosto se aquecia. Por que meu corpo reagia desta forma? Por que estou reagindo desta forma estranha?

Ao levantar a cabeça para averiguar se ela estava adormecida ainda, a mesma virou sua cabeça mais para o travesseiro, deixando sua bochecha um pouco pressionada e os fios de seu cabelo caindo em seu rosto de forma desajeitada, bagunçada.

         —“Que fofa... Mas que raios eu estou pensando?!”

Eu não sabia explicar, mas me sentia atraída por ela observando-a fazendo aquela expressão mesmo dormindo. Meu rosto ruborizado denunciava minha vergonha e meus olhos entreabertos pareciam que eu estava hipnotizada, e de fato estava hipnotizada com a cena que via. Apenas permanecia admirando-a, não sabendo reagir ao certo, estava confusa com meus pensamentos e emoções.

E subitamente ouvi alguém se dirigir um pouco para mais perto de mim, então fechei meus olhos fingindo estar dormindo, não queria ser pega naquela situação embaraçosa. Ela foi em direção ao guarda-roupa pegar algo e caminhou em direção ao banheiro novamente, confirmei isso ouvindo a maçaneta girar e a porta batendo levemente, demonstrando que alguém havia entrado e fechado-a, possivelmente Weiss foi se trocar e já deve ter realizado sua higiene matinal, coisa que ela e todas nós fazemos pela manhã.

Virei minha cabeça para olhar em minha volta o estado do quarto em que se encontrava. Encontrei uma garota encolhida debaixo das cobertas, uma janela entreaberta com uma fina abertura que deixava uma pequena luz adentrar o quarto, uma cortina balançando levemente, eu deitada no chão com uma Yang adormecida ao meu lado abraçando-me pela cintura com um braço...

Fui tirada de meus devaneios com o som da porta do banheiro se abrindo e alguém caminhando em direção a janela, abrindo a mesma e as cortinas também, dando lugar a luz solar adentrar o quarto mais intensamente naquela manhã com o ato da herdeira possivelmente, já que esta foi a única que havia levantado, o que fez Yang se encolher e ficar em conchinha ainda com o braço em volta de meu corpo.

Repentinamente uma brisa gélida invadiu o recinto, o que fez Yang me puxar para mais perto e me envolver com os dois braços me pressionando mais em seu corpo, possivelmente por ter sentido frio. O que eu faço agora?! Encontro-me em uma situação embaraçosa, meu rosto se esquentava, eu estava corada e meu corpo se acalorava também, o que está acontecendo comigo? Por que sinto vontade de retribuir o abraço?... Eu estou me estranhando vendo-a desse modo, eu não sei o motivo, mas não quero sair do lado dela, quero abraçá-la, quero acariciar seu rosto... Por que eu tenho tais pensamentos? Por que anseio por isso?

— “Preciso fazer algo, preciso fazer algo!” — pensava comigo mesma. Estava deveras desconcertada com a situação em que me encontrava, temo que Weiss veja-nos do jeito que eu e a loira estamos, isso pode dar confusão, constrangimento.

Resolvi então afugentar meus pensamentos virando para o lado oposto dando as costas para a loira e tirando os braços dela delicadamente de minha barriga, e em seguida, me espreguicei levemente soltando um baixo bocejo.

— Oh, bom dia Blake. — Weiss cumprimenta ao notar minha movimentação, notificando que eu havia despertado, porém eu já acordei faz um tempinho.

— Bom dia Weiss. — direcionei meu olhar para a garota, vendo-a de frente para a janela olhando para mim.

A Schnee já estava uniformizada e caminhava em direção as cobertas e travesseiros jogados ao chão onde ela dormiu, recolhendo-os para guardá-los.

— Ruby, acorde. — a herdeira dizia para a mais nova.

— Só mais cinco minutos... — a garota resmungou consequentemente puxando mais as coberta para si e encolhendo-se.

— Daqui a vinte minutos temos que estar no refeitório para o café da manhã, ou você quer novamente se atrasar? Já estamos atrasadas a principio!

— Tá bom... — a garota dizia manhosamente coçando seus olhos se sentando, e como resultado, Weiss corou ligeiramente e levemente, sutilmente.

Ruby se levantou e Weiss apressou-a para o banheiro, afinal não temos muito tempo realmente, confirmei isso olhando o relógio, mas como eu estava sonolenta ainda, não me dei conta que faltava 20 minutos para partir-mos.

Presenciava tal cena enquanto levantava recolhendo o controle largado no chão ao lado da loira e meu travesseiro. Fui até minha cama e voltei-o para seu lugar habitual, o ajeitando decentemente.

— Quando sairmos, temos que levar estes potes novamente para a cozinha, já que pegamos emprestados. — Weiss dizia batendo um cobertor no ar e dobrando-o, apontando com a cabeça para as tigelas que estivera com conteúdo, pipoca, no qual se encontra sobre a mesinha que temos e colocamos de frente à TV.

Assenti com a cabeça e terminei de ajeitar minha cama. Em seguida, Weiss foi ao guarda-roupa retirando de lá outro uniforme e entregando para Ruby que estava no banheiro.

Após a mais nova sair, era minha vez de me trocar e fazer minhas higienes matinais. Fui até o guarda roupa e retirei de lá meu uniforme, então caminhei até o banheiro e fiz o que planejei.

Depois de sair de lá, fui até Yang com meu pijama nas mãos e chamei-a balançando notando que a mesma não havia acordado ainda:
         — Ei, Yang, acorde. — E como resultado, ela só franziu o cenho e puxou o cobertor para sua cabeça, cobrindo-o totalmente se escondendo da luz do quarto e mostrando incômodo em ser despertada.

— Temos pouco tempo. Já que você não quer levantar por bem... — Puxei o cobertor da loira, fazendo-a se encolher. — Vamos logo Yang, a gente tem pouco tempo. — Bati o cobertor no ar e dobrei-o colocando na cama da loira enquanto Weiss terminava de ajeitar o canto dela e ajeitava a roupa de Ruby.

Ela murmurou algo manhosamente e se encolheu ainda mais. Foi uma medida necessária, precisamos nos apressar ou chegaremos atrasadas ao café da manhã, e não é algo bom chegar atrasado nele, afinal só restaria poucas coisas para comermos, normalmente só sobra um pouco de café e uns biscoitos.

Provavelmente atrasamo-nos um tempinho porquê fomos dormir tarde, o despertador deve ter tocado várias vezes e não notamos.

Agachei-me ao lado da dorminhoca e cutuquei seu ombro, ela precisa levantar, não podemos nos atrasar:
             — Ei Yang, vamos logo, estamos atrasad—

Repentinamente a garota me puxou para perto de si num abraço, me deixando assustada com o ato inesperado e repentino, deixando-me sem graça.

— Mhn... — ela murmurou sonolentamente.

— Y-Yang... — eu dizia sem graça e sem saber o que fazer. Ela ainda permanecia com aquela expressão fofa, desleixada e adormecida em seu rosto, fazendo-me corar novamente.

—“Droga, droga, droga! Preciso sair logo daqui, não posso ficar desse jeito ou vou endoidecer.”— pensava enquanto sentia meu coração disparar e meu rosto esquentar.

Arranhei levemente seu braço a fazendo soltar um gemido de irritação e dor, além de me soltar de seus braços:
             — Ei! — ela dizia abrindo levemente seus olhos e encarando-me.

— Agora se levante logo, precisamos! Hoje temos aula.

— É verdade... — ela dizia decepcionadamente. Em seguida se espreguiçou e bocejou. — Você pega minha roupa, por favor?

— Se você levantar logo, sim. — Me levantei do chão ficando de pé, me virando dando as costas para ela.

Caminhei em direção ao grande guarda-roupa que havia em nosso quarto e retirei dele o uniforme da loira, em seguida joguei sobre ela, fazendo a veste cair em seu pescoço e rosto enquanto a garota se levantava. Também guardei meu pijama, afinal eu não podia deixá-lo largado por ai.

— Tome, vá logo para o banheiro e se troque. — A loira já estava de pé coçando seus olhos. Ela pegou a peça de roupa e foi para o banheiro a fim de fazer o mesmo que fizemos.

Enquanto isso, eu arrumava o tapete e organizava as tigelas, deixando uma em cima da outra. Empilhava os copos descartáveis um dentro do outro e deixava tudo pronto para ser jogado no lixo e devolver a louça para a cozinha, mas ao fazer isso, lembrei-me da noite passada mais fortemente... Ela brincando com minhas orelhas, o filme, nossas trocas de olhares, o abraço, o jeito manhoso que Yang agia... Aquilo certamente fixou em minha mente de um jeito indescritível, e quando me dei por mim mesma, meu rosto estava novamente corado, mas por sorte ninguém percebeu, já que eu estava de costas para as garotas. Weiss estava terminando de ajeitar sua roupa e de Ruby, Yang estava no banheiro, então eu não tinha o que me preocupar, ninguém notou.                                                                              

— Oh céus, temos que correr, vamos chegar atrasadas! ―  Weiss exclamou. – Vamos ter apenas dez minutos de café da manhã, era pra ser vinte, porém nos atrasamos, e conseqüentemente, podemos acabar atrasando quando formos para nossa primeira aula no dia de hoje.

— Então vamos! — Ruby recolheu as tigelas e os copos e correu em disparada para fora do quarto, juntamente de Weiss, definitivamente não queriam perder tempo. Eu também estava com pressa, porém aguardava Yang na porta do quarto.

Após um curto tempo, um minuto, a loira sai de lá ajeitando suas vestes nem se dando conta do horário.

— Hey, cadê a Weiss e Ruby?

— Já foram. Vamos também? — Me desapoiei da ombreira da porta, voltando à postura.

— Yep! Vai à frente que eu fecho a porta.

Caminhei pelos corredores apressadamente rumo ao refeitório, Yang me alcançou e depois manteve o mesmo ritmo que eu.

— E sobre o plano, vamos botar em prática hoje?

— Ah, pode ser, só temos que falar com as outras garotas e preparar o que faremos, embora eu já tenha uma base do que pode ser feito. — respondi.

Chegando ao refeitório, fomos até a fila que estava baixa e pegamos o que comer, nosso café-da-manhã. Localizamos as outras duas garotas e juntamo-nos a elas em uma mesa escolhida mais perto da parede, distante do centro.

— Hey garotas, eu estava falando com a Blake agora pouco em começar a planejar o que faremos, podemos executar até hoje, nunca sabemos o próximo movimento do inimigo, seria bom se já começássemos. — ela disse para as meninas enquanto colocava sua bandeja na mesa e se sentava, assim como eu.

— Yay! O que faremos? Espionagem? Um ataque em grupo? — Ruby dizia animada.

— Eu suponho que podemos discutir isso depois, não precisamos de um plano mega construído, só precisamos descobrir informações deles por enquanto. — propus.

— Concordo. Devemos pensar isto com calma, temos o resto do dia ainda. — Weiss se manifesta. — Vamos fazer da melhor forma possível, executá-lo com sucesso, com maestria.

Tomamos café-da-manhã, fomos para as aulas de história primeiramente, pois em nossa agenda de horários, aquela seria a primeira do dia, em seguida aula de geografia e por ultimo a aula do professor Port.

— Aw, história... — Yang dizia desanimadamente e lastimadamente sentada ao meu lado.

— Não podemos fazer nada, e depois das aulas de hoje, temos que nos reunir pra combinar o plano. — comentei. — Não podemos fugir de nossas obrigações.

— Certo! Fico empolgada em saber que faremos algo, nossa primeira missão. Será que vou utilizar minha bela Ember Celica? — ela perguntou, me encarando.

— Não sei se encontraremos perigos e se será necessários tomarmos uma postura agressiva, mas é bom levar nossas armas, vai que algum imprevisto aparece no caminho.

Eu não me sinto confortável encarando a loira, pois quando faço isso, lembro-me de mais cedo quando ela estava adormecida... Aquilo me deixa estranha, aquelas emoções malucas voltam e eu não estou sabendo lidar, mas a diferença é que está gradualmente se tornando mais forte. É como se algo estivesse de fato nascendo dentro de mim, embora eu não saiba concretamente que é, apesar de suspeitar do que seja, mas nego.

Após a aula de geografia, fomos para a aula do professor Peter Port.

Weiss estava com os olhos cravados no relógio a espera da aula encerrar, Ruby estava desenhando, eu estava lendo um livro e Yang quase dormindo de tédio, pois o professor novamente começou a contar as “grandes aventuras, feitos” que ele vivenciou, deixando de lado a aula.

— Esse livro é legal? — Yang perguntou tediosamente apoiando sua cabeça em sua mão esquerda encarando a página em que estava lendo. — Vejo você com esse livro quase toda hora.

— Uh?... — Yang perguntando sobre livros é algo raro, por que isso agora? —Respondendo sua pergunta: sim, é legal. É meu livro favorito na verdade. E não é toda hora que leio esse mesmo livro, leio outros como “O homem com duas almas”, que também é um bom livro. — respondi sem tirar meus olhos do papel.

— O quem tem nele de tão bom que não entendo? Por que você gosta tanto desse livro?

— Esse livro há ninjas, como o nome do livro entrega: “Ninjas of Love”. Há romance, ação, drama, suspense e um pouco de aventura, mas só apareceu nos primeiros capítulos esse gênero, o que predomina é romance.

— Hm, parece ser interessante, mas tem cara de ser sério e não tem comédia possivelmente. — ela diz. — Eu sou mais de coisas práticas do que teóricas, não curto muito livros, não entendo como você ama-os tanto.

— E talvez por isso você não tenha notas tão altas. — proferi. — Por que não tenta ler algo que goste, que seja de seu interesse?

— Meh, prefiro que alguém conte uma história do que ler, é chato ficar encarando palavras e mais palavras, ficar ali com o corpo parado e apenas os olhos se movimentando.

Por alguma razão ela estava me desconcentrando, talvez por ela estar falando e eu tentando ler?

Eu me lembrava de manhã quando ela estava dormindo, estava tão serena, tranquila... Eu não estava conseguindo olhar para o rosto dela ou ouvir a voz sem lembrar-me dessa manhã ou da noite do filme.

— Depois você me conta o que tem nesse livro? Tipo, ler pra mim?

Arregalei os olhos com tal pedido, nunca imaginei que Yang fosse solicitar algo do gênero. Ela prefere ouvir histórias do que ler, parece se indagar do porquê eu gostar tanto deste livro que está em minhas mãos, porquê leio-o tanto.

—Bom... Esse livro não é algo fácil de narrar, tem palavras que você pode considerar complexas demais e talvez durma enquanto eu estiver contando, acho melhor você ler do que eu contar. — Certamente ela dormiria no meio, e falar enquanto o outro não presta atenção é algo desrespeitoso e chato.

— Ah, vamos lá, por favorrrr. Prometo que tentarei não dormir! Não precisa ser agora, pode ser outra hora, tipo à noite. — ela suplicou. — Me lembro de quando eu pegava um livro e lia para Ruby dormir... Eu adorava as histórias de caçadores que continha neles, gostava dos contos de ninar.

— E por que não volta a ler? — perguntei olhando em seus olhos, fazendo a garota olhar para mim para saber se eu iria dizer algo. Em seguida, direcionei minhas vistas novamente para as páginas, não conseguia olhar para ela por tanto tempo, depois das coisas que aconteceram, eu me sentia constrangida.

— Preguiça, e também comecei a achar tedioso e Ruby foi crescendo... — ela disse debruçando-se sobre a mesa.

— Você sabe que vai precisar deles e não tem fuga, eu acho melhor você começar a ter o habito, nem que seja um infantil, uma história em quadrinhos ou coisas do tipo, é bom, pois expande seu vocabulário, você aprende mais e mais coisas e se diverte saboreando as palavras, é algo maravilhoso. — dizia me empolgando. — Mas não precisa se forçar a ler com minhas falas, faça se quiser.

— Eu sei... Mas a preguiça fala mais alto e também acho tediante, prefiro que alguém conte. E percebi que você não gosta muito de socializar, vai precisar disso. — ela rebateu, dando um sorriso para mim no final de sua frase.

—... Prefiro livros a pessoas, e também não sou uma pessoa muito social, me sinto desconfortável em meio a elas.

— Então por que não tenta? É solitário não falar com ninguém, ficar só no seu canto, sozinha... Não que eu esteja te forçando a mudar, mas você é muito fechada, sabe? Estamos em um time, falta de comunicação pode ser um problema, fora que você troca informações conversando, acaba sabendo de algum boato, alguma novidade ou o que quer que seja.

— Essa sou eu, Blake Belladonna.

— Então vamos fazer uma troca, você vai me fazer ter o habito de ler livros e eu vou te ajudar a socializar melhor, que tal?

— Mas eu não posso te forçar a gostar de algo que eu goste. Aceito a gentileza, mas não boto muita fé que vá funcionar.

— Entendo, mas gosto de desafios. Gosto de ajudar as pessoas e estou me propondo a te ajudar no que tem maior dificuldade, já que sou alguém que tem bastante “skill” nessa área. — ela se vangloria. — Você pode ler uma história pra mim ou me ajudar nas lições, não se sinta presa ou achar que está sendo forçada ou me forçando, fique tranqüila. Se puder me ajudar nos deveres eu adoraria, parece que você tem uma facilidade maior que a minha com palavras e as lições, já eu me enrosco toda.

— Eu irei ver sobre isso. Posso te ajudar sim, mas você que vai pensar na resposta, só vou mostrar como encontrá-la, assim você aprende e não fica só na cópia. — Terminei minha fala olhando meu Scroll: Faltava um minuto para a aula acabar.

— Obrigada! — Ela deu singelo sorriso, agradecendo. — Ah, desculpe por te desconcentrar de sua leitura, desculpe mesmo.

—“Não sorria assim...”— pensei desviando o olhar com o rosto levemente corado por algum motivo desconhecido. Escondi-o no livro, o subindo ocultando  minha bochecha se fosse ver de algum ângulo.

— Tudo bem, afinal eu já li esse livro todo uma vez, estou só relendo por agora novamente.

— Você realmente ama esse livro, não é?

— Sim, amo-o. Este livro é uma das poucas coisas que trouxe de minha casa que sou realmente apegada, sem ele eu ficaria desnorteada.

O tempo passou até que rápido enquanto nós conversávamos. O sinal da escola tocou, sinalizando que a aula naquele dia havia encerrado, terminado.

—E então eu... Oh, uh... Hora errada, eu acho. — O professor Port contava suas histórias até então, entretanto foi interrompido pelo barulho. — Bem, o final dessa incrível história terá que esperar. Até a próxima vez.

Todos saíram da sala, afinal as aulas haviam terminado no dia. Fomos dispensadas, fomos para o intervalo, nos reunimos no refeitório e almoçamos, aproveitamos para pensar melhor no que faríamos em relação ao plano.

— E ai, como o plano vai ser? — Yang pergunta levando o garfo com comida para sua boca.

— Podemos começar a pensar o que podemos fazer, a base. — sugeri.

— Como o quê?

— Sugiro que podemos começar pesquisando sobre roubos e incidentes criminosos atuais e um pouco antigos. — Weiss propõe. — Talvez a gente descubra algo, podemos começar a pensar no alicerce de tudo.

 — É uma boa. — Yang diz. — Podemos começar por ai, mas eu tenho um amigo que possa saber de algo mais, posso procurar informação com ele.

— Bom, com o que sei sobre a White Fang, provavelmente eles irão fazer alguma reunião para falar sobre algo novo, recrutar novos membros ou organizar outro movimento.

— A gente poderia se separar e cada uma fazer algo, seria mais rápido e eficaz, o que acham? — Ruby propõe. — Embora eu ache que andarmos unidas seria melhor...

— Concordo. — Yang é a primeira a aprovar a sugestão.

— Estou de acordo. — Weiss concorda também.

— Já que todas estão de acordo, então não há problema algum. — consenti sorrindo levemente.

Terminamos nosso almoço e fomos para o quarto papeando pelo caminho, sugerindo um pouco do que poderíamos fazer e algumas idéias a mais, planos comuns, clichê, acrescentando e completando nossas idéias bases, montando um raciocínio melhor, organizado.

A proposta de Yang não é de todo ruim... Será que aceito?

...

Blake é uma pessoa no qual ainda não compreende como os sentimentos funcionam, talvez como consequência de seu passado conturbado. Mal sabe ela que tais sentimentos florescem justamente nestes momentos de união e descontração que se tem com as pessoas que mais prezam. Um clima propício serviu de gatilho para uma aproximação inocente, mas que já escondem desejos mais acalorados. Como dois polos de um imã, a personalidade das duas as fazem aproximar pouco a pouco. Até quando ambas irão manter essa distância?