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História Burning Desire - Detenção


Escrita por: FanfictionMe

Capítulo 3 - Detenção


POV Rose

Os dias passam rápido demais até a sexta da detenção. A escola continua agitada e comentando, mas sinceramente agradeço que o linguarudo do Hugo não tenha me dedurado para minha mãe, ainda mais por uma coisa que eu não fiz. Minha raiva se abrandou nos dias seguintes, principalmente pelo fato de Alvo não trocar nem mais um singelo olhar comigo. Não que fossemos unidos, grandes amigos, os dois mosqueteiros, marotos sem mapa ou algo assim. Mas ele, pelo menos, notava minha existência antes, dizia um oi, perguntava se estava tudo bem, bem cordial ao seu estilo bagunceiro de ser. No entanto, desde o meu pequeno descontrole no corredor, tudo que eu tinha era um silêncio assustador de sua parte.

Eu tentei não me importar, juro! Só que ficava cada vez mais complicado com os olhares acusatórios de Annie e seus “eu disse”. Aos poucos, sem muitas opções, a culpa me encontrou. Eu tinha que pedir desculpas pelo meu ataque. Por Merlin, como eu pude surtar por simples detenção? Até a minha mãe, a perfeita e inteligente Hermione teve suas detenções. Então eu estava decidida a fazer as pazes com Alvo, ele querendo ou não.

Me analisei no espelho, tentando ficar confiante. Meu cabelo ruivo caía sobre meus ombros em uma cascata de cachos bem definidos. Mas meu rosto pálido entregava meu nervosismo, eu não era boa em pedir desculpas. Ainda assim, respirei fundo.

— Você vai fazer isso Rose, vai dar tudo certo. — Disse para mim mesma em um tom reconfortante. Calma, eu precisava ficar calma.

Quando o relógio do dormitório anunciou que eram 19h00m, pensei em me fingir de morta e não aparecer na detenção. Quem me dera eu fosse uma frequentadora da Gemialidades Weasley, mesmo que eu fosse descoberta depois, eu evitaria por mais alguns momentos Alvo. Só que eu não era frequentadora e tinha que enfrentar a realidade, a contragosto me dirigi para a Sala de Troféus.

Ao chegar lá, percebi que estava levemente atrasada, porque a professora não estava por ali e Alvo já tinha iniciado o trabalho. Por um momento, perdi o ar ao ver seu olhar de concentração na limpeza que fazia, de forma que seu rosto se transformava em uma máscara angelical de absorção. Ele notou minha presença meio segundo depois, mas tudo se resumiu a um olhar inexpressivo em minha direção. Eu não tinha reação para aquilo, então só caminhei até os troféus e peguei um pano para começar a limpeza.

Meia hora tinha se passado naquele silêncio, sem nenhuma tentativa de ambos os lados de comunicação. Eu precisava dar o primeiro passo, mas meu orgulho estava agitado dentro de mim. Eu não queria ceder, não queria admitir meu erro, não queria ter que pedir desculpas para o Alvo. De todas as pessoas, por que justo ele? Só que se eu não fizesse nada, provavelmente a noite terminaria do mesmo jeito que começou.

— Me desculpa Alvo. — Minha voz saiu tremida, angustiada, perdida. Ele continuou esfregando com força um troféu de quadribol. — Eu exagerei, perdi a cabeça. Você sabe que eu me esforço para ser uma boa aluna, eu tenho tanta cobrança por parte da minha mãe, você sabe. — Ele franziu as sobrancelhas para o troféu dourado, ainda sem olhar para mim. — Alvo, me desculpa. Não faz isso comigo, esse silêncio, não quero ficar brigada contigo, por favor! — Supliquei com a voz chorosa.

Eu não tinha percebido que meus olhos tinham lacrimejado, quase transbordando lágrimas salgadas para fora. Eu não tinha nem percebido que o perdão de Alvo era tão importante assim. Tudo que eu queria naquele momento era que ele dissesse que estava tudo bem, que éramos amigos, que éramos família um do outro e que estávamos ok. Só que ele não disse nada disso, ele suspirou e continuou limpando troféus, sem olhar na minha direção.

Naquele momento, eu poderia jurar por Merlin, que eu ouvi meu coração se partir. Eu não sabia porque eu estava tendo uma reação exagerada daquelas. Eu nunca fui próxima dele, por que diabos agora o afastamento dele me incomodava? Respirei fundo. 5, 4, 3, 2, 1. Enxuguei as lágrimas com o dorso da mão e peguei um grande troféu, extremamente pesado para limpar. Me sentei no chão e comecei a limpá-lo, em um ritmo perfeccionista, cada pequeno grão de poeira estava me irritando.

Mais trinta minutos se passaram, e eu desisti. Não suplicaria o perdão dele, se ele queria ficar ressentido, tudo bem. Eu não dependia dele para nada, então não perderia grande coisa. Repito essa frase como um mantra, na esperança que de algum modo ela alivie a minha dor.

— Rose. — Ouço a voz rouca e cálida de Alvo me chamar e eu poderia gritar de alívio naquele momento. Ele estava falando comigo! Ah, por Merlin, eu achei que isso não ia mais acontecer. — Desculpa ter te envolvido nisso.

A voz dele saiu fraquinha, como um pedido de desculpas a contragosto. Mas naquele momento tudo que me importava era que ele estava falando comigo, meu coração parecia não conseguir se controlar, palpitando nervosamente.

— Não foi nada, eu super exagerei contigo. — Disse, com a voz mais firme. Arrisquei um sorriso e como resposta, Alvo abriu um dos seus calorosos sorrisos deslumbrantes. Meu coração deu uma leve parada em seu ritmo frenético, apenas para retornar com mais força. — Foi até engraçado, eu admito.

Ele riu de leve, balançando a cabeça em uma negação divertida. Seus cabelos negros e bagunçados se agitaram com perfeição, deixando aquela imagem de descontração ainda mais bonita. Pisquei para sair dos meus devaneios confusos.

— Rose Weasley achando algo engraçado, eu devo ter arrasado! — Disse ele naquele seu habitual tom confiante. Ele estava normal, respirei tão aliviada que não me lembrava de outro momento que já tinha me sentido tão feliz.

— Você sempre arrasa no que não presta Potter. — Disse com um leve sorriso. O clima entre nós dois imediatamente se tornou leve e pela primeira vez em anos, eu me deixei levar pelo seu bom humor.

— Ah, Rose, eu sei fazer o que presta também. — Ele respondeu com uma piscadela, e o tom sedutor da sua voz me fez corar de imediato. Senti o calor subir da ponta dos meus pés até a raiz de meus cabelos já tão vermelhos. Era óbvio o duplo sentido empregue naquelas palavras. — Nossa, Rose, você tá vermelha tipo uma pimenta!

Ele riu enquanto olhava minha cara. Eu senti meus músculos paralisarem. Ótimo, minha velha timidez ataca novamente. Eu não podia ouvir falar de assuntos mais sugestivos que travava, não conseguia reagir de maneira alguma. 5, 4, 3, 2, 1. Tentei me acalmar para dar uma resposta, mas ao abrir a boca eu congelava, sem reação.

— Seu primeiro beijo deve ter sido hilário Rose, eu queria ter visto! — Disse ele quase se engasgando de rir ao me olhar imóvel. Mas no segundo que ele disse aquilo, as coisas pioraram. Não sei de onde surgiu tanto sangue, minha impressão é que o sangue de todo o meu corpo se alojou no meu rosto, garantindo que eu ficasse mais vermelha do que meus cabelos. Meu corpo todo arrepiou e eu gelei imediatamente. Por que aquele legume do Alvo tinha que falar de beijo? Ah Merlin, não, não, não!

Por mais que eu quisesse responder ou disfarçar, eu não conseguia. O troféu pesado foi lentamente escorregando dos meus dedos rígidos e sem força e caiu com um tremendo estrondo no chão. Meu olhar estava fixado em Alvo, não por opção, mas porque nem meus olhos eu estava sendo capaz de mover. Um desastre completo!

— Rose, você nunca beijou? — Perguntou Alvo com a voz fraca. Ele abriu seu rosto em um sorriso compreensivo, mas tudo que eu podia tirar daquele sorriso era pena. Ele estava com pena da pobre Weasley que nunca tinha beijado.

Para ser sincera, eu nunca tinha beijado por opção. Eu não era de todo ruim, não era nenhuma das princesas da escola, mas me considerava relativamente bonita. Alguns garotos já tinham demonstrado interesse por mim, mas eu me fechava, me afastava e negava dar qualquer tipo de atenção para eles. E eu nem posso dar a desculpa de esperar o cara certo, porque na verdade eu não estou esperando ninguém. Eu apenas não pensava nisso, não ligava, não tinha motivos para tentar. Eu não respondi e lentamente peguei o troféu caído e recomecei o trabalho de esfregá-lo. Ele tinha entendido e se calou, me deixando ficar em paz com os meus pensamentos.

Na hora que se passou, ele foi lentamente restaurando o astral. Eu nunca tinha parado para reparar como era fácil sorrir com ele, como eu sorria ao simples fato de ele estar ali. As palhaçadas, piadas e trocadilhos vinham como complemento. Conforme a noite passava e os troféus começavam a reluzir, eu percebi como era fácil ser feliz perto do Alvo. Talvez eu tivesse sido injusta com ele milhares de vezes. Ele era muito mais do que um pegador e um bagunceiro. No fim das contas, Alvo era um bom amigo.

— Uau, nós arrasamos! — Eu disse olhando para o resultado final. Nunca tinha visto a sala de troféus tão arrumada e nem eles tão brilhantes.

— Eu já disse que sempre arraso Weasley. — Falou Alvo, com um riso leve entre os lábios. Eu respondi atirando meu pano sujo nele e ele revidou rapidamente com o trapo que ele usou para limpar os troféus.

— Para Alvo, eu vou te estrangular! — Ameacei, mas não continha a risada. Ele rapidamente sacou a varinha e enfeitiçou o pano, que me seguia insistentemente conforme eu corria pela imensa sala. — Alvo, não, não!

Meus músculos doíam da limpeza e meu estômago das risadas constantes. Por fim, achei que a melhor estratégia era correr em sua direção, de forma a usá-lo como escudo. Eu me choquei violentamente com Alvo, entre gargalhadas altas. Ele me segurou com facilidade, mas nisso deixou sua varinha cair e junto a ela, o pano também foi de encontro ao chão. Meu corpo todo tremia das risadas, Alvo também estava rindo sem parar, ele estava até mesmo se inclinando de tanto rir…

Quando seus lábios encostaram nos meus, minha reação de choque foi imediata. Alvo Potter estava me beijando. O garoto que eu conhecia desde criança, o menino travesso, o adolescente pegador, ele tinha voluntariamente encostado seus lábios nos meus. Era um daqueles momentos que não havia reação alguma possível, eu apenas permaneci imóvel e o único motivo de eu ainda estar em pé era que ele me segurava firmemente. Ele não pediu passagem para a sua língua, mas eu sei que teria facilmente cedido. Ele apenas me deu um longo beijo, eu não poderia me atrever a chamar aquilo de um simples selinho, e se afastou.

Eu não sabia o que poderia dizer, eu não sabia o que significava. Eu só sentia o calor me sufocar, meu rosto ruborizar e meu coração acelerar em um ritmo anormal. Eu me calei, olhando ele se afastar com um sorriso. Ao ver aquele sorriso, eu sabia que não tinha sido um acidente, um leve encostar por acaso de nossos lábios.

— Pelo menos o primeiro foi com alguém que gosta de você. — Disse sua voz, em um sussurro suave. Antes que eu pudesse refletir sobre aquilo, uma voz me tirou do meu devaneio.

— Vejo que já acabaram meninos! — A voz da professora chegou tão rápido que pulei. Ela estava na porta da sala, avaliando o nosso trabalho. — Excelente, dispensados. Espero que sem mais travessuras agora!

Alvo acenou e foi se movendo em direção a saída. E lá estava eu, estática, paralisada, sem mexer nem os olhos. Continuei na mesma posição, indiferente ao “dispensados”. Meu cérebro se recusava a reagir.

— Tudo bem Senhorita Weasley? — Perguntou a professora, sem eu me dar conta ela estava bem na minha frente. — Você parece pálida. Precisa de uma visita à enfermaria antes de ir se deitar?

— Não, eu estou ótima. Obrigada pela preocupação professora. — Eu respondi sem muita convicção. Minha voz me entregava, nada, nada estava bem. — Boa noite professora.

Assim que eu me despedi, corri em disparada pelos corredores. Queria me esconder, queria conseguir raciocinar corretamente. Eu quase não respirava e para ser sincera, apenas na segurança de meu dormitório eu pude respirar. As demais garotas dormiam, o que para mim era um alívio.

Lentamente, tentei processar o que tinha acontecido. Alvo tinha me beijado. Meu primo, meu Merlin, isso era tão errado. E o que ele queria dizer com uma pessoa que goste de você? Ele só sentiu pena, disse uma vozinha em minha cabeça, ele gosta de você como gosta de qualquer um na família. Meus olhos imediatamente encheram de lágrimas, eu não sabia o que pensar. Um turbilhão de sentimentos que iam desde de profunda raiva até gratidão se agitavam dentro de mim. Eu tentava, em vão, me acalmar.

— Você não pode ter gostado disso, Rose. — Disse baixinho, como se tentasse obter uma resposta do universo. — Não pode ter gostado de beijar o Alvo.

Mas o universo não me respondia e a única coisa que existia era um silêncio profundo e cortante e foi nesse silêncio enquanto a cena do beijo se passava milhares de vezes na minha cabeça que eu finalmente adormeci.



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