Jeon Jungkook estava extremamente concentrado em treinar com um boneco de tecido e palha. Ele sempre fora um garoto arteiro e bruto, mas com o passar do tempo, essas características não se tornaram apenas uma questão de personalidade, e sim de necessidade.
Quando você cresce, percebe que as pessoas ao ser redor nunca são o que dizem ser, em algum momento elas vão te trair, de um jeito o de outro, o que diferencia é o tamanho da traição e se será possível o perdão. Por isso, foi essencial que ele aprendesse a se defender, a matar. Claro que, se pudesse, evitaria, entretanto algumas traições podem colocar a sua vida em risco, então é preciso que você tome providências sobre isso.
O grande ponto disso tudo é que ele não se arrependia de forma nenhuma das coisas que já fizera. Era tudo uma questão de sobrevivência. Não deixando de fora que, para ele, o mundo estaria sendo um lugar muito melhor sem aquele tipo de gente.
Uma coisa que rondava sua cabeça eram as palavras de Jimin. Decepção era o nome do sentimento que habitava nele agora. Jungkook o poupou a vida, sentiu pena daquele menino indefeso, logo criando a imagem de que ele era inocente e não sabia das maldades do mundo, mas depois de tudo, percebeu que ele era como o resto. Todos são iguais.
Sabia que não podia condenar os outros por suas crenças, contudo elas estavam interferindo em sua vida e o fazendo infeliz. Como ele poderia ganhar seu espaço em um lugar tão cruel, sozinho, sem a ajuda de ninguém? Era tão difícil para ele, o deixava tão sobrecarregado. Apesar de tudo ainda era apenas uma criança que teve que aprender sobre coisas que não devia, lidar com coisas que não devia e agora, era ele contra o mundo.
Jungkook se encontrava jogado no chão daquele celeiro. Tentando conter toda a dor que queria sair para fora, mostrar a sua verdadeira face: a de um jovem destruído e perturbado, apenas procurando um lugar em uma sociedade desumana e fria. Jeon era apenas um reflexo de tudo aquilo. Um reflexo quebrado.
— Está tudo bem com você? — o garoto se assustou com aquela voz estridente e irritante que interrompeu a sua reflexão depressiva.
— Eu estou começando a achar que é você quem está me seguindo. — resmungou mal humorado.
— Desculpa, é que você estava ai no chão, com essa cara de quem vai chorar. — justificou Jimin.
— E você se importa? Você me viu matar um homem, não devia estar correndo ou algo do tipo?
— Bem, eu devia. — disse o mais baixo, dando uma pausa. — Mas eu não acho que você vá me fazer mal, quer dizer, o senhor teve semanas para isso, poderia ter feito a muito tempo se quisesse.
— Uh, então agora você me chama de senhor? Engraçado, não estava sendo tão formal assim quando gritou e me xingou no lago. O que mudou, meu querido Jimin?
— Me desculpa por isso... — claro que o garoto não estava realmente arrependido, mas ele precisava tomar cuidado com suas palavras, ainda estava em frente a um homem que poderia o matar a qualquer momento e que ameaçara sua família.
— Vou pedir então que não me chame mais assim. Quantos anos você tem? Provavelmente deve ter quase a minha idade, apesar de se parecer bem mais jovem. — Jungkook questionou.
— Dezessete. — respondeu rapidamente.
— Eu não disse? São só três anos.
— Na verdade são dois, eu vou fazer dezoito no di—
— Ninguém quer saber, Jimin. Eu não estou interessado na sua vida.
— Não basta ter ameaçado cortar a minha língua e fazer piadinhas maliciosas, você ainda tem que ser tão grosso comigo assim? — reclamou.
— Então quer dizer que você entendeu o duplo sentido daquela frase? Talvez eu esteja enganado, você não é tão inocente assim, Park, só se faz de bom moço, mas sei que no fundo esconde muitas coisas. O seu tipo é um dos piores, se não o pior.
— Como você sabe o meu sobrenome? — questionou o mais baixo.
— Por que você tem mania de ignorar tudo o que eu falo? É uma maneira tão indiscreta de mudar de assunto. Vamos lá, Jimin, somos quase íntimos, você pode me confessar todos os seus pecados. O padre Jeon irá escutá-lo. — disse com a voz transbordando ironia.
— Ah, então seu nome é Jeon?
— Não, sobrenome, não que isso seja da sua conta, não vamos nos tornar tão íntimos assim.
— Mas não foi você, Jeon, — disse, dando ênfase no último nome do outro, a fim de irritá-lo — que acabou de dizer que somos quase íntimos? Confesso que não o entendo muito bem.
— Sim, sim, mas existem muitos tipos de intimidade. Eu gosto de saber sobre os outros, mas odeio que os outros saibam sobre mim.
— Não acho isso muito justo.
— A vida não foi feita para ser justa, Park Jimin. — e de repente toda aquela conversa se tornou tensa.
— Eu acho que a vida é justa. Acho que tudo o que acontece é por um motivo que só Deus sabe qual. — explicou Jimin.
— Como sempre, vocês cristãos achando que tudo o que a bíblia e toda essa merda religiosa diz é verdade e deve ser seguida de olhos vendados. Não faz ideia do quanto as pessoas sofrem nas mãos de gente como você, o quanto elas são julgadas e tratadas como um lixo e nenhuma delas merecia isso. Não acho que Deus seja tão justo assim.
— Acho que você está sendo muito precipitado. Mas então, você acredita na existência Dele?
— Eu acredito na existência de alguém superestimado. Na verdade, toda essa merda é tão confusa, eu não sei mais no que acreditar. Talvez Ele seja apenas um mito, uma invenção política para que as pessoas façam tudo o que os nobres e membros da elite querem, mas eu acho o mundo tão complexo, precisa haver algo por trás disso tudo, não é possível que as coisas tenham se formado assim de forma tão aleatória.
— Você é inteligente Jeon.
— Eu não sou inteligente, eu sou experiente.
— E qual a diferença? Ser experiente já não te faz inteligente?
— Não, Jimin, ser experiente te faz esperto. Fiquei surpreso que você não começou a me incriminar e dizer que eu sou mais um pecador.
— Eu não sou esse tipo de pessoa!
— Talvez você seja, mas só não está mostrando sua verdadeira face porque também é como eu.
— Eu não sou um assassino!
— É sempre um ‘’Eu não sou’’, que tal começarmos a falar sobre o que você é? Pode não parecer mas eu sou uma boa pessoa, Jimin. Eu sou uma boa pessoa.
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