História By chance - Capitulo 2

James estacionou o carro do meu lado e eu entrei correndo, não falei com ele na mesma hora, fiquei olhando para Snuffles até ele desaparecer. Percebi James me lançando olhares hesitantes, por causa do divórcio e tudo mais, meu aniversário tinha acabado com chave de ouro, Snuffles talvez tenha o salvado um pouco, os dois Snuffles. Eu acabei sorrindo me lembrando dele.

— De quem é essa blusa? – James perguntou puxando assunto.

— Do Snuffles.

— Snuffles? Pegou a blusa daquele cachorro?

— Não, era um cara, bem legal, esse não é o nome dele de verdade, foi só uma confusão. – Expliquei.

— Então você sai de casa, anda sem rumo até esse lugar esquisito e fala com um estranho, você é pirada, né?

— Eu só fiquei com raiva e chateada, qual é Jay, nunca imaginei que nossos pais iriam se separar, eles...

— Eu sei, também sempre pensei que eles ficariam juntos para sempre.

— Vão querer que escolham com quem a gente quer morar, o pai saiu de casa e tudo isso quando? No meu aniversário.

— É uma droga. – Disse James e depois de algum tempo em silêncio, perguntou: - Esse Snuffles, você não vai ver ele de novo, né?

— Tenho que devolver a blusa. – Respondi e James fez uma careta. – Jay, se ele fosse fazer algo comigo, tinha feito hoje. – Eu acabei rindo. – Se bem que eu acho que ele pensou que eu era uma garota de programa por causa das roupas e da maquiagem.

— Cara legal hein. – James disse emburrado. – Aposto que te deu a blusa pra te ver de novo.

— Pois eu acho bom que tenha sido isso, não dava para ver bem, mas o que deu pra ver, ele é gatinho.

— Não gosto nada disso. – Ele disse ainda emburrado, James não é disso, de ser super protetor e tal, mas acho que isso é por causa da separação de meus pais, como ele é o mais velho, deve achar que precisa cuidar mais de mim.

Nós dois chegamos em casa, passei direto sem falar com a mamãe e me tranquei no quarto, me arrumei para dormir, pensava em como seria a vida agora com meus pais separados. E depois de um bom tempo pensando peguei o celular e mandei uma mensagem para Snuffles.

Cheguei inteira Snuffles, obrigada por hoje.

Estava quase caindo no sono quando ele respondeu:

Certo. Dorme bem guria, boa noite.

[...]

No dia seguinte, antes de sair de casa, eu fiz os folhetos com a foto que eu tinha tirado em meu celular e algumas informações. Depois me troquei, rasguei nos joelhos uma calça que eu tinha, coloquei uma baby look preta e all star, não me maquiei, não queria parecer muito riquinha mimada, não sei, parecer mais com as pessoas do bairro dele. Ouvi batidas na porta do meu quarto e minha mãe entrou.

— Pode entrar. – Eu disse com sarcasmo, afinal ela tinha entrado sem permissão.

— Você não foi para o colégio, Katerina.

— Tenho outro compromisso.

— Kat, não torna a situação pior do que já é, o divórcio não é motivo para você faltar na escola, sair sem dar satisfação ou dizer aonde vai, e o que são essas roupas?

— Meu novo estilo. Você não entende nada. – Digo saindo do quarto, pego a chave do meu carro e saio, afinal o galpão é um pouco longe e tenho que deixar o carro em um estacionamento próximo para fingir que fui andando. No meio caminho recebi uma mensagem dele.

Estou aqui.

Cheguei, fui andando do estacionamento até lá. Achei que a luz do dia o lugar pareceria melhor, mas me enganei. A rua pelo menos era mais movimentada, tinha uns garotos jogando futebol na rua, umas sirenes de polícia ao longe, pessoas fumando maconha no galpão.

Vi a moto dele encostada perto do galpão e o cachorro de ontem veio abanando o rabo em minha direção, ele pulou em meu colo com as patas dianteiras e eu fiz carinho nele, olhei em volta, mas nem sinal de Sirius. Segui Snuffles para dentro do galpão e lá estava ele, pichando a parede, as roupas respingadas de tinta. Snuffles latiu e ele olhou para mim, tinha olhos negros e abriu um sorriso largo e bonito quando me viu.

— Uau! Você é um delinqüente juvenil. – Digo e ele arqueou uma sobrancelha.

— Você não é desse bairro.

— Ta tão na cara assim?

— Suas roupas de ontem, a cara com que você está olhando ao redor e... Você é uma péssima mentirosa. – Ele disse e nós dois rimos.

— Não queria que você ficasse pensando que sou uma riquinha mimada fazendo drama só porque os pais estão se separando.

— Não é o fim do mundo, mas você tem o direito de ficar chateada. – Ele disse ocupado pintando algo de cinza, não dava para ver o desenho inteiro. – Fecha os olhos.

— Por quê?

— Só fecha. – Ele riu do meu jeito desconfiado e eu fechei os olhos, ele veio até mim e me fez andar mais para o lado, antes de dizer baixinho. – Pode abrir.

Eu estava de frente para o desenho que ele tinha acabado de fazer e me deixou sem fala, era lindo, um cachorro, um lobo, um rato e um veado.

— O que achou? – Ele perguntou hesitante.

— É... Lindo. – Não tinha outra palavra para descrever.

— Não estou só pichando, é grafite.

— Você tem talento, é sério Sirius, você é muito bom. Ah! Sua blusa, obrigada de novo.

— Quer ajuda para colar os panfletos? – Ele perguntou e eu lhe dei alguns. Saímos colando em alguns postes, Snuffles nos seguia por todo lado, provavelmente porque Sirius lhe deu comida. Peguei o celular quando uma mensagem de James chegou “mamãe está furiosa com você”, eu revirei os olhos.

— O que foi? – Sirius perguntou.

— Meu irmão me enchendo o saco. – Dou de ombros.

— Queria mesmo fingir que é da periferia com um celular desses? – Ele caçoou de mim, eu amassei um cartaz, joguei nele, mas não acertei. – Ei, está desperdiçando os cartazes, vesga.

— A foto ficou escura, espero que o dono ligue para nós, vou levar o Snuffles para casa.

— Acabamos. Que bom, não se apegue a ele, se encontrarmos o dono você vai ter que devolver.

— É. – Digo, essa seria a hora de nos despedirmos e nunca mais nos ver, mas acho que nem eu e nem ele queremos isso.

— Quer dar uma volta de moto hoje? Acho que não somos mais estranhos e você está precisando espairecer.

— Quer saber, eu quero sim. Snuffles nos espere no galpão.