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História By My Side - Presságio


Escrita por: Aensland

Notas do Autor


gente, demorou mais de uma semana porque eu tive que reescrever vaaarias vezes, e este ficou bem maior que os demais (eu exagero ;-;)
mas está aqui, então boa leitura! <33

Capítulo 3 - Presságio


Quanto mais Steven caminhava, mais ele achava que aquela havia sido sua melhor decisão. Afinal, respirar o ar puro e explorar um ambiente diferente das cavernas era sempre bom. Enquanto andava, observou algo estranho no céu e pausou seus passos para observar. Era possível ver uma figura distante, que se aproximava cada vez mais. Não demorou muito para ele perceber que aquele era Jeremy, o assistente da Devon, montado no Swellow do seu pai. Sim, pois mesmo que o Senhor Stone não fosse um treinador como seu filho, ele ainda possuía alguns para cuidar e ajudar em tarefas como essa.

Pouco tempo depois o Swellow pousou não muito longe do geólogo, e o homem desceu um pouco desajeitado, caminhando na sua direção.

“Senhor Steven!” O homem cumprimentou alegremente.

“Apenas Steven.” Advertiu o treinador de aço em um tom amigável. Algumas pessoas usavam esse tratamento apenas por causa do seu parentesco com Joseph, mas isso dava um ar de superioridade que ele não gostava; ele queria ser tratado como uma pessoa comum. ‘Senhor’ não combinava com ele.

“Oh, claro... ah! O Senhor Stone me pediu para entregar isto,” O assistente mostrou o embrulho que estava em suas mãos e rapidamente o abriu, revelando a mesma máquina que o pai de Steven havia mostrado há poucos dias. “É o modelo finalizado do Devon Scope, o primeiro da linha!

Steven pegou o objeto, o analisando. “Hm, interessante.”

“O presidente mandou lembrar que esse é especialmente para aquele jovem treinador que nos ajudou.”

“Tudo bem, obrigado Jeremy,” Ele sorriu, “Diga ao meu pai que eu entregarei.”

O assistente assentiu e subiu no Swellow novamente, que tomou vôo logo em seguida. Steven riu da cena quando viu Jeremy se desequilibrando com a velocidade do pássaro, mas conseguindo se ajustar logo em seguida. Aquele homem certamente ainda não tinha jeito controlando Pokémon, porém era sem dúvidas o funcionário mais fiel da Devon.

Swellow sumiu entre as nuvens e Steven voltou a observar com mais atenção a nova versão do objeto. Ainda lembrava um binóculo com visual tecnológico, porém agora possuía uma superfície prateada e lente esverdeada; as modificações da versão final deixaram o aparelho, de fato, bem mais belo que o produzido pela Corporação Silph em Kanto.

Fortree estava próxima, então Steven decidiu que o melhor seria esperar o rapaz na cidade. Ele retornou a sua caminhada. Poucos passos depois, o geólogo chegou na frente do grande Instituto Climático de Hoenn, mas o que chamou sua atenção de fato foram duas figuras paradas na ponte, de costas, impedindo a passagem para Fortree. Elas vestiam roupas em tons de azul, com algumas pokébolas presas em seus cintos e bandanas que lembravam piratas.

Sua mente começou a ligar a aparência dessas duas pessoas com as informações dadas pelo seu pai há alguns dias, e quando finalmente chegou à conclusão, sentiu seu coração pular em surpresa. Claro, Equipe Aqua. Ele não imaginou que os encontraria tão de repente.

No mesmo instante que deduziu aquilo, escutou o barulho de um berro autoritário seguido pelo som de um Pokémon valente do lado de dentro do Instituto. Receio começou a cobrir seu corpo quando pensou no óbvio: a Equipe Aqua estava invadindo o Instituto. Ele não sabia do que aqueles criminosos eram capazes, mas de qualquer forma não poderia simplesmente ir embora e fingir que não viu nada; os cientistas poderiam estar em perigo.

Checou o cinto escondido debaixo do seu blazer: seis pokébolas. O suficiente para acabar com sabe lá quantos criminosos. Tomando cuidado para não ser notado pelos capangas parados na ponte, Steven não perdeu tempo e entrou no Instituto.

 

*

 

Do lado de dentro, Brendan se apressou para subir até o segundo andar com seu Breloom. Foi uma enorme sorte o fato da Equipe Aqua resolver atacar o Instituto justo quando ele estava pescando sossegado no rio ao lado. O rapaz já havia impedido os planos dos criminosos duas vezes anteriormente, então é claro que ele faria isso de novo, mesmo que não soubesse o real motivo da ação. Os capangas que tentaram o impedir no primeiro andar – e foram todos derrotados por um único golpe de Breloom – falaram sobre certo Pokémon que conseguia controlar o tempo e estava naquele lugar. Era entendível o interesse da Equipe pelo tal Pokémon, porém não justificável.

Terminou de subir as escadas, finalmente chegando ao segundo piso. A primeira coisa que chamou sua atenção naquele andar foram os vários capangas que encurralavam os cientistas do Instituto no canto da sala, os impedindo de fazer qualquer coisa. Os pesquisadores tentavam dialogar, porém os criminosos apenas aterrorizavam e insistiam sobre o tal Pokémon do tempo. Um bando de covardes. Brendan sentiu ainda mais raiva vendo aquela cena e já iria dar um fim naquela situação, no entanto, algo mais naquela sala chamou a atenção do seu olhar.

Perto dos capangas, uma mulher estava de costas, atenta ao grande computador de pesquisas. Ela era alta, e assim como os outros membros, usava vestes azuis e uma bandana. O longo cabelo vermelho e cacheado servia como uma manta que cobria suas costas. O treinador a reconheceu como a mesma pessoa que estava acompanhando Archie no museu de Slateport e em Meteor Falls. Ela parecia muito concentrada nos textos e gráficos exibidos na grande tela, informações cujo Brendan não entendia, mas sabia que tinha a ver com a região de Hoenn e algum Pokémon.

“Então, se Kyogre despertar...” Ele ouve a mulher murmurar. Sua voz era baixa, mas o treinador conseguiu perceber que havia medo e receio na forma que ela falava. E quem era Kyogre? A falta de conhecimento sobre isso o irritava, entretanto ele sabia que não iria conseguir arrancar informações dos criminosos.

“Olha só quem já chegou aqui!” Um dos capangas rosnou, fazendo o treinador desviar sua atenção da mulher para ele.

O alarme do lacaio também atraiu a atenção da administradora, que imediatamente se virou para encontrar a pessoa com quem ele estava falando. Quando encontrou Brendan, franziu o cenho e adquiriu uma expressão bem longe de amigável.

“Pirralho, alguns membros do primeiro andar me avisaram sobre você. O que pensa que está fazendo tentando bancar o herói?” Ela perguntou. Seu tom era rude com uma enorme gota de cinismo.

“Mas é claro que eu não vou deixar vocês fazerem o que querem!”

Ela deu uma risada debochada. “Ou você é muito valente, muito ignorante, ou os dois. Se você gosta tanto dos seus Pokémon, por que está tentando nos impedir? Não vê que o mundo que Archie deseja criar será... perfeito?”

Brendan sabia que dessa vez, por algum motivo, Shelly estava diferente. Já não havia tanta confiança na sua voz, era como se ela não tivesse certeza do que dizia. Ponderou-se; por acaso a administradora estava começando a ver que o objetivo da sua Equipe era um absurdo? De qualquer forma, precisava impedi-la.

“Seu plano é tão sem sentido que até você, o braço direito de Archie, está perdendo fé.” O rapaz provocou a mulher, e a feição convencida dela logo se transformou em uma de raiva.

“Calado! Treinador adorável, você é realmente irritante. Vou te ensinar a não me afrontar novamente!” Exclamou brava, retirando uma pokébola do seu cinto.

Antes que ela pudesse finalizar sua ação, barulhos de passos apressados e estrondosos preencheram o ambiente, seguidos por duas figuras que surgiram na porta de entrada da sala. Os dois imediatamente viraram suas atenções para quem havia aparecido, e Brendan não poderia ter ficado mais surpreso ao encontrar um homem de cabelo acinzentado, terno preto, com uma imensa Aggron ao seu lado.

“Ora ora, parece que mais alguém quer ser esmagado pela força da Equipe Aqua.” Debochou Shelly, olhando para o recém-chegado com repulsa.

“Pode deixar, eu tomo conta dele.” Um dos capangas exclamou em tom convencido, pegando uma pokébola e caminhando na direção do treinador.

Dizendo isso, o criminoso mandou um Sharpedo para a batalha, enquanto Shelly enviou uma Mightyena. Nenhuma novidade, afinal todos daquela equipe possuíam os mesmos Pokémon; um ótimo banquete para o Breloom do rapaz. Ele já estava pronto para dizer os comandos ao seu Pokémon, quando Steven pôs um braço na frente do seu corpo, o impedindo.

“Perdão Brendan, mas eu faço questão.” O veterano disse. Sua voz, como sempre, era calma e parecia despreocupada com a situação. Brendan nunca o viu em uma batalha antes e estava curioso para ver se ele realmente queria acabar com os dois de uma vez, então decidiu obedecer ao pedido do mais velho e não subestimá-lo.

“Ataque-os!” Shelly comandou, e no mesmo instante as criaturas noturnas foram em direção aos oponentes.

“Hiper Raio.” Disse Steven. Antes que Mightyena pudesse acertar o golpe, Aggron carregou uma enorme quantidade de poder em sua boca e lançou com toda a força contra os dois Pokémon, causando uma enorme explosão no local e deixando um sorriso vitorioso no rosto do mais velho. Quando a poeira cessou, Sharpedo e Mightyena estavam inconscientes no chão.

Brendan ainda estava boquiaberto com o que havia acabado de presenciar. Ele nunca imaginou que Steven fosse tão poderoso.

“Malditos, a força de vocês me enoja!” Shelly exclamou, retornando Mightyena para a pokébola. Ela era tão áspera que mesmo após ser derrotada com um único golpe permanecia com o sorriso sarcástico. Ao contrário do seu lacaio, que rangia os dentes de raiva ao perder de forma tão ridícula.

Shelly já começaria a falar mais absurdos, porém um barulho conhecido ecoou pela sala. A mulher retirou do mesmo cinto onde guardava a pokébola um celular que tocava a música padrão de chamada, e rapidamente atendeu a ligação.

“O que aconteceu?” Perguntou irritada pelo celular. Houve um momento de silêncio, até que de repente seus olhos se abriram em espanto. “O quê?! Droga, não há tempo a perder. Vamos até lá agora.” Ela desligou o celular e seriamente olhou na direção dos capangas, que ainda tentavam chantagear os cientistas. “Mudança de planos, vamos nos retirar!”

Nenhum dos criminosos questionou a sua autoridade. Todos assentiram e soltaram os pesquisadores, que mesmo livres ainda pareciam espantados pelos momentos de terror. Eles caminharam até a saída com pressa e em silêncio, alguns olhando para os dois treinadores com feições irritadas, até que sobrasse apenas Shelly, que os seguia. No entanto, antes de sair, ela parou ao lado do rapaz e o encarou com uma expressão séria.

“Não importa o que acontecer, eu sempre vou estar ao lado de Archie. Agora você, hmph. Quero ver o que irá fazer quando o dia certo chegar.”

Então ela se retirou sem dizer mais nenhuma palavra, deixando para trás um rapaz com várias dúvidas em sua cabeça. Dia certo? Do que ela estava falando? O garoto só despertou de seus pensamentos quando sentiu duas mãos repousarem em seus ombros, fazendo-o ficar de frente para o maior.

“Você está bem? E seus Pokémon?” Steven perguntou sério, com clara preocupação.

“Estamos bem, Equipe Aqua não é algo que precisamos nos preocupar.”

O maior suspirou. “Perdão, se eu tivesse chegado um pouco mais cedo poderia ter ajudado você com os outros capangas. Se bem que aparentemente isso não seria necessário. Todos do andar de baixo pareciam impressionados por terem sido derrotados por seu time.”

“Sim. Como eu disse: nada que precisamos nos preocupar. E Eu não imaginava que você iria aparecer aqui bem na hora.” O adolescente comentou, ainda impressionado com a coincidência.

“Eu estava caminhando na direção de Fortree e percebi uma movimentação estranha aqui dentro. Foi uma sorte enorme. Sei que eles são fracos, mas não tenho ideia do que eles são capazes.”

Um dos cientistas caminhou até os dois treinadores enquanto ajeitava seus óculos, carregando uma pokébola em mãos.

“Muito obrigado pela ajuda, nós realmente estamos gratos. A Equipe Aqua queria roubar a nossa nova criação: Castform. Não quero imaginar no que eles fariam se tivessem esse Pokémon em mãos.” Lamentou o pesquisador.

“Castform?” Brendan perguntou. Ele havia ouvido sobre esse nome a manhã inteira, mas até agora não sabia do que se tratava.

“Sim! Nós conseguimos criar um Pokémon que pode mudar sua forma de acordo com o clima. Ele é muito útil em nosso laboratório, já que aqui nós estudamos sobre as drásticas mudanças climáticas da região, especialmente desta rota.” Explicou. Ele estendeu a mão com a pokébola para o moreno. “Essa é a minha forma de agradecer. Tome, fique com um Castform.”

“Obrigado!” Respondeu entusiasmado e surpreso por ganhar um novo Pokémon. O treinaria em breve.

A mão de Steven mais uma vez repousou no seu ombro. “Fortree é logo à frente. Vamos, você precisa levar seus companheiros ao Centro Pokémon.”

O rapaz assentiu e caminhou com Breloom ao lado de Steven para fora do Instituto. A imagem do geólogo com a enorme Aggron ainda estava na sua cabeça.

 

*

 

No momento que os dois entraram no Centro Pokémon, uma chuva torrencial havia começado do lado de fora, com gotas que batiam violentamente contra a vidraça. As portas do local foram fechadas no início do temporal e Brendan sentia-se grato por ter chegado antes que isso acontecesse. Agora seu time estava tendo o devido descanso aos cuidados da enfermeira, e ele acompanhava Steven numa mesa perto da cafeteria do Centro, bem ao lado da enorme janela. O ar quente e aconchegante do local transformava o frio da tempestade em algo insignificante para ele.

“Eu não imaginei que você fosse um treinador tão poderoso!” O adolescente disse impressionado.

“Por quê? Pensou que eu era apenas um ‘louco de pedra’?” Perguntou sarcástico, erguendo uma sobrancelha. Ele não ficaria bravo se o garoto de fato pensasse dessa forma, pois querendo ou não era assim que a maioria das pessoas o via.

“Uh? Não. Você sempre mostrou ter muito conhecimento sobre Pokémon então eu sabia que era um bom treinador. Mas quando você entrou na sala com aquela Aggron monstruosa, wow, isso é algo que eu nunca imaginaria.”

“Ei, minha princesa não é monstruosa!” Ele brincou. “De qualquer forma, que bom que você não pensa assim.”

“Vou poder te derrotar em uma batalha algum dia?” O rapaz perguntou com um sorriso debochado e olhos rubis esperançosos.

“Se você sonhar muito, então suponho que sim.” Respondeu o veterano tomando mais um gole de café, parecendo se divertir em implicar com o rapaz.

Brendan suspirou em irritação falsa e levou a xícara com bebida quente aos seus lábios, observando o mais velho que fazia o mesmo. Só então seus olhos caíram sobre um objeto estranho que repousava na mesa, e lembrou-se que Steven havia carregado ele a manhã inteira, mas até agora não havia explicado o que era.

“Ei, o que é isso?” Perguntou o moreno apontando com seu dedo na direção do dispositivo.

Steven abaixou seu olhar para ver o que o garoto apontava, e por um instante seus olhos se abriram como se tivesse se lembrado de algo.

“É o Devon Scope, uma nova tecnologia inventada pela empresa do meu pai. Com ele você pode enxergar obstáculos invisíveis, como um Pokémon por exemplo. Vai ser útil para passar no ginásio de Fortree, pois há algo bloqueando a entrada. Por isso esse é especialmente para você.”

O adolescente pegou o objeto em mãos, observando impressionado o aparelho prateado e tecnológico. “Obrigado! Vai me ajudar muito. Quanto mais cedo eu desafiar o ginásio, melhor.”

“Você leva seus objetivos muito a sério; eu gosto de ver isso.” Comentou o veterano.

“Mas é claro!” Naquele momento as íris rubis se ergueram com um brilho conhecido, demonstrando pura confiança. “Se eu levar o treinamento a sério, me tornarei um bom Campeão da Liga. Eu sei que isso vai acontecer e eu quero que você veja dia!”

“Temo que isso não seja possível.” Disse Steven com uma voz baixa e tom sério, repousando sua xícara na mesa. O rapaz o encarou com um olhar de confusão e mágoa ao ouvir aquilo.

“E por que não seria?” Perguntou de imediato.

“Por que vou viajar para Sinnoh em breve e ficarei alguns anos por lá.” A resposta veio tão rápida quanto a pergunta, atingindo Brendan com a intensidade de um golpe. A voz calma e suave de Steven não foi o bastante para anunciar a notícia com menos impacto.

“Sinnoh?! Exclamou surpreso com a informação. Para Brendan essa região ficava do outro lado do mundo. Era bem mais distante que sua terra natal, Johto.

“Sim. Longe e completamente diferente de Hoenn, não?” Perguntou retoricamente. Não havia emoção em sua voz, e no seu rosto estava desenhada uma expressão que apenas demonstrava seriedade.

“E por quanto tempo você vai ficar aqui?” O adolescente questionou. Ele não percebeu, mas sua voz havia se tornado mais baixa, e seus olhos involuntariamente observavam a xícara de café que ainda não estava nem na metade.

“Provavelmente uma semana.”

“Oh.” Foi tudo que ele conseguiu responder.

Brendan não negava que estava chateado com a notícia. Ele o conheceu há pouco tempo, mas quando os dois se encontravam era sempre tão bom. Após todos esses acontecimentos, o rapaz estava começando a achar que poderia desenvolver uma relação mais forte com o treinador veterano, no entanto ele precisaria se despedir antes mesmo de realizar o que queria.

“Brendan, seu time está completamente curado.” A enfermeira do balcão anunciou de forma gentil, chamando a atenção de Brendan e tirando-o de seus pensamentos.

O rapaz levantou-se do assento e recolheu as cinco pokébolas da plataforma, guardando-as de volta em sua mochila verde. Ele agradeceu a moça e retornou à sua mesa, mas o clima incômodo ainda não havia desaparecido. Brendan ficou tão inerte na conversa com o veterano que só durante essa pausa ele percebeu que a tempestade havia se transformado em uma leve garoa, que levemente batia contra a vidraça e criava um som relaxante.

“Parece que a chuva parou.” Comentou o maior observando a paisagem de fora, finalmente quebrando o silêncio entre os dois.

“Acho... acho que é aqui onde nos despedimos, não é?” Perguntou incerto e de certa forma relutante. Ele não olhava diretamente para o outro treinador porque estava embaraçado; odiava despedidas.

“Talvez,” A voz dele estava totalmente diferente da de alguns minutos atrás. Steven também parecia sem jeito e relutante falando isso. “Boa sorte conquistando a Liga.”

Brendan apenas assentiu e saiu com certa pressa do local, deixando o geólogo para trás. Seu coração estava apertado. Aquela era definitivamente a última vez que o veria? Ele não gostaria que fosse. Sacudiu a cabeça; não queria pensar nisso, mas era difícil quando as vozes vinham da sua mente ou alguma outra parte do seu corpo. E ele sabia que seria ainda mais difícil se esquecer do rosto daquele treinador.

 

*

 

Brendan havia saído alguns minutos atrás, mas Steven continuou sentado à mesa, refletindo sobre aquele dia; tentando entender por que ele agia estranho quando estava perto do rapaz, por que seus encontros eram sempre tão repentinos e suas conversas tão rápidas. Então pensou sobre a sua viagem. Ficaria tudo por isso mesmo? Deixaria o rapaz ir embora de sua vida assim, tão rápido? As rubis preciosas surgiram tão de repente, e já desapareceriam.

Brendan era, de fato, como uma joia rara. Não era todo dia que Steven encontrava alguém com a mesma determinação, honestidade e bom caráter. Brendan o fazia sorrir em todas as suas conversas, não importa o quão caótica sua cabeça estava. Steven sentia-se bem perto do treinador.

Naquele momento ele já não estava pensando sobre Devon ou Sinnoh; ele só estava refletindo sobre a importância de Brendan na sua vida mesmo em tão pouco tempo de convivência. Não deixaria que esse pequeno laço que havia se formado entre os dois se desatasse. Com esse pensamento em mente, levantou-se da mesa e deixou alguns trocados jogados ao lado da xícara, preenchida pela metade com café já frio.

 

*

 

Steven entrou com passos quietos dentro do ginásio, vasculhando o local com o olhar. Não demorou muito para suas íris azuis encontrarem Winona e Brendan lutando na arena principal, deixando o barulho alto dos golpes preencherem o ginásio. Concentrados como estavam, nem perceberiam sua presença.

Ele começou a caminhar silenciosamente na direção da arena. Os treinadores o reconheceram de cara, deixando o veterano passar sem nenhuma interrupção. Alguns murmuravam empolgadamente sobre a presença do ex-Campeão, mas nenhum se aproximava para conversar.

Logo ele chegou ao canto da arena, observando em silêncio os dois treinadores que lutavam com paixão, aparentemente já no final. Winona usava sua Swellow, enquanto Brendan comandava Kirlia. Uma escolha interessante, levando em conta que Kirlia poderia usar seus ataques especiais para se beneficiar sem tocar no oponente. Além disso, ele poderia aprender uma imensa variedade de movimentos que ajudariam na batalha contra o tipo voador.

“Lâmina de Ar.” Disse Winona ao seu Pokémon.

“Psíquico!” Brendan comandou. Os olhos e chifres laterais de Kirlia começaram a brilhar com o poder que ele estava acumulando, cujo usou para prender Swellow no ar com sua telecinésia antes que ela finalizasse o golpe. “Agora termine com Choque do Trovão!”

Ainda mantendo Swellow imóvel com sua mente, Kirlia carregou ondas de choque elétrico com suas pequenas mãos e imediatamente lançou contra a ave, que além de estar sofrendo com os poderes psíquicos, agora também era atingida pelo ataque elétrico. Quando Kirlia finalmente a libertou de sua prisão telecinética, Swellow caiu no chão inconsciente, ainda com algumas ondas elétricas em volta de suas asas.

“Conseguimos Kirlia!” O rapaz logo anunciou, correndo para abraçar o Pokémon que retribuiu o ato com alegria. “Você foi incrível!”

“Foi uma batalha magnífica,” Winona disse contente, retornando Swellow para a pokébola e dirigindo seu olhar para algo atrás do moreno. “Tenho certeza que Steven acha o mesmo, não é?”

Parecendo confuso, Brendan virou sua cabeça para onde a moça estava olhando e encontrou Steven parado, de braços cruzados no canto da arena. Um sorriso automaticamente surgiu nos lábios do adolescente que não perdeu tempo e caminhou na direção do mais velho, ainda com Kirlia nos braços.

“Steven! Eu não percebi que você estava aqui.” Disse alegre, porém um pouco embaraçado por não ter notado o veterano antes. Ele colocou Kirlia no chão, mas o Pokémon psíquico continuou dançando, dando vários rodopios na ponta dos pés sem sair do lugar.

“Isso é um bom sinal, significa que estava focado na batalha.” O colecionador respondeu. “Você lutou muito bem com Kirlia. Eu sabia que você possuía uma conexão forte com seus Pokémon, e agora eu comprovei isso. Chegará longe se continuar assim.” Tirando o fato que seu ego havia aumentado consideravelmente ao ouvir aquilo, Brendan estava muito feliz pelo reconhecimento. Significava muito vindo do veterano.

Brendan apenas desviou sua atenção do geólogo para pegar a bela insígnia pena das mãos de Winona. Ela explicou sobre o poder da insígnia com um orgulho evidente, também agradecendo pela batalha.

Após ouvirem o que ela tinha a dizer, os dois treinadores se despediram da Líder de Ginásio e saíram. Kirlia continuou dançando alegremente.

“Estou surpreso. Não imaginei que você fosse voltar antes da sua viagem.” O moreno falou enquanto caminhava.

“Por que não? Eu ainda tenho algum tempo aqui. Além do mais, eu estava curioso para ver como você se saia em uma batalha séria.” Obviamente não era apenas pela batalha, mas ele não admitiria isso em voz alta.

Houve um momento de silêncio, até que Brendan finalmente se pronunciasse.

“Posso estar sendo audacioso perguntando isso, mas por que você vai para Sinnoh?”

“Como você já sabe, eu gosto de procurar pedras raras, então estou sempre viajando. Mas dessa vez também envolve outros assuntos. É complicado explicar,” Ele involuntariamente olhou para o céu, como se o manto alaranjado do crepúsculo fosse providenciar uma boa resposta. “Digamos que eu quero encontrar coisas novas; algo que me mantenha cativado.”

“E não há nada aqui que te prenda?” O rapaz perguntou mais uma vez.

Havia muitas coisas que o faziam querer permanecer naquele lugar. Dos Pokémon e lugares que ele conhecia tão bem ao simples clima de terra natal. Porém havia algo mais recente que estava entrando para essa lista. Uma pessoa que caminhava ao seu lado naquele momento.

“Há sim, contudo eu não sei se posso ficar apegado. Acho que é perigoso.”

Brendan não entendeu o que ele quis dizer com isso, no entanto decidiu não questionar, guardando suas dúvidas para si mesmo. O treinador gostaria de saber quem era esse algo ou alguém que o ainda mantinha preso, mesmo tendo um pouco de receio no fundo do seu coração de descobrir outra pessoa e acabar se decepcionando. Essa nova sensação no seu peito era realmente confusa.

“A propósito, para onde você irá agora?” Perguntou o mais velho, tirando o moreno das suas reflexões.

O garoto tateou o bolso lateral da sua bermuda até encontrar o que queria, retirando uma PokéNav. Ele abriu o aparelho, clicou em alguns botões e analisou a tela por alguns segundos.

“Pelo que parece, a próxima cidade é Lilycove.”

“Bem, então é melhor nos apressarmos antes que anoiteça,” Quando Steven disse isso, o rapaz mais uma vez o encarou com uma expressão desentendida. “Minha casa fica em Mossdeep, então por que não passar por Lilycove antes?”

Um sorriso imediatamente foi desenhado nos lábios do moreno ao ouvir aquilo, e um calor agradável esquentou seu coração. “Tem razão! Vamos, o sol já está se pondo.”

Steven também sorriu ao ver a empolgação do adolescente. Sendo sincero, ele não precisava passar por Lilycove para chegar à sua casa; a velocidade de Skarmory o levaria à Mossdeep em questão de poucos minutos. Porém entre um vôo rápido e uma caminhada com Brendan, Steven definitivamente preferia a segunda opção.

Os dois continuaram sua caminhada em direção à rota que dava acesso a outra cidade, mas os movimentos do Pokémon de cabelo verde próximos aos joelhos de Brendan chamaram a atenção do veterano.

“Seu Kirlia está muito animado hoje.” Steven comentou.

Ouvindo isso, Brendan abaixou seu olhar e observou o Pokémon, só então notando que ele caminhava dando vários rodopios na ponta dos pés como um bailarino incansável. O treinador nunca viu Kirlia daquele jeito. Ele estava acostumado a vê-lo dançar todos os dias, mas nunca com tanta alegria.

“É, eu não sei o que deu nele. Acho que está contente pela vitória no ginásio.”

No entanto, Brendan sabia que aquele não era o único motivo pela qual o Pokémon dançava daquela forma. A raça de Kirlia era conhecida por sentir a emoção dos seus treinadores; quando tais emoções são positivas e o treinador está feliz, Kirlia dança para comemorar a alegria da pessoa querida. Seu rosto se tingiu em um leve tom de vermelho quando o pensamento lhe atingiu; claro, ninguém precisava saber do real motivo.

De repente, Steven sentiu algo estranho em suas costas e parou de caminhar, como se algo ou alguém estivesse os observando. Seu estômago se revirou só com esses pensamentos. Com um pouco de receio, o treinador virou sua cabeça para checar e confirmar suas desconfianças.

Seus olhos azuis se abriram em surpresa e espanto no momento que viram a criatura. Imóvel e quieta, mantendo uma posição elegante e misteriosa no topo da rocha enquanto a brisa do fim de tarde balançava o pelo albino. Ela o encarava com seus olhos carmesins, que brilhavam como grandes e misteriosos orbes em contraste com as cores do crepúsculo. Aquela cena causou arrepios no corpo do veterano.

Steven nunca acreditou em superstições ou lendas, mas agora que via Absol tão de perto, sua mente o fez lembrar-se de todas as histórias que ouviu na infância. Histórias sobre como Absol sempre aparecia na frente de humanos antes de algum desastre acontecer.

“O que foi?” A voz jovial e curiosa do moreno perguntou, e Absol rapidamente desapareceu na grama alta. A ação fez Steven sair do seu transe, e ele voltou sua atenção ao rapaz, que já estava muitos passos à frente. Do lugar onde Brendan estava não era possível ver o Pokémon, então ele preferiu se aproveitar do fato e não comentar sobre isso.

“Oh, nada demais. Pensei ter visto uma Mightyena selvagem, mas era apenas Zigzagoon.” Ele disse, colocando um pequeno sorriso no rosto para disfarçar.

O rapaz deu de ombros e continuou a caminhada. Steven não sabia se ele estava convencido com a mentira ou apenas não dava a mínima sobre isso, mas de qualquer forma o seguiu. A imagem dos olhos vermelho-sangue o encarando não saia de sua cabeça, deixando seu corpo com uma sensação de insegurança e um terrível frio no estômago. Ele não iria se apegar a meras lendas urbanas, um Pokémon não deveria carregar uma reputação tão ruim por culpa de contos populares; mas ele nunca viu um Absol antes, e isso só reforçava os seus receios. De qualquer forma, fez questão de sempre andar com cautela atrás do rapaz para garantir que nada de ruim aconteceria, pelo menos não a Brendan.


Notas Finais


"Absol, o Pokémon desastre. Sempre que um Absol aparece às pessoas, segue-se um desastre tal como um terremoto ou maremoto." - Ruby Pokédex.

a partir de agora vai começar os furdúncios do Team Aqua e Magma :v
Sei que até agora está um pouco monótono, mas a relação dos dois ainda está se desenvolvendo. Em breve as coisas começam a esquentar, juro. ;)

Comentários são a única forma que eu tenho de saber se vocês estão gostando. Então digam suas opiniões, críticas construtivas serão sempre bem-vindas. <3


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