História Cabeça nas nuvens - Um encontro inesperado

Acordei domingo de manhã com meu irmão pestinha pedindo para levá-lo ao parquinho. Não eram nem 9h ainda e ele já estava ligado nos 220v.

- Futaba! Acorda, vamos no Campo de São Bento! Vamos! Vamos!

- Tenha dó, né! Sai do meu quarto agora que eu ainda estou dormindo! - Disse com a voz baixinha, cobrindo a cabeça com o edredom.

Depois de enrolar mais uns 10min na cama, resolvi levantar e ir tomar café, já que o Yuki havia me acordado e eu não conseguia mais voltar a dormir.

Durante o café, minha mãe pediu gentilmente que eu levasse o Yuki ao parquinho. Normalmente nego esse tipo de coisa, mas não estava em condições de dizer não para minha mãe. Minhas notas na escola não estavam boas, principalmente em física.

Tirei 3 na última prova, minha vida dependia de “fazer a boa filha”, caso contrário o assunto “Quando sai seu boletim?” viria à tona na mesa, e eu não podia deixar isso acontecer.

- Futaba, querida. Você pode levar o Yuki ao parquinho para mim, por favor? Ele não vai sossegar enquanto não ir. – Disse minha mãe com um leve sorrisinho no canto da boca. Ela sabia que eu estava indo mal na escola.

- Claro, mãe! Nossa! Deixa comigo! - Respondi sem nem pensar duas vezes, mas com um ódiozinho no coração.

Enquanto isso, meu irmão assistia tudo, sorrindo de orelha a orelha. Ele só tem 4 anos, mas parece que quando se trata de chantagem, o pestinha sabe de tudo.

Fui tomar um banho e trocar de roupa. Coloquei um short vermelho, bem soltinho, e uma camisa branca estampada. Pus uns anéis no dedo e um chinelo no pé.

Fomos até o parquinho, que não é longe da minha casa. Uns 7min a pé. O Yuki brincou por umas duas horas sem parar e eu fiquei mexendo no celular, sentada em um banquinho próximo ao carrinho de sorvete. Quando deu 11h30, levantei e o chamei para irmos embora.

Mas sabe como criança é, se deixar fica o dia inteiro brincando e só para pra comer. Como havia comprado uma pipoca pra ele mais cedo, o pestinha não estava com fome, mas já estava quase na hora do almoço e precisávamos voltar pra casa – mais por eu estar cansada de ficar ali do que pelo almoço.

- Yuki, vamos embora, já esta na hora. - Falei enquanto levantava e ia em direção a ele.

- Nããão, Futaba. Não! Vamos ficar mais um pouco, eu nem brinquei direito! – Yuki falava fazendo um drama que quem passasse por nós até ficaria com pena dele.

Depois de muito pelejar, consegui tirar Yuki do parquinho, mas ele estava agitado. Parecia um cachorro sem coleira, correndo desgovernado.

Quando fomos atravessar a rua, segurei forte no braço dele para não deixá-lo fugir. O sinal estava aberto para nós e quase não tinha carro na rua, mas com Yuki todo cuidado é pouco.

Não demorou nem dois segundos e ele se soltou da minha mão e saiu correndo. Nesse mesmo instante estava passado um menino de skate do outro lado da rua e Yuki deu com tudo no menino.

- Yuki!!!! – Saí correndo desesperada ao encontro dele – Tudo bem? Você está bem? Quase tive um ataque do coração! – Minha mão tremia enquanto abraçava meu irmão.

- Desculpe, eu não vi ele! Sinto muito mesmo. – Disse o menino do skate enquanto se levantava.

Coitado, ele ficou todo ralado e a culpa nem foi dele. Enquanto isso Yuki estava quietinho, meio assustado por causa do pequeno acidente, mas sem grandes arranhões.

- Não, eu que tenho que pedir desculpa pelo meu irmão. Você esta bem? - Falei olhando para perna dele, que parecia estar escorrendo um pouco de sangue.

- Estou sim, está tudo tranquilo comigo – Disse ele enquanto se levantava e pegava seu skate.

Quando ele já estava indo embora, falei para irmos a um médico. Ele disse que era exagero, então insisti para que fôssemos até minha casa e minha mãe fizesse um curativo nele, já que sua perna estava sangrando. Não precisei insistir muito e ele aceitou.

Quando cheguei em casa minha mãe levou um susto, primeiro porque Yuki quase sofreu um acidente e depois porque eu havia levado um estranho para ela fazer um curativo na perna. Mas no fim das contas, ela estava aliviada de Yuki estar bem.

Enquanto minha mãe fazia o curativo no menino, eu estava olhando para baixo, conversando com minha amiga celular. Dei uma leve olhada para cima para ver como estava indo o processo do curativo e me deparei com o menino - que eu ainda não sabia o nome – olhando para mim. Nossos olhos se encontraram; eu rapidamente voltei a olhar para o celular e ele para a perna.

No fim do processo todo, levei o menino até a porta.

- Obrigado pelo curativo! – Disse ele com um pouco de vergonha.

- Que isso, de nada. Desculpa aí pelo meu irmão – Eu disse sorrindo para tentar quebrar um pouco o clima chato.

- Então... Qual é o seu nome? – Ele perguntou olhando para mim, com um pouco de vergonha.

- Ah, é! Nem sei o seu também! – Eu estava meio curiosa para saber o nome dele também, mas não ia perguntar – Meu nome é Futaba! – Falei com um sorrisinho tímido no rosto.

- Futaba! – Ele repetiu - Bonito nome! Meu nome é Kou, prazer! – Falou enquanto ia embora.

Então fechei a porta e disse um pouco baixinho:

– Muito prazer, Kou...

Depois desse dia não o vi mais, até porque meu irmão estava proibido de ir ao parquinho e eu de sair de casa, a não ser para ir para escola.

Dois dias depois, na saída da escola, estava conversando com duas amigas, Murao e Makita, quando vi o Kou do outro lado da rua perto da nossa escola. Eu até havia meio que esquecido dele. Quando o vi novamente, dessa vez foi com outros olhos. Ele estava com uma bermuda de brim cinza, camisa preta e tênis. Segurava o skate em uma mão e fones de ouvido em outra. Quando ele me viu, abriu um grande sorriso no rosto e acenou do outro lado da rua, enquanto olhava para mim. Acenei de volta com um sorriso no rosto também.

- Quem é ele, Futaba? – Perguntou Murao olhando para mim com um olhar de segundas intenções.

- Foi um menino que o Yuki atropelou no meio da rua uns dias atrás. Não contei para vocês?

- Não! Não contou! – Responderam as duas em coro, dando leves sorrisos no rosto.

Quando voltei meus olhos para Kou, ele estava atravessando a rua e vindo ao nosso encontro. Meu coração começou a disparar. Achei que ele só ia acenar e ir embora. Mas, espera, por que estou tão nervosa? É só um garoto.