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História Caçadores de recompensa. - Capítulo único..... Chegando na cidade.


Escrita por: ALBANIZ

Notas do Autor


Esta fiction foi feita apenas como mero entretenimento, não querendo ferir direitos autorais. Os personagens, Gabrielle, Cyrene e Ravenica são marcas registradas da MCA/Universal e Renaissance Pictures, Studios USA. Elas são usadas aqui, sem intenção de infringir as leis de copyright.

Capítulo 1 - Capítulo único..... Chegando na cidade.


A água batia contra as pedras violentamente jogando nuvens de espuma dezenas de metros acima das rochas, batia contra o cais sem piedade cobrindo-o ininterruptamente. A pressão do mar sobre a terra era imensamente mais violenta que o de costume, principalmente por não ser época para isso acontecer. Nuvens carregadas distantes escureciam o horizonte anunciando a tempestade, enquanto raios cortavam as nuvens.

Os navios não conseguiam atracar tamanha a violência das ondas se chocando contra as rochas e o cais, correriam o risco de serem destroçados pela fúria do mar, teriam que aguardar a tempestade passar e isso irritava Ravenica, mas era algo com que não podia lutar, tinha que esperar a natureza se acalmar. Ela tinha vindo de muito longe para desistir agora.

Ravenica é uma mulher de olhar ameaçador, terrível de se encarar, carrancuda, seus cabelos longos são cor de ouro velho. A roupa de couro é ocultada por uma grossa capa cinza com capuz amarrada cruzada sobre o peito. Carrega uma espada e um punhal presos no cinto, uma bolsa de couro pende cruzada sobre seu peito. As botas até os joelhos e as munhequeiras, compunham o vestuário incomum para uma mulher. Todos que a olhavam sentiam-se incomodados com sua estranha presença.

Aquele era um ano difícil em toda parte. As notícias sobre as atrocidades dos romanos eram praticamente semanais, mas nada disso interessava aquela mulher, ela estava ali para cumprir seu trabalho: capturar e entregar sua caça a Kellus, um senhor da guerra conhecido e temido em Neapollis e receber a polpuda recompensa que essa captura lhe renderia.

.................................................

No dia seguinte a tempestade acalmou. Um homem gigantesco e carrancudo de nome Kalin observava da proa a aproximação do navio com o cais, com seu olhar peçonhento ele avaliava a agitação do porto. O navio atraca e o desembarque começa. Ele afastava as pessoas que atrapalhavam seu caminho com esbarrões e empurrões sem se importar com nada nem ninguém. Ravenica ao ser empurrada o olha ameaçadora e ele responde ao olhar da mesma forma. A tempestade atrasou seus planos, mas agora em terra firme ele queria apenas rastrear a presa, capturá-la e receber a recompensa e o melhor lugar para se obter informações são as tabernas e hospedarias.

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Já era noite quando Cyrene à entrada da hospedaria forçava os olhos para enxergar na escuridão do caminho. Os fachos de luz que saíam das janelas do estabelecimento e pela porta da ferraria próxima não eram suficientes para tirar o local da penumbra. A mulher baixa os olhos, dá um suspiro, torna a entrar e fecha a porta.

O pequeno grupo de costume se reunia na hospedaria de Cyrene comentando as informações perturbadoras que Celano trouxera de viagem sobre o avanço das tropas romanas. Os homens discutiam sobre a proximidade da guerra e para piorar a situação, as estradas estavam cheias de assaltantes, o que tornava arriscado até mesmo viagens curtas. Motivo suficiente para afastar mercadores e viajantes e isso não era nada bom para o comércio da cidade.

O som da porta rangendo se abrindo devagar e de botas pesadas batendo no chão de madeira da hospedaria chamou atenção. Havia um homem gigantesco e forte parado na porta.

- Um viajante. As estradas devem estar melhorando. - Comenta Celano apoiado no balcão desviando o olhar para Adhar.

O homem entrou na claridade das tochas e a animação dos lavradores diminuiu abafada pela visão da armadura de couro desgastada, da espada embainhada no cinturão, da aljava carregada de flechas e do arco cruzado nas costas. Era óbvio que alguém armado assim não era um simples viajante.

Havia uma camada de barro em suas botas, as calças e a armadura estavam salpicadas de lama. O cabelo era um emaranhado seboso e os olhos negros e fundos mostravam uma perversidade assustadora.

Depois de examinar lentamente todos que estavam no recinto, o homem se dirigiu ao espaço entre Celano e Adhar e se apoiando pesadamente no balcão resmungou alguma coisa que não foi compreendida.

- Você deve ter passado um bom tempo na estrada, não é amigo? Aceita uma bebida senhor... - Celano fez uma pausa aguardando que o homem se identificasse.

- Kalin. - O homem responde secamente.

Cyrene chegava nesse instante com uma jarra de vinho, estampou seu melhor sorriso para o estranho e disse: - Bem-vindo. Gostaria de uma bebida, jantar ou um quarto para pernoitar?

Como o homem não respondeu, ela acrescentou: - Talvez o senhor quisesse dormir um pouco primeiro. Parece muito cansado.

Sem responder, os olhos de Kalin se moveram lentamente de um lado para outro como se procurasse alguém. Ele pega a jarra de vinho, uma caneca e se acomoda numa mesa de canto no fundo do recinto. Engolia a bebida em grandes goles, deixando escorrer pelos cantos da boca, molhando a barba.

Tentando ignorar a grosseria, Cyrene vai buscar outra jarra de vinho. O ambiente vai aos poucos retornando a normalidade. Os assuntos variavam da colheita fraca às ovelhas dos Vidalis que continuavam desaparecendo, até chegar como de hábito, ao velho contador de histórias.

As pessoas no bar bebericavam e escutavam as histórias do velho Adhar.  No quarto de cima a mulher loira atrás da porta entreaberta, sorria ao ouvir os detalhes de uma história que lhe era bem familiar.

- “... então Prometeu se viu acorrentado numa pedra no alto do monte Cáucaso pelas correntes de Hefesto. Mas isso não era o pior...” - Adhar fez uma pausa para aumentar o efeito da narrativa. A pequena plateia ouvia absorta a história da punição do Titã e de como Hércules o havia libertado.

- Não foi assim que ouvi essa história. - Interrompeu o jovem Órion. - Hércules não libertou Prometeu sozinho você sabe.

- Não, não sei rapaz. - Respondeu Adhar irritado cruzando os braços no peito e se recostando no balcão. - Vá em frente e conte logo a história toda, enquanto...

O ranger da porta novamente se abrindo lentamente interrompeu Adhar. Todos se viraram curiosos, pois todos os fregueses habituais já estavam presentes.

Havia um vulto encapuzado parado na porta. Nesse momento Cyrene apareceu com quatro tigelas de ensopado e duas broas fresquinhas.

- Duas caras novas no mesmo dia. Parece que a fase de vacas magras está acabando Cyrene. - Comentou Diomedes.

- Seja bem-vindo a minha hospedaria! - Gritou Cyrene num tom animado enquanto distribuía as tigelas. - Gostaria de uma bebida, jantar ou um quarto?

Sem responder o vulto deu mais um passo para o interior da hospedaria, deixando a porta aberta às suas costas mostrando a chuva que começava a cair enquanto trovões sacudiam as nuvens negras. O vulto tira o capuz causando surpresa em todos.

- Deuses, é uma mulher! - Diomedes exclama surpreso.

Ravenica examina o local e as pessoas atentamente. Órion corre para fechar a porta evitando que a ventania empurrasse a chuva para dentro. Kalin reconhece a mulher que pede uma bebida e senta-se numa mesa isolada.

.............. A presa e a caçadora.

Xena já estava próxima da estrada de Amphípolis quando a chuva começou. Cada vez mais raios partiam o céu, as árvores eram sacudidas pela ventania e a chuva foi encharcando o chão formando poças que se tornavam cada vez maiores e numerosas. Pelo som emitido pelos cascos do cavalo, ela sabia que o terreno estava traiçoeiro, com lamaçais perigosos e escorregadios. Cavalo e guerreira eram duas manchas velozes que cortavam a chuva em direção ao rio Estrimão. Era uma corrida contra o tempo, tinha que atravessar o rio antes que ele se tornasse caudaloso e de correntezas violentas, além disso, uma pessoa muito especial esperava por ela.

Da janela do quarto Gabrielle observava as gotas tilintando pelos telhados que foram se transformando em chuva forte encharcando os telhados e formando poças na terra. A loira respirou fundo e soltou o ar melancolicamente. Resolve descer do quarto e aguardar por Xena junto à Cyrene.

- Pelos deuses, onde andará aquela menina? - Pergunta Cyrene aflita. - Com esse temporal...

- Fique tranquila, ela sabe se cuidar... Já deve estar chegando. - Gabrielle responde tentando disfarçar a preocupação.

Goteiras encontravam caminho pelas telhas, correndo pelas madeiras do telhado e caindo no chão ou em cima das mesas. A porta subitamente se abre e um trovão seguido de um raio clareia o portal, mostrando a silhueta de uma mulher alta e visivelmente encharcada.  Cyrene corre ao seu encontro levando um pano para enxugá-la.

- Xena, graças aos deuses, estava preocupada..., você não chegava e com esse temporal... - Disse a mulher.

- Está tudo bem mãe. As estradas estão muito ruins, com lamaçais perigosos e Argo estava assustado com os raios. - Xena explica enquanto se enxugava.

- Onde ele está? - Cyrene pergunta. Gabrielle se aproxima trazendo uma manta de lã e cobre os ombros da guerreira.

- Lá atrás no estábulo. - Xena responde.

Ravenica pega na bolsa um pergaminho e compara a gravura com a mulher que acabara de entrar. Os olhos traiçoeiros de Kalin observam a cena atentamente. - Uma caçadora de recompensa. - Ele pensa.

- Vamos subir e tirar essa roupa molhada, seu quarto está pronto! - Disse Cyrene aflita.

- Pode deixar mãe, Gabrielle vai me ajudar. - Diz a guerreira.

No quarto, Xena coloca a espada e o Chakram sobre a mesa próxima a cama.

- Então como foram as coisas em Phillipos? - Gabrielle pergunta enquanto ajuda a guerreira a tirar o peitoral.

Xena vai contando os acontecimentos, os boatos e as dificuldades da viagem conforme ia se despindo. Gabrielle coloca a roupa molhada sobre o encosto da única cadeira no quarto.

Lá fora a tempestade caía impiedosamente, a ventania repentinamente abre a janela jogando chuva para dentro do quarto. Xena corre para fechá-la a tempo de ver um vulto encapuzado iluminado pelo clarão de um raio se dirigir para o estábulo.

- Quem será esse louco que sai num temporal desses? - Pensou observando a cena, mas a chuva entrando a obriga fechar a janela.

- Você está com uma cara horrível. - Gabrielle diz enquanto enxuga os longos cabelos negros de sua companheira. Xena tivera uma viagem longa e exaustiva. Após acomodar a guerreira na cama Gabrielle deita-se aconchegada ao corpo de sua amada. Xena adormece com a rara tranquilidade de saber que está segura, embora seus sentidos nunca descansem totalmente.

A chuva caía incessantemente; alguns minutos depois a guerreira de repente acorda com o relincho de um cavalo e um urro abafado, pula da cama assustando Gabrielle e abre a janela, não se importando com a chuva que entra empurrada pela ventania. Vê o mesmo vulto cambaleando, protegendo a barriga com os braços. Imediatamente veste as roupas ainda molhadas, pega a espada e desce para o salão que ainda tem alguns homens bebendo. Passa por eles como um furacão e corre para fora não se importando com a chuva grossa e fria.

Xena corre para o estábulo, examina Argo atentamente procurando por ferimentos; o cavalo está bem. Acaricia a cabeça do animal e Argo responde ao carinho com um pequeno relincho.

Da ferraria olhos perversos observam a guerreira. Ravenica controla-se para não dar nem um gemido pela dor violenta que sentia no abdômen, tinha um grande hematoma causado pelo coice. - Maldito animal. - Pensava.  Procura controlar sua respiração ofegante devido à dor, com muita sorte não estaria com alguma costela quebrada.

- Essa não é uma presa qualquer. Vai valer o dobro. - Ela pensa. A caçadora aguarda pacientemente que a caça desista de encontrá-la.

A torrente de água que cai atrapalha muito a visibilidade, os sentidos aguçados de Xena não conseguem encontrar sinais do vulto. Observa atentamente cada pedaço do local, mas nada indicava que alguém sequer estivera por ali, a água apagara qualquer sinal.

Xena percebendo que era inútil continuar procurando, entra novamente na hospedaria e com olhar atento observa todas as pessoas no recinto. Um homem chama sua atenção. Em seguida se dirige para seu quarto, sem maiores explicações para Cyrene que a olhava espantada.

Sentindo que não estava mais em perigo Ravenica cuidadosamente abre sua bolsa e retira um pequeno frasco, bebendo todo seu conteúdo. O remédio aliviará sua dor por tempo suficiente para o tratamento necessário.

.............. Em estado de alerta.

A tempestade passou e os dias se tornam agradáveis. O tempo estava quente e seco, ideal para amadurecer uma lavoura de milho. Na coxia Xena faz os últimos ajustes nos apetrechos de montaria enquanto Gabrielle finalizava as arrumações nas sacolas de viagem.

- Vocês não podem sair sem comer alguma coisa. Preparei um bolo para vocês. - Diz Cyrene.

- Mãe, nós... - Xena é interrompida.

- Não me venha com história, vocês não podem ficar com fome. Tome Gabrielle, leve para viagem. - Cyrene insiste entregando o bolo que exalava um delicioso aroma de nozes.

- Huummm. Eu adoro bolo de nozes. Obrigada. - Gabrielle responde com a felicidade de uma criança gulosa estampada no rosto.

Entre lágrimas e abraços Xena e Gabrielle se despedem de Cyrene prometendo voltar no próximo Solstício de verão. Elas caminham pelas ruas de Amphípolis, puxando Argo pelas rédeas até próximo à saída da cidade. Xena percebe a olhada de Kalin que passa por elas cavalgando vagarosamente.

- Hoje está um dia lindo não está? - Diz Gabrielle aspirando a suave brisa da manhã.

- É, está mesmo... - Xena responde sorrindo sem tirar o olhar daquela criatura tão amada. Gabrielle estava radiante, sua beleza, sua pele, sua voz, tudo naquela mulher a encantava.

A viagem prossegue em silêncio. Os retalhos de sombra das árvores criavam um ambiente tranquilo pelo caminho. Dos dois lados da estrada as árvores mudavam de cor, as folhas ganhavam um tom amarelado, enquanto outras se tingiam de marrom e vermelho. Só os velhos carvalhos se negavam a perder suas folhas mescladas de verde e dourado.

Gabrielle montada na garupa resolve romper o silêncio: - Xena, você está bem?

- Estou com um mau pressentimento. - Xena responde demonstrando sua preocupação. - Temos que ficar de olhos bem abertos.

- Xena, durante todo esse tempo que estamos juntas aprendi que é bom seguir seus pressentimentos, mas não acha que está exagerando?  Você está sempre esperando uma emboscada a cada curva de estrada, atrás de cada árvore, de cada pedra. Você nunca relaxa? - Gabrielle diz.

- Antes de te conhecer minha vida era só matanças, ódio e conquistas. Com o tempo minha vida foi se tornando um vazio sem sentido, estava cansada. Aí você surgiu trazendo luz para meu caminho. Fiz muitos inimigos que fariam de tudo para se vingar. Nunca me perdoaria se acontecesse alguma coisa com você.

Gabrielle se emociona, abraça forte a cintura da guerreira e diz: - Quando resolvi te seguir aceitei as consequências e os perigos de nossas vidas juntas e se alguma coisa me acontecer, quero que você me prometa que não vai voltar a ser o monstro de antes... Promete?

Xena não responde. Gabrielle insiste. O silêncio persiste, até que por fim a guerreira responde: - Eu prometo.

A loira beija as costas de Xena e desconversando diz: - Já estamos viajando a mais de meio dia, não podíamos parar e descansar um pouco?... Está ouvindo a água? Um gole de água fresca seria muito bom e um banhozinho melhor ainda. - Xena a olha por sobre o ombro e sorri.

Seguiram o som da água na descida da encosta até cruzar um pequeno bosque e deparar com um rio límpido onde apearam. Xena leva Argo para a margem do rio para que bebesse água fresca, enquanto Gabrielle enchia os odres. Não resistindo à tentação de um banho refrescante Gabrielle se despe; a guerreira admira o corpo nu da loira, suas belas curvas, os seios lindos, as coxas rígidas e bem torneadas. Xena suspira e olha o céu, a noite chegaria em breve e elas ainda estavam muito distantes da cidade mais próxima. Assim, resistindo à tentação de juntar-se a Gabrielle, a guerreira molha fartamente o rosto e o pescoço como se quisesse “esfriar” os pensamentos. 

Argo pasta numa moita junto a árvore onde Xena se acomoda. A visão sensual de Gabrielle saindo da água como uma deusa extasia a guerreira. Gabrielle veste-se e senta-se entre as pernas da guerreira, se recostando nela. A loira acaricia o braço da guerreira que enlaça sua cintura. Dividem uma maçã. Respirando fundo, Xena sente o aroma dos cabelos e o hálito de maçã da barda.

Antes de acabarem a maçã, Xena ouve um ruído no bosque. Ela toca no ombro de Gabrielle e põem um dedo sobre os lábios pedindo silêncio.

- O que foi? - Gabrielle sussurra se remexendo.

- Ouvi alguma coisa. - Xena responde.

 Xena capta o som de movimentos entre as árvores. Um leve farfalhar de arbustos, o estalar de galhos secos se quebrando. Imediatamente as duas ficam de pé. Xena protege Gabrielle com o próprio corpo, uma das mãos segura o Chakram e a outra segura a espada aguardando o ataque.

Com os sentidos em total alerta Xena ouve o zunir a tempo de se desviar de um dardo.

- Vamos sair daqui! - A guerreira berra.

Xena montou de um salto, puxou as rédeas se inclinou ligeiramente segurando firme o braço da Barda que subiu na garupa do cavalo, acomodando-se e agarrando fortemente ao corpo de Xena enquanto disparavam num galope desenfreado de volta a estrada.

............. O despertar da besta.

Já tinham percorrido várias léguas, quando Xena diminuiu a velocidade da cavalgada. Argo estava exausto bufando, com a baba espumosa escorrendo da boca. A guerreira examina o local atentamente até por fim parar e descer do cavalo.

- Então? Continua achando que estou exagerando? - Xena pergunta com certa ironia encarando a loira.

- Você tinha razão..., desculpe. - Gabrielle responde.

- Logo vai escurecer, temos que parar, Argo está exausto... Olhe... - Xena aponta para o topo do morro. - Ali é um bom lugar para acamparmos.

Gabrielle desanimada olha para o lugar indicado. O cansaço e a tensão do dia tinham abatido seu ânimo e agora ainda teria um morro para subir. Embora não fosse muito grande, aos seus olhos parecia gigantesco como o monte Olimpo. Ela solta um suspiro cansado e começa a subida.

O capim por todos os lados do morro era denso, muito alto e dançava ao sabor do vento. Quando chegaram ao topo o sol já começava a descer por trás das montanhas. O pico era plano e sem vegetação alguma. No alto do morro três pedras maciças e escuras formavam um grande portal. As paredes com partes desabadas de pedras enegrecidas pelo tempo e cobertas de limo e musgo tinham formas estranhas e irregulares; pedaços de madeira apodrecida meio enterradas nos escombros e espalhadas por todo lugar, além de grande parte do telhado desabado e restos do que deveria ser um altar lembravam mais uma casa demolida que um templo.

- Que lugar é esse? - Gabrielle pergunta.

- São as ruínas do templo de Morpheus. Aqui estaremos mais seguras. - Xena responde. - Quem quer que esteja nos seguindo não poderá chegar aqui sem ser visto.

Gabrielle admira a paisagem aproveitando as poucas horas de luz que ainda restavam. A vista em todas as direções era de uma beleza incomum. Alguns rios e estradas estreitas serpenteavam entre as árvores, as folhagens mesclavam as diversas cores que o outono trazia. As montanhas eram uma muralha distante com rochas à mostra e árvores agarradas as encostas. Pequenos campos cultivados destoavam das colorações das matas.

- É..., parece um bom lugar. - Gabrielle suspira e murmura para si.

As mulheres começam a preparar o acampamento, cada uma cuidando de suas tarefas como de costume. Xena faz várias viagens trazendo braçadas de galhos, formando uma grande pilha. Gabrielle limpa um espaço para a fogueira.

- Não vamos acender fogueira, não é seguro. - Xena avisa.

Gabrielle olha para ela confusa e pergunta: - E como você espera que eu faça a comida?

- Tem maçãs, queijo e o bolo de nozes, esqueceu? - Xena responde sorrindo.

Após estenderem as mantas e sentarem Gabrielle abre a sacola, tira o embrulho onde está o bolo e serve-se de um farto pedaço. Xena sorri com a gulodice da loira que gemia apreciando cada mordida no pedaço de bolo.

- Xena você precisa descansar, durma um pouco que eu faço o primeiro turno de vigia. - Disse Gabrielle.

- Hãnrã... - Xena responde observando a loira que já está com olhos sonolentos. A guerreira começa afiar metodicamente a lâmina de sua espada. - As coisas estão confusas, seja lá quem for que está nos seguindo não nos ataca. Por quê?

Gabrielle boceja esforçando para se manter atenta enquanto Xena faz suas observações dos acontecimentos até o momento. Gabrielle recostada numa pedra adormece pesadamente. A guerreira observa a companheira e sorri. Cuidadosamente pega a mulher no colo, a acomoda na manta e a cobre.

- Descanse meu amor, amanhã teremos um longo caminho pela frente. - Xena murmura e beija delicadamente os lábios da barda.

Xena começa a espalhar no capim próximo ao topo os galhos colhidos. Terminado o serviço, examina Argo pela última vez, acomoda-se num lugar estratégico abraçada a espada e com o Chakram preso na cintura dá um profundo suspiro e cochila.

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Gabrielle desperta de um sonho estranho em que se viam perseguidas por um homem gigantesco de olhar peçonhento, ao abrir os olhos se depara com o rosto de Xena logo acima do seu delineado em sombras pela luz da lua. A loira já ia dizer alguma coisa sobre esse modo muito agradável de acordar, quando a guerreira pôs um dedo sobre seus lábios.

- Quieta. - Xena sussurrou. - Escute.

Gabrielle senta-se apurando a audição. - Não estou ouvindo nada..., só o vento. - A loira responde sussurrando.

Xena acena para que ela fique em silêncio. Nesse momento, pouco abaixo do topo o estalido curto e seco de galho se quebrando. Os músculos da guerreira se retesam. Ela olha em volta, depois ergue os olhos para o arco de pedra.

- Vamos subir ali! - Xena sussurra.

Trançando os dedos a guerreira forma um degrau. Gabrielle apoia o pé e Xena dá um impulso tão forte que quase a joga sobre o arco. A Barda se agarra a borda saliente da pedra e com esforço puxa o corpo para cima. Embora a parte superior do arco ficasse alguns metros acima do chão, Xena com impulso de suas poderosas pernas salta e com uma cambalhota no ar cai de pé sobre o arco. Deitadas elas espiam por cima da borda e esperam por mais alguns minutos. Uma forma escura sai do capinzal, caminhava cautelosamente agachada em direção as ruínas que sob o luar parecia um local macabro.

Agora em local descoberto se definia perfeitamente a silhueta de um homem muito alto e forte. Com um movimento vagaroso ele desembainha a espada. Ele vasculha cuidadosamente cada canto das ruínas.

Xena já com a espada desembainhada sussurra para Gabrielle. - Fique aqui.

- Xena... - A frase da loira é interrompida pelo olhar fuzilante da guerreira.

Ela pula às costas do homem. - Está procurando alguma coisa? - Xena pergunta com a espada apontada para ele.

O homem vira-se com uma rapidez tão súbita que sua espada se choca com a lâmina da guerreira afastando-a com um tranco.

Xena examina as feições do homem e reconhece o sujeito que passou por elas na saída de Amphípolis. Os olhos do homem acompanhavam cada movimento da guerreira. Repentinamente Kalin ataca rosnando, a espada manejada alta e depois estocando baixa; Xena se mantinha em movimento defendendo os golpes e contra-atacando.

- Quem é você? Por que está me seguindo? - Xena pergunta aparando um golpe.

Kalin apenas diz: - Eu prefiro não matá-la, você é mais valiosa viva. Mas se não tiver outro jeito...

Kalin ataca; Xena contém o pesado golpe da espada que faz seu braço sentir o choque até os ossos. Ele gira a espada em arco e estoca com toda força tentando atingir o joelho de Xena. Kalin era mais alto, mais pesado e mais forte que a guerreira e quando seus corpos se juntam durante a luta, ela o empurra com toda força para fazê-lo recuar.

Kalin mantinha um sorriso cínico e com cautela circulava ao redor de Xena encarando-a, analisando a presa. Ele tentava conduzir a luta para um terreno mais pedregoso com a esperança que a mulher tropeçasse. Uma perda de equilíbrio seria fatal para Xena. Kalin ataca rápido com a espada pronta para uma estocada na direção da garganta de Xena e no último momento baixa a espada para cortar sua perna. Xena salta de lado escapando do golpe.

A luta continua se desenrolando por vários minutos com as espadas se cruzando num embate incansável. A destreza dos dois lutadores era igual. Esquivavam-se dos golpes com reflexos inacreditáveis. As estocadas eram defendidas com agilidade.

Então se ouve um grito. Cega pela aflição insensata Gabrielle ataca; Xena grita: - GABRIELLE NÃÃÃO!

Com rapidez de segundos Kalin vira e apara o golpe com a espada, imediatamente gira o corpo e num veloz contragolpe desarma a loira. Ela não é páreo para a força do gigantesco homem. Ele toma o bastão e a atinge no abdômen, logo em seguida aplica outro golpe nas pernas de Gabrielle que ao cair bate com a cabeça numa pedra ficando caída nos destroços.

- DESGRAÇAAADO! - Xena grita com toda força de suas entranhas.

A besta tanto tempo adormecida emerge com a fúria de Ares. Com os olhos faiscando de ódio Xena investe contra Kalin atacando numa sucessão de furiosos golpes de espada e usando toda sua força e perícia vai empurrando o homem para os escombros.

Surpreso com a ferocidade da mulher Kalin se defende para em seguida atacar, desta vez tentando estripar Xena com um giro selvagem da espada; a mulher recua e a lâmina passa sibilando junto a sua barriga. Enquanto Kalin girava a espada trazendo-a de volta, Xena gira nos calcanhares e com um potente chute atinge em cheio o queixo do homem fazendo o sangue espirrar pela boca. O gigante cambaleia atordoado; um segundo golpe se choca com a espada de Kalin com tanta força que faz o braço dele ir para trás.

- MISERÁVEL, EU VOU MATÁ-LO! - A guerreira berra furiosa.

Kalin se recupera e gira a espada pronto para uma estocada na barriga da guerreira, mas Xena se desvia do golpe e desce a espada com toda fúria sobre o pulso de Kalin chegando a atingir os ossos. O homem grita. Xena o golpeia novamente, desta vez acertando a espada, fazendo-a voar de sua mão.

- Covarde miserável! - Xena rosna. Seu semblante está desfigurado pelo ódio.

Havia um terror nos olhos de Kalin nunca antes sentido. O terror de um homem diante da morte, a besta infernal dentro de Xena sentiu prazer em dar uma morte lenta ao maldito. Ela o acerta num dos joelhos, ele cambaleia tentando alcançar a espada; ela o acerta novamente no joelho, com muito mais força, cortando profundamente até chegar ao osso, o sangue jorra em abundância, ele cai apoiado no outro joelho. Xena em pé atrás de Kalin segurando-o pelos cabelos puxa sua cabeça para trás.

- Dê lembranças à Hades! - Xena diz com os dentes cerrados enquanto corta a garganta do homem.

O sangue espirra e escorre encharcando o peito de Kalin. O engasgo gorgolejante foi o único som que o gigante emitiu antes de cair no chão estrebuchando.

.............. Voltando para Amphípolis.

Gabrielle abre os olhos e vê confusas formas escuras. Sua cabeça latejava. Após alguns minutos o mundo entrou em foco. Ela se mexe um pouco tentando se levantar, mas se sente tonta e fraca.

Xena limpa o sangue do corte acima da orelha da loira. - Quer ficar quieta! - A guerreira diz irritada. - Você poderia estar morta sua teimosa. 

- Xena eu estou bem, não precisa se preocupar é só um... Aiii doeu! - Gabrielle reclama.

- Vamos voltar para Amphípolis. - Xena diz.

- Por quê? É só fazer um curativo e podemos seguir viagem. - Gabrielle insiste.

- Vou fazer um curativo nesse ferimento e vamos voltar. O corte foi grande vai precisar de pontos, estou sem material e Apollonia ainda está a cinco dias de viagem.

Gabrielle ameaça olhar o cadáver, mas desiste. - Podia ter aplicado aquele golpe com os dedos na garganta dele obrigando ele a falar, não precisava matá-lo.

Xena para, encara a barda e diz: - Esse homem estava nos seguindo desde Amphípolis. Eu o vi bebendo na hospedaria, um homem desse tamanho não passa despercebido. Bastou olhar a roupa e as armas dele para perceber que era um mercenário.

A guerreira mostra um pergaminho bem amassado. - Veja o que estava com ele. Alguém colocou minha cabeça à prêmio.

- Mas agora você não precisa mais se preocupar com isso. - Gabrielle responde.

- Quando vi você caída fiquei cega de ódio, não consegui me controlar..., minha única vontade era matá-lo. - Xena diz.

- Você me prometeu que... - Gabrielle não consegue terminar a frase, Xena a interrompe.

- Eu lembro o que prometi, mas quando eu puxo a espada já estou pronta para matar, é assim que sou. É mais forte que eu. - A guerreira responde.

Gabrielle percebe certa angústia no semblante da companheira e acaricia seu rosto. Ela compreende a luta que Xena tem dentro de si. O remorso de seu passado tenebroso pesa em seus ombros. O toque carinhoso de Gabrielle parece reanimar a guerreira que ensaia um sorriso e beija a palma da mão da loira.

- O único motivo pelo qual eu faço o bem nesse mundo é porque estou com você. Você é o meu caminho Gabrielle! - Diz a guerreira.

O carinho, a amizade, a cumplicidade e o amor são demonstrados quando seus olhares se cruzam. Xena abraça a barda, aconchegando-a em seu peito.

Gabrielle responde ao abraço e diz: - Eu falo do seu lado negro como se fosse uma doença..., mas sem ele não estaríamos mais vivas.

- Obrigada minha amada. - Xena murmura.

- De quê? - Gabrielle pergunta.

- Por fazer parte da minha vida e me compreender. - A guerreira responde emocionada. - Mas agora vamos cuidar disso. Logo vai clarear, se nos apressarmos chegaremos pela manhã.

- Quer dizer que vamos... - Gabrielle não completa a frase.

- Voltar para Amphípolis e não discuta comigo. - Xena repete firmemente.

.................................................

Cyrene se surpreende ao ver Xena e Gabrielle de volta. Aflita ela corre para receber a loira que está com uma atadura manchada de sangue amarrada na cabeça.

- Pelos deuses, o que aconteceu? - Cyrene pergunta aflita amparando Gabrielle.

- Ela está bem mãe, mas vai precisar de uns pontos. Foi..., foi um pequeno acidente. Depois eu conto com detalhes, podemos subir? - Xena diz.

- Claro. Vão subindo, vou providenciar água e o material. Ai coitadinha! - Diz Cyrene acariciando o rosto de Gabrielle.

As mulheres começam a subir a escada no momento que Ravenica sai de um quarto. Xena observa que a mulher tem uma faixa enrolada no tórax. Seus olhares frios e desconfiados se cruzam. Ravenica pede a refeição e se dirige para a mesa.

As mulheres entram no quarto. - Eu vou buscar água, ataduras e o material para sutura. Fique quietinha que já volto. - Xena diz enquanto acomoda cuidadosamente Gabrielle na cama.

A guerreira desce e instintivamente procura pela mulher; a localiza numa mesa isolada no fundo do recinto. Xena se aproxima de Cyrene e pergunta: - Mãe sabe quem é aquela mulher na mesa lá no fundo?

Cyrene preparava as ataduras levanta os olhos, identifica a mulher e responde quase num sussurro: - Ela chegou no mesmo dia que você chegou de Phillipos. Não é de falar, está sempre carrancuda, a única coisa que sei é que se acidentou e que o nome dela é Ravenica.

- Hum. - Xena murmura. Dá uma rápida olhada para Ravenica e vê que está sendo observada. - Em que quarto ela está?

- No terceiro depois do seu, por quê? - Cyrene pergunta curiosa.

- Por nada, só curiosidade. - Xena responde, pega o material, a vasilha com água e volta para o quarto.

Ravenica pensa enquanto observa cada movimento de Xena. - Por Hades, é muita sorte. Pensei que tinha perdido o rastro e agora ela volta direto para minhas mãos. Agora é só preparar a armadilha.

................................................

Cyrene leva a refeição para Gabrielle no quarto. - Ah Cyrene não precisava, eu ia descer. Assim vou ficar mal acostumada hein?! - A loira sorri enquanto aspira o aroma da tigela de ensopado.

- Mãe nós vamos ficar mais um tempo por aqui, pelo menos até Gabrielle curar. - Xena anuncia pousando a mão no ombro de Cyrene.

Gabrielle olha para Xena não conseguindo disfarçar o espanto. Cyrene abre um grande sorriso de contentamento e eufórica começa a planejar o necessário para estadia das duas.

- Calma mãe, não precisa nada especial, queremos apenas descansar por mais uns dias. - Xena diz.

Após alguns minutos de tagarelice Cyrene volta aos afazeres na hospedaria. Agora a sós, Gabrielle com olhar desconfiado questiona a companheira: - Eu te conheço o suficiente para sentir que você está planejando alguma coisa. O que é?

Xena desvia o olhar e responde: - Você está imaginando coisas, só quero que você se recupere, não quero correr o risco dos pontos partirem, o ferimento abrir e voltar a sangrar.

- Você está querendo enganar a quem? - Gabrielle insiste.

- Ah Gabrielle pare com isso, além do mais você viu como mamãe ficou feliz?  Ela vai te bajular o tempo todo. - Xena responde tentando desviar o assunto e se dirige para porta.

- Xena... - Gabrielle percebe que não adianta insistir. - Já vi que nossa conversa acabou não é?

A guerreira se volta ligeiramente e diz séria: - Trate de descansar. - E sai fechando a porta.  

Xena dá a volta pelos fundos da hospedaria e escala silenciosamente o prédio. Como um gato move-se pelo telhado até chegar à janela do quarto de Ravenica. Solta o trinco, abre a janela e entra. Alguns minutos depois sai tão furtivamente como entrou.

Xena entra e encontra Cyrene limpando o balcão e pergunta: - Mãe ainda existe aquele curandeiro na cidade?

- Atyminius? Tem sim, passe pela ferraria e dobre na terceira esquina, vai dar num beco sem saída. A casa dele é a última. - Cyrene responde.

- Obrigada, eu já lembrei onde fica. - Xena responde.

Cyrene a olha intrigada e pergunta: - Algum problema?

- Não..., nada demais. Preciso comprar um remédio. - Xena responde e sai se dirigindo para casa de Atyminius.

A rua que levava a ferraria era larga, mas sem grande movimento; as ruas da cidade eram bem distanciadas uma das outras e algumas pareciam não levar a lugar nenhum. Vielas desembocavam em ruas largas e mais movimentadas onde o comércio se concentrava.

Os comerciantes berravam e bajulavam os passantes na esperança de atrair fregueses para suas lojas ou barracas com ofertas de boas mercadorias, alimentos frescos e bons preços. Algumas crianças se divertiam com pequenos furtos de frutas ou doces e corriam se misturando as pessoas que transitavam pelas ruas deixando para trás alguns comerciantes nervosos xingando e praguejando.

Caminhando por este cenário Xena chega ao seu destino e se anuncia: - Olá..., tem alguém em casa?

Um homem velho de poucos cabelos e barba rala veio de um corredor curto que dava na sala mal iluminada, entrou pela porta limpando as mãos no avental encardido.

- Sim? O que quer? - Pergunta Atyminius.

- Você tem raiz de Teriaca? - A guerreira pergunta.

Após uma breve procura o velho lhe dá uma pequena raiz fina, retorcida e marrom. Xena dá uma minúscula mordida e faz uma careta. - É amarga demais.

- É assim que se sabe que é remédio, se o gosto fosse bom seria um manjar. - Atyminius responde mal humorado. Conversam mais algum tempo sobre as várias utilidades da raiz.

- Ótimo, é exatamente o que preciso. - Xena se despede e retorna para hospedaria.

.............. Peças encaixadas no quebra-cabeça.

O único integrante do grupo habitual que estava faltando era Adhar. Os demais reunidos na hospedaria se queixavam das estradas, da falta de mercadores, dos impostos e dos malfeitores. Recordavam que três anos antes ninguém pensava em pôr trancas nas portas à noite. A noite ia alta, os três últimos fregueses já se preparavam para sair.

 Gabrielle e Xena recolhiam as canecas, as tigelas e as jarras de vinho enquanto Cyrene limpava as mesas. Então a porta se abriu com violência. Todos se viraram.

- Lamento, mas já estamos fechan... - Cyrene interrompeu-se no meio da frase. Xena corre para porta seguida de Órion.

Adhar entrou na parte iluminada com o rosto pálido e sujo de sangue. - Eu estou bem - disse ele, entrando no salão amparado por Xena e Órion. Tinha o olhar assustado. Parte da camisa pendia em rasgos, exceto nos pontos em que grudara no corpo devido ao sangue.

Xena ajuda o velho a se acomodar numa cadeira.

- Por Zeus, que aconteceu com você? - Celano pergunta se aproximando.

- Eu já disse que estou bem. - Adhar insistia.

- Quantos foram? - Xena pergunta.

- Um, mas não foi o que vocês estão pensando... - O velho tenta continuar falando, mas Celano o interrompe bruscamente.

- Raios, eu lhe avisei Adhar! - Explodiu Celano. - Já faz meses que lhe aviso! Não podemos mais sair sozinhos, não é seguro. Nos últimos tempos tem gente por aí matando por meio Dinar.

Cyrene se aproximava com uma vasilha com água e panos. - Tire essa camisa e vamos limpar os ferimentos.

- Não são ferimentos graves. Onde você foi atacado? - Xena pergunta.

- Na entrada da cidade, antes da velha ponte de pedra. - Adhar responde enquanto se despe. Tinha uns poucos cortes nas costas, no peito e nos braços, mas nenhum profundo.

- Você conseguiu ver quem foi? - Diomedes pergunta.

- Não. Além da escuridão, quem me atacou usava uma capa com capuz que cobria o rosto. - Adhar responde.

- Eu vou dar uma olhada, os rastros ainda estão frescos vai ser fácil encontrar quem te atacou. - Xena corre para o quarto já descendo armada. Corre para porta quando ouve a voz de Cyrene:

- Xena não vai adiantar, está escuro você não vai conseguir ver nada, é perigoso.

Xena pega a tocha próxima à porta e responde: - Sei o que estou fazendo.

Gabrielle se dirige para porta quando é impedida pela guerreira.

- Fique aqui! - Xena ordena.

- Não, eu vou com você! - Gabrielle insiste.

Xena segura fortemente o braço da loira. - Você vai ficar aqui como estou mandando, eu cuido disso sozinha. - Com um tom de voz firme, encara Gabrielle com um olhar selvagem que assusta a mulher.

Xena dá um passo para sair quando sente um toque em seu braço, vira-se rapidamente e vê o semblante preocupado de Gabrielle: - Tenha cuidado!

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Do telhado do velho curtume vizinho a ponte de pedra sob a fraca luz do luar, Ravenica observa o caminho aguardando a presa. No silêncio da rua deserta ela ouve o som de cascos se aproximando. A chama da tocha que Xena carregava, produzia sombras fantasmagóricas na rua. Ravenica se põe de prontidão e prepara a pequena balestra. O corcel amarelado desponta no caminho e para pouco antes da ponte, a guerreira desce do cavalo e começa a examinar o local. Ravenica acompanha cada movimento de Xena aguardando pacientemente o momento mais favorável, ela só terá uma única chance para acertar o alvo.

Examinando os vestígios Xena confirma suas suspeitas, foi quando o ar zumbiu; ela sente a picada e vê o dardo cravado próximo ao ombro direito. Imediatamente retira o dardo e desembainha a espada. A guerreira fica tensa, seus olhos correm rapidamente de um lado ao outro procurando o autor do disparo.

Do telhado Ravenica observa pouquíssimos minutos depois Xena sacudir a cabeça se esforçando para manter a lucidez, esfregando os olhos ela cambaleia aturdida, com esforço chega até Argo. Após duas tentativas consegue montar, mas parece desnorteada. Se curva sobre o pescoço do animal e com um toque nas rédeas conduz o cavalo para a estrada de saída da cidade.

É o momento que Ravenica esperava, a presa está fragilizada, não irá muito longe. A caçadora desce do telhado e segue a direção de Xena, a encontra caída quase duzentos metros depois.

Foi mais fácil do que imaginei. - Ela pensa enquanto tira a corda da bolsa. Ravenica se aproxima com cautela, pois apesar de debilitada Xena é forte, ardilosa, ágil e perigosa em todos os sentidos, mas dopada e com os pulsos e pés firmemente amarrados suas chances de reação se reduziam totalmente.

Ravenica desvira Xena que está mole como uma boneca de pano. Quase desmaiada a guerreira abre os olhos e reconhece a mulher da hospedaria.

- Estou com uma faca nas suas costelas, se tentar alguma coisa eu espeto você. - Ravenica ameaça.

Xena sente uma cutucada nas costelas. Com a voz embaralhada ela pergunta: - O que... você quer?

Ravenica hesita por alguns instantes, depois responde: - Vou levar você para Neapollis e receber uma bela recompensa. - Ela se apressa em amarrar os pulsos de Xena se descuidando da faca.

Repentinamente Xena reage e berra irritada: - Chega. Isso já foi longe demais!

Totalmente desperta ela dá uma joelhada nas costelas enfaixadas de Ravenica que com a surpresa se desequilibra o suficiente para que Xena após uma cambalhota se ponha de pé já desembainhando a espada. Mesmo pega de surpresa a caçadora rapidamente se põe de pé também desembainhando a espada.

Ravenica não consegue esconder o espanto, tinha certeza que acertara Xena, o dardo tinha dose suficiente para deixá-la entorpecida por horas.

- Quem mandou você? - Xena pergunta furiosa.

Ravenica se põe em posição de ataque. Os olhos da guerreira faíscam. Os da caçadora analisam a presa.

A resposta da mulher foi uma estocada rápida na direção do ombro de Xena. A estocada foi defendida com agilidade, em seguida num rápido movimento Xena pula para trás um segundo antes do giro da espada de Ravenica sibilar junto a seu ventre e num salto com cambalhota a guerreira se coloca às costas da caçadora. Um segundo antes que Ravenica pudesse se virar Xena pressiona dois pontos no pescoço da mulher.  

- Tem trinta segundos para dizer quem quer minha cabeça. - Xena avisa.

Ravenica solta a espada e cai ajoelhada com as veias do pescoço estufadas prestes a estourar; o nariz começa a sangrar. Os olhos da caçadora pareciam saltar ao tentar respirar, ela reunia toda sua força tentando se livrar da paralisia, mas era inútil.

- Agora você só tem dez segundos... Quem é? - Xena insiste.

Quanto mais Ravenica se esforçava para reagir mais sufocava. Ela se dá por vencida e murmura: - Kellus.

- Kellus? - Xena repete tentado se lembrar. O nome não é estranho para a guerreira.

- Se...nhor da guerra. - Ravenica quase sussurra.

Por fim vem à lembrança: - Kellus de Neapollis?

Ravenica confirma. Xena pressiona novamente os pontos no pescoço da mulher desfazendo a paralisia, em seguida dá uma violenta pancada com o punho da espada na nuca de Ravenica fazendo-a cair desmaiada.

Xena olha para a mulher caída, vira Ravenica devagar, se certifica que ela está realmente desacordada. Amarra fortemente seus pés e pulsos; agarra Ravenica pela cintura, a joga sobre o lombo do cavalo e retorna para a cidade.

.............. A fera ferida.

O crepúsculo matinal já aparecia quando Xena retornou. Gabrielle se postava à porta da hospedaria andando de um lado para outro preocupada, ao avistar Xena sai correndo em sua direção.

- Estava preocupada, eu devia ter ido com você. - Gabrielle diz.

Xena a olha e responde: - Não seria uma boa ideia.

- Você não confia em mim não é mesmo? - Gabrielle exclama num tom de mágoa.

Xena dá um suspiro impaciente e responde: - Confio em você, como nunca confiei em ninguém, mas queria que ficasse em segurança, você ainda não está bem e além do mais eu sabia que podia lidar com isso sozinha.

A barda olha para Argo percebendo pela primeira vez o corpo atravessado no seu lombo. - Quem é esse?

- É essa... É a pessoa que atacou Adhar. - Xena responde.

- Uma mulher? Ele foi atacado por uma mulher? Por quê? - Gabrielle questiona intrigada.

- Vamos entrar. Lá dentro eu explico tudo. - Xena responde.

................................................

Ravenica já recuperada está sentada cercada pelo pequeno grupo. O olhar intimidador da mulher assusta os lavradores que evitam encará-la. Xena espalha sobre a mesa o conteúdo da bolsa da caçadora.

- Como você suspeitou que fosse ela? - Cyrene pergunta.

- Desconfiei dela desde o início. Queria saber mais detalhes sobre Ravenica, então escalei o prédio até a janela do quarto dela e entrei. Encontrei dentro da bolsa cordas, uma pequena faca, grilhões, uma balestra, dardos e um pergaminho oferecendo um prêmio por mim. Ela preparou uma armadilha e usou Adhar como isca, pois sabia que eu iria verificar o ocorrido. - Xena faz uma minúscula pausa e continua. - Lembram que Adhar falou que tinha sido atacado por alguém que usava uma capa com capuz? Ele foi ferido, mas todos os ferimentos foram superficiais. - Ela mostra a faca de Ravenica. - E nada foi roubado dele, isso me chamou atenção.

Aproveitando a distração dos ouvintes Gabrielle sorrateiramente pega o pergaminho. A guerreira continua com a explicação e mostrando o dardo diz: - Ela me acertou com isso tentando me dopar.

Celano pega o dardo e pergunta: - Mas se ela te acertou como você resistiu?

- Tomei minhas precauções. - Xena responde mostrando a raiz de Teriaca. - Essa raiz é um antídoto para quase todo tipo de drogas. Se ela queria me capturar viva não ia usar nenhum veneno fatal. Tive que fazer uma encenação para que ela caísse na armadilha.

As perguntas e explicações continuam por mais algum tempo, até que Cyrene dá o assunto por encerrado: - Está bem agora vocês vão me dar licença, já amanheceu e eu tenho muito trabalho a fazer?

Xena chama Gabrielle para acompanhá-la e saem à procura da autoridade local para entregar Ravenica, deixando a mulher aos cuidados de Diomedes.

Diomedes olhava Ravenica com certa curiosidade, afinal ela era uma mulher diferente de todas as outras da cidade começando pela roupa de couro que expunha parte de seus seios carnudos e provocantes, o abdômen exposto, a saia curta que mostrava as coxas firmes e o olhar penetrante instigavam a imaginação dele. Ravenica percebe o olhar de cobiça do homem e resolve instigá-lo ainda mais com atitudes e olhares de luxúria. Ela vai se insinuando sutilmente, como uma serpente se aproximando da presa, esperando o momento certo para o bote.

Embora Diomedes tenha sido alertado sobre Ravenica o desejo começa falar mais alto que a razão. Ravenica vai envolvendo o homem cada vez mais na sua rede, por fim ela percebe que a vítima está pronta.

- São quarenta mil Dinares de recompensa. Podemos dividir e ir embora juntos desse lugar. - Ravenica diz enquanto com a ponta do dedo acaricia os lábios de Diomedes.

O brilho de cobiça nos olhos do homem não passa despercebido para Ravenica. Aproximando-se do ouvido do homem sussurra: - Pense no que podemos fazer juntos... - Ela mordisca a orelha dele causando um arrepio de desejo. Diomedes começa desamarrar as mãos de Ravenica.

Celano vê e o questiona: - O que está fazendo seu idiota? Xena disse...

- Não se meta, não interessa o que Xena disse. - Diomedes interrompe rispidamente.

Celano tenta impedir, mas Diomedes o empurra violentamente. Celano volta à tentativa, mas a mulher já está livre. Num piscar de olhos Ravenica agarrou-lhe a cabeça com as duas mãos e bateu com ela furiosamente na borda do balcão, uma, duas, três vezes...

Em uma fração de segundo irrompeu o caos no salão. O velho Adhar afastou-se derrubando a cadeira enquanto recuava. Cyrene tentou correr para a porta, mas tropeçou na cadeira caída de Adhar esparramando-se no chão. Órion atira-se sobre Ravenica, mas o jovem não era páreo para a caçadora experiente. Aproveitando o próprio impulso do rapaz ela o atira por cima do ombro; o jovem desaba numa das mesas que se parte com seu peso ficando estatelado nos destroços. Atordoado ele tenta se levantar, mas um forte chute na cabeça o deixa desmaiado.

Diomedes percebendo seu erro tenta agarrar a mulher, mas ela pega a faca que estava no balcão junto ao queijo cortado e o esfaqueia com força, cravando fundo a lâmina entre o ombro e o pescoço. Diomedes com um grito cambaleia de costas e desaba no chão com o sangue esguichando pelo ferimento.

Celano levantou-se com o sangue escorrendo pelo lado esquerdo do rosto pega uma cadeira e tenta se aproximar por trás de Ravenica e desferir o golpe, mas ela gira nos calcanhares chuta a cadeira em seguida num movimento tão rápido, crava a faca no peito do lavrador com tal violência que a faca se parte.

Celano cambaleou de costas contra o balcão e despenca no chão com parte da lâmina quebrada aparecendo no peito.

Durante o caos Adhar sai da hospedaria a procura de Xena. Cyrene aterrorizada consegue se levantar e num gesto de desespero atira uma jarra vazia de vinho em Ravenica. Ela atinge a mulher nas costas. Sem expressão de dor ou medo Ravenica vira-se e anda entre as mesas quebradas na direção da mulher. Cyrene não recua e num ato de loucura se atira contra Ravenica com uma cadeira. A caçadora toma a cadeira, atira longe e agarra os pulsos de Cyrene apertando como se fosse um grilhão. A mulher se debate furiosamente para se soltar. Com um soco violento Ravenica joga Cyrene sobre uma mesa que se espatifa e na queda quebra o braço.

- MÃÃÃÃÃEEE! - O som não foi humano. Foi selvagem como o rugir de uma fera.

Os olhos azuis cintilaram de ódio. Gabrielle corre para socorrer Cyrene que geme caída no chão agarrada ao braço e com o nariz sangrando.

Xena desembainhou a espada, empertigou o corpo em toda sua altura e cega de fúria investe contra Ravenica passando sobre mesas quebradas, cadeiras caídas e corpos ensanguentados.

Com um golpe pesado Xena desce a espada. Com o impacto das lâminas Ravenica quase se desequilibra. Girando baixo a espada, Ravenica tenta acertar o tornozelo da guerreira que pula escapando do golpe e seus pés atingem o abdômen da caçadora. Com um urro abafado Ravenica é violentamente atirada distante e desaba sobre uma mesa, quebrando-a.

Ravenica se levanta a tempo de defender um golpe lateral de Xena. As espadas se cruzavam rápidas e ferozmente. Xena girou a espada em arco para descê-la num golpe na altura do ombro de Ravenica que se defende travando o golpe. O combate se prolongava e Xena com a fúria borbulhando nas entranhas parecia incansável, ora golpeando com a espada no alto, ora estocando com a espada baixa ela ia empurrando Ravenica na direção do balcão. Tentando impedir a aproximação, a mulher jogava cadeiras sobre a guerreira. Xena golpeia a espada de Ravenica com tanta força que faz o braço dela ir para trás soltando a espada.

Ravenica recua tropeçando nos destroços de uma cadeira quebrada. Caindo para trás, ela arregala os olhos em pânico e usa uma cadeira como escudo para se defender da estocada direta sobre seu peito. A espada de Xena se crava no assento da cadeira. É tempo suficiente para Ravenica se levantar e correr aos tropeços para longe dela, mas a guerreira não dá trégua, com um chute ela libera a arma. A caçadora num gesto de desespero joga uma cadeira na direção de Xena e corre para recuperar a espada.

Tentando impedir que Ravenica chegasse a sua arma Xena arremessa a espada com toda sua força como se fosse um punhal. A caçadora levanta uma mesa no exato momento em que a lâmina traspassa o tampo fino da mesa.

Ravenica de posse da sua espada vendo a inimiga desarmada se anima e erguendo a arma com um berro de ódio parte para o ataque. Xena arremessa o Chakram. O disco se choca com a espada de Ravenica, partindo-a em duas. O Chakram ricocheteia e volta para as mãos da guerreira. A caçadora tenta correr na direção o balcão, mas Xena salta com os dois pés nas suas costas derrubando-a. Ravenica tenta levantar quando se vê agarrada por trás num abraço mortal.

- XENA NÃO! - O berro de Gabrielle não é suficiente para tirar a guerreira do seu estado de fúria bestial.

Ravenica agarrada ao braço que lhe apertava o pescoço, na tentativa de se contorcer e se soltar tenta arranhar o rosto de Xena que sem piedade dá uma violenta torção e quebra o pescoço da mulher. O corpo relaxa e desaba no chão. A caçadora agora tinha os olhos vazios e a boca aberta.

Por instantes Xena com a respiração ofegante observa o corpo sem vida da mulher. Enquanto recobrava o fôlego a voz de Gabrielle dessa vez a faz voltar à sanidade.

Xena corre para a mãe. Passados alguns minutos ouviu-se o som de passos entrando na hospedaria semidestruída. O velho Adhar não acreditava no que via.

Durante as horas seguintes a hospedaria foi centro das atenções da cidade. O salão ficou lotado, repleto de sussurros, perguntas cochichadas e choros controlados. As pessoas que não entraram ficaram espiando pelas janelas e tagarelando sobre os rumores.

Os parentes dos lavradores chegaram com carroças e levaram os corpos para suas respectivas famílias. A multidão começou a diminuir após uma hora. Após horas de apuração dos fatos o magistrado local com base nas testemunhas chega a conclusão que Ravenica era uma assassina contratada, ficou claro para todos que Xena tinha agido corretamente e portanto estava isenta de acusação.

O magistrado ordenou a retirada do corpo de Ravenica e como ninguém o reclamou foi enterrado no dia seguinte. Mais um dia se passou e embora Gabrielle e Xena insistissem no repouso, mesmo com o braço numa tipoia Cyrene teimava em se manter ocupada com leves afazeres, tentando reorganizar a hospedaria.

Xena empilhou a mobília quebrada junto à porta da cozinha, para ser usada como lenha. Auxiliada por Gabrielle no preparo das refeições era comum encontrar Cyrene mexendo alguma panela e provando o conteúdo.

Sob o olhar de aprovação de Cyrene, Gabrielle atira no fogo o pergaminho de Ravenica que constava a figura de Xena com prêmio para sua captura. As duas num silêncio pensativo olham as chamas consumirem o pergaminho. Certas lembranças mereciam ser esquecidas.

.............. Uma nova despedida.

Um mês se passou desde o ocorrido. Com Cyrene já recuperada a hospedaria voltou a sua rotina com os sobreviventes do grupo, agora resumido a dois, se reunindo como sempre. Órion e Adhar tinham conversas pausadas por silêncios, falavam de qualquer outra coisa que não lembrasse o acontecido agarrando-se ao consolo da companhia mútua. Por fim o cansaço pelo trabalho diário na lavoura é que sempre os levava embora.

O dia amanhecera ensolarado, uma suave brisa balançava as folhas dos olmos e carvalhos.  Na coxia Xena faz os últimos ajustes nos apetrechos de montaria enquanto Gabrielle terminava as arrumações nas sacolas de viagem. É chegada a hora da partida.

Gabrielle e Xena procuram por Cyrene e a encontram na cozinha mexendo uma panela de mingau. A expressão tristonha e os olhos vermelhos de Cyrene comoviam a barda. Cyrene sabia que isso sempre aconteceria, por mais que tentasse não se conformava com a vida aventureira da filha.

- Você tem certeza que não quer ficar mais um pouco? - Cyrene pergunta se dirigindo a Xena.

- Mãe ainda temos muitos lugares para conhecer, mas eu prometo que voltaremos no solstício de verão. - Xena responde e se despede com beijo e um abraço apertado na mãe. Esforça-se para não deixar transparecer a emoção, mas incontrolavelmente seus olhos marejam.

Cyrene entrega um embrulho para a loira. Um gostoso aroma de bolo fresquinho recheado de nozes invade o nariz de Gabrielle que agradece contendo um soluço ao abraçar Cyrene.

Xena monta e se curva para segurar o braço de Gabrielle e ajudá-la a montar na garupa. A barda se acomoda e abraça a cintura da guerreira. Entre lágrimas, um sorriso triste aparece no rosto de Cyrene que com um aceno se despede delas. Gabrielle emocionada responde ao aceno com a mesma tristeza.

Xena toca as rédeas conduzindo o cavalo num galope tranquilo para o portal da cidade e tomam a estrada no sentido leste.

A barda percebe a mudança de rumo e questiona: - Esta não é a estrada para Apollonia. Para onde estamos indo?

- Vamos para Neapollis. - Xena responde secamente.

- Neapollis? O que vamos fazer lá? - Gabrielle pergunta intrigada.

- Tenho um assunto para resolver por lá. - Xena responde secamente.

- Não gostei do seu tom. Sinto que vem problema por aí. - Gabrielle diz.

- Não se preocupe com isso. Trate de aproveitar a paisagem, a estrada para Neapollis é muito bonita. - Xena desconversa sem mais explicações.

Gabrielle tinha de admitir que era um daqueles dias perfeitos, feitos para se viajar. Num trecho mais estreito da estrada percebe um movimento súbito na vegetação rasteira e uma sombra escura sai de uma moita próxima. Dá um gritinho de susto, antes de perceber que não passava de uma gralha batendo asas para voar. Ri de sua tolice. Xena olha por cima o ombro e também sorri.

Uma brisa soprava entre as árvores, fazendo as folhas dos olmos rodopiarem como moedas douradas caindo sobre a estrada. Gabrielle sente que as Moiras tinham entrelaçado o fio do seu destino ao de Xena de uma forma tão intensa, tão inexplicável que não haveria força no mundo que as separasse. Ela seguiria sua amada onde quer que fosse.

Elas seguem pela estrada que as levará a novas aventuras... e estava um dia lindo.

FIM


Notas Finais


Atenção: Esta fict também se encontra publicada no Nyah e a autora é Alba Diniz, portanto não se trata de plágio, eu sou a própria.


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