Eu acabei tendo que voltar para casa com minhas roupas sujas de pudim. Tinha decidido não mais retornar ao festival. Tive sorte sobre a minha mãe não ter voltado para casa do trabalho naquela hora, ela iria pedir várias explicações. Fui direto ao banheiro e tomei um banho bastante demorado. Senti um pouco de dor no peito enquanto a água escorria quentinha sobre meus cabelos. Algo me dizia que eu teria de enfrentar muitos problemas caso me apaixonasse por um dos dois amigos.
A coisa não estava apenas feia para mim, mas também para Ana e Julie. As duas ainda estavam na festa, porém, uma mais triste do que a outra no fundo do coração. Parecia que não era apenas a morena que iria sacrificar seu amor pela amizade, mas as duas.
— Eu vou ao banheiro e já volto. Ok? — Ana diz.
— Você não quer que eu vá junto? — Julie diz.
— Não precisa, obrigada. — Ela diz.
— Mas sempre vamos juntas! — Julie diz.
— É o número um. É rapidinho! Estou apertada e já volto! — Ela diz e sai correndo para o banheiro feminino, abrindo uma das portas e a trancando por dentro.
Escorada na porta do banheiro e deslizando na madeira, Ana derramava lágrimas.
— Eu sempre soube do jeito que você olhava para ele... sua boba. — Ela diz baixinho, soluçando.
Enquanto isso, Gabriel estava conversando com Stefanny. Os dois estavam no portão da escola. O ruivo já tinha terminado de entregar os aperitivos, e também não estava muito animado com a festa após a minha saída. Ele estava atirado nas grades do portão, de costas, e a patricinha babava ao ver seus músculos expostos ao sol. Do jeito que estava, ele parecia aqueles lenhadores de filme que têm uma barriguinha a mais, músculos definidos, e pelos no corpo todo.
— Você é lindo, sabia? — Ela diz.
— Obrigado. — Ele diz.
As amigas da Stefanny estavam espiando os dois atrás de um dos pilares da escola. Uma empurrava a outra, e todas torciam pela sua líder. A loira foi tentando se aproximar dele, cada vez chegando mais perto.
— Ei, Gabriel. Vamos voltar juntos? — André dizia enquanto colocava sua mão no ombro do ruivo.
— Vamos! — Ele responde.
Os dois saíram andando para a rua. Stefanny foi completamente ignorada, principalmente por André; ele nem ligava para os olhares de ódio dela. As três amigas sorrateiras acabaram fazendo gestos de ódio para o moreno, mas foram ignoradas também.
— Você não acha que o nosso grupo está meio separado? — André diz.
— Acho que não... foi só o festival que nos afastou um pouco. As garotas estavam experimentando doces, e nós tínhamos que entregar os aperitivos. Aposto que elas até esqueceram de nos ajudar. — Gabriel diz.
— Pode ser. Aquela loira é sua namorada? — André diz.
— Não, é só uma amiga. Ela gosta de ajudar os outros. — Diz o ruivo.
— Ajudar os outros? Está bem. — Ele diz e dá um riso.
Os dois seguiram andando pela rua até chegarem em suas respectivas casas. André sempre andava olhando de cima, na maioria das vezes com as duas mãos entrelaçadas atrás de sua cabeça. O grandão andava olhando reto para frente, e ficava com vergonha por seu volume no meio das pernas sempre se destacar; acabava caminhando um pouquinho torto para tentar disfarçar.
Eu estava no meu quarto. Após o banho, vesti um pijama marrom de bolinhas brancas, coloquei minhas meias fofinhas e por fim me atirei na cama. Minha janela tinha cortinas longas brancas, e ela se localizava bem na frente da minha cama. Naquele momento, fiquei com o queixo deitado na cama e os olhos fixados no vento empurrando aquelas cortinas. Meus braços estavam colados na barriga, e minhas pernas juntas uma na outra.
— Eu sempre canso quando fico perto de outras pessoas. — Digo.
Minha gatinha pulou nas minhas costas e depois saltou para meus travesseiros em minha frente, deitando pertinho do meu nariz e ficando ali com seus ronronados. Eu sorri para ela e dei um beijinho de esquimó com meu nariz encostado no dela.
— Não sei se estou com ânimo para ir na casa do Gabriel estudar inglês... não sei se estou com ânimo para ir à escola... não sei se estou com ânimo para sequer ligar para o amor. — Digo para a gatinha com uma expressão triste no rosto.
Meu celular começou a vibrar em um dos cantos da minha cama. Alonguei bastante o meu braço e consegui pegá-lo. Vi o rosto da Ana, suspirei e atendi a ligação.
— Oliver! Eu preciso conversar com você! — Ela diz.
— Tudo bem, pode falar. — Digo, com sono.
— Eu posso ir aí agora? — Ela diz.
— ... pode. — Digo.
— Estou indo! — Ela diz e desliga a chamada.
Em instantes, escutei um barulho de campainha. Ela já estava na frente da minha casa antes mesmo de ligar para mim. Parecia ter corrido bastante para chegar até ali, e estava sem a Julie.
Com fios de cabelo ondulados e bagunçados por todo o penteado, rolei da cama para baixo e me levantei, indo devagar até a porta de casa. Eu estava exausto. Quando eu ficava perto das pessoas, eu não podia limpar o nariz, tinha vergonha de sentar atirado, não fazia caretas e muito menos tinha privacidade. Sempre quis parecer bem-educado e agradar a todos (por isto eu não fazia nada do citado acima), mas eu falhava muito nisto, pois, não aguentava pressões e estourava com todo mundo.
Abri a porta e Ana estava me esperando, com pressa.
— Oliver! — Ela diz e me abraça com força. Seu perfume era de baunilha.
— Oi... o que foi? — Digo com olheiras expostas.
— Eu preciso falar isso para alguém. Eu quebrei um juramento com a Julie. — Ela diz.
— Juramento? Que juramento? Contar o que? Hã? — Digo, curioso.
Enquanto isso, André estava deitado no sofá de sua sala. Por um momento, ele pegou o celular e abriu o aplicativo de mensagens. Nele estavam muitos rascunhos que ele mesmo escreveu. Todos os rascunhos eram sobre me convidar a ir na casa dele, ou fazer algo com ele. Ao apertar o botão para escrever outra mensagem, ele começa a digitar: “Oliver, que tal eu te visitar amanhã? ”.
— Não... assim eu mesmo me convidaria. Isso não é legal. Ele não vai gostar. — Ele diz e fecha o celular, deixando o aplicativo registrar o texto como o sétimo rascunho.
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