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História Cadillac - A cereja


Escrita por: burgarelly

Notas do Autor


Oi oi gente, tudo bom?
Meninxs, cá estou de volta para postar mais um capítulo para vocês, apesar de não ter tido uma quantidade razoável de exibições e nenhum comentário, já tenho o meu primeiro favorito! UHUUUUUUUU! Tks de verdade.
Sem mais delongas, boa leitura e até lá em baixo!

Capítulo 2 - A cereja


Fanfic / Fanfiction Cadillac - A cereja

 

JUSTINE 

 

Pulverizo mais um tantinho de spray vermelho. 

 

– Uma cereja? – Chris pergunta com a expressão risonha impressa na sua face. 

 

Simplesmente, assinto. 

 

Ele ri negando com a cabeça e me contento em permanecer séria, o desenho está bem legal, não há como negar. Há até sombra, cintilância no gomo da cereja... Tá legal, me conformo e pronto. 

 

– Tá bem legal mesmo – ele confirma e sorri em minha direção; expando os meus lábios para formar um sorriso, um sorriso sem dentes reluzindo, um sorriso para confortá-lo. 

 

Afasto-me da minha obra de arte ainda com o spray na mão e quando estou a uma distância que julgo como boa, paro; analiso, analiso, analiso e exclamo: 

– É, está realmente boa – jogo o spray em direção da bolsa que continha os outros e sento-me ali mesmo, no meio da rua. Chris pixa mais alguns desenhos que não consigo distinguir entre si e quando se sente satisfeito, ou talvez desconfortável demais por eu ter terminado primeiro, ocupa um lugar para sentar. 

– Que horas são? – pergunto, aérea, olhando para as estrelas com certa dificuldade por conta do boné curvado que uso. 

– Quase 5h da manhã – ouço-o me responder alguns minutos depois, tal demora deve-se ao fato de que o próprio relógio é um acessório e nada mais. 

 

Deito-me no asfalto gelado esparramada inspirando e expirando fundo. Tenho que ir embora. 

 

Em um pulo, levanto-me sacudindo qualquer sujeira que estivesse estacionada em mim ou em minhas roupas, Chris faz o mesmo. 

 

– Gostou? – ele diz chutando longe a mochila que continha os sprays, não gosto de sua atitude, porém, nada digo, não estou com saco para arrumar qualquer bagunça, mesmo que esta seja minha. 

– Gostei – digo passando um dos meus braços pelo seu ombro. 

 

Caminhamos pelas ruas desertas da cidade brincando de "andar igual", quando cansamos, eu resgato um baseado da blusa enorme que visto e nós o dividimos, um tragando um pouco aqui e o outro ali. 

 

– O seu pai já chegou? – sua voz interrompe o silêncio instalado. Reviro os olhos. 

– Graças a Deus, não. – trago mais um vez. 

– Você vem sendo tão indiferente quando ele é o assunto, por que isso? – ele para na minha frente, ele sabe que se não o fizesse não me preocuparia de respondê-lo. 

– Por que quer ouvir da minha boca o que Caitlin já lhe disse? – não o devolvo o baseado. 

– O quê? – seu rosto não demonstra nenhuma surpresa. 

 

Somente o fito em resposta. 

 

– Queria que você me contasse, pensei que fôssemos amigos o suficiente para ter essa intimidade – bufo e começo a andar. Jogo o resto do cigarro no chão e piso no mesmo, abraço os meus próprios braços em seguida. 

 

Uma raiva instantânea me sucumbe por inteira, aperto ainda mais os meus braços. 

 

Ele é o cara que, junto com a minha mãe, permitiu que eu esteja no mundo, aquele me dá acesso à moradia, à alimentação, às vestimentas, à escola. É o meu... Pai. E só isso. Nada mais. 

Não chego a odiá-lo, não o daria este prazer, até porque o ódio é uma das formas da paixão. Ter o meu desprezo é o suficiente, pelo menos, para mim. 

 

Ouço os passos de Chris vindo ao meu encontro, deixo-o me alcançar mantendo o meu ritmo. 

 

– Desculpa – ele diz tentando focar nos meus olhos, não o olho por um segundo sequer, permaneço olhando o horizonte escuro da madrugada. 

– Você sabia a quanto tempo? – ele boicota o passo por um segundo para processar a mensagem, capta e volta a andar ao meu lado após alguns passos acelerados. 

– Desde que Caitlin se alistou à firma – bufa irritado, provavelmente, pelos meus passos apressados. Rio de escárnio ao ouvir a palavra "firma", ele fala como se o negócio de meu pai fosse algo normal e legal como uma empresa qualquer. 

– Caitlin só fala "firma", acabei pegando a mania também. Ela me fez prometer pela sua própria morte que eu não contaria a ninguém, nem a Deus – ele se explica olhando para o chão. 

– Não te culpo – desfaço o laço que mantenho em mim mesma e ponho as minhas mãos nos bolsos da própria blusa. 

– Eu sei – certamente só me responde para não me deixar no vácuo – Imagino que você saiba de tudo, tudo mesmo, certo? – ele me fita com dúvida impregnada nos seus olhos, nós dois interrompemos a caminhada. 

– Possivelmente, até mais do que você – um sorriso de decepção estampa o meu rosto. 

 

Encosto a minha cabeça no seu ombro, enquanto, deixo uma lágrima rolar pelo meu rosto, ele finge não perceber, agradeço-o mentalmente por isso.

 

Uma mistura de sentimentos pejorativos é jorrado sobre mim e quem  assimilo como culpado é Ele: Jeremiah, Jeremiah Bieber. 

 

– Você não está pensando em voltar para o Chile, né? – minha mente ilustra a imagem de Eva subitamente. 

 

Respiro fundo ainda com a testa no seu ombro. 

 

– Não. – entrelaço os nossos dedos sem qualquer pretexto – Não quero deixar os meus irmãos sozinhos na mão daquele monstro – o que digo não deixa de ser verdade. 

 

Levanto a minha cabeça e o encaro, instantaneamente, passo a contar as suas minúsculas pintinhas a mostra. Bufo irritada com a minha fragilidade diante dele e Chris percebe isso, ri travesso. 

 

Chris me entende tão facilmente que até me assusto, eu não admito mas eu gosto; não, não gosto, eu amo. Espano esses pensamentos melosos ao voltar a caminhar junto a ele, seu braço passando pelo meu ombro e minha mão esquerda entrelaçada a dele. 

 

– Justine – olho profundamente nos seus olhos atendendo ao seu chamado, tal ato desconserta-o um pouco, não tanto quanto eu gostaria – Eu... 

Continuamos a andar enquanto continuo lhe dando a minha atenção, ele me olha algumas vezes mas nada diz. Apenas para torturá-lo, continuo o olhando. 

– Pare com a tortura Heloísa Justine! – rio com a sua reação e ele reprimi o seu sorriso, ao menos, tenta – Médici já saiu da presidência, ok? – belisco-o em resposta, ele reclama mas logo ri, mordo os meus lábios. Penso no quão difícil foi os anos de chumbo e quanto o povo brasileiro sofreu na mão do Médici, não que não estejamos mais na ditadura militar e que não sofremos ainda, jamais, mas aquele período foi o mais cruel... 

 

Meus pensamentos mudam de rumo ao ouvir uma canção que está sendo cantarolada por assobios e é captada não só por mim como também por Christian. Não é qualquer canção, eu a reconheço mas não me lembro de qual é o nome. Pela expressão confusa de Chris, imagino que não reconheça a música. 

 

A canção vai ganhando intensidade conforme andamos e ele fortifica o laço de nosso dedos, respiro fundo cerrando os olhos ao meu redor para detectar algo, mas não encontro nada. Apertamos o passo conforme a intensidade prospera, sinto que ele está com medo, este sentimento não é compartilhado por mim, entretanto, ao virar a esquina, um calafrio percorre, subitamente, pela minha espinha. A origem da música ilumina o meu cérebro no mesmo instante: 

O Sexto Sentido – Chris engole o seco assim que digo o seriado, estamos estagnados encarando as duas pessoas mascaradas a nossa frente, sendo uma delas na posse de um taco de beisebol. Não há como identificar os seus gêneros, ambos estão encapuzados, totalmente cobertos por cores escuras e mascarados de tal forma que não possa nem ver a cor de suas peles. Suas máscaras são iguais: brancas com as maças dos rostos pintadas circularmente com uma tonalidade borrada de vermelho, lábios igualmente coloridos, sobrancelhas feitas com um traço bem preto, olhos com forma alongada e na testa está escrito a palavra “Deus”.

 

Uma malévola risada é expelida pela pessoa que está sem a posse do taco. 

 

– Acertou – uma voz feminina exclama, creio que comenta sobre o nome da música; cerro os olhos não transparecendo o real estado emocional que me encontro, forço os meus pés e os de Chris a continuar o caminho que implica em passar pelo meio dos dois estranhos. 

 

Passo pela que disse algo, porém, quando tento passar pela pessoa do beisebol, sou impedida. Ela nega com a cabeça rodopiando o taco, ainda posicionado para baixo, levemente. 

 

– Para de bancar o ridículo e sai da minha frente – digo ríspida e confiante encarando a máscara a minha frente. 

 

A pessoa não movimenta um dedo e começa a rir diabolicamente. De um instante para o outro, empurro, de surpresa, o ser que me incomoda, com a maior força que detenho. Tanta que o taco escapa de suas mãos e começa a rolar pelo chão da rua, Chris se prontifica a pegá-lo quando percebe que a comparsa está pronta para o fazer. A posição dele é similar a de um jogador que está pronto para acertar a bola, a comparsa está estagnada e o outro está no chão sem reação. 

 

– Tudo bem, bad ass girl! – a que está no chão se recompõe, lentamente. – Vocês podem ir – diz quando já está de pé. Quando estou prestes a dar as costas para o estranhão recomposto, o mesmo vai para cima de mim com um soco que acerta parcialmente o meu rosto; meu reflexo é bom, porém a ação da maconha no meu corpo inviabiliza ainda mais as coisas, além de que o movimento foi tão rápido que não fui capaz de impedir que não me lesasse. 

 

Avanço sobre o autor da agressão e arranco a sua ridícula máscara, é um alto menino do nariz finíssimo, olhos azuis, lábios extremamente finos, testa minúscula, cabelo raspado e bochechas enormes apesar da magreza. Feiura em pessoa. 

 

– Olho por olho, dente por dente – assim que dito tento dar um soco nele mas ele desvia, ri em seguida. Em um contra-ataque, chuto a sua barriga e o desequilibro, isso é o suficiente para que eu consiga lhe dar um soco bem dado no nariz. Imediatamente, ele coloca a mão sobre o mesmo que está jorrando sangue, abro um sorriso de lado e avanço sobre ele de novo, ele se afasta assustado, meus dedos coçam

 

Olho para trás encontrando Chris em baixo da mulher que o soca com força, ele não fica só na defensiva, acerta um soco aqui e ali nela também, volto a fitar o homem que agredi e este está ainda no chão negando com a cabeça. 

 

– Faça ela parar, agora! – mando batendo o pé no chão, o menino nada diz, todavia, reluz o avermelhado sorriso. Voou para cima dele chutando seu escroto repetidas vezes, ele urra de dor; monto nele como se fosse uma sela, pego-o pelo colarinho e ele põe suas mãos sobre as minhas, aproximo seu rosto do meu. 

– La la la la – não o deixo continuar com a palhaçada, como se ele fosse um boneco bato seu corpo contra o chão repetidas vezes, as mãos do menino abaixo de mim encontram o meu rosto quando oportuno; uma vez ou outra olho para trás para ver Chris e um desespero vigora em mim quando não o vejo mais revidar. As mãos que até então seguravam as minhas afrouxam e quando me dou conta, o garoto já está inconsciente. Engulo o seco desejando profundamente que não tivesse mudado de ideia e aceito o maldito convite de Chris. 

 

Desmonto do menino inconsciente e corro atrás do Chris, também, inconsciente. Jogo-me contra a garota que fica por baixo de mim se debatendo.

Quando consigo pegar, com dificuldade, seu cabelo oxigenado, levanto-me e arrasto-a para longe dele no asfalto gélido. Seus gritos são estridentes. 

 

– Sai daqui agora! – a garota foge e não socorre o companheiro da madrugada, se ela não o faz, eu que não o faria. Chris tosse cuspindo um pouco de sangue, meus dedos coçam.

 

Angústia.

 

Ao morder os meus lábios de nervosismo, sinto um gosto peculiar, um gosto desconhecido, gosto de... sangue. Toco o meu lábio e sinto a ferida aberta, um alívio de súbito percorre por mim. Fecho os olhos por alguns segundos e os abro novamente, vejo Chris se levantando, porém, não mantém a postura ereta. Caminho em sua direção. 

 

– Está muito mal? – coloco a minha mão sobre suas costas enquanto tosse e cospe sangue, ele pega e aperta firmemente minha outra mão e continua o que fazia. 

– Vamos. Vamos logo para casa – ajudo-o a esticar as costas, enquanto observo de longe o garoto que espanquei recobrar a consciência, uma manta de pressa me cobre a partir desse momento, apresso as coisas com Chris.

 

Assisto à sua reestruturação, enquanto, ele me olha furiosamente, levanto o queixo transmitindo ser destemida. 

 

— Pronto. Vamos, vamos – começamos a trotar em direção a minha casa quando o garoto tenta se levantar e quando não o realiza, grita fervorosamente.

Olho para o rosto machucado e ensanguentado de Chris entorpecida pelo grito persistente do menino. 

— Você também não está nas melhores condições – ele diz após eu não parar de analisá-lo. 

 

De repente, começo a correr como se estivesse no meu antigo treino de atletismo. O vento torna-me quase que surda, esfria a minha face e piora a minha capacidade de fôlego, mas, não consigo parar, eu não vou parar. A sensação que carrego comigo, neste momento, é prazeroso demais para que eu mesma a interrompa. 

 

Sinto-me livre de qualquer angústia, arrependimento, tristeza, amor, alegria, carência, desejo, pena, gratidão...

 

Simplesmente, sinto-me livre

.

Livre

.

.

Livre

.

.

.

Meus pés ameaçam doer, não ligo.

 

Christian ameaça não conseguir mais acompanhar o meu ritmo, não ligo.

 

Lembro-me de Justin conversando animadamente sobre algum assunto aleatório e ameaço sentir saudade, não ligo.

O som da voz de minha mãe cantando ameaça acentuar a minha vontade de visitá-la, não ligo.

A risada dos meus irmãos Jasmim e Jaxon ameaçam me fazer sorrir, não ligo.

 

Meu coração ameaça não aguentar a prova, não ligo.

Meu pulmão dá a entender que me abandonará, não ligo.

Meu corpo ameaça me trair.

 

E trai.

 

Gargalho de forma escandalosa esparramada (bem provável que ralada) no asfalto gélido, contorço-me de tanto rir e momentos depois enxergo Chris lançar-se, literalmente,  ao chão exausto. Por algum motivo, provavelmente, explicado pelas forças do Universo, ou até Deus, gargalho mais ainda, tanto que mal consigo respirar. Como a vida é ácida, penso; não dei a devida atenção à alerta que ela me fazia e então, me apunhala com um golpe final, penso. Rio ainda mais. Lágrimas escorrem pelo meu rosto em contraste aos dentes brancos que ilumina a paisagem.

Ao me virar à direita, avisto a minha casa a poucos metros de mim, talvez 63 m. A realidade choca-se com o meu riso e assombra a intensidade deste; ao poucos, a sensação esvai, esvai como a água que corre pela cuba da pia em direção ao ralo, esvai como a pureza da humanidade se deteriora a cada segundo, esvai, esvai até que não há mais o que consumir, até não ter o quê esvair.

 

Suspiro fundo sentindo as más energias que a casa que avisto têm. Chris me fita cobrindo o seu rosto com uma manta misturando dúvida com humor e estranheza.

 

You’re not mean, you just want to be seen. Want to be wild. A little party never hurt no one, that’s why it’s alright — cantarolo, no ritmo que foi criado, os versos de uma das composições de mamãe, enquanto, Chris me convida silenciosamente a andar de cavalinho, aceito sussurrando, novamente, os mesmos versos no seu ouvido direito na língua materna de Chris: inglês.

— Você que compôs? — pergunta segurando firme as minhas pernas. Sussurro que não e isso causa-lhe um arrepio, rio travessa. Ele só se preocupa em engolir o seco e revirar os olhos.

 

Até então, eu iria entrar pela janela do meu quarto mas o cansaço é demais, então, entro pelo portão encarando todas as chatíssimas câmeras de seguranças que me acercam. Só desço das costas dele quando entramos na demasiada sala de estar.

 

— Obrigada pela carona — beijo sua bochecha, a que não está ensanguentada. Ele revira os olhos e senta no enorme sofá, sorrio sem reluzir os dentes em sua direção e ele retribui com a expressão cansada. O ponteiro neon do relógio capta a minha atenção e certifico que demoramos 35 minutos do Hemps para cá, costumamos realizar o trajeto todo, a pé, em 25 minutos, porém esta madrugada estava cheia de surpresas.

— Pode dormir aqui em casa. — seu rosto tenso se alivia e um sorrisinho brota nos seus lábios, torço os lábios negando com a cabeça, ele ri. —  Vá tomar um bom banho que depois cuidamos de nossos rostos — ele assente, sobe as escadas de dois em dois degraus e logo adentra o meu quarto.

 

O desejo de me jogar aqui mesmo, no chão e dormir é grande mas a minha cara não teria mais conserto mais tarde, então, me dirijo à cozinha, retiro o meu boné e lavo o meu rosto com a água fria da torneira, o sangue endurecido amolece e ao transpor o ralo, some. Prendo o meu cacheado cabelo com o elástico do meu pulso e em seguida, pego o detergente dali e faço uma segunda lavagem pelo rosto, deixo para lavar os machucados corporais no banho. As feridas ardem um pouco, nada insuportável. Vou em direção à geladeira e pego um pacote da minha bolacha recheada preferida, Tostines de morango. Ao fechar a porta, dou de cara com Justin somente de cueca.

 

— Menino que não tem pudor é foda — dou-lhe as costas desejando que ele não peça por uma única bolacha. Ele ri e pelo som que provoca, provavelmente, se senta no balcão.

— Onde você estava? — reviro os olhos e olho em sua direção.

— Nessa casa que não — digo ainda mastigando.

 

Ele mantém uma feição séria no seu rosto e seus braços estão cruzados, rio de sua posição e ele, de imediato, também. Tudo fachada, penso.

 

— Chegou faz pouco tempo? — engulo a massa que está em minha boca e entendo aonde ele quer chegar.

— Você viu o Chris — não é uma pergunta, é uma afirmação. Justin coça a nuca e reprimi, inutilmente, a risada.

— Às vezes, eu odeio e às vezes, eu amo a sua objetividade — coloco mais bolacha em minha boca e o encaro entediada. Largo o pacote sobre o balcão dando chance a ele de pegar uma para si, mas ele não o faz. Com isso, confirmo que ele está com alguém lá em cima. Solto o meu cabelo enquanto, ainda,  mastigo e o prendo de novo, em coque.

— Nesse caso, você está amando porque tem com quem transar lá no seu quarto — minha resposta não o surpreende — e já respondendo a sua pergunta: não, eu não estou com ele. — ele ri ao me ver estressada com a falta de objetividade de sua parte.

— Achei estranho vê-lo no seu quarto e como sou um lindo e maravilhoso irmão — desce do balcão e fica bem na minha frente — não tirei conclusões precipitadas. — bato palmas sendo irônica.

— Que impressionante! Ele sabe usar palavras rebuscadas — soou o mais sarcástica possível.

— HA HA — ri falso, reviro os olhos e ele pega na minha mão esquerda — Senti a sua falta — mente sem pudor algum, dessa vez, sou eu quem rio falsa.

— Vá enterrar seu pinto na pessoa que está te esperando lá em cima que você ganha mais, Justin — a raiva que senti ao saber da grande verdade sobre o negócio da família me possessa agora, fungo brava e tiro, ríspida, as minhas mãos de perto dele.

— Até parece que tu não me amas, irmãzinha — ele ri debochado, e uma expressão de nojo cobre a minha face. Pego o pacote de bolacha encarando a sua confusão que seus olhos transmitem. Falso, penso.

— De onde essa ira saiu? — pergunta cínico entrando no jogo.

— Eu não estou assim, eu sou assim. — enfatizo “sou”. A raiva age em mim como flores na primavera, florescem sem parar.

— Agora você está me assustando, Justine — tenta se aproximar, mas mantenho a atual relação de distância, ao dar uma passo para trás.

— Estava no Hemps, enfeitando os muros brancos de lá, enquanto Chris os vandalizava. — Justin revira os olhos irritado — O que foi? Só estou respondendo uma pergunta sua — coloco a última bolacha do pacote na minha boca.

— E como você enfeitou o muro recém pintado do Hemps? — ele pergunta rindo e reprimo, fortemente, um sorriso teimoso ao pensar na minha resposta:

— Com a ajuda de sprays, uma grande cereja — respondo simples.

 

Sua risada que admito — mentalmente — ser muito gostosa de ouvir, eclode.

 

Permaneço séria, entediada.

 

— Que coisa mais lésbica a se desenhar, não? — estalo os dedos a fim de me acalmar. Pouco tempo depois, a risada dele cessa.

— Te conto uma das coisas que mais... — a raiva que sinto alcança novos patamares que, se tratando de Justin, jamais sequer pensei que existissem; ele vem ao meu encontro e quando chega, dou-lhe um tapa.

— Desculpa, desculpa. — ele diz após o tapa, tenta me abraçar, mas desvio. Lembra da raiva? Ela tá no clímax.

— Babaca — encaminho-me à escada. Seus passos são ouvidos por mim.

— Desculpa, caralho. Não me acostumei com a ideia de você estar com Eva, ainda. Quer dizer, de você possível...

— Só cala a boca, por favor. — viro em sua direção, ele se cala. Volto a subir as escadas e ele permanece intacto. Quando estou quase entrando no quarto, ele se manifesta:

— Depois de dar um jeito nessa sua cara, saiba que pica contagiosa não entra na minha irmã ­— rio instantaneamente, mostro o meu dedo do meio de costas e adentro o ambiente que costumam apelidar de “recinto místico”, não sei o porquê.

— Oi — anuncio a minha entrada a ele, que se encontra já com a sua samba-canção, e vou diretamente ao banheiro.

 

Eu me dispo e entro no box. Tomo um banho quente esfregando bem o meu corpo todo com a bucha e o sabão, enxaguo o meu rosto e faço movimentos circulares nele para aumentar a circulação de sangue para que, talvez, desinche mais rápido ou que não inche. Termino o banho e me seco rapidamente, meus músculos pedem por descanso. Enrolo-me na toalha e vou ao closet, escolho um pijama qualquer e volto ao banheiro para cuidar dos meus ferimentos do rosto e do corpo. Assim que finalizo, corro e me jogo na cama. Chris também está aqui.

 

— Pensei que você demoraria muito mais — viro-me para vê-lo e escutá-lo.

— Pensou errado — digo já com os olhos fechados.

 

Ele nada diz, só respira fundo. Não me incomodo com a presença dele ao meu lado, me sinto bem quando ele está por perto, o único empecilho da nossa relação é que estou consciente da sua intenção amorosa comigo. Sinto que ele é realmente o meu amigo, alguém que eu possa contar mesmo que as nossas mucosas não se interajam. Claro que a nossa relação pode evoluir, mas, só será a amizade. Meu coração pertence a Eva, não o darei falsas esperanças, eu me importo demais com ele para fazer isso com ele.

 

— Mais tarde, quando formos para a escola, eu saio primeiro e você chega bem depois, tipo atrasado, beleza? Pode ir com o Raimundo, se quiser, irei de skate. — faço alusão a ida a escola. Sei que ele irá para lá, simplesmente, sei.

Abro os olhos para fitá-lo e está me olhando calmamente — A garota fez um grande estrago, hein? — refiro-me aos seus machucados também tratados.

— Você também não está tão atrás assim — rio de afirmação já com os olhos pesados.

— Obrigada pelo convite Chris — digo sonolenta, ao mesmo tempo, que tento abrir os olhos.

— Eu sabia que você mudaria de ideia — ele responde coçando a testa também sonolento. Permaneço virada em sua direção quando, finalmente, me rendo ao sono e fecho os meus olhos para não abri-los mais até que eu tenha que bater o cartão na escola.  

— Por que uma cereja? ­— a pergunta vem a minha mente arrastada e concluo que esta não é de minha autoria e sim de Chris. Não respondo a sua pergunta porque me convenço que esta é para si mesmo e logo, permito-me imergir, de fato, nas profundezas do sono. 


Notas Finais


Pra quem não viu o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=w-4-7pNHm5o
Pra quem não sabe a música que os esquisitões assoviavam: https://www.youtube.com/watch?v=N_rTGssTRxg (é só até 00:37)

No próximo capítulo, a narração será do Justin e inciarei a falar da protagonista, Aria (a que está na capa). Sei que vocês ainda estão meio confusxs, mas dará tudo certo minha gente!
3beijos!


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