História Caídos no Inferno - Fox Hole

A barulhenta locomotiva desaparece na floresta após deixar a estação.

"Eu pensei que essa viagem nunca mais iria acabar! As minhas pernas já amorteceram. Eu não vejo a hora de voltar pra casa." o jovem de cabelos claros solta a pesada mala no chão e se espreguiça demoradamente.

"Quando me disseram que esse lugar era no fim do mundo eu não pensei que fosse literalmente no fim do mundo." o outro, alguns anos mais velho, coça a cabeça e olha para a companheira de trabalho no seu lado.

"Samara o que você está marcando ai? Nós mal chegamos é impossível que você já tenha descoberto alguma coisa." a mulher de longos cabelos negros amarrados em um rabo de cavalo baixo, interrompe suas anotações e olha séria para o homem.

"Carl, você não percebeu? Olhe a sua volta. Apenas nós três descemos na estação de Fox Hole. Durante a viagem, muitas pessoas paravam nas estações anteriores, nosso vagão chegou vazio aqui. Isso não soa estranho pra vocês? Pode não ser nada relevante mas marcar pode fazer toda a diferença. E Joseph, é seu primeiro caso independente, está sendo avaliado, deveria mostrar mais atenção e interesse. Vamos logo para a cidade. Está anoitecendo. A temperatura vai cair logo."

"O-ok Samara… eu só não entendo como você pode estar tão disposta e atenta se você não dormiu nem um segundo sequer a viagem toda. E foram eternas 8 horas." Joseph olha para a figura enigmática a sua frente. Samara Marks, uma jovem mulher de 24 anos que possui um impecável currículo, a resolução de inúmeros casos que pareciam sem solução. Ele nunca trabalhara com ela antes. É como um ídolo para ele.

"Primeira coisa sobre a Sam Joseph. Você nunca vai ver ela dormindo ou cansada no meio de uma investigação..." Carl dá dois tapas leves no ombro do outro "Pegue essa mala e vamos logo atrás dela antes que a gente seja abandonado aqui."

Os três tiveram uma cansativa viagem. Metade fora de carro, a outra de trem já que é a única maneira de se entrar em Fox Hole. Pela estrada de ferro que corta a enorme floresta.

"Isso é muito anormal, mesmo para uma cidade pequena a estação estar completamente vazia não é algo de se esperar. Parecia abandonada a tempos. O que pode estar acontecendo aqui?" Samara pensa alto. A caneta sobre a boca e os olhos apertados, ouvidos afiados como espadas, procurando qualquer pista que possa passar despercebida pelos outros.

  "Eu não vou me surpreender se ver eles empalados no meio da praça ou descobrir que foram devorados por índios." enquanto eles caminham pela estrada deserta que leva até a cidade, Joseph se incomoda com o silêncio que toma conta do lugar. Nem mesmo os animais, que deveriam existir aos montes entre as árvores, fazem qualquer ruido.

"Fique quieto Joseph, vamos considerar o melhor cenário. Pode ser que seja apenas um problema na comunicação, essa cidade é extremamente isolada. A floresta que a rodeia é muito grande e densa. Eles podem apenas não estar conseguindo enviar as cartas."

"Em partes, os dois estão certos. Devemos considerar o pior e o melhor cenário possíveis. Só não viaje muito nas idéias Joseph, não estamos em um filme. Vamos fazer uma teoria provisória com o que já temos."

"Certo… na melhor das hipóteses, os nove vieram até a cidade trabalhar, devido a problemas com a localização e com o mal tempo, tiveram dificuldades para se comunicar. Estão todos perfeitamente bem e trabalhando." Carl olha para Sam e depois para Joseph.

"E na pior delas?" a mulher para e o encara esperando uma resposta satisfatória.

"Todos estão mortos e algo pode estar acontecendo." o silêncio se instala por alguns segundos. Eles voltam a andar.

"Vocês não estão sentindo isso? A sensação de estar sendo observado?" Joseph cruza os braços e aperta o passo.

"Claro que estamos, mas pode ser que seja apenas um animal. Isso é uma floresta. Você não está com medo disso está?" Carl o encara com um leve tom de deboche.

"C-claro que não. Não seja ridículo." O jovem estala a lingua arrancando uma risada do outro.

Depois de uma longa hora de caminhada, as primeiras construções da cidade começam a aparecer.

Cinco casas simples espalhadas ao redor da estrada. 

Não muito longe, no horizonte a silhueta de Fox Hole já pode ser vista.

"Isso está mais para vilarejo do que pra cidade. Não parece nem habitado..." o silêncio e o vazio deixam Joseph desconfortável desde o primeiro momento em que pisara na região.

Apenas três pessoas foram vistas entre as casas, mas não pareceram se importar muito com a presença deles ali.

"Vamos fazer uma reserva ali e passar a noite. Pode ser que descubramos algo a mais. Parece ter uma boa visão do resto da cidade. Vamos observar." Samara aponta para o pequeno prédio de dois andares na esquina próxima de onde eles estão. "Tem muito poucas pessoas aqui."

"E alguns dos comércios parecem fechados a algum tempo. Algo não está certo nesse lugar." Carl completa olhando ao redor. Seus olhos param em uma senhora que o encara fixamente, nenhuma expressão legível marca seu rosto. Um profundo arrepio percorre a espinha do homem.

"Boa noite, gostaríamos de fazer uma reserva para esta noite. Há algum quarto disponível?" Samara sorri simpaticamente para o senhor atrás do balcão na recepção do pequeno hotel.

"Todos estão." ele responde tirando um molho de chaves da prateleira atrás de si.

"Perdão senhor, eu entendi corretamente? Todos os quartos estão vazios?"

"Foi isso que você ouviu criança." o velho olha para Joseph enquanto procura uma chave em específico.

"As pessoas de fora não costumam visitar a cidade?" Carl continua a conversa tentando tirar o máximo de informações possível sem parecer suspeito.

"Ninguém vem aqui… ninguém vem aqui sem ser convidado." os três se entreolham "tenham uma boa noite." o senhor lhes entrega uma chave com uma plaqueta no chaveiro, quarto 05.

"Ele não perguntou nossos nomes, não falou em pagamento, nem quanto tempo nós vamos ficar, não fez nada além de dar a chave." O mais novo parece incomodado.

"Além disso tem o fato de que se todos os quartos estão vazios porque ele não nos deu qualquer um? Ele escolheu exatamente esse." Carl gira a chave no dedo enquanto eles sobem a barulhenta escada.

"Isso nós vamos descobrir depois. Vamos nos concentrar na outra parte dessa história." os três ficam em silêncio enquanto Carl abre a porta.

O quarto é simples, três camas de solteiro dispostas uma ao lado da outra, separadas por um criado mudo. Um pequeno armário antigo de madeira no canto da parede. Uma janela que dá diretamente para a rua exatamente como Samara queria.

"Acho que isso responde o porquê de ele ter escolhido esse quarto." Ela observa o cômodo modesto.

Os três começam a desfazer as malas em cima da cama. A bagagem é repleta de pastas, papéis, laptops, quase nada do que realmente se leva em longas viagens como roupas ou artigos de necessidade básica.

Em pouco tempo a parede ao lado da porta está coberta com diversas fotos e anotações.

"Isso vai ser mais complexo do que parece!" Carl se joga na cama fazendo um barulho alto "por que tem tão poucos cidadãos? Mesmo que seja uma cidade pequena e seja noite, o movimento aqui é quase nulo. Esse lugar é praticamente uma cidade fantasma."

"Além disso… O que ele quis dizer com ninguém vem aqui sem ser convidado?" Samara respira profundamente e fecha os olhos castanhos tentando relaxar e afastar os maus pensamentos de perto de si.

O que os seus companheiros não sabem é que a motivação que levara a morena até Fox Hole não é apenas o gosto por investigações complicadas, e sim uma razão muito mais do que pessoal.