História Cake! - Primeira entrega.

A jovem Seohyun remexia-se desconfortavelmente sobre a cama, amaldiçoado mentalmente o som do despertador a tocar sobre o criado mudo. Sua mãe provavelmente o havia escutado tocar, o que explicava a série de batidas em sua porta, exigindo para que levantasse e fosse ajudá-la e tomar café. A mulher não era de fato desagradável, mas Seohyun gostaria que ao menos nos sábados tivesse mais tempo para descansar. Despertadores a torturavam.

Escorregou preguiçosamente para fora da cama, indo ao banheiro e procurando a escova de dentes azul que nunca guardava no mesmo lugar. Tentou tomar um banho rápido para despertar, vestiu uma camisa larga e um short qualquer e desceu as escadas, pronta para auxiliar a mais velha. Sua mãe era dona de uma padaria há alguns meses atrás, mas com a separação de seu pai acabou abrindo mão do local e agora trabalhava com encomendas. Naquela semana estava realmente indo muito bem, haviam entregado mais de dez pedidos ao longo dos dias, pedido apenas um por acidente.

Seohyun prendeu os cabelos e pôs as luvas em seguida, ficando ao lado da mãe e vendo-a preparar massa.

— Qual o sabor? — perguntou, puxando uma forma limpa e untando-a com pincel cuidadosamente.

— Chocolate. — a mãe respondeu, largando a massa na batedeira e colocando as luvas para tirar o bolo pronto do forno. — Seo, preciso que você faça uma entrega hoje. Se eu for o bolo pode queimar, sabe que não podemos arriscar perder outro cliente.

Seohyun bufou, assentindo para a mais velha. Se não fosse pela mania de ser desatenta, o bolo não teria queimado quando a mãe fora fazer a entrega no dia anterior. Largou o pincel sobre a forma e sorriu sem mostrar os dentes.

— Eu posso ir por você. — Tirou as luvas — Onde fica?

— Aqui — a mais velha escreveu algo em um pedaço de papel, entregando à filha logo em seguida e pegando a caixa com o bolo confeitado — Não demore.

— Não vou. Prometo.  — Seohyun respondeu sorrindo e pegando a caixa cuidadosamente em mãos.

O endereço não era muito distante, ficava a duas quadras de sua casa. Pegou a bicicleta e com todo o cuidado posicionou o bolo sobre a cesta. Geralmente tinha uma péssima fama de desastrada, mas quando se tratavam de entregas as vezes conseguia ser ainda mais perfeccionista do que a mãe. Era sábado,  mas o clima estava bom, a jovem assumiu enquanto pedalava tranquilamente, dobrando a esquina e sentindo a brisa fraca e gélida bater contra seu rosto e cabelos. Os fios esvoaçantes a acompanhavam em meio ao caminho solitário, e quando chegou a rua indicada desceu da bicicleta, andando e equilibrando-a ao lado enquanto procurava a tal casa.

O sol das 07:00 começava a ficar mais forte quando finalmente achou o numero do endereco estampado em uma porta de madeira descascada. Era uma casa pequena e nada chamativa, um quintal descuidado na frente e as janelas tinham cortinas carmesim, as únicas que pareciam novas ali. Seohyun mordeu os lábios antes de apoiar o pé da bicicleta no chão e caminhar até a porta com o bolo.

— Rua 04, numero 206-A. — repetiu a leitura do papel, confirmando na pequena placa e frente a casa. O número condizia crretamente ao local. Respirou fundo e olhou em volta antes de tocar a campainha velha, que após um leve choque contra seu dígito ecoou de maneira irritante pela casa velha, mas não pareceu acordar ninguém.

Seohyun bateu o pé levemente contra o chão, temendo que acasa estivesse solitária e o bolo estragasse a luz e temperatura do sol. Tocou duas, três, quatro vezes. Na última tentativa, sentiu alguém atrás de si, a segurar seu pulso.

— Nao faça barulho. Ele não dorme há dois dias.

Com um salto, Seohyun olhou para trás, dando de cara com um rapaz franzino, um pouco mais alto que si e vestido em um jeans e uma camisa branca de mangas compridas. O rapaz, notando a expressão temerosa da jovem, soltou seu pulso e segurou o embrulho.

— Você pode entrar se quiser, eu esqueci a carteira lá dentro.

— Posso esperar aqui fora.

— Não aconselho, mas fique a vontade.

O rapaz retirou as chaves do bolso e destrancou a porta, deixando o bolo sobre a mesa da pequena ssla antes de abrir a porta de um quarto lentamente, entrando na ponta dos pés. Seohyun mantinha o coração ainda acelerado pelo susto quando viu dois cachorros soltos pelo quintal mal cuidado, o que lhe fez abrir a porta e entrar na casa, ainda que alerta a qualquer sinal.

Não era de fato confiável ficar dentro de uma residência com aparência impecavel, e ficar naquela casa sombria junto a um jovem que apertou seu pulso com tanta força parecia ainda mais alarmante. Olhou em volta. Havia um pequeno abajur ao lado de uma poltrona, alguns poucos livros velhos em uma estante, um tapete carmesim entre dois sofás da mesma cor. Era um ambiente rústico, porém organizado e sem qualquer poeira. A coisa mais mal cuidada que conseguiu vislumbrar fora uma TV antiga largada ao canto e alguns quadros na parede com um casal e um pequeno garoto, que logo associou ser o rapaz que lhe recebera.

Seohyun caminhou até o retrato da parede, passando o indicador pelo vidro que o protegia e sorrindo fraco, perdida entre seus devaneios. Como era ainda ter uma família?

Sempre teve seu pai e sua mãe, mas eles nunca pareceram felizes como aquele casal da foto, radiante. E talvez, apenas talvez, ela estivesse começando a sentir uma ponta de inveja daquele garoto.

— Minha mãe gostava dessa foto. — O jovem tornou a lhe assustar, aparecendo atrás de si com a carteira em mãos. Seohyun sorriu fraco, envergonhada por estar vasculhando. O rapaz lhe entregou um pouco mais do que o bolo confeitado valia, e caminhou até o embrulho sobre a mesa, abrindo-o enquanto a jovem ainda olhava o quadro.

— É uma bela foto.

— Não é não. Eu estou parecendo um duende nela. — A voz saiu abafada, o que a jovem descobriu ser por ele estar com a boca cheia de bolo. — Caramba, isso está muito bom. Se não fosse meu pai, eu comeria tudo sozinho. — Resmungou, logo voltando o olhar a garota. — A propósito, qual o seu nome?

— Eu me chamo Seohyun. — respondeu, rindo baixo enquanto via o outro encher a boca de bolo enquanto lhe observava.

— Eu sou Luhan. — Ele respondeu em um salto, limpando os lábios com um lenço e se aproximando da jovem, com as mãos na cintura. — Você não tem cara de Seohyun.

A loira franziu o cenho para Luhan enquanto saiam porta afora. Como assim "Não tinha cara"? Pensou em perguntar, mas o castanho fora rapido o suficiente para estalar os dedos em frente a seu rosto, falando rápido e eufórico, porém em um tom baixo para não acordar a pessoa que provavelmente dormia lá dentro.

— Você não tem cara, Seo. Você tem cara de bolo. — apontou, como se fizesse algum sentido. — Cake. É um nome legal.

— É uma palavra, não?

— Em inglês. — completou — Mas posso chamar você de bolo se quiser.

— Cake é interessante. — bufou — E eu preciso ir.

Seohyun agarrou a bicicleta, subindo o pé. Luhan veio junto, enfiando as mãos no bolso e rindo fraco. A temperatura era quente graças aos raios de sol mais fortes, mas não o suficiente para que a loira tentasse interagir plenamente com o castanho. Luhan estava próximo, bem próximo. E assim que tentou puxar assunto outra vez, Seohyun apenas olhou para ele e sorriu fraco.

— Até logo então, Luhan.

O caminho de volta para casa não era longo, mas pareceu demorar uma eternidade para estar de volta em casa. As poucas pessoas que passavam na rua comprimentavam a garota na bicicleta que respondia de forma educada e automática, graças a primeira entrega feita no dia. Graças a proximidade de Luhan, o garoto de madeixas castanhas mais bonito que seus olhos já viram.