As borboletas dançavam por entre as folhas e flores perfumadas. Cheiro de natureza. Liberdade abaixo do sol brilhante. De repente, minha saia dançava junto, longa e rodopiando às minhas canelas.
Era verão, e minhas narinas captavam o ar puro que enchia os meus pulmões para assim meus ânimos renovarem-se. A brisa fresca balançava meu cabelo solto. Em sopros ela vinha — porém cada vez mais forte. E em um último uivo de vento no meu pensamento, eu despertei naquele quarto.
Meus olhos pareciam cansados de novo, e o meu corpo pesado por conta de medicamentos.
Minhas narinas captaram o ar real e esterilizado artificialmente. O cheiro do espaço entre a doença e o encobrimento desta. O cheiro que me envolvia e envolvia todos ali que não faziam nada muito além de atividades restritas e entediantes.
Imersa em monotonia e já desperta novamente, olhei pela janela para constatar a realidade: era inverno ainda, e meus pulmões não estavam cheios com aquilo captado na brisa praiana de verão — nada mais que vírus do qual eu nunca estava imune graças a minha baixa imunidade.
Aquele hospital se tornou de alguma forma, contra a minha vontade, minha segunda casa. E eu simplesmente não o aguentava mais. Aquele quarto me enlouqueceu a um ponto que mesmo naquele frio, fugi para o jardim.
Mas o ar que eu necessitava não estava lá. Todas as folhas eram marrons, e o céu era cinza. A paisagem morta e fria direcionava meu pensamento apenas à tristeza e ao sentimento de saudade daqueles dias de verão na Califórnia.
Se eu pudesse me libertar daquela roupa hospitalar ridícula, ao menos...
Senti leve desespero.
Um pássaro selvagem que não podia migrar para seu lugar de origem na época que precisava. Essa era eu, consumida por nostalgia daquela praia e da minha casa.
Perguntei se minha vulnerabilidade seria eterna, e se eu seria realmente capaz de me libertar de uma gaiola tão desconfortável.
Era claro que eu não teria resposta, mas da mesma maneira que alguém faz algo apenas por via das dúvidas, eu direcionei-me à capela daquele hospital e ajoelhei-me diante daquele altar bem arrumado por credores.
A areia solta e o calor de Los Angeles me tomou a mente, como se aquela fosse a minha real divindade, a quem eu pertencia e cultuava.
Eu era fiel à minha terra, e por mais que eu tentasse rezar para qualquer outra coisa e quisesse desejar me sentir confortável em qualquer outro lugar, eu não conseguia.
Mesmo presa ao cheiro de éter com todos aqueles vírus habitando o meu corpo, eu ainda juntava minhas mãos diante ao pensamento do céu paradisíaco daquele Estado.
Ainda que acorrentada ao inverno cruel, eu continuava sonhando com a Califórnia.
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