História Call me later... - Capítulo 3

- Capítulo 3 –

Suspirava o aroma de café recém passado em sua caneca preferida, havia dormido pouco aquela noite, mas havia descansado seu corpo e até mesmo um pouco de sua alma. Kabuto sequer encarou a esposa o aguardando para tomar café, apenas seguiu para mais um dia de trabalho. Fez o mesmo caminho que o marido, mas parou assim que encostou na maçaneta, não iria abri-la sequer sairia por aquela porta, mas ficou ali, imaginando como deve estar o mundo ali fora. Podia até parecer engraçado pensar assim, quem não sabe o que é o mundo, mas Sakura queria sentir o vento balançar seus cabelos, ver pessoas caminhando nas calçadas, se cumprimentando, sendo normal.

-Isso não é pra mim... – abaixou a cabeça voltando a cozinha, limpar como fazia todos os dias.

Ouviu seu telefone tocar e quase um pires derrubou na pia, limpou as mãos andando depressa até a sala, o som abafado vindo debaixo da almofada, sentia seu coração tremer, mas ao ver o numero se sentiu por um lado aliviada, pelo outro decepcionada.

-Olá prisioneira mais linda! – Ino havia um positivismo incrível, que invejava Sakura – Só liguei para agradecer, vai ser incrível aquele deus na minha festa.

-Ok, fiz o que queria, agora deixe de me arrumar problemas... Já tenho suficientes... – lamentava a noite mal dormida, mas não podia esquecer da voz no telefone que lhe acompanhou e muito o menos a animação da amiga ao falar dele.

-Depois te contarei os detalhes sórdidos da festa... Mas eu queria mesmo era você comigo... – por mais difícil que pareça, Ino havia momentos mais sentimentais, os quais poucos conheciam.

-Desculpe...

A ligação terminou por ali, porem o telefone não saiu de suas mãos e outro numero foi discado.

Chamou uma vez...

Chamou duas vezes...

E quando chamou pela decima vez ela desistiu.

Tola! Aquela companhia talvez fosse só uma ilusão trazida pela madrugada, pensava irritada consigo mesmo. Que homem  lhe daria ouvidos?! Estava no seu devido lugar, na casa que seu esposo lhe concedeu, casada e feliz.

Bebia seu chá do fim da tarde, olhando pela janela de seu quarto o sol se despedir e deixar que a lua brilhasse, fechava os olhos sentindo o aroma de hortelã quando ouviu aquele baixo toque, a música baixa vindo do andar de baixo. Soltou a xicara sob a cômoda sem pressa, Ino deveria estar lhe ligando novamente para contar algo dos preparativos da festa, sem conferir o numero atendeu.

-Olá, flor... – seu coração pulou uma batida, a voz estava ali mesmo – Desculpe não atender aquela hora, mas digamos que as manhãs não são boas para mim...

-Eu, eu que peço desculpas, não deveria ter incomodá-lo.

-Uma voz tão doce como a sua nunca incomoda, na verdade é o melhor jeito de acordar... – a risada rouca, como era deliciosa – Sim, estou recém acordando e vi sua ligação. Agora minha querida, já sabe que para mim as noites são melhores...

-Está bem...

-Então deseja conversar?

-Eu não sei, não quero tomar seu tempo...

-Deposite o dinheiro e será todo seu meu tempo. – e lá estava ela, esquecendo seu chá na cômoda do quarto para ficar no sofá conversando com um completo desconhecido, contava seus sonhos, seus medos e as vezes um pouco da sua realidade – Eu não entendo como pode ficar presa num lugar só! Eu sequer tenho uma casa direito, vivo por todos os lados.

-Não sente falta de um lar?

-Não. – sua resposta era rápida e sincera – Não acredito que paredes sejam um lar, agora se perguntar se sinto falta de alguém me esperando, digo sim. – ela sorriu mordendo o lábio, ele parecia na maior parte do tempo um canalha sincero, se isso existe, mas as vezes era apenas um homem bom.

-Eu sempre espero pelo meu marido, preparo o jantar e sento o esperando. – dizia triste forçando um sorriso – Infelizmente parece que ele não queria me ver ali...

-Flor, ele tem sorte em tê-la, mas não se deve esperar para sempre...

-Mas eu estou bem aqui. – dizia a si mesma.

-Acredita nisso? – ele parecia Ino lhe falando isso – Se você estivesse bem, não precisaria ligar para mim, flor.

-Ah... – ficou sem resposta, desejando desligar.

-Por favor, não entenda mal. Adoro ouvir você. – ele se apressou em dizer – Mas posso lhe pedir uma coisa?

-Eu acho que sim...

-Deixe o telefone no autofalante e vá até a cozinha e o largue sobre a mesa.

-Para que?

-Somente me ouça... – ela lhe obedeceu, ligou as luzes da cozinha vendo tudo ficar bem iluminado e pos o aparelho sobre a mesa como pedido – Agora ponha seu avental devagar, preferencia de olhos fechados o amarre. Aperte forte agora. – ela arfou – vá até a bancada e pegue um tomate, adoro tomates... – riu a fazendo ficar vermelha – os corte em fatias finas lentamente, olhe bem para cada fatia que está cortando, sinta o liquido frio escapar do fruto e tocar suas mãos e como fosse de outra pessoa. Agora pare, terminou de corta-lo?

-Não...

-Pegue esse pedaço maior de tomate e o leve até seus lábios, não o morda, apenas o saboreie... – sentia o tomate frio em seus lábios, o sabor escapando para sua boca – Está vendo o que fazendo? Está noite você irá fazer o jantar para você mesma, quero que sinta o alimente, o saboreie com prazer...

Sakura comia aos poucos aquele tomate como se fosse a comida mais saborosa que já provará, passava sua língua em seus lábios que se beijasse os lábios de outro, sentia o avental amarrado em sua cintura fortemente como se mãos lhe pressionassem e tudo isto ao som da voz daquele homem que sequer podia imaginar como era, a imagem era embaçada em sua mente, mas não precisava de uma imagem e sim daquele som que invadia seus ouvidos.

-Está pronto... – Sakura anunciava colocando o prato de espaguete a bolonhesa sobre a mesa.

-Sente-se e me diga como está. – provou devagar um pouco apenas – Delicioso, não?

-Sim... –sorriu.

-Falta duas coisas para nosso jantar ser perfeito.

-O que?

-Vinho... – ela levantou pegando o vinho da estante e servindo a taça, fez um pequeno brinde com outra taça vazia para que ele ouvisse – E uma música.

-Música? – riu olhando o aparelho som na sala, foi até lá ouvindo a música antiga daquela cantora loira tão bonita quanto Ino.

-Hum. Taylor Swift, deixe-me ver... – pensou um pouco ou talvez pesquisou – Everything Has Changed com Ed Sheeran. Admito que não sou grande fã dela, mas ele trabalha bem. – ouviram  a musica juntos – Flor, me daria a honra dessa dança?

-O que? – riu – Não temos como dançar.

-Temos sim, largue a taça que provavelmente estava tomando ainda... – ele acertará – Feche os olhos e se deixe levar pela musica, comigo...