História Caminhos do coração - Lembranças

 Naquela noite a lua estava mais brilhante do que nunca. Infelizmente as grossas nuvens, que começaram a se formar no escuro, bloquearam toda a luminosidade lunar. O vento, que a pouco era como uma suave brisa noturna começou a se transformar em ventos gélidos de arrepiar a espinha de qualquer um que estivesse na rua. Depois de observar estes detalhes do clima a única conclusão que Hinata conseguiu chegar era de que precisava acelerar os passos para não se molhar, pois uma forte chuva estava para começar.  

O metrô estava a pouco mais de 600 metros, então Hinata concluiu que certamente ia dar tempo de chegar e se proteger. Ajeitou a pequena mochila xadrez nas costas e apertou os dois livros sob o peito enquanto continuava na rápida caminhada até a entrada da estação.   

As ruas estavam praticamente vazias, pois no dia seguinte seria feriado de Chuseok*, então muitas pessoas foram viajar ou simplesmente resolveram passar o dia com suas famílias. Como Hinata estava em outro país longe dos familiares, ela resolveu que seria melhor ir estudar na biblioteca da universidade do que ficar em casa deprimida. 

A moça continuou a rápida caminhada por mais 100 metros até passar por um beco. Do canto do olho a garota pode perceber que tinha um homem encostado na parede fumando um cigarro de palha. De início Hinata não deu importância e continuou a caminhar, entretanto começou a ter o pressentimento de que estava sendo observada. A garota pensou que fosse apenas uma sensação estranha, então, sem parar de andar, Hinata deu uma rápida olhada para trás e o que viu fez a moça prender a respiração. O homem que viu agora a pouco no beco estava andando atrás dela. 

A surpresa foi tanta que Hinata parou de andar por alguns segundos. Porém não demorou muito para que o pavor tomasse conta da moça. Diante de tal situação Hinata voltou a caminhar dando passos mais apressados e imprecisos. A garota olhou em volta e perceber que não tinha ninguém na rua. Já era por volta de 22h e todas as lojas já estavam fechadas. Hinata se culpou mentalmente por ter saído tarde da faculdade e agora, envolvida naquele momento, a moça simplesmente não sabia o que fazer. 

"Será que eu estou exagerando?" - pensou Hinata por um momento, mas sem parar de andar. Talvez em outra situação, mas não nessa. Não estava exagerando. Além de está escuro com todas as lojas fechadas, não tinha ninguém na rua. Como mulher era inevitável que Hinata sentisse medo. Não apenas medo, mas pavor de pensar no que poderia acontecer. 

Em meio a esses pensamentos a moça percebeu que já estava bem perto da entrada do metrô. Faltavam apenas alguns passos para alcançar as escadas da estação. Lá dentro tem guardas e câmeras de segurança em todos os lugares e com certeza estarei segura! - pensou a garota soltando um suspiro de alívio sem diminuir o ritmo nos pés. 

Infelizmente a moça relaxou cedo demais. Antes que pudesse tocar o corrimão das escadas Hinata sentiu ser agarrada por trás. Com uma mão o homem segurou sua cintura e com a outra pressionou um pano contra sua boca e nariz. Não houve tempo para nada. Quando Hinata deu por si estava sendo arrastada para algum beco longe da estação. Seus olhos estavam pesados e não conseguia pensar em mais nada. O pânico, o medo e o terror tomaram de conta do coração da moça enquanto perdia a noção do mundo e de si mesma.

Hinata acordou assustada, ofegante e tremendo. Estava na cama de seu quarto. Respirou profundamente enquanto passava as mãos no pescoço tirando os fios que grudaram na pele por conta do suor. Todo o corpo estava suado! Hinata afastou as cobertas e sentou no canto da cama. Tinha acabado de ter o mesmo pesadelo. Na verdade lembranças de um dia horrível que ficou marcado na vida da garota para sempre. 

Quantas vezes já teve o mesmo sonho naquele mês? Cinco? Seis vezes? Não sabia ao certo! Mas era sempre a mesma coisa. Quando acordava do pesadelo durante a noite, Hinata sempre sentia enjoos culpa e muito, mais muito nojo. Nojo do homem que a violentou e principalmente nojo do próprio corpo. Ela sabia que a culpa não era dela e que não houve maneiras de evitar o ocorrido. Apesar de tudo isso era impossível para Hinata não sentir essas emoções e sensação. Não depois de tudo que passou. 

Enquanto tentava ficar mais calma a moça sentiu o estômago revirar e teve que correr para o banheiro. Levantou a tampa do vaso e vomitou. Ela ainda estava ofegante e por isso tentou respirar profundamente para se acalmar. Deu descarga e percebeu que seu vômito estava com a coloração esverdeada. Apesar disso a moça não ficou assustada, pois sabia que não tinha comido nada depois de chegar cansada da faculdade. Hinata se arrastou e sentou do lado do vaso sanitário.

Hinata Hyuuga tinha a pele muito branca e frequentemente ficava vermelha. O cabelo, sempre longo, era preto-azulado formando um contrate com a pele clara e os olhos prateados. A garota tinha muitas curvas, mas nunca gostou de mostra-las, sempre preferiu usar roupas que não mostrasse demais. Se sentia mais confortável se vestindo assim. A garota sempre foi mais quieta e reservada, mas quando soube que tinha passado na faculdade que sempre quis decidiu mudar de comportamento e tentar ser alguém mais extrovertida. Atualmente estava com 19 anos. 

"Um ano!" - pensou Hinata. Naquele mês completava um ano que a garota sofreu o abuso. Um ano de angústias, medos, pesadelos e muito sofrimento. Quanto mais o tempo passava mais a moça piorava, pois não conseguia superar. Não que seja fácil seguir em frente depois de ser violentada. O problema era que Hinata não contou pra ninguém o que aconteceu com ela. Excerto para sua amiga Sakura, com que dividia o apartamento. Ninguém mais sabia. Ninguém nunca poderia saber. Nem seu namorado da época Kiba, com quem Hinata terminou poucos dias depois do ocorrido, nem sua família. Sua família nunca poderia saber. Jamais! 

Durante muito tempo Sakura tentou ajudar Hinata, mas ela sempre recusava. A única coisa que Sakura pode fazer foi acompanhar a amiga no dia seguinte até o hospital para que Hinata tomasse algum remédio, no intuito de evitar gravidez. Depois desse dia Sakura tentou várias vezes levar a amiga para visitar um psicólogo na intenção de que Hinata pudesse conversar com mais alguém, já que ela se recusava a falar com a família. 

Sakura Haruna era uma garota bem agitada. Por muitas vezes considerada dramática demais a moça nunca escondia o que sentia. Com a pele clara e olhos verdes Sakura tinha uma personalidade alegre, que refletia na cor de seu cabelo. No momento totalmente rosa claro. A Haruna era um ano mais velha que Hinata e atualmente estava com 20 anos. 

A rosada insistiu por diversas vezes, mas Hinata sempre recusava. Com isso Sakura parou de insistir com a amiga. Porém deixou bem claro para Hinata que ela não ia conseguir lidar com aquela situação sozinha, que ela precisava de ajuda. Que as pessoas que realmente a amavam iriam fazer de tudo para ajudar sem julga-la.

Agora, sentada no chão do banheiro com um gosto ruim na boca, Hinata estava pensando na amiga. Como queria que ela estivesse ali com ela. Precisava de um abraço! De alguém do seu lado para tentar conforta-la pelo menos um pouco. Mal terminou de pensar sobre o assunto e pode ouvir barulho de chaves se batendo e de alguém destrancando a porta.    

- Hinata? - chamou a rosada enquanto caminhava para o quarto. 

- No banheiro. - respondeu Hinata com um pouco de dificuldade ao mesmo tempo que limpava a boca com papel higiênico. Sakura apareceu na porta do banheiro. Estava com a blusa branca de manga que ia até o cotovelo, junto com uma calça de jeans branco. A julgar pelas roupas a rosada estava voltando do estágio. 

- O que foi? Teve aquele pesadelo de novo? - perguntou a Haruno indo se sentar na frente da amiga. 

- Pra variar - respondeu a Hyuuga revirando os olhos. Odiava se sentir daquela forma. Odiava a maneira como seu corpo reagia ás lembranças daquele terrível dia. Mas acima de tudo odiava o homem que a violentou. Odiava com todas as forças. Jamais o perdoaria! 

Ao notar que a Hinata estava perdida em meio aos pensamentos Sakura levantou de onde estava e se moveu para o lado da amiga. Hinata notou o movimento e acompanhou a moça de cabelo colorido com os olhos. Sakura sentou sobre os joelhos e abriu os braços para a Hyuuga. Nos olhos verdes da Haruno ela dizia que estava tudo bem e que estaria ali para o que precisasse. 

Não foi necessário mais de dois segundos para Hinata se jogar nos braços de Sakura e começasse a chorar. Envolveu os braços na cintura da amiga rosada enquanto deixava que as lágrimas escorressem pelo rosto. Hinata não precisava se explicar, pois Sakura conhecia a história. Conhecia a dor e a vergonha que a Hyuuga carregava. Apesar de sempre explicar para Hinata que ela não precisava sentir vergonha de si nem do próprio corpo, mas não adiantava! Hinata continuava se menosprezando e se rebaixando pelo ocorrido. 
A rosada sabia que não seria fácil ajudar a amiga. Já havia passado um ano desde o ocorrido e pouca coisa mudou. Hinata precisava se abrir e deixar que as pessoas a ajudassem porque aquela situação modificou toda a vida da garota e ela não conseguia seguir em frente. Felizmente Hinata mostrava sinais de que estava começando a se abrir um pouco mais e isso já demostrava um grande avanço. 
Sakura apertou os braços ao redor de Hinata trazendo-a mais para si em um abraço mais apertado. Sabia como ajudar, a única coisa que restava era Hinata dar mais espaço para enfim começar a tratar de seus traumas e finalmente deixar o passado para trás. 

(...) 

 O despertado tocou indicando que estava na hora de levantar. Hinata levou a mão para a mesa ao lado da cama desligando o alarme do celular, enquanto levantava e se movia para o banheiro. Antes de pegar a escova de dente a moça se olhou no espelho. Estava com os olhos fundos e algumas olheiras, resultado do choro da noite passada. 

Talvez Sakura tenha razão - pensou a Hyuuga dando um longo suspiro. Eu não quero viver dessa maneira pra sempre e acho que já está na hora de deixar o passado no lugar dele. Pra trás! - Hinata concluiu o pensamento enquanto olhava para si mesma no espelho. 

- Você pode fazer isso, Hinata! - disse para seu reflexo no banheiro. - Você pode! - A moça decidiu à medida que aquela decisão tomava conta de seu coração. Estava determinada a mudar, queria mais do que tudo voltar a ser a garota feliz e animada que era a pouco mais de um ano atrás. Sabia que não seria fácil, mas estava decidida de que não iria deixar que aquela infelicidade tomasse mais nenhum momento de sua vida. 

Hinata realizou sua higiene pessoal e se preparou para sair, pois faltava menos de uma hora para aula começar. Quando a moça foi tomar café encontrou um bilhete na geladeira deixado por Sakura. Nele dizia o seguinte: Bom dia Hinata, preparei um café bem forte pra você ter ânimo para mais um dia. Depois temos que continuar nossa conversa de ontem e não se esqueça, eu estou sempre aqui pra você! Tenha um bom dia! A Hyuuga sorriu lendo o recado na geladeira e ficou feliz pela preocupação da amiga. Gostava muito de Sakura e também queria conversar novamente com ela. Hinata olhou mais uma vez para o relógio e terminou de se arrumar, pegou sua mochila, as chaves e correu para o ponto de ônibus, que logo passou. 

Era o início de semestre, especificamente agosto de 2015. Hinata era aluna da Universidade Federal de Seul (UFS)** e cursava o terceiro período do curso de Fotografia. Depois de estudar arduamente no último ano do ensino médio e no cursinho preparatório, finalmente a garota tinha conseguiu a vaga que tanto quis na faculdade que sempre sonhou. Mais animada do que nunca a Hyuuga, que morava em Samrye de Jeonju, arrumou as malas e se mudou para a agitada e movimentada da Seul. 

Antes da mudança definitiva Hinata viajou para Seul em busca de um apartamento. Como o preço do aluguel era muito caro na capital a Hyuuga começou a procurar por kitnetes ou até apartamentos compartilhados. Entre uma visita e outra Hinata conheceu Sakura, que estava na mesma situação. As duas logo ficaram amigas e resolveram alugar juntas um pequeno apartamento. 

Um mês depois Hinata já estava arrumando suas roupas no armário do novo apartamento. Por sorte Sakura também estava na mesma universidade, porém cursava Enfermagem e já estava no 3° período. Para Hinata os primeiros seis meses do curso foram maravilhosos em todos os aspectos. Além das fascinantes aulas, a garota fez novas amizades, entrou em vários clubes e até começou a namorar. 

Tudo estava perfeito até as férias de verão de 2014. Foi no final de julho que aconteceu a pior desgraça na vida de Hinata. Depois do ocorrido a Hyuuga perdeu toda vontade de continuar o curso. Ela só não desistiu de tudo porque não queria voltar pra casa. Não queria de nenhuma maneira encarar o primo, a irmã e muito menos o pai, porque tinha vergonha e medo da reação deles. 

Então a garota se forçou a continuar na faculdade, porém mudou drasticamente. Parou de conversar com os amigos do curso e saiu de todos os clubes que participava. Entretanto o mais difícil foi terminar com o Kiba, seu namorado. O rapaz não entendeu o porque do rompimento e ainda insistiu que deveriam ficar junto, mas Hinata estava destruída por dentro e não queria que ninguém se aproximasse e muito menos que tocasse nela. Depois de algum tempo Kiba parou de ir atrás de Hinata e afastou-se de ver da garota. 

Um ano se passou desde o ocorrido e tudo continuava como antes. A única diferença era que conseguiu juntar certa quantidade de dinheiro do estágio que estava fazendo em uma empresa de fotografia. Com esse dinheiro iria comprar uma câmera semiprofissional para continuar fotografando. Hinata encontrava na fotografia um escape dos seus problemas. Na verdade ela tinha duas válvulas de escape. A primeira era a fotografia, que ela usava como profissão. A segunda era a dança. A Hyuuga amava dançar, principalmente o estilo contemporâneo e o hip hop, mas a muito tempo deixou esse prazer pra trás. 

Agora, com a volta as aulas, Hinata estava determinada a reconquistar sua antiga vida. Ela sabia que não seria fácil e que o principal inimigo seria ela mesma, mas a Hyuuga entendia que a única que iria determinar sua vitória ou derrota de seus medos também seria ela. Estava decidida! Aquela situação não poderia continuar! Hinata continuou pensando em todas as decisões que estava tomando enquanto entrava na sala. A aula iria começar. 

(...)

- Mas dona Kazumi, tem como renovar mais uma vez? Eu preciso ficar com esse livro mais uma semana. - Sakura insistiu novamente com a funcionária da biblioteca. - Tenho prova na quarta, quinta e sexta! 

A funcionária Kazumi Mamoto, tinha mais de 50 anos, usava grandes óculos e tinha os cabelos curtos da cor preta, olhou fingindo desconfiança para Sakura. Ela já conhecia a rosada a algum tempo e sabia que a insistência de Sakura não iria para por ali. - Esse livro já está emprestado Sakura, por isso que eu te falei pra fazer a renovação dele pela internet. Agora não posso fazer mais nada - respondeu Kazumi tirando os óculos e se espreguiçando na cadeira. 

Sakura começou a andar de um lado para o outro do balcão de empréstimos. Estava começando a ficar desesperada porque ainda tinha muito que estudar e precisava daquele livro. 

-E agora, o que será da minha vida? Eu vou bombar na matéria, vou atrasar meu curso e nunca vou me formar nessa bagaça de faculdade - disse enfiando os dedos entre os cabelos e puxando levemente. - Eu vou enlouquecer! 

Kazumi não resistiu e começou a rir do exagero de Sakura. - Menina, você não tem jeito. O que seria da sua vida acadêmica sem a minha ajuda? - disse enquanto afastava a cadeira da mesa e inclinava o corpo para baixo pegando alguma coisa debaixo da mesa. Os olhos de Sakura se arregalaram e um sorriso surgiu no seu rosto ao ver o que Kazumi trazia de debaixo da mesa. Era o livro que Sakura precisava. 

- Eu sabia que você ia esquecer de renovar, então peguei ele emprestado no meu nome. Você pode ficar com ele durante 15 dias. - respondeu Kazumi entregando o livro nas mãos de Sakura. A funcionária nem teve tempo para reagir porque Sakura contornou todo o balcão e deu um abraço bem apertado na velha senhora. 

- Dona Kazumi, eu já disse que te amo? Realmente, o que seria da minha vida sem sua ajuda. Muito obrigada - disse desfazendo o abraço na senhora que soltou um riso baixo. Não era a primeira vez que Kazumi ajudava Sakura. Sempre que precisava de alguma coisa relacionada com a faculdade a senhora Mamoto fazia de tudo para ajudar. A funcionária trabalhava a 30 anos no mesmo lugar. Já tinha se aposentado, mas quis continuar na universidade. Porque não queria ficar em casa sozinha. Os filhos moravam longe e seu antigo marido faleceu a 10 anos atrás. Por conta da circunstância Kazumi decidiu continuar trabalhando.  

- Muitas vezes Sakura! Você precisa ficar mais alerta menina. O que você vai fazer quando eu não estiver mais aqui? 

-Por que você não estaria mais aqui? - perguntou Sakura encarando a funcionária. - Depois de tanto tempo você vai me abandonar? - perguntou fingindo chorar. 

- Ai meu Deus, como você é dramática! Estou dizendo porque nunca se sabe o que pode acontecer amanhã.- disse colocando os óculos de volta no rosto. - De repente eu posso resolver ir morar com algum de meus filhos e finalmente descansar. 

-Eu duvido muito disso - respondeu Sakura enquanto guardava o livro na bolsa - Eu sei que você ama o que faz aqui na universidade e também sei que você me ama. Não iria conseguir ficar longe de mim - disse sorrindo soltando um largo sorriso e arrancando um suspiro cansado da velha senhora. 

-Ai Sakura, menos viu, bem menos - respondeu a funcionária, que apesar da idade conhecia muitas gírias por conta do convívio com os alunos da universidade. - Sakura, me responde uma coisa, como a Hinata está? Ela vai continuar o curso? - perguntou Kazumi agora séria. 
Sakura também ficou mais séria - Sim, ela vai. Inclusive ontem a noite ela teve outra crise de choro, mas diferente de outras vezes ela não ficou triste depois de chorar. Ela me contou que quer recuperar a alegria de viver que tinha quando entrou na faculdade. 

Mamoto sorriu de lado e soltou um suspiro de alívio. - Que bom ouvir isso Sakura. Hinata precisa dar o primeiro passo e deixar que as pessoas a ajudem. A partir daí só tende a melhorar. 

- Eu também pensou assim dona Kazumi. Vou ajudar no que for preciso porque eu gosto muito da Hinata e quero que ela seja feliz. Ela merece! - disse com um doce sorriso. 

-Eu desejo a mesma coisa! Depois pede pra ela passar aqui na biblioteca que quero entregar algo. Não esquece Haruno! - falou apontando o dedo para Sakura. 

- Que isso dona Kazumi, até parece que eu sou uma pessoa ruim de memória. Que absurdo! - respondeu cruzando os braços e fazendo biquinho para a funcionária. 

- Ah claro, eu não te conheço né menina. Se você esquecer eu vou tirar meu nome desse livro que você acabou de pegar - disse fazendo cara de perversa para Sakura.

- Não! Pelo amor de Deus, a senhora sabe que minha cabeça as vezes falha e eu esqueço das coisas. - Sakura jogou as mãos em cima do balcão. - Não faça isso comigo! 

Kazumi começou a rir novamente de garota a sua frente. Não tinha jeito, Sakura era uma dramática de carteirinha e sempre tinha reações exageradas que arrancava várias risadas da velha senhora. As duas continuaram rindo e conversando dentro da biblioteca da universidade. 

(...) 

O professor de teoria da imagem acabou encerrando a aula mais cedo porque alguns veteranos queria levar os calouros para o bar. Como Hinata não bebia nada que conte-se álcool ela resolveu aproveitar a folga para dar uma volta pelo campus. A UFS era considerada uma das universidades mais verdes da Coréia do Sul, a principal razão do título se da pelas incontáveis árvores que povoam o campus. São várias espécies de diversos tamanhos e cores, porém a maior parte é composta por cerejeiras.  
Hinata encontrou um banco vazio debaixo de uma enorme árvore de cerejeira rosa. A moça se sentou no banco e colocou a mochila de lado. Retirou os fones do bolso e escolheu uma música para ouvir enquanto observava as pessoas passando.

1* 

A música, junto com a suave brisa fizeram que com que pensamentos de Hinata fossem para longe. A letra que ouvia falava sobre a saudade de um amor que acabou e nesse momento a Hyuuga não conseguiu evitar de pensar em Kiba e em como se conheceram.
“O que será que ele está fazendo” – pensou a garota.  A mais de um ano não o via em lugar nenhum. Kiba cursava Design Gráfico e entrou na UFS um ano antes de Hinata. Os dois se conheceram durante um luau de boas vindas para os calouros. O rapaz era um dos organizadores e ajudou Hinata a encontrar o pessoal de sua turma. Logo depois a Hyuuga já estava em cima do palco demonstrando todo seu talento na voz e na dança.

Assim que Hinata desceu do palco e foi procurar por uma bebida para se refrescar, Kiba apareceu na sua frente com um copo de suco de abacaxi com hortelã. Meio desconfiada Hinata cheirou o copo para tentar identificar odor de álcool, porém não sentiu nada. Ao ver tal situação Kiba deu uma leve risada e começou a puxar conversar com a garota. A Hyuuga percebeu que o rapaz estava interessado e não perdeu tempo corresponder as investidas, pois se tinha algo que Hinata decidiu quando entro na faculdade foi que iria tentar experimentar de tudo um pouco. Queria se descobrir!

Kiba Inuzuka tinha a pele bronzeada do sol, que lhe dava um ar mais sedutor. Os olhos da cor castanho escuro, combinavam com o cabelo curto, que tinha a mesma cor. O rapaz era alto e gostava de se exercitar, por isso tinha o corpo malhado. Kiba possuía a típica caracterisca dos asiáticos de não a ter pálpebra dupla, o que lhe garantia um olhar mais sério. Porém toda a seriedade era quebrada quando estava com os amigos, pois gostava de fazer as pessoas rirem. Quando Kiba conheceu Hinata ele tinha 20 anos.      

Pouco mais de dois meses, depois de muitos encontros e ficadas, Kiba e Hinata resolveram assumir o namoro. O rapaz se mostrou um ótimo namorado. Ele era carinhoso e ao mesmo tempo sedutor. Era engraçado, porém sabia ser sério, principalmente quando se tratava da faculdade, pois levava muito á serio o curso que escolheu fazer. Em certos momentos Kiba sabia como ser romântico e surpreendia Hinata com pequenas flores, presentes feitos a mão e bichinhos de pelúcia. Havia uma pelúcia em particular que a Hyuuga gostava e não demorou para que Kiba percebesse. Eram os porquinhos de pelúcia! Hinata era completamente apaixonada por porcos de pelúcia. Para algumas pessoas pode parecer estranho, mas felizmente Kiba achava fofo e já tinha dado dois porquinhos pra Hinata.  
 Depois de três meses de namoro Hinata estava decidida a passar a noite com Kiba. Ela sabia o quanto o rapaz a amava e desejava e sabia que já tinha feito ele esperar demais. O Inuzuka, como bom cavalheiro nunca forçou Hinata a nada, porém não deixava de demostrar como também desejava a moça.

Estava tudo marcado para o dia de feriado do Chuseok. Kiba iria levar Hinata ao cinema, em um jantar e depois iriam para o apartamento de Kiba. A Hyuuga estava em paz com a decisão, tinha certeza de que seria bom pra os dois. Tudo teria ocorrido conforme o planejado se Hinata tivesse saído mais cedo da biblioteca ou se simplesmente tivesse passado o dia em casa. Mas infelizmente não foi isso que aconteceu. 

No dia seguinte do abuso Hinata foi para o hospital acompanhada por Sakura. Depois de tomar todas as precauções possíveis a Hyuuga não conseguia parar de pensar em Kiba. “O que será que ele vai dizer?" era o que mais atormentava a moça. A Hyuuga não iria conseguir conversar com o namorado. Não tinha coragem de contar o que aconteceu, na verdade não sabia se iria conseguir olhar Kiba diretamente nos olhos novamente. 

Hinata tomou a decisão de terminar com Kiba. Ela iria inventar alguma mentira ou qualquer coisa que pudesse afastar o rapaz de si. Como a garota imaginou Kiba não aceitou terminar, não sem um motivo válido, o que a Hyuuga não conseguiu encontrar. A única coisa que veio a mente foi dizer que estava confusa sobre aquela relação e precisava de um tempo, mas ela não queria ter mais nenhum contato com o ele. Kiba ainda tentou insistir com Hinata. Ligava várias vezes, enviava mensagens, tentava encontra-la no campus, porém Hinata sempre dava um jeito de evitar vê-lo ou simplesmente fugiu. A insistência durou um mês, até que Kiba desistiu.     

- Foi melhor assim!- disse Hinata para si em voz alta. - Nossa relação jamais seria mesma depois do que aconteceu comigo - concluiu. A moça olhou para o relógio no pulso e viu que marcava 10h30 da manhã, então resolveu caminhar pelo campus porque estava cedo para almoçar. Guardou os fones e começou a andar. Era incrível a beleza que as árvores floridas davam a universidade. Hinata continuou caminhando durante um tempo sem prestar atenção onde estava indo. Quando deu por si estava na frente de um antigo prédio onde funcionavam alguns clubes da UFS. Curiosa para saber como estava por dentro a Hyuuga resolveu entrar e ver se aqueles clubes ainda estavam funcionando. O pequeno prédio continha dois andares com apenas duas salas em cada andar e uma enorme sala de dança, que estava abandonada e funcionava como porão. Como era horário de aula praticamente todas as salas estavam fechadas, mas ainda sim todos os clubes estavam ativos. 

A Hyuuga estava para sair do prédio quando ouviu uma música vindo da antiga sala de dança. Se deixando levar pela curiosidade Hinata desceu as escadas e encontrou a porta aberta. Diferente do que imaginou o lugar, que antes servia de depósitos de cadeiras estragadas, agora estava limpo e arrumado. Não havia nenhuma cadeira estragada, apenas uma mesa no canto da sala com cinco cadeiras de madeira ao redor. Em outro canto havia uma enorme caixa de som com um celular conectado. 

Então a música estava vindo daqui mesmo - pensou a Hyuuga enquanto caminhava pela sala. O chão e a parede foram restaurados com revestimento novo. Até o enorme espelho na parede foi consertado. A sala estava pronta para ser usada por qualquer um que quisesse dançar. Hinata lembrou do tempo que fazia aulas de contemporânea em Samrye. Sempre gostou da sensação de dançar, era libertador! 
A música ainda estava tocando na caixa de som, mas não havia ninguém na sala além de Hinata. A moça deixou a mochila em um canto perto do espelho, observou seu reflexo no espelho e começou a sentir a batida da música.   

2*

Hinata afastou um pouco as pernas uma da outra e começou a balançar o corpo para a direita e para a esquerda. Deixou que seus braços fluírem como ondas acompanhando o movimento que já fazia com o corpo. A moça deu um giro rápido enquanto esticava o braço direito para cima. Começou a abaixar o braço com a palma da mão virada para o rosto e fez com que seus dedos tocassem seu sua face e fechasse seus olhos. Hinata deu um pequeno salto no ar e caiu em pé com o tronco do corpo inclinado para baixo e com as pernas abertas formando um pequeno quadrado, juntamente com ambas as mãos pra baixo. Enquanto a garota levantava o corpo suas mãos foram para seu pescoço ao mesmo tempo que inclinava sua cabeça para frente e para trás. Seu rosto expressava dor! Respirou profundamente e deixou os braços caírem cada um para o lado do corpo. 

A moça respirou profundamente mais uma vez e só agora abriu os olhos. Olhou para seu reflexo no espelho e sorriu de lado. Parece que a dança ainda está aqui!" - pensou a Hyuuga colocando a mão no peito. Quando Hinata se virou para pegar sua mochila seus olhos arregalaram. Tinha um rapaz encostado na porta, a encarando. Com a súbita presença do homem na sala Hinata congelou onde estava e não conseguiu dizer ou pensar em nada. Enquanto a garota juntava coragem para pegar sua mochila e sair correndo o rapaz desencostou da porta e começou a caminhar na direção da Hyuuga sem dizer nada, apenas olhando diretamente nos seus olhos. 
Hinata tentou se afastar, mas parecia que tinha perdido o comando das próprias pernas, porque só conseguiu ficar parada. O rapaz continuou caminhando até ficar a um passo de distância da Hyuuga. Em meio a confusão que ocorria na mente de Hinata, apenas um pensamento fazia sentido. Aquele homem na sua frente era extremamente lindo! 

Continua...