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História Caminhos Traçados - Larry Stylinson - Capitulo 4


Escrita por: MariaRaissaAA

Capítulo 5 - Capitulo 4


No sábado de manha acordei bem disposto, feliz ao lembrar o projeto com as crianças. Levantei-me e prossegui com a minha rotina diária e fui me encontrar com os outros rapazes e Miguel, o bispo. Demos as mãos em um circulo e começamos as orações.

Até sermos interrompidos pelo toque de um celular, que para meu constrangimento, me pertencia. Tirei o aparelho do bolso e rejeitei a ligação de número desconhecido desculpando-me e voltamos às orações.

No final de semana nos era dada a permissão de visitar nossas famílias, aqueles residentes próximo ao seminário o faziam, e os outros planejavam algum programa em grupo para passarem o tempo no sábado e domingo. Minha família constitui-se por minha Mãe, Jay, e o bispo Miguel que acompanhou toda a minha infância.

Despedi-me de Miguel e caminhei para a minha casa. Cidades pequenas possuem pontos negativos, objetivamente no ponto de vista de pessoas que amam o frenesi das cidades grandes, mas possui um grande ponto positivo inegável, todos os lugares são relativamente pertos e todos se conhecem.

A história da minha mãe, a moça que teve o filho dentro da igreja todos sabiam, alguns a viam como uma mulher que recebeu o castigo dos céus e por isso foi abandonada, outros como a escolhida, já que eu crescendo dentro da igreja e considerando o na época, Padre Miguel, um pai tinha todos os atributos de uma criança criada no ventre puro do catolicismo. É claro que eles não sabiam das viagens militantes.

Resgatei meu telefone esquecido no bolso desde a ligação e disquei o número desconhecido. Richard, o guarda da Casa de Menores Infratores foi quem atendeu.

- Que bom que ligou de volta Sr. Louis, eu 'tava pra ligar 'pro senhor de novo. O senhor pediu pra eu verificar o menino Harry então achei que gostaria de saber que ele se meteu em uma briga ontem, no horário que todos são mandados de volta pros dormitórios, mas como já 'tava de noite preferi ligar pro senhor só hoje.

- Você sabe o que acarretou a briga, Richard? Alguém saiu realmente ferido?

- Olha foram dois que se juntaram pra bater no menino então ele tá todo 'quebrado', a orientadora tentou falar com o Harry hoje e ele não abriu o bico sobre o motivo da troca de socos mas assumiu que deu o primeiro. Os outros dois garotos estão reclusos e vão falar com a orientadora depois do almoço, mas eu achei um dos livros que o senhor deixou com ele rasgado e suspeito que tenha algo a ver com isso.

Suspirei perplexo. Depois de todos esses meses com relatos de bom comportamento não podia permitir que Harry começasse a se boicotar, respirei fundo com o coração doendo por Harry e de imaginar meu livro arruinado.

- Se eu for até aí poderei falar com o Harry ou as visitas estão proibidas?

- A gente já conhece os outros dois garotos e sabemos que são encrenqueiros que sempre saem e voltam. E acho que é bom pro menino ver o senhor, vai anima-lo e distrair dos machucados, ele é muito durão, mas ficou a semana todo ansioso esperando o senhor chegar, mesmo tentando não deu pra disfarçar o olhar de desapontamento quando falei que o senhor não vinha mais essa semana.

Apesar das circunstancias, sorri. Harry tenta tão fervorosamente não transpassar sentimentos que todos acabam notando que não passa de uma fachada, e que atrás dela se esconde um ótimo garoto.

- Tudo bem, estou indo até aí, muito obrigada por me avisar, Richard.

Desliguei e peguei a rua contrária a minha casa.

Após passar pela revista padrão e ser liberado fui direcionado por Richard direto para o dormitório onde ele estava agora, separado dos outros enquanto se recuperava dos hematomas.

Pela grade pude observar Harry ressonando em um sono tranquilo, seus braços em volta de si mesmo, inconscientemente tentando se proteger. Um pequeno incomodo tremeu em meu estomago com a cena, ele que me pareceu tão forte e até ameaçador, pelo menos 20 centímetros maior que eu, pela primeira vez parecia o que provavelmente ele realmente é, um jovem desamparado e com medo.

Um roxo muito forte adornando sua bochecha e um curativo acima da sobrancelha direita me contavam a historia de uma briga covarde, além dos machucados já esperados havia também uma faixa enrolada em volta do seu tórax.

- Eu poderia falar com ele por um momento a sós, Richard?

Ele apenas assentiu, percebendo o pesar estampado no meu rosto ao observar o garoto adormecido em minha frente.

Abrindo a porta caminhei até a cadeira ao lado da sua cama e me sentei á ela. Sua pele clara brilhando com o suor que escorria e a testa franzida denunciavam uma provável dor ou desconforto. Mesmo em sono ele ainda estava machucado. Cuidadosamente repousei minha mão sobre sua testa e a tirei assustado, sua pele estava em brasa com a febre.

Voltei para a recepção em passos largos já procurando alguém que pudesse medicar o menino febril. Richard me levou até a enfermeira que com descaso colocou em minha mão um comprimido e um copo de água, xingando-a mentalmente comecei a recitar o nome dos discípulos de jesus como um mantra para acalmar-me.

Repousando o copo na cadeira ao lado toquei em seu braço levemente balançando-o e chamando seu nome. Seus olhos verdes em confusão se abriram e repousaram em mim, um sorriso desconfortável se abriu em seu rosto, seus olhos ganhando um brilho que me fez imaginar porque aquele garoto tão enigmático gostava de mim em tão pouco tempo.

Peguei o copo d'agua estendendo a mão para ele que pegou tomando um pouco, mostrei-lhe em minha outra mão o remédio indicando para que ele o tomasse. Seu sorriso se desfez e ele negou.

- Odeio remédios, não está doendo tanto – esclareceu se apoiando em seus braços para sentar-se na cama e falhando ao tentar evitar uma careta de dor.

- Se não quer beber para passar sua dor, tudo bem, mas por favor beba para que eu possa passar um tempo com você, não suporto assistir as pessoas sentindo dor e se tiver de vê-lo se retraindo dolorido prefiro ir embora.

É claro que eu não ia embora, tinha ido até lá para saber o motivo daquilo tudo e para ajuda-lo o quanto fosse possível, mas um pequeno incentivo para ajuda-lo não faria mal.

- Eu não deveria te dizer isso, mas estou orgulhoso de você – com as pontas dos dedos pegou o remédio que repousava na palma da minha, seus dedos frios me causando um arrepio que o fez sorrir antes de tomar o comprimido – Acho que essa foi a primeira vez que chantageou alguém, se isso não é te levar pro mal caminho não sei o que é.

- Espero então que Deus alivie 'pra mim já que foi por um bom motivo, estou tentando ajudar um amigo. – Seu sorriso se tornou divertido, as sobrancelhas levantadas demonstrando o que ele achava sobre sermos amigos. – Me poupe das piadinhas desagradáveis por um momento, Harry. O que realmente aconteceu?

Voltei a me sentar na cadeira me recostando e esperando uma resposta do seu rosto pensativo e indeciso.

- Porque está aqui, Louis? Eles pediram pra você vir me perguntar isso? – seu desconforto com a pergunta era evidente, seus olhos não desviando nem por um momento do meu rosto. Naquele momento tive certeza que, se não ganhasse sua confiança nunca conseguiria alcança-lo para ajudar-lhe.

- Sinceramente? Eu fiquei muito perturbado com a nossa discussão na terça, porque eu já vi de perto o mal que algumas pessoas podem sofrer, mas nunca o senti na pele então sabia que não tinha direito de ficar chateado com você, mas você invadindo meu espaço pessoal e criticando tão fervorosamente algo que faz parte de quem eu sou me deixou sem chão. Então decidi não vir o resto da semana e orientei Richard a me ligar se qualquer coisa acontecesse, claro que nunca imaginei que iam machuca-lo. Ele me ligou hoje de manha e me contou o ocorrido e fiz questão de vir vê-lo.

- Então você não veio bancar o psicólogo? – Seu rosto havia se suavizado enquanto fui discorrendo a verdade e agora ele me parecia apenas ligeiramente inseguro. Completamente solitário.

- Não, eu vim saber como um garoto que conheci há poucos dias, mas ao qual já tenho amizade está. É claro que eles vão me perguntar o que você me contou, mas se preferir eu digo que você contou como confissão á Deus, que é totalmente sigilosa.

- Se quiser falar pra eles na verdade eu não me importo, só não queria falar meus problemas pra um desconhecido.

Sorrio entendendo seus sentimentos e levo minha mão hesitante até seus cabelos, tirando uma mecha do seu rosto agora machucado.

- Foi pelo livro?

Harry nega rindo.

- Eu não iria estragar minha ficha só por causa de um livro, apesar de aqueles imbecis merecerem apanhar, eles fizeram alguns comentários que eu não gostei, citando fatos do meu passado e eu perdi o controle. Será que Deus me perdoa?

Meu olhar diz tudo e seu sorriso irônico some de seu rosto.

- Espero que entenda Harry que laços só se mantém quando duas pessoas se respeitam, nunca vou desrespeitar suas crenças e espero que pare de ironizar sobre a minha.

- Me desculpa se Deus ferrou com a minha vida no passado e continua ferrando no presente. Eu estou aqui por culpa dele, eu briguei por culpa dele, toda merda que eu me afundo é conseqüência dessa merda de religião.

Suspiro observando seus olhos que parecem muito mais dolorosos que raivoso e penso em uma forma de distraí-lo enquanto ganho meu ponto.

- Sempre participei da militância escondido, o único que sabe sobre isso é o bispo, o orientador dos seminaristas que é como um pai pra mim, o pai que eu nunca tive. Tenho amigos gays, eles são namorados, e eles também detestavam Deus porque já sofreram com o preconceito. O que eu preciso que você entenda é Deus não tem culpa sobre as interpretações que as pessoas fazem, que ele é um ser de amor, esqueça o que está na bíblia, pense em Deus como uma mãe que ama todos os seus filhos independente de seus defeitos e falhas, todos.

- Não consigo Louis, mataram a única pessoa que eu já amei além de minha mãe, ele não aguentou tudo isso e cometeu suicídio. Aqueles imbecis que rasgaram seu livro...eu nem quero falar sobre o que eles disseram na verdade.

Levanto-me da cadeira e me sento na beirada de sua cama cruzando os braços e o encarando.

- Não saio daqui até você dizer, vamos lá, quero saber o que eles te disseram pra entender toda a sua raiva – ele me olha incrédulo e nega com a cabeça descrente.

- Você é o pior seminarista da face da terra Louis, mas seus olhos tem charme então vou te falar – ele limpa a garganta e de repente parece desconfortável em sua própria pelo, a resposta vem tão baixa, apenas um sussurro, que preciso olhar para seus lábios para entender – eles disseram que você está vindo aqui para me curar da homossexualidade.

- O que? – nego com a cabeça incrédulo, eu nunca faria isso – Harry, não acho que isso seja uma doença, mas você sabe que não estou aqui por isso, não sabe?

- Eu só fiquei confuso na hora – seu olhar é culpado e seus olhos fogem dos meus, ele pensou que eu fosse capaz – no fundo eu sei que nunca faria isso Louis, se não soubesse nem estaria aqui falando com você, foi só por um momento.

- Tudo bem, olha – digo me levantando da cama e voltando a me sentar na cadeira – quando estivermos compartilhando um tempo, você se esquece que eu sou um seminarista, que tal isso? Vou ser só um garoto, um amigo que vem te visitar e conversar.

Seus olhos se espreitam pensando em aceitar a proposta e sei que vai aceitá-la.

- Trato feito, mas – ele para de falar e ri apontando pra mim – você também vai esquecer que é um seminarista, começando por essas roupas.

Assinto com a cabeça concordando, sabendo que terei que pedir ao Miguel que disperse minha tarefa como seminarista aqui, para que possa cumprir o acordo. Tudo por um bem maior, claro.

- Okay, sem roupas – termino a frase e me arrependo rapidamente ao ver seu sorriso zombeteiro – sem roupas de seminarista, Harry. Você é impossível.

- Não jogue a culpa em mim não, foi você que falou uma frase de duplo sentido, que culpa eu tenho se você tem a inocência de uma criança?

- Eu não tenho a inocência de uma criança, você que pensa igual a uma e fica fazendo traquinagem.

- Quem fala traquinagem no século vinte e um? Por favor, Louis, pare de se envergonhar, você vivia embaixo de uma pedra?

- Desculpe senhor eu-vim-de-cidade-grande, essas crianças de metrópole não sabem nada da vida.

- Você não deve saber nem andar em um shopping nanico.

E se eu me esqueci totalmente de voltar para casa até Richard pedir que eu me retirasse, ou se eu me senti leve e como um garoto qualquer se divertindo depois de quase quatro anos sem me sentir assim, se ali, sentado naquela cadeira, vendo Harry gargalhar após nossa discussão infantil meu estomago se apertou em satisfação por fazê-lo sorrir, ninguém pode me culpar.



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