1. Spirit Fanfics >
  2. Caminhos Traçados - Larry Stylinson >
  3. Capitulo 5

História Caminhos Traçados - Larry Stylinson - Capitulo 5


Escrita por: MariaRaissaAA

Notas do Autor


Quero deixar bem claro que nunca visitei um lar para menores infratores. Sei de algumas coisas relacionadas a lei porque faço Direito, e tento pesquisar outras pra ficar o mais real possível, mas qualquer pessoa sensata nesse país sabe que dificilmente essas casas de reclusão funcionam exatamente como está no papel.
Mas espero que sejo parecido o suficiente, ou pelo menos o suficiente para desenvolver bem a história.

*¹ INTERNAÇÃO: Constitui em medida privativa de liberdade de no mínimo seis meses e, no máximo, três anos. O prazo total de cumprimento depende da evolução do adolescente dentro do sistema socioeducativo. Ele pode ficar internado até os 21 anos. As avaliações ocorrem a cada seis meses e são encaminhadas ao juiz que, por sua vez, decide se o adolescente deve continuar internado.

*² Art. 124 do ECA. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;

Beijocaaaaas <3
Mari

Capítulo 6 - Capitulo 5


As palavras com * estão explicadas nas notas iniciais

Aqui estou, sentado em uma cadeira desconfortável, seguindo uma idéia imbecil que veio em minha mente alguns minutos antes de cair no sono. Recitando mentalmente o nome de todos os apóstolos para evitar que minhas mãos tremam, e rezando - sim eu recorri a Deus e ninguém pode me julgar, afinal sou um jovem em momento de desespero – para que nessa manhã Miguel esteja aberto a idéia absurda que mais ninguém concordaria.

Deixe-me explicar. No sábado eu e Harry passamos alguns minutos em uma discussão ridícula, mas após os nervos terem se acalmado passamos para a conversa civilizada, ele me contou um pouco sobre ele e eu contei um pouco sobre mim.

Harry crescera no Rio de Janeiro, em uma região pobre, fora criado por sua mãe Anne, que sozinha sustentou a casa e o educou. Não conheceu seu pai, mas estava ciente que era fruto da relação de sua mãe com um ex-patrão, mas pelo semblante de sua mãe quando citava o homem, sabia que não se tratava de uma boa pessoa.

Crescera livre correndo pelas ruas e brincando com as crianças em volta, as mães que não trabalhavam se revezavam para vigiar a criançada e cuidavam de Harry enquanto Anne trabalhava. Harry me garantiu que nunca lhe faltou amor, e apesar das desventuras não se lembra de ter dormido de barriga vazia. Sua mãe é mais uma das natas mulheres que a vida obrigou a serem guerreiras.

Quando passou para o ensino médio sua mãe insistiu que fosse estudar em uma escola pública em um bairro mais nobre, onde a educação seria melhor. Ele estudava na parte da manhã, ia e voltava na vã de uma amigo de Anne que era mascate em vários bairros diferentes da cidade. Na parte da tarde, por exigência de Anne, ficava em casa estudando ao invés de trabalhar, e quando sobrava tempo, brincava com as crianças das vizinhas, dando um descanso para as mães que sempre pareciam muito atarefadas.

Depois que Harry foi condenado a internação*¹ de três anos – ele não quis explicar os motivos pelos quais fora condenado e eu decidi respeitar está escolha – Anne decidiu que precisava sair do Rio de Janeiro. Nascendo lá e crescendo em uma região pobre onde vários menores acabavam se envolvendo com crimes, Anne tinha ciência que precisava sair da metrópole, onde os riscos de seu filho se perder eram maiores que em cidades pequenas.

Eles ficaram um ano no Rio esperando um primo distante de Anne que mora em Itumbiara conseguir alugar uma casa para ela. Com tudo organizado Harry fora transferido, e agora Anne estava muito mais calma. A cidade é relativamente pequena, e apesar de o CRAI (Centro de Recepção ao Adolescente) não estar nas melhores condições é onde Harry corre menos riscos.

Quando por curiosidade perguntei do que ele sentia mais falta de onde morava, em primeiro momento seu olhar se tornou distante e soube que estava pensando no garoto que amava. Mas o brilho foi voltando aos seus olhos e com um sorriso me disse que sentia falta das crianças, que quando brincava com elas se esquecia do resto do mundo sentia que era possível ter esperança em um mundo melhor. E isso me tocou mais que qualquer coisa que ele pudesse me dizer, se alguém precisa de esperança, lhe de esperança.

Agora, uma semana depois dessa conversa, cá estou eu, sentado de frente para o Bispo Miguel, tentando convencê-lo de que minha idéia é ótima.

- Não sei se é uma boa idéia, Louis. É claro que precisamos acreditar na reabilitação, mas levar uma criança para aquele ambiente? E você precisa mesmo ir com roupas normais? – assenti. Miguel me encarava me sondando com os olhos. Por fim suspirou.

- Vou ligar no orfanato e avisar que você vai passar lá, e vou ligar para o CRAI e negociar com o diretor sua entrada com uma criança, não vai ser fácil, mas creio que vou conseguir – sorriu para mim estendendo sua mão, coloquei minha mão na sua e sorri de volta – esse é meu voto de confiança no Harry, espero que ele não nos decepcione.

Ele não vai, pensei.

- Mas, você não pode atrasar a entrega do seu TCC de conclusão de teologia, e pelo que percebi você ainda não começou a escrevê-lo, você é inteligente filho, mas é um trabalho extenso e precisa estar perfeito para que consiga se formar.

- Desculpe, mas não precisa se preocupar bispo, conviver com o Harry me deu exatamente o que eu precisava para esse trabalho, passei a semana toda trabalhando nele, finalmente saí do meu bloqueio e consegui começar o meu TCC, confie em mim, vou te deixar orgulhoso.

 

Estava terminando de comprar algumas roupas e alguns panos para as fantasias com o dinheiro que o Bispo Miguel tinha me entregado para o teatro das crianças quando recebi sua ligação. Eu poderia levar Isabella até Harry, ficaríamos separados em uma das salas de aula que estaria vaga, onde teríamos espaço – e onde há câmeras para monitorar todos os nossos passos, já que levarei uma criança que não é familiar do detento.

 Os outros detentos interessados, aqueles que não tinham antecedentes de agressividade dentro do CRAI, poderiam participar da atividade – não que eles tenham me perguntado se gostaria da presença de todos, mas é óbvio que meu papel não se trata de dar preferências para Harry, e sim ajudar todos que aceitarem ajuda e não é como se adolescentes fossem se interessar em costurar roupas.

Caminhei em direção ao orfanato me lembrando de como foi a semana passada. Após descobrir que Harry possuía um telefone*² trocamos os nossos números e acabamos passando a semana nos comunicando. Ele ficou satisfeito em me dar sua opinião para me ajudar com meu trabalho de conclusão de curso e eu fiquei satisfeito em poder lhe distrair das dores.

Os machucados já estavam melhores, agora com a cor esverdeada pelo que Harry me disse, mas as costelas não doíam mais e sua mãe tinha levado uma medicação para dor e evitar infecção que realmente tinha ajudado com seus cortes e hematomas. Ele já consegue se sentar e movimentar normalmente sem sentir dor.

 Quando cheguei na porta Isabella já estava lá, de mãos dadas com Luzia. Pedro estava no colo de Luzia, enrolado em uma manta.

- Sr. Louis, bom dia, você precisa assinar um termo de compromisso para sair com Isabella e depois estão liberados – seu semblante estava calmo, mas seus olhos me interrogavam.

- Não se preocupe, Luzia, ela estará segura, eu sei exatamente o que estou fazendo – me abaixei deixando um beijo nos cabelos negros amarrados em trancinhas de Isabella – e como você está sapequinha?

- Bem tio Lou, ‘to animada pra começar a fazer nossas fantasias – respondeu saltitando.

Apesar da deficiência no pé eram poucas as coisas que Isabella não conseguia fazer.

Me levantei e peguei Pedro que já esticava seu bracinho pegando minha corrente com pingente de crucifixo e levando até a boca sem dentes.

- Infelizmente você não pode ir comigo garotão, mas prometo que venho ver você por mais tempo – o beijo e entrego de volta para Luiza e caminhamos até o escritório para assinar o termo de responsabilidade.

 

Caminho pela calçada com a mão direita entrelaçada a de Isabella e a esquerda carregando a enorme sacola com as comprar.

- Tio, a gente ‘ta indo conhecer alguém? – Isabella questiona levantando o queixo para me olhar nos olhos.

- Sim, vamos conhecer o tio Harry, ele não pode sair da casa onde ele está morando e vamos fazer companhia pra ele hoje e se vocês se gostarem podemos terminar as fantasias com ele essa semana – explico sorrindo.

- Por que ele não pode sair? Ele ta de castigo tio Lou? Achei que só crianças ficavam de castigo, ele é criança ainda? – pergunta com os olhos arregalados em curiosidade. Rio da sua inocência negando com a cabeça.

- Ele já é um adulto Isa, mas nós adultos também temos que seguir regras, e quando as desobedecemos somos punidos e temos que ficar longe de nossa casa, é como ficar de castigo, e depois da punição podemos voltar para nossa casa.

- Então é bom a gente ir visitar seu amigo tio Lou, ele deve estar com saudade de casa, a gente pode brincar com ele, talvez a gente ‘pode emprestar O Pequeno Príncipe pra ele, é meu livro preferido, gosto de ler ele quando fico triste.

- Claro, podemos sim, você mesma pode emprestar pra ele e dizer por que está emprestando, ele vai adorar – declaro e Isabella assente sorrindo – Agora nós vamos entrar, pode ser que outros rapazes também fiquem com a gente, eles não são meus amigos, mas também precisam brincar.

Passamos pela revista, a sacola foi revistada, e fomos liberados para entrar. Os menores já tinham sido avisados para se quisessem participar da aula ir até a sala onde ficaríamos e eu e Isabella nos dirigimos até ela com Richard nos guiando.

Chegamos na porta e a mesma estava escancarada, e apenas uma cabaça com cachos se encontrava dentro da sala. Ao ouvir o som de nossos passos adentrando a sala Harry olhou em minha direção e sorriu, um sorriso de tirar o fôlego, seus olhos desceram para Isabella e o sorriso aumentou.

- Você nunca para de me surpreender Louis, o que eu faço com você? – perguntou enquanto eu e Isabella nos aproximávamos, coloquei a sacola sobre uma cadeira.

- Me agradece? – exclamei rindo.

- Você tem razão, obrigada Louis – esticou o braço até mim e antes que eu pudesse entender o que pretendia me puxou para um abraço, o abracei de volta passando os braços sobre seus ombros. Deu um beijo em minha bochecha e sussurrou – nunca vou conseguir agradecer o suficiente.

- Você pode pagar sorrindo, só continua sorrindo Harry – respondi me afastando do abraço.

- Tudo bem, a propósito, você fica lindo de roupas normais – é claro que depois de uma semana falando com Harry todos os dias eu já estava esperando essa.

- Obrigada, você ainda está péssimo – solto dando uma risada de sua cara de ofendido, então aponto para Isabella que nos observava em silencio – Essa é a Isabella, é a garota mais inteligente que eu conheço.

- Prazer em te conhecer Isa, sou o Harry – Se apresenta ajoelhando e lhe estendendo a mão. Isabella recusa a mão dando passos pra frente e o abraçando. E para o meu espanto e dele a escuto pronunciando.

- Não precisa ficar com medo tio Harry, agora vou ser sua amiga também, eu também fui castigada por ser mal e não posso voltar para casa.

O ar se prende em minha garganta e não sei o que dizer, pisco meus olhos para me livrar das lágrimas e me preparo para negar o que ela disse, mas Harry o faz primeiro. Ele se levanta a trazendo no colo e a coloca sentada sobre a mesa que geralmente é usada pelos professores.

- Você não fez nada de ruim Isa, você não está de castigo, o papai do céu só achou melhor que você esperasse um pouquinho até conhecer uma família que vai te amar muito.

Harry sorri para a garotinha que parece levemente encantada com suas covinhas. Os dedinhos automaticamente se direcionam as covinhas nas bochechas de Harry.

- Eu também tenho covinhas tio Harry, olha – e sorri para mostrar suas covinhas, Harry imita sua ação e coloca os dedos nas bochechas da garota apertando-as até que formem um biquinho, uma ‘boquinha de peixe’.

- Agora fala pro tio Harry, “o Lou é bundudo” – Isabella tenta falar mas a frase sai distorcida e caímos na gargalhada. E apesar do apelido e do atrevimento, eu é que não me atrevo a quebrar o encanto do momento.

Porque os olhos de Harry estão brilhando como nunca estiveram antes, e seu sorriso parece sincero e despreocupado, pela primeira vez é como se eu pudesse vislumbrar quem Harry é além do fardo que precisa carregar pelos erros que cometera. E por um segundo não consigo acreditar que o homem inocente a minha frente tirou uma vida, não consigo olhar para ele e ver o mal.

Não consigo olhar para ele e não desejar que a vida tivesse sido mais justa, e as pessoas menos cruéis.

Enquanto ele e Isabella tiram os panos de dentro da sacola espalhando tudo no chão e disputando quem encontra o pano mais bonito não consigo decidir qual dos dois é mais precioso, eles são uma dupla e tanto.

Sento-me no chão ao lado de Harry e Isabella fechando o nosso pequeno círculo. Alguns minutos depois começamos a escolher os panos que combinam para as fantasias e descubro que Harry é muito mais prendado do que eu poderia imaginar.

- Não me olhe com essa cara, eu costurava roupa pras bonecas das filhas de algumas vizinhas, criar roupas é divertido Louis – Sorri inocente – mas cozinhar vai ser a sua obrigação no casamento, não se empolgue tanto.

Isabella se inclinou para Harry e sussurrou em seu ouvido algo que não consegui escutar e Harry segurou o riso.

- Pergunta pro Lou, Isa.

- Lou vocês são namorados? Porque a tia Maria me ensinou que é muito feio mentir e você me disse que vocês eram amigos.

- Não, não, somos só amigos, o Harry só está me provocando porque ele mentalmente tem sua idade querida – respondi sorrindo pra Isabella e olhando sério para Harry que deu de ombros, o que acabou me fazendo rir. Garoto impossível.

Isabella se aproximou mais de mim timidamente e com um gesto pediu para eu lhe oferecer o ouvido para que ela sussurrasse.

- Se você não é namorado do Harry será que quando eu crescer eu posso casar com ele tio Lou? – perguntou e olhou para Harry o observando – ele é tão bonito.

- Sim ele é – concordo rindo e me permito observá-lo junto com Isabella. Seus cabelos encaracolados a todo o momento caindo nos olhos, suas mãos enormes, habilidosas com os tecidos, sua boca que de forma engraçada sempre parecia conter batom - mas ele é muito velho para você gatinha, e você não deve escolher uma pessoa por sua beleza.

- Se você quer ele pra você é só pedir tio Lou, não precisa arrumar desculpa – soltou a ultima frase alta e Harry caiu na gargalhada entendendo do que estávamos falando, já que estávamos eu e Isabella olhando para ele enquanto conversávamos aos sussurros.

- Isa, você é das minhas, vou te amar eternamente – Harry fala pra ela abrindo os braços ‘pra garota que sai do meu lado e senta no seu colo o abraçando pelo pescoço.

- Viu tio Lou? Agora ele é meu.

Olho para a cara de pretensão do Harry para mim e pisco para ele que transforma a expressão pretensiosa em carinhosa enquanto com os lábios rosados por natureza me agradece. E mesmo sem que ele use as cordas vocais para me agradecer, eu sei exatamente como soa sua voz rouca, que agora está gravada em minha mente. 


Notas Finais


Eu simplesmente AMEI escrever esse capitulo e espero que vocês tenham gostado de ler como eu gostei de escrever.
Até o próximo <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...