Ela não sabia se tinha desmaiado ou mesmo dormido, mas seus sentidos voltaram quando ouviu vozes ao redor de si e o corpo que reclamava, dolorido por ter sido molestado de tal forma. Seus olhos abriram novamente. A cabeça doendo e pesando como nunca antes. Ainda sentiu o corpo encharcado, mas alguém estava o limpando agora.
“Como isso foi acontecer? Se ao menos John estivesse aqui” A voz da mulher que estava cuidando dela falou nervosamente e ao perceber que a pobre criatura acordara novamente ela voltou para sua cabeça. “oh céus... você acordou? Ainda bem, como se sente e por deus o que aconteceu? ” Ela falou.
Molly lentamente encarou o rosto preocupado, porém bondoso de uma senhora já em idade avançada. “eu não sei...” por um momento ela sentiu tudo rodar e então se deitou novamente “on-onde eu estou?” Molly perguntou, levemente alarmada com o retorno da memória de sua situação e da difícil viagem.
“Por favor deite-se, talvez você esteja pior do que aparente, se John ainda estivesse aqui...” ela lamentou novamente enquanto enxugava delicadamente o rosto de Molly, “não se preocupe menina, você está em boas mãos, eu sou Martha e você está na casa de Sherlock Holmes”
Sherlock... Holmes? O nome não fazia qualquer sentido para ela. No entanto, não tinha forças para questionar a gentil mulher, mas se concentrou em olhar o redor de onde estava. Era um quarto pequeno, porém habilmente mobiliado, ela havia sido posta na cama e tinha uma pequena bacia com água e alguns tecidos limpos que usava para cuidar de Molly.
“Você foi encontrada lá, perto do bosque, você estava desmaiada querida e que susto foi vê-la! Pensei que estivesse morta!” ela continuou “agora mandei buscar algumas soluções para seus ferimentos, felizmente John deixou seus medicamentos aqui e vou ver se posso fazer algo para seus ferimentos”.
“Obrigada” Molly conseguiu dizer, apesar de suas forças, “eu estava... eu estava” tentou explicar, mas seu corpo doía muito ainda para isso e sua mente ainda estava nublada, tentando conciliar a ordem dos eventos, o medo que a tinha dominado e seu atual estado.
A mulher a olhou atentamente nos olhos com compaixão, “não se preocupe em explicar-se agora, vamos cuidar de você primeiro e então falaremos, mas eu garanto que aqui você está segura” ela garantiu e intimamente, sem saber o porquê, Molly confiou nela. Ela relaxou na confortável cama que tinha sido posta e deixou que a mulher mais velha terminasse o que estivesse fazendo sobre ela.
As duas foram interrompidas por uma leve batida na porta e então um garoto ruivo, cheio de sardas e um tanto mal vestido entrou segurando uma tina de água.
“Alguma notícia de Sherlock, wings?” a sra. Hudson perguntou para ele enquanto passava um copo de água para a garota.
“Nada ainda” o garoto respondeu humildemente.
A mulher mais velha suspirou pesadamente como se estivesse exasperada com algo, “ seria demais que ao menos uma vez ele não estivesse em confusão?” ela perguntou a ninguém em particular.
“seu esposo?” Algo alertou Molly, “ha-havia alguns ladrões na estrada, poderia ser...” ela disse lutando para se manter acordada e preocupada que talvez o marido dessa bondosa senhora estivesse em perigo considerando os mal feitores que fora avisada antes.
“foi isso o que aconteceu com você minha querida?” a mulher indagou preocupada “eles a machucaram de alguma forma?” e seu olhar percorreu avaliadoramente os machucados de Molly, bem como seu vestido rasgado.
“não, de forma alguma... eu conseguir fugir, mas eles podem estar por ai ainda e se seu esposo...”
“meu esposo?” Ela deu um olhar confuso para Molly e então um brilho divertido surgiu no seu olhar “não, não minha pequena garota, Sherlock é dono desta propriedade, eu sou sua governanta” ela explicou entre uma risada “ou era até ele me demitir ‘de novo’ da última vez” ela respondeu ainda divertida. “E não se preocupe com ele, se há alguém que pode lidar com salteadores ambulantes é Sherlock Holmes” ela disse por fim.
Molly não entendeu o que aquilo deveria dizer, mas não exigiu mais nada, seu corpo finalmente estava cedendo a exaustão.
Com isso a sra. Hudson ajudou a tirar o que tinha sido seu vestido do corpo e terminou de limpá-la. Também avaliou seus machucados e como Molly previra, tinha vários arranhões nas pernas e braços, nada grave de fato, afora o tornozelo que tinha sido seriamente machucado e agora um inchaço se formava no lugar, mas, felizmente, o osso não tinha quebrado. Ela então se viu obrigada a comer uma sopa que a boa senhora tinha feito para ela e se viu grata por isso, até então não tinha notado o quão faminta estava.
Molly aproveitou o ensejo para falar de toda a sua situação. Infelizmente sra. Hudson não sabia quem era Moriarty, mas pode dizer que a região onde devia estar sua casa não ficava tão longe dali.
“Mas acredito que não é hora para falarmos disso, a chuva voltou e você não está em condições de voltar a estrada. Assim que o tempo estiver melhor e você descansada, podemos pensar em algo a respeito”
Ela disse e por mais que Molly estivesse preocupada, de fato, em seu estado atual, ela não podia fazer nada além de esperar.
“Você vai ter que se contentar com uma de minhas camisolas querida” ela disse entregando um conjunto de vestes rosas, “amanhã veremos o que você pode vestir, Sherlock sempre tem algo em seus armários, mas você é tão pequenina...” ela disse para si mesma. Molly só pode presumir que a mulher mais velha estava se referindo a alguma sra. Holmes, apesar dela não ter mencionado se a casa possuía alguma senhora.
“Sra. Hudson, muito obrigada... não sei como agradecer realmente” ela começou, mas foi interrompida por um ar solene da governanta.
“Não foi nada, realmente... agora descanse... felizmente seus ferimentos não são nada demais, mas ainda assim você parece péssima, durma. O remédio que dei é para a dor, então provavelmente ele terá um efeito sonífero também” ela completou antes de apagar algumas velas e apenas o brilho da lareira preencheu o quarto.
E sem maior esforço Molly caiu completamente em sono.
No dia seguinte se viu sendo despertada por duas mãos gentis.
“Molly...querida acorde” a sra. Hudson disse para a pequena paciente. Assustada ela acordou um pouco atordoada.
“oh Deus, eu-eu onde, dormir demais?” ela não sabia o que dizer quando olhou para a mulher mais velha.
“não, não, é ainda cedo, mas tenho que acorda-la para saber se está tudo bem e também trouxe leite para você e mais um remédio” a mulher disse para ela.
Os olhos bondosos da senhora. Seu jeito carinho e sua fala mansa fizeram que o coração de Molly acalmasse imediatamente. Tomou o que a mulher tinha lhe trago e após uma breve inspeção do seu estado e seus machucados Molly voltou a dormir, apagado pelo efeito dos analgésicos.
Ela não podia dizer que horas eram, agora estava sozinha no quarto e uma breve brecha na cortina fluía um pequeno raio de luz indicado que já era dia alto.
Levantando cuidadosamente da cama e vendo que apesar da dor na perna ela podia caminhar foi até a janela e a abriu com cuidado. Viu que o tempo ainda estava nublado e uma leve chuva caia. Afora, ela viu que seu quarto estava para um jardim fechado e selvagem, como se não fosse cuidado e cheio das mais diferentes plantas que já viu, mais ainda do que o jardim rico da sua escola para meninas. Tentou ver algo além, algo que dissesse onde estava e como era a casa. Mas o ângulo de sua janela dava apenas o vislumbre de duas paredes tangentes e nada mais. Suspirando em resignação ela decidiu que era hora de ir atrás da amável senhora que cuidara dela, tentou esperar algum tempo, mas ela não queria ser um estorvo, então com cuidado, vestiu um robe que encontrou ao lado da cama, segurou a calda que se arrastava e abriu cuidadosamente a porta. Estava em um corredor iluminado apenas por uma janela de fundo, mas não viu ninguém, chamou brevemente pela governanta. Mas ela não apareceu, apenas os sons externos da chuva que caia sobre a casa preenchiam o silencio profundo que revestia o lugar.
Molly então se viu numa encruzilhada. Tinha medo de sair e esbarrar em alguém, mas também não queria ficar sozinha no quarto. Por mais bondosa e gentil que a senhora Hudson fosse, ela ainda estava sozinha numa casa completamente estranha para ela.
Relutante, ela andou no corredor mal iluminado, descalça, sentiu o frio nos pés da madeira gelada do chão e com a mão traçava a parede afim de se apoiar. Ela notou que haviam quadros cujas molduras eram das mais variadas formas e tamanhos e, apesar da ausência de uma boa iluminação ela sabia que se tratava de retratos. Era estranho sentir-se como se observada.
O corredor finalmente terminou e virando para a direita ela sabia que ali daria em algum lugar e se viu diante de uma grande sala com os mais estranhos objetos que ela já vira na vida e não pode deixar de recuar um passo para a visão.
A sala era espaçosa e bastante mobiliada, mas o que a deteve era seu aspecto desordenado e caótico. Assim como o corredor, todas as paredes tinham quadros: grandes, pequenos, com retratos de pessoas, mas também de paisagens, navios, animais, flores, bem como espelhos. Mas todos estavam rabiscados com escritas de palavras ou frases que não faziam qualquer sentido. Havia também cabeça de animais empalhados, com estranhos objetos colocados sobre suas cabeças. Mas não era só. Ela viu diversas espingardas penduradas, colocadas em ordem por tamanho, bem como espadas, lanças e sabres que ela só havia visto nas gravuras de seu livro de escola.
Havia uma mesa também, mas esta estava tão atulhada de papeis e livros que mal se via o tampo do móvel. Vários frascos e garrafas com substancias estranhas também estavam colocados por cima. Também duas poltronas estavam dispostas perante uma formidável lareira e oh! Molly não ousou acreditar no que seus olhos viram: em cima dela havia um crânio humano!
Aproximando com cautela ela chegou mais perto da estranha figura. Seu coração subia e descia, Molly estendeu a mão e fechou sobre a peça e assim, como os demais objetos do lugar, estava coberta com uma fina camada de poeira, como se a tempos não tivesse visto uma boa limpeza.
Era leve e tinha uma textura porosa, porém lisa. Ela ergueu na altura dos próprios olhos. Era fascinante. Molly nunca tinha visto um, muito menos tocado. Traçando com os dedos, as curvas e fendas do crânio ela fez o mesmo com o próprio rosto. “É assim debaixo de toda a pele? ” Ela se perguntou reflexiva.
Ela analisou o objeto até que outra coisa chamou sua atenção. Ainda na lareira uma pequena faca estava enfiada em um punhado de papeis, mas o que lhe atraiu foi seu cabo, lindamente adornado com várias pedras de diferentes tonalidades, parecia ser uma ferramenta antiga, apenas de ornamentação, tal qual era sua beleza. Fascinada traçou a ponta do indicador o seu contorno, mas foi quando uma voz grave soou atrás de si.
“Eu não tocaria nisso se fosse você, miss Molly Hooper”
Molly guinchou assustada, o coração saindo pela boca. Nervosa, ela se virou completamente para a voz que lhe tinha pego. E então ela viu o homem mais impressionante que já viu.
Alto e magro, com uma roupa que não fugia a sua memória, o rosto era pálido, as maçãs altas e um queixo firme. O cabelo estava completamente bagunçado e ainda um pouco encharcado, mas era negro formado com densos cachos que caiam por sobre sua tez pálida e rosto comprido. Mas o que mais lhe chamou atenção fora o par de olhos azuis, tão abertos e inquisitivos quanto ferinos.
Um terrível e inexplicável medo surgiu dentro de Molly e ela levou as mãos ao redor de si.
“Pode parecer antigo, mas ainda é completamente mortal” ele disse se aproximando em passadas longas e decididas.
Molly estava petrificada quando se viu diante do homem. Ele era tão alto que fazia sombra sobre ela. Mas sua atenção não era dela, ao invés, pegou o canivete encravado e com um puxão violento o lançou na direção oposta, encaixando facilmente num quadro na outra parede.
Virando para encara-la, ela sentiu todo o sangue fluir o bombear por sobre sua cabeça ao se ver diante daqueles olhos. Tentou formular alguma coisa, ou até mesmo correr dali, mas ela não conseguia.
“Sherlock? É você?” Dessa vez fora sra. Hudson que entrou no lugar, “há sim, imaginei ter ouvido sua voz... meu deus menino! Você está completamente imundo, o que andou aprontando dessa vez? ” ela disse contrariada avaliando o estado deplorável de seu patrão.
Ele suspirou pesadamente, mas retirou o sobretudo enlameado que vestia “o caso sra. Hudson, o caso... estava seguindo algumas pistas ” e ele se afastou entregando o sobretudo para a governanta.
Foi então que finalmente a mulher mais velha notou Molly parada próximo ao aparador, o rosto completamente em branco e as mãos juntas próximas ao peito.
“querida! ” sra. Hudson cantarolou “você está de pé? Está se sentido melhor? ” Disse se aproximando dela, “Sherlock, pelo que vejo você já estava assustando nossa hospede” disse brava.
O homem virou-se novamente para elas e Molly se viu mais uma vez sob o pesado olhar dele, dessa vez a escrutinando como se quisesse tirar algo dela “por que eu a assustaria?” ele perguntou após um momento, seu rosto expressando uma ligeira confusão.
Senhora Hudson bufou de forma deselegante, “você saiu ontem a tarde, sem nos dizer nada e regressa para casa nesse estado! Sherlock, por favor. A pobrezinha ainda está bastante machucada e oh, vocês ainda nem foram apresentados...” ela disse como se esquecendo seus modos.
Sherlock dispensou com a mão “... Molly Hooper, 16 anos ou 17 anos, órfã, veio de uma escola preparatória feminina. Não possui familiares próximos, consegui algum emprego recente como empregada em uma casa senhorial. Não possui dinheiro, viajou às pressas, sozinha, a carruagem que estava foi atacada, suas coisas foram roubadas. Mas ela não pois correu em direção ao bosque que cerca essas paragens, se machucou lá, caiu de uma ribanceira, teve machucados e arranhões, e estava a ponto de desmaiar de exaustão quando a encontrei” ele disse por fim.
Molly só pode piscar, “co-como você sabe...?” ela balbuciou chocada na certeza de que era a primeira vez que o via, mas como ele sabia tanto sobre ela?
“Não se preocupe querida, ele sempre faz isso” sra Hudson disse com um leve sorriso.
Mas Molly ainda não podia entender, “eu não compreendo, o senhor me conhece e sabe meu nome?” ela conseguiu finalmente formular uma primeira frase para aquele estranho.
Ele deu de ombros, como se estivesse enfadado disso.
“só uma jovem pobre e sem familiares próximos viaja sozinha, além disso sua postura e modos informam que foi educada em um internato religioso já que você carregava ‘com fervor’ um livro de salmos com você, provavelmente um das poucas propriedades que possuía. Vindo até essa parte do país nesse estado era presumível que estava indo pro algum trabalho doméstico, como é muito nova para ser uma governanta, só seria capaz de assumir funções auxiliares”
Molly estava chocada por tudo o que ele dissera “mas como? Meu nome? ” Ela perguntou novamente.
O homem revirou os olhos, mas respondeu “já disse... seu livro de salmos, estava escrito nele”
"Meu livro de salmos... eu deixei na carruagem, quando sair para dentro da floresta"
"sim, mas eu o vi quando a senhorita estava viajando pela primeira vez a esta região"
Ela o encarou por um momento, tentando entender o que ele dissera. Então um estalo veio sobre sua mente, “o senhor é... o homem idoso da condução!” Ela disse chocada. Sabia que aquele sobretudo não era estranho, mas então o homem velho que acompanhara, juntamente com o casal, com a senhora Adler, era ele, impossível. O homem usava óculos, tinha o rosto enrugado e os cabelos brancos por debaixo da cartola, mas certamente a altura e as roupas coincidiam.
Um leve brilho passou pelo olhar dele, confirmando suas suspeitas “a senhorita é certamente atenta miss Hooper, então acertei tudo?” Ele perguntou com uma leve pontada curiosa na voz.
Molly pensou por um momento “hmn. eu-eu tenho 19 anos e não 17” ela disse numa voz baixa.
“Como? ... sempre escapa alguma coisa” ele disse após olha-la de cima abaixo rapidamente.
E então Molly sentiu todo o seu rosto corar violentamente. Pela primeira vez percebeu que estava apenas com a camisola e o grande robe da sra. Hudson. Ela não estava nem de longe apropriadamente vestida para falar com qualquer pessoa, muito menos com o dono daquela propriedade.
“oh deus” ela guinchou enquanto cobria-se como podia com as mãos.
“oh minha pequena, seu estado...venha vamos, vou levar algumas roupas para você” sra. Hudson veio em sua assistência, “Sherlock, por favor, não fique tão perto de garotas nesse estado, não é próprio” ela repreendeu seu senhorio.
Sherlock, pela primeira vez desde que tinha posto os pés em casa se sentiu descolado “bem, eu estou na minha casa afinal, não tinha como eu saber...” ele começou a dizer, mas foi interrompido pela senhora idosa.
“Não me venha com desculpas... agora trate-se de tirar essas roupas imundas do meu carpete” ela insistiu enquanto levava Molly de volta para o quarto.
“sinto muito querida, esqueci completamente do seu estado” ela disse para a pequena garota.
“Estou terrivelmente envergonhada minha senhora, encontrar seu senhorio nesse estado” ela disse mal ousando levantar o rosto, sentido um rubor violento subir por suas faces.
“não se preocupe, Sherlock não se importa com tais formalidades” ela disse abanando a mão com desdém “agora me aguarde aqui que vou atrás da roupa que lhe prometi para que você possa comer alguma coisa adequada” ela lhe disse.
Então após alguns momentos Molly se viu vestida com uma confortável roupa senhorial, o único problema era que o vestido era muito grande para sua figura pequena fazendo com que tivesse que ergue as saias para não pisar nelas.
Mesmo desconfortável, Molly foi arrastada para a cozinha para pudesse comer alguma coisa. Seu maior medo era encontrar o proprietário da casa, mas felizmente ele não estava a vista. Algo naquela imponente figura masculina a fazia torcer seu coração aceleradamente.
“não há mais ninguém aqui?” molly perguntou curiosa, a casa estava absolutamente vazia e um silencio reinava.
“não, não... Sherlock odeia as pessoas em geral” a mulher disse enquanto punha uma xícara de café e torradas diante de Molly, “você pode ver que pela minha idade não faço o serviço sozinha, então ocasionalmente sempre chamo alguém para dá uma boa limpeza quando a poeira está insuportável, mas fora isso só temos eu e Wings aqui” ela disse dando de ombros, “claro, até duas semanas atrás o dr. John Watson vivia aqui também, e eu já sinto tanta saudade dele, aquele menino...” ela disse melancolicamente.
“o que aconteceu com ele?” Molly perguntou temerosa, mas para sua surpresa, sra. Hudson deu um brilhante sorriso.
“casou! Oh foi uma linda festa” disse ela suspirando com alguma boa lembrança “Mary, ela é tão boa para John, estão agora em lua de mel, mas me prometeram visitar assim que retornarem da litoral” cantarolou a senhora.
Molly não pode deixar de sorrir com a felicidade alheia. Ela mesma nunca tinha assistido a um casamento e não sabia o que esperar de um, mas era obvio que aquela mulher amava o ‘dr. Watson’, tanto quanto seu patrão, que foi o que a fez falar.
“Eu nunca pensaria que as pessoas pudessem olhar e dizer tanta coisa sobre alguém apenas observando” ela confessou corando envergonhada da forma com que fora exposta mais cedo. Ela não se sentiu insultada. De fato, tudo aquilo era verdade, mas ainda assim, saber que ela era tão fácil de ser deduzida a fazia ficar com medo e ser mais boba do que pensara.
“oh, você fala de Sherlock” ela perguntou assustada pela mudança de assunto, “bem, não se avexe por isso. Sherlock é desse jeito com todos, para ele cada coisa é como um livro aberto. Eu garanto que eu não podia dizer nada do que ele falou, então esqueça isso” ela disse balançando as mãos.
“De qualquer forma, eu agradeço a ajuda, de ambos, mas acho que estou abusando de sua hospitalidade”
“Por favor, já disse que não é nada demais e você não está em nada abusando. E ainda mais você não está em condições de sair ainda pequena. O choque de ontem, seu corpo ainda está sofrendo, vou falar com Sherlock para que uma carta seja mandada para a casa onde está morando informando sobre suas condições” ela disse gentilmente.
Molly aquiesceu. Não adiantava argumentar contra aqueles fatos, só restava ela ficar contente por estar abrigada com pessoas que estavam dispostas a ajudá-la.
Seu tempo durante o dia passou na maior parte do tempo junto da sra. Hudson. Ela reclamou que o almoço seria apenas para ela e mais o menino Wings, já que Sherlock estava em um de seus ‘casos’ e ele raramente comia quando isso acontecia.
Quando Molly questionou que casos seriam esses, para sua surpresa sra. Hudson disse que seu patrão era um detetive em Londres. Aquilo a surpreendeu. Aparentemente Sherlock Holmes passava seus dias reversando entre investigações de crime e casos particulares e a mulher mais velha e o menino deram a entender que ele era muito bom no assunto.
A tarde Molly foi tomada de novo pelo sono. Os remédios levaram a melhor sobre ela mais uma vez e ela dormiu novamente.
“Molly... Sherlock vai falar com você agora, ele está na biblioteca” sra. Hudson falou já a noite para ela. Foi ela que tinha pedido em primeiro lugar, por mais que temesse o homem, por um motivo ainda desconhecido, sabia que tinha que lhe falar pessoalmente ‘ e em melhores trajes’ sobre sua situação.
Percorrendo a casa, ela notou que o lugar tinha um certo ar sombrio e misterioso. O interior era escuro e pouco iluminado e havia uma bagunça organizada em cada cômodo. A biblioteca ficava no segundo andar e Molly foi tomada por uma linda visão quando entrou.
Eram livros e livros espalhados por prateleiras e mesas e cadeiras do interior grande e aquecido do ambiente. Ela nunca tinha visto tantos em sua vida, mesmo que a biblioteca da escola era dia como bem abastecida. O que ela não daria para passar seus dias em lugar como aquele? Ela pensou estarrecida. No entanto, por mais que saboreasse o lugar, ela se concentrou no homem sentando em uma poltrona perto de uma grande janela.
E mais uma vez seu coração acelerou involuntariamente e ela se viu sem palavras e incapaz de formar um pensamento coerente.
Ele estava com os olhos fechados, as mãos abertas uma contra a outra segurando com a ponta dos dedos o queixo, com os braços apoiados nos joelhos. Ele parecia extremamente concentrado. Agora ele não estava mais sujo, e sim vestia roupas alinhadas escuras destacando sua figura magra esguia. Seu cabelo caia em gloriosos cachos sob o rosto. Molly não saberia dizer se já tinha visto algo tão lindo em sua vida.
“Creio que veio me falar algo senhorita Hooper” sua voz de barítono cortou seus pensamentos quando ele finalmente abriu os olhos para encará-la.
Molly tentou encontrar a voz para se torna clara após o susto “sim-sim” ela gaguejou e ao fitar seus olhos, que agora tinham uma tonalidade azul mais escuro, sentiu-se novamente o sangue subir o rosto e corar nervosamente, “digo, eu vim para agradecer a abertura de sua casa a mim, bem como a estadia sua governanta foi amável e espero que eu não a tenha colocado em más...” ela balbuciou.
“Sra. Hudson sabe cuidar de si mesmo” ele ergueu uma mão impaciente para interrompe-la “se era só isso, então...” ele começou a dizer.
“oh- muito obrigada” ela respondeu timidamente. Um silencio desconfortável se instalou e Molly não sabia o que fazer ou agir quando ele novamente fechou seus olhos em concentração como se a conversa tivesse sido terminada.
“e também, se não for muito incomodo, mas já o sendo” ela novamente balbuciou quando o frio par de olhos caiu sobre ela novamente “gostaria de pedir emprestado ou mesmo como aluguel uma carruagem, se-se possível para que eu possa chegar até meu destino final” ela disse por fim.
Ele não respondeu de imediato mas a ficou encarando deliberadamente. Molly então se sentiu terrivelmente auto consciente de como aquele olhar a fitava, no meio da sala. Nervosamente ela passou a segurar as saias do vestido esperando uma resposta.
“Onde a senhorita reside” Ele perguntou por fim.
“Sou empregada na casa da propriedade do sr. Moriarty” ela respondeu.
Sua reação a pegou de surpresa. Ele levantou-se de um salto e passou a caminhas pelo espaço. As mãos atrás das costas o semblante franzido e alerta.
“James Moriarty?” Não parecia que estava falando com ela nesse ponto, mas Molly não notou isso.
“Isso, o senhor o conhece? ”
“Não” foi sua resposta seca, mas ele continuou, “não pessoalmente, pelo menos”.
Molly não sabia como responder aquilo. Esse pedaço de informação não parecia ruim, mas por outro lado, ele não parecia completamente contente com aquilo.
“hmum... então o senhor poderia me ajudar chegar até lá?” Ela se arriscou a perguntar.
Ele parou abruptamente e a encorou. Molly não pode deixar de dá um passo involuntário para traz quando se viu objeto de forte atenção.
“Senhorita Molly, considerando que se encontra em um estado delicado fisicamente, como conseguirá viajar?" Ele perguntou, mas não esperou por resposta “além de suas roupas não serem as melhores, você está obviamente sem algo que lhe vista com modéstia para sair de casa” , e ele a apontou descaradamente e ela sentiu o rosto enrubescer com tal afirmação.
“Além dos óbvios machucados e a chuva torrencial sobre a região” ele finalizou.
Molly ficou boquiaberta “então...o senhor não pode me ajudar? ” Ela perguntou em dúvida sobre o que ele estava querendo dizer.
“Você terá que esperar, mandei Wings sair com a carruagem e ainda não retornou, com essa chuva ele só estará aqui depois da tarde” ele continuou e coincidentemente um forte trovão soou fora, fazendo até mesmo os vidros das janelas tremeram.
Então como se nada houvesse acontecido ele se sentou novamente na poltrona e fechou os olhos, as mãos debaixo do queixo.
“ Sim, sim senhor” ela disse incerta, entendendo que havia sido dispensada foi saindo nervosamente, mas ainda ouviu ele falar “e avise para sra. Hudson que vou descer para o jantar”.
Molly saiu da biblioteca, trancando a porta atrás de si. Pôs as mãos sobre o peito e tomou o folego que não sabia que tinha retido.
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