História Campo Minado - Mar - É o começo.

MAR

Era o fim. Definitivamente.

Paolo seria preso e julgado por sequestro e tentativa de homicídio em território francês. Era o fim de um ciclo de fugas e medos. Era o fim das correrias, das identidades falsas, de brincar de nômade. Era o fim das reservas sentimentais e das desconfianças. Era o fim.

Minha irmã estava salva. Eu estava salva. Todos estavam salvos.

Era. O. Fim.

- Tudo bem aí?

Virei devagar pra ver Cavani passar pela porta da capela do hospital. Tinha se livrado das roupas do jantar que não aconteceu e agora usava jeans e uma camiseta branca que o fazia parecer mais jovem. Eu sorri e aceitei o copo de café que ele trouxe.

- Você voltou rápido. Devia descansar mais. – murmurei depois de beber um gole do café quentinho.

- Você devia ir descansar. – ele disse me olhando de cima a baixo. Eu estava usando jeans e um moletom velho. Meus cabelos deviam estar horríveis e minha cara com certeza não estava das melhores.

- Eu sei que tô horrível, mas...- sacudi a cabeça em negação. - Só saio daqui com ela. – eu disse e ele sorriu sentando do meu lado.

- Você não dorme há dois dias e sabe que Zlatan vai agarrar Sam e não vai soltar tão cedo não é? – ele arqueou um pouco a sobrancelha e eu ri.

- É. Eu sei. Mas só quero ter certeza que ela vai ficar bem.

- Ela está bem. – ele me empurrou de leve com um sorriso. – Agora mais do que nunca.

Eu sorrio quase num suspiro. Meus olhos se voltam pra cruz no altar da capela e eu os fecho só por uns segundos agradecendo de novo. Agradecendo a quem quer que tenha me ajudado a dar um fim naquela história louca.

Abri os olhos novamente quanto senti os dedos de Cavani roçarem nos meus. Abaixei o rosto pra observar ele tocar as pontas dos meus dedos fazendo-me virar a palma para cima só pra encaixar sua mão na minha. Um arrepio percorreu meu braço e se espalhou por meu corpo, fazendo um tipo de conforto aquecer cada pedaço de mim de um jeito que há muito tempo eu não sentia. Eu levantei os olhos pra olhar pra ele e sorri. Sorri de verdade, o vendo sorrir pra mim também. Soltei um suspiro e encostei minha cabeça em seu ombro, olhando pra cruz novamente.

Dessa vez agradeci pelos novos começos. 

Era só o começo.