Clarinda bufava de raiva na cozinha da sua casa.
O motivo era o seu filho Chris que se trancara há dias no quarto com a sua nova namorada: a indesejável Lucy.
"Como foi que meu filho caiu nas garras dessa menina?" - pensava intrigada.
Não conseguia compreender como aqueles dois tinham se relacionado de repente, do nada, pois, até onde sabia, Lucy tinha uma paixão obsessiva por sua filha Lauren desde a época do colégio Carrolton Hills.
Além do mais, a eterna perseguição daquela filha maluca do cantor latino Carlos Vives sempre lhe causara receio:
Diversas histórias horripilantes envolvendo drogas, traições e brigas na justiça sempre rondavam aquela família e sem dúvida havia causado um dano permanente na garota que não tinha crescido com qualquer apoio familiar.
Nao era a toa que Lucy tinha ficado daquele jeito.
Desde que havia sido sua professora no colégio, Clarinda tinha pena da pequena Lucy que nas reuniões de pais e professores era a única que não tinha qualquer representante.
De vez em quando a mãe dela, Linda Vives, já separada, surgia na frente do colégio em seu conversível lilás amassado por todos os lados, esperando a filha enquanto fumava sua cigarrilha, sempre mantendo um olhar distante e infeliz.
-Linda Vives... - dissera uma outra professora a Clarinda. - Esta mulher entra e sai de uma clínica de reabilitação que a minha irmã trabalha. Vive tendo colapsos... Ela sempre tem recaída com as drogas. Não sei como consegue cuidar da filha...
-É simples. - dissera Clarinda. - Ela não cuida da filha. Não cuida.
Clarinda ainda presenciara a alegria de Lucy ao ver as raras aparições da mãe no colégio, mas no outro dia a percebia ainda mais retraída e sentia certa angústia vendo com o passar dos anos uma personalidade ambígua se formar dentro dela.
Era como se a qualquer momento Lucy fosse explodir ou dar o bote, bastando uma oportunidade.
"E agora a vitima é o meu filho..." - disse suspirando.
Mas algo não se encaixava naquele quebra-cabeça...
-Por que Lucy escolhera o Chris se era lésbica? O que a tinha feito mudar de gosto? O que ele poderia oferecer a ela?
-Só se resolveu seduzir o meu filho para ficar perto de Lauren! - disse matando a charada em segundos e abrindo mais os olhos - É isso! É isso que ela quer!
Logo foi até o andar de cima e parou em frente ao quarto deles batendo forte:
TOC TOC TOC
-Você está perdendo suas aulas na faculdade, Chris! Abra a porta! Vamos! - gritou ríspida.
Podia ouvir uma correria de um lado a outro e muitos risos.
-Relaxa, mãe! - disse ele rindo. - Eu sou calouro! Posso faltar umas aulinhas! Ninguém liga!
-Mas eu ligo! Abra ou eu vou cortar a sua mesada! Não vai haver mais um centavo!
O barulho parou e Clarinda o ouviu se aproximando da porta até a abrir:
-De que dinheiro a senhora está falando? - perguntou ele a encarando insolente. - Hã? Quem pagou a minha faculdade foi a Lauren. Esqueceu? Ela que pagou tudo de vez! A sua filha famosa! E a mesada que ganho vem dela também. Entao quem vai cortar? Você? Ou ela?
Clarinda ficou calada o olhando incrédula. Desde quando ele a respondia daquela forma?
-Se seu pai estivesse aqui... - murmurou entre os dentes.
-Ah! Mas ele nao está. A senhora o expulsou! Com licença. - disse fechando novamente a porta até que Lucy o impediu surgindo ao seu lado:
-Ah! Bom dia dona Clarinda. A senhora vai almoçar em casa hoje?
-Vou. - disse secamente.
-E precisa de alguma coisa? Alguns ingredientes? Podemos comprar para a senhora. Pensei de fazer um peixe vermelho assado ao pesto...
Clarinda olhou Lucy sorrindo, embora pudesse ver a tristeza melancólica pairando em seus olhos.
Lucy pareceu incomodada com aquilo e disse:
-Algum problema? - sorriu mais.
-Nenhum. Nenhum. - disse a fuzilando com os olhos.
-Bem... Tudo bem então. Tchau então. - disse fechando a porta devagar ainda sorrindo.
Clarinda continuou olhando mesmo com a porta já fechada.
Se aquela menina pensava que poderia vencer dentro da sua própria casa, estava enganada. Porque se nada desse certo para ela sair, uma hora a puxaria pelos cabelos até a varanda da casa.
Onde está Mike para dar um basta nessa palhaçada?, pensou Clarinda.
Lembrou-se da primeira noite em que Chris trouxera Lucy.
Ambos pairavam em sua porta com Lucy atrás dele sorrindo e o apertando no ombro, enquanto Clarinda os olhava.
-Não vai nos convidar para entrar, mamãe? - disse, levemente bêbado.
-O que você está fazendo? Por que trouxe essa menina aqui? - perguntou seca.
-Mãe! - disse sem graça por Lucy ter ouvido
Lucy sorria mais, debochada, levantando as sobrancelhas desafiante. Mas lembrou-se que precisava baixar a guarda e de maneira calculada disse docemente:
-Não tem problema, Chris... Eu posso dormir num hotel...
-Não! Vamos para o meu quarto. - disse ele irritado a puxando para dentro da casa.
-Hey, mocinho! Volte aqui! Chris! Volte aqui! - gritou Clarinda ainda na porta.
-Boa noite, mãe! - disse sem olhá-la, subindo as escadas com Lucy.
-Deus do céu... - bufou Clarinda fechando a porta.
Dias depois, Clarinda agora voltava para a cozinha pensativa.
A única pessoa culpada por toda aquela situação era seu ex marido Mike, tinha certeza.
Mike, que a menos de um mês a havia deixado sozinha para viver uma vida "digna e sem mentiras", como ele mesmo dissera, nunca mais tinha aparecido ali senão para buscar a filha mais nova para visitá-lo.
-Aquele filho da puta. - murmurou magoada, abrindo a sua nova garrafa de vinho chileno.
Estava desolada e amarga olhando o seu instagram e bisbilhotando as fotos dele até que viu a mais nova postagem: Mike havia feito uma viagem a Los Angeles com a namorada 20 anos mais nova.
-Que miserável... Ela tem a idade da nossa filha! - disse tomando vários goles em sua taça.
Resistiu um pouco fechando os olhos para acalmar-se, até que em minutos já escrevia para ele uma mensagem:
"Você deveria ter vergonha de namorar alguém 20 anos mais novo! Ela tem a idade da nossa filha! Estou envergonhada com a sua atitude. Você me dá nojo!".
Minutos se passaram e pareciam uma eternidade até que Mike respondeu:
"Se quiser falar algo a respeito dos nossos filhos, pode mandar mensagens. Caso contrário, deixe-me em paz e vá viver a sua vida. Felicidades a você e Sinu".
-Filho da puta! - gritou Clarinda ligando para ele que não atendeu o celular, fazendo-a escrever novamente:
"É com esta garota que você está me traindo? É com ela que você achou algum conforto? Atenda o telefone e me responda!"
Mike lia satisfeito as mensagens.
Relaxar naquela piscina do hotel em Los Angeles enquanto saboreava pela primeira vez o sofrimento de Clarinda em nao tê-lo era bom demais e aquele gostinho que ele iria experimentar.
Vê-la abalada sem a certeza dele voltar, era uma massagem no ego.
-Obrigado por tirar uma foto comigo Rachel. - disse para a sua colega da loja de construção que havia viajado com ele a trabalho.
Rachel concordara em ajudar o seu amigo fingindo aquele romance e disse:
-As pessoas só valorizam mesmo quando perdem... Conte comigo, amigo. Vamos aproveitar esse sol e mais tarde irmos pra reunião de trabalho - disse solidária.
....
...
...
Horas antes, do outro lado do mundo, na Asia, Dinah e Lauren jantavam em um restaurante vazio.
A viagem de volta para Miami seria aquela noite e elas estavam aliviadas.
A missão da turnê estava cumprida e tudo estava finalizado, mas o cansaço tomava conta delas que apenas comiam na mesa caladas, até que Lauren falou:
-Você parece triste... Há algo errado?
-Quê? - perguntou Dinah despertando do transe.
-Você. Está triste? Está encarando este prato vazio há bons segundos.
-Triste? Claro que não gata! Eu sinto fome! - disse Dinah forçando um sorriso.
-Está triste... - avaliou Lauren divertida. -E eu sei o porquê.
-Sabe?
-Sei sim. Eu sei.
Dinah ficou séria esperando a resposta totalmente sem graça.
-Está na cara... A sua tristeza tem nome... Ciúme da Normani... Rimou! - disse rindo.
-Vai se foder!
-Ciuminho da Normani! Vai chamar o seu rival Val Schemer para a briga? Vai dizer que Normani é sua mulher? - brincou recebendo de Dinah apenas o dedo médio em resposta.
-Eu não tenho ciúme. - disse ela se ajeitando na cadeira. - Por mim eles podem dançar, casar, ter filhos. Não estou nem aí pra química deles.
-Mas e o show que teremos que fazer com eles no programa?
-Que tem?
-Vai suportar ver os dois coladinhos dançando?
-Vou, claro! Qualquer coisa eu meto porrada nele. Olha o tamanho da minha mão? - disse Dinah enquanto as duas riam
...
...
A volta para Miami havia sido longa. Praticamente 24h de viagem cheia de escalas que deixara Lauren num "jet lag" terrível.
-O que é jet lag? - perguntara Lauren no início da turnê 7/27 no ano anterior.
-É a desordem interna no corpo causada pelos diferentes fusos horários quando se viaja a várias partes do mundo em poucos dias. Seu organismo não aguenta e fica cansado, sofre de insônia, intolerância a certas comidas, as vezes uma fadiga crônica toma conta do corpo... É bem ruim. - explicara alguém da equipe.
-Tomara que eu e as meninas não tenhamos isso... - dissera ela na época.
Mas agora que voltava pra casa e lembrara dessa conversa, ria de si ao sentir seu corpo cansado, com pensamentos embaralhados.
"Jet lag é uma droga" - postou em seu Twitter.
-Lembre-se que depois de amanhã viajamos novamente para Los Angeles. Curta bem sua família esses dias. - disse Dinah se despedindo dela no aeroporto internacional de Miami e seguindo viagem com Ally para a sua cidade natal. Dias depois todas encontrariam com Normani em L.A.
-Miami... Voltei... - murmurou Lauren bem baixinho enquanto colocava a sua mochila nas costas e ajeitava o seu pulover em cima das malas no carrinho.
Passou pelo corredor do desembarque devagar reconhecendo os rostos da sua cidade, a familiaridade de todos ali.
Mas por um segundo estranhou seus pais não estarem a esperando até se lembrar que tinha resolvido chegar de surpresa.
Que presente melhor para a sua mãe não seria abrir a porta e vê-la em sua frente?, pensou sorrindo e ganhando força para andar mais rápido.
-Hey, Lauren! - disse o cantor Pharrell se aproximando.
Instintivamente esquivou-se assustada daquele homem magro e esguio se aproximar dela até reconhecê-lo:
-Pharrell? - disse surpresa recebendo um abraço dele.
-Chegou também agora de viagem?
-Cheguei! Agora! E você? - disse ela empolgada. - Nossa, quanto tempo!
-Somos ocupados! Vida de estrela é assim! Vivemos ocupados! Nos encontramos em aviões! Festas! Pá pá! - disse ele falando quase como num rap.
-Verdade! - disse ela rindo. - Cara! Muito bom ver você. Que conta de novo?
-O de sempre! Festinha, singles, músicas novas, gravações, shows. E por agora ainda tem a festa da Halsey. Você vai?
-Festa? Onde?
-O clip dela estreou outro dia. Vai ter festa privada, só a gente. Katy Perry, Selena Gomez, Justin Timberlake, Bieber também... Vai ter briga com Selena... - disse ele rindo.
-Com certeza! - ela riu também. -Mas não tô sabendo. Não fui convidada.
-E precisa? Somos todos do mesmo time! Espera. Camila Cabello disse que ia! Como assim você não vai?
Lauren parou de súbito de andar e segurou forte o carrinho sentindo as mãos suarem;
-C-camila?
-Sua amiga! A Cabello! Ela vai. - disse ele franzindo a testa. -Não vai? - perguntou-se pra si de repente em dúvida. -Vai! Vai! Ela confirmou! Eu vi a lista. Ela vai cantar com Halsey. Eu também vou. Vai ser foda. Vá também!
-Que dia?
-Hoje!
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