História Canção da Meia Noite - Entre Feras

"Não sei por mais quanto tempo posso suportar, já se passaram sete meses desde que a transformação se completou e eu ainda vivo na mansão Sakamaki. Eles ainda bebem meu sangue como se eu fosse humana, na realidade agora parece que sentem mais prazer porque podem me machucar sem medo que eu me despedace por completo. Eu poderia fugir... mas não tenho para onde ir. Sinceramente isso é só uma desculpa, eu não vou porque estou presa a ele, ligada por correntes invisíveis feitas de sentimentos, estou amarrada ao ser que me destrói, e que no entanto sempre me salva. Não vou embora porque o quero."

Yui fechou o diário abruptamente, não queria acreditar no que havia escrito, porém sabia que era a mais pura verdade. Estava deitada em seu quarto, sabia que a paz da solidão que estava sentindo logo seria quebrada, eles sempre viriam atormentá-la em busca de mais sangue. Guardou o diário em uma gaveta no criado mudo, havia poucas semanas que tinha dado início a ele, ela precisava colocar pra fora a confusão que borbulhava dentro de si e essa foi a melhor maneira que encontrou.

Mal completou seus pensamentos, sentiu um vento frio tocar-lhe a pele, sua camisola de tecido fino balançou com o vento, olhou em direção a janela e lá estava Kanato sentado no parapeito da janela agarrado em seu urso de pelúcia.

Sua voz ecoou pelo quarto quando ele começou a entoar uma canção fúnebre, a melodia era quase hipnotizante.

-Cavidades vazias ele vai enchê-las, vem antes do começo, preenche todo o fim, da morte é o riso, é o medo sem fim... -ele fechou os olhos e apertou o urso contra o peito- A lua está linda, né Teddy?

-Ka... Kanato-kun?

-Ah, você está aqui. -respondeu o garoto de olhos mortos marcados por olheiras profundas finalmente encarando a garota.

Num piscar de olhos ele encontrava-se na frente de Yui, era pelo menos 10 cm mais alto que ela, e a encarava como um cervo pronto para o abate.

Kanato colocou uma mecha do cabelo da menina atrás da orelha, seus longos dedos finos percorreram o caminho da bochecha até chegar ao pescoço, deixando um rastro gélido por onde passava.

Yui afastou-se institivamente, mas ele prendeu o pescoço da mesma. Aproximou seus lábios frios do pescoço da garota, quando foi puxado repentinamente.

-Já disse que ela é minha! -exclamou Ayato olhando o irmão com ferocidade.
Yui desabou no chão sobre os joelhos, as mãos sobre o peito como forma de proteção, enquanto isso os irmãos se encaravam.

-Calma crianças. Tem pra todo mundo. - disse Raito sarcasticamente surgindo na porta. -Olá Bitch-chan.

-Não! Não tem. -Ayato foi até Yui agarrando seu pulso e a levantando do chão com violência. -Minha.

Raito começou a rir e da mesma forma que apareceu, sumiu no curto espaço de uma respiração, Kanato também havia ido embora, restando somente Yui e Ayato.

-Ele te mordeu? -perguntou o ruivo revistando o corpo da garota procurando por marcas.

-Não.

Ao ouvir a resposta da mesma, suspirou aliviado. Não sabia o porque, mas desde que Yui surgiu em sua vida ele sentia que era quase uma obrigação protegê-la, as vezes a tratava de modo bruto, mas nunca a machucara de verdade, nem deixou que outro o fizesse. Yui era uma garota frágil e precisava dele, senão logo não passaria apenas de uma mera lembrança nesse mundo, depois que virou vampira ficou mais resistente, no entanto ainda conservava muitos traços humanos. Seus irmãos a viam apenas como alimento e como a primeira noiva, nada além disso. Por direito Ayato deveria ser o novo chefe da família Sakamaki, mas na verdade, aquela frágil garota era quem decidiria isso, sua escolha regeria todo o futuro da família.

Ele a abraçou, sentiu o cheiro de rosas que se desprendia do corpo dela, aquilo de alguma forma o acalmava, Yui não retribuiu seu gesto, sempre ficava surpresa com tais atitudes e não sabia como reagir. Os lábios de Ayato foram de encontro a sua clavícula, ela fechou os olhos esperando a dor da mordida, mas apenas sentiu os lábios úmidos dele de encontro a sua pele dando um leve beijo na região e antes que abrisse os olhos, ele já não estava mais lá.

A garota jogou-se na cama se perdendo em pensamentos, ele era o seu motivo, ele era quem a prendia ali.