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História Canção Vintage (Crânio Magrí - Os Karas) - Superman e o Gato de Rua


Escrita por: Lieh29

Notas do Autor


O flashback antecede os acontecimentos de A Droga da Obediência.

Preciso dizer o quanto eu amo o Crânio?

Música: You Really Got Me - The Kinks

Capítulo 2 - Superman e o Gato de Rua


Fanfic / Fanfiction Canção Vintage (Crânio Magrí - Os Karas) - Superman e o Gato de Rua

Crânio olhava de forma monótona para a enorme janela da sala de aula, onde um sol alto do verão americano iluminava os jardins do Massachusetts Institute of Technology e alguns estudantes aproveitavam o dia de sol para ficarem esparramados na grama jogando conversa fora no tempo livre.

A aula, por mais interessante que fosse, não aprendia a atenção do jovem ex gênio dos Karas -  agora não mais um menino, mas sim um homem feito, cheio de responsabilidades e algumas preocupações.

Sentia saudades do seu país, da família e dos amigos que precisou deixar pouco mais de seis meses, quando foi aceito no MIT para concluir a tese de mestrado. Uma dessas saudades, porém, era doída a ponto dele se sentir dilacerado por dentro.

Magrí. A sua Magrí. Aquela garota extraordinária que sempre o apoiava em tudo o que ele fazia, não importasse a dificuldade, e a quem ele amava com todas as forças que o coração permitia.

Era surreal como o tempo passou rápido desde que se conhecerem por aquele grupo de amigos maravilhosos que era os Karas, pois parecia que foi ontem que eles combatiam inimigos que nem um policial sonharia em enfrentar. Crânio ainda se lembrava de todas as aventuras que viveram juntos, porém as memórias de Magrí dos últimos anos estavam mais vivas do que nunca em sua mente.

Durante esses devaneios, o rapaz se perguntava se foi mesmo uma boa ideia vir para o EUA. Ele cogitou seriamente em recusar a oferta da universidade por não querer se separar dela por um período longo. Um sentimento de culpa às vezes queria dominá-lo, no entanto Magrí o proibiu de pensar que era egoísta e prometeu que o esperaria, em meio a beijos carinhosos e apaixonados, os dois já sentindo a dor da separação.

Voltou-lhe a memória um episódio antigo, ainda no primeiro ano de amizade, que Crânio percebeu que garota maravilhosa e tão dócil que ela sempre foi nas mais diversas situações.

***

Crânio andava a passos silenciosos a calçada do Colégio Elite, indo para casa depois de um dia cansativo. Gostava de fazer o percurso a pé para esvaziar um pouco a cabeça. Estava pensando no conforto da cama e que merecia tirar a tarde livre para um cochilo, já que havia passado a noite em claro devorando mais um livro.

Ainda absorto nesses pensamentos, quando estava na esquina da escola com o próximo quarteirão, notou um movimento estranho em frente à velha árvore, que a alguns meses antes foi alvo de polêmica por uma construtora que queria derrubá-la.

Parou e franziu a testa, olhando em direção aos galhos. Uma figura esbelta se movimentava entre os eles, em meio a risos abafados. Um par de braços segurando um filhotinho de gato apareceu no meio da folhagem, junto com o rosto vermelho de Magrí. O menino sorriu de forma marota.

- Magrí? Tá tudo bem aí em cima? – chamou o garoto que não segurou o riso pelos cabelos da menina estarem cheio de folhas.

A menina respondeu de cima do galho com a respiração ofegante.

- Engraçadinho! Ao invés de ficar aí rindo de mim, poderia me ajudar a descer com esse pobre gatinho que estava preso na árvore...

Crânio ficou mais perto do pé da árvore onde Magrí estava pendurada com o animal nos braços em um equilíbrio quase perfeito. Se fosse qualquer outra pessoa que tentasse repetir a proeza, já estaria se esborrachado na calçada. Não era à toa que a menina era a melhor ginasta da escola.

Magrí com um braço se segurava em um galho e com outro abaixou o gatinho, mantendo os pés firmes na outra extremidade de galhos da árvore. Crânio pegou o animalzinho assustado e o colocou em segurança no chão, este que miou de contentamento, saindo trotando alegremente.

- Ufa! Ainda bem que você apareceu, Crânio. – disse ela sorrindo - Já estava me perguntando como eu ia conseguir descer com ele nos braços.

O garoto riu de novo, virando-se para a amiga que observava com ternura o gatinho se afastar.

Aconteceu tão rápido que Crânio não teve tempo de reagir.

Em um segundo, Magrí estava pendurada na árvore. Já no outro quando a menina tentou descer, ela caiu bem em cima do garoto, levando os dois ao chão pelo impacto.

 Crânio não teve sorte de ter a queda amortecida ao cair e teve certeza que ralou as costas assim que se deu conta que estava caído no chão com a garota em cima dele. Já Magrí não se ralou ao se chocar contra o amigo, mas no esforço de tentar não cair da árvore, o tornozelo chegou caiu de mal jeito.

- Ai meu tornozelo!

 Crânio, zonzo pelo susto, ficou ainda mais quando percebeu a proximidade da amiga. Sentiu a pele do rosto esquentar e umas sensações no corpo que eram ao mesmo tempo estranhas e prazerosas.

Magrí também percebeu a situação e corou furiosamente, evitando olhar para o garoto.

- Consegue levantar, por favor? – perguntou ele, pigarreando e quase sem voz.

- Vou tentar.

Evitando olhar para o rapaz pelo embaraço, Magrí saiu de cima dele fazendo caretas ao sentir o tornozelo latejar, sentando-se no chão. Crânio se juntou a ela, observando as expressões de dor da menina com preocupação nos olhos.

O tornozelo de Magrí estava numa posição bizarra e muito vermelho. O garoto franziu a testa.

- Magrí, está inchando muito seu tornozelo. Você precisa de gelo antes que piore.

- Ai! De novo não... – choramingou ela – Eu já torci uma vez! A Professora Iolanda vai me matar...

Crânio olhou em volta para ver se algum adulto poderia ajudá-los, mas para o azar deles, a rua estava sem nenhum passante.

Vendo que somente ele poderia ajudar Magrí, virou-se de novo para ela com determinação.

- Vem, vou te levar para casa. Onde você mora?

- Na próxima esquina... – ela olhou em volta como se perguntasse como Crânio pretendia leva-la para casa - Mas como você vai me levar, Crânio? Eu mal consigo ficar em pé.

Ele se levantou sem responder, sentindo ainda as costas doerem pelo impacto. Passou o braço pela cintura de Magrí, enquanto ela se apoiava nos ombros do rapazinho e devagar, a garota estava em pé, sem apoiar no chão o tornozelo torcido.

Mais mancando e sendo levada pelo amigo do que andando, Magrí se esforçava para não chorar de dor. Crânio tentava confortá-la delicadamente.

- Aguente firme, a gente vai chegar rapidinho.

Então no meio do caminho, vendo que ela estava com os olhos lacrimejando a cada passo que dava, o menino teve uma ideia que em outras circunstâncias, ele hesitaria em fazer com outra garota. Parou e juntando todas as forças que possuía, Crânio a carregou nos braços, andando o mais rápido que conseguia. Ela não era pesada como ele temia, e apesar da testa suada pelo esforço, ele prosseguiu o resto do caminho com ela no colo.

Sensações estranhas aqueles dois sentiam pela inesperada proximidade física. Um sentimento esquisito entre orgulho e apreensão enchia o coração do rapazinho. Nunca que ele faria aquilo para qualquer garota e Magrí sabia bem disso.

Sabia tão bem que o coração dela galopava no peito, a ponto do garoto perceber. Coraram mais ainda. Ele sentiu que a menina o observava durante todo o caminho, por isso evitou o olhar dela. Tinha receio do que ela estaria pensando daquilo.

Era uma sensação engraçada para ele, pois naqueles breves minutos, se sentiu um herói como nos quadrinhos do Superman com a Louis Lane que gostava de ler. Nunca que Crânio admitiria tal pensamento para ninguém, e agradeceu aos céus por Magrí não o ter repelido por sua atitude.

Menos de meia hora depois, Magrí estava no carro dos pais a caminho do pronto-socorro mais próximo. Ela não deixou que Crânio voltasse para casa e insistiu que ele fosse com ela.

Quando estavam na sala de espera, aguardando o resultado do Raio-X do tornozelo, enquanto o pai de Magrí conversava com o médico, a menina virou-se para o garoto com um fraco sorriso, ainda sentindo a dor da meia hora anterior.

- Obrigada por ter me ajudado e ficado comigo, Crânio.

- Não foi nada.

- Não foi nada? Se você não tivesse me carregado... – ela parou com um pequeno suspiro, baixando os olhos.

Em seguida, corada e dando um beijo na bochecha do garoto com um grande sorriso, ela desferiu:

- O que você fez foi incrível. Obrigada.

Crânio apenas acenou, o rosto tão vermelho quanto da amiga ao seu lado.

Apesar do rosto um pouquinho sujo pela escalada na árvore, Magrí continuava linda a ponto de fazer as palmas das mãos do garoto suarem. Ele pigarreou, olhando para o nada à sua frente, temendo que ela tivesse percebido o seu desconforto.

Não era que Crânio não soubesse lidar com garotas ou conversar com elas, pelo contrário, ele se dava muito bem com algumas meninas da sua turma. Porém o rapazinho nunca teve uma amiga de verdade como Magrí, a ponto de compartilhar com ela momentos inusitados como aquele que estavam vivendo. Era tudo ainda novidade para ele.

No entanto, havia algo mais borbulhando nas profundezas da amizade dos dois que ele temia até mesmo nomear ou pensar. Lá no fundo, uma vozinha teimosa e irritante dizia que a garota jamais teria se aproximado dele se não fosse pelos Karas.

Os dois viviam em mundos diferentes. Enquanto ele gastava o tempo em problemas absurdos de Física, desafios de Xadrez e histórias de terror de arrepiar os pêlos do braço, Magrí corria atrás de medalhas e prêmios para o Colégio Elite na ginástica artística e raramente estava sozinha, sempre rodeada de amigas risonhas e até mesmo alguns garotos.

No meio social do Colégio Elite, existia uma parede invisível que os separava. Isso era notável quando os dois, às vezes, paravam para se cumprimentaram rapidamente nos corredores sob os olhares curiosos de alguns colegas de turma que se viravam surpresos pela cena.

Essa era uma das razões porque os Karas tinham como regra evitarem serem vistos juntos com muita frequência, mas no caso dele e de Magrí era o que mais chamava a atenção dos fofoqueiros do colégio, pois os dois eram bem conhecidos por seus méritos como alunos. Como que o maior gênio da escola e a melhor atleta do Elite eram conhecidos um do outro era motivo de cochichos e risadinhas nos cantos do pátio, para o desgosto dos dois.

Cansado pela noite mal dormida, do esforço físico de carregar a melhor amiga, e por aqueles pensamentos desconfortáveis, Crânio encostou a cabeça na parede fechando os olhos.

Ainda não tinha cochilado quando sentiu que Magrí encostou a cabeça no ombro do rapazinho com um suspiro doce.

Se algum aluno do Elite tivesse visto todo o desenrolar da última meia hora, teria assunto de fofoca para o resto do ano...

***

Semanas depois do ocorrido, Crânio ia mais uma vez para casa pelo mesmo caminho da velha árvore. Parou ao ver Magrí de costas para ele, ainda com o pé enfaixado, fazendo carinho no mesmo gato de rua que salvara e sussurrando.

- Você é um gatinho muito danado, viu Mimoso? Não pode subir ainda nessa árvore, porque você não consegue mais descer.

O animal rolava de prazer no colo da garota. Crânio aproximou-se sem esconder o riso da cena.

-O que você está fazendo com esse gato de novo, Magrí? Oops, desculpe eu te assustei?

A menina havia pulado de susto ao dar de cara com o amigo, abraçando o gatinho com mais força como se o garoto fosse uma ameaça.

-Pelo amor de Deus, Crânio! Por um momento pensei que fosse...

Ela parou e engoliu em seco.

-Quem? - o rapaz franziu a testa.

Magrí encarou o gatinho no colo que olhava com curiosidade para Crânio.

-Achei que fosse meu pai. – ela suspirou com tristeza - Ele detesta gatos porque é alérgico e por conta disso, nunca pude ter um.

O rapaz encostou-se ao tronco da árvore de braços cruzados, sem conseguir conter o riso.

-Por isso você "adotou" esse bichano aí colocando nome de vaca no coitado?

A menina ficou vermelha de raiva e fechou a cara para o amigo.

-Ei, respeita o Mimoso! Ele não tem nome de vaca coisa nenhuma!

Crânio chorava de rir para o desgosto de Magrí, enquanto o gato denominado Mimoso miava de forma preguiçosa à cena.

-Se eu tivesse um gato - começou o garoto quando conseguiu parar de rir – Colocaria um nome bem maneiro.

-É? Qual seria então, espertinho? - Magrí não escondeu a ironia na voz.

-Plutão, igual ao gato do Poe*.

A garota abraçou o gato com um sorriso beirando entre o desprezo e horror.

-Ai credo, esse gato é de dar pesadelos! - ela acariciou o pelo macio do seu animalzinho – Mimoso combina mais porque o meu gato é fofo, não é Mimoso?

O gatinho ronronou como se concordasse com a menina.

Crânio riu novamente e acabou por se aproximar para também fazer carinho no gato, que ficou muito satisfeito. Balançou a cabeça divertido em direção a Magrí que não parecia mais zangada pela brincadeira dele.

Ela era de fato uma menina diferente de qualquer outra que já conversou na vida, pois não tinha medo de se mostrar carinhosa com qualquer coisa ou pessoa, incluindo um sujo gatinho de rua no qual torceu o tornozelo para salvar.

***

A voz cansativa do professor era apenas um som entorpecente de fundo para aquelas memórias tão carinhosas que Crânio ainda guardava de Magrí. De fato, ele viveria em primeira mão o que era ser objeto de afeto daquela garota tão especial e única. Olhar ao redor ali e não vê-la para retribuir todo aquele amor era uma dor constante, que o acompanhava dia após dia nos corredores e jardins da universidade.

Olhou de novo para a janela e viu que na árvore mais próxima, um filhote de gato dormia tranquilamente entre os galhos. Sorriu com doçura.

 

*N/A: Conto O Gato Preto de Edgar Allan Poe.


Notas Finais


No próximo conto: Terror, sessão pipoca com os Karas, sustinhos e mais momentos fofos do casal querido *_*


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