História Cancer - Yoonseok - Seventh little letter

Você estava tão lindo. A testa suada, a roupa amassada, as bochechas coradas e o enorme sorriso no rosto. Eu nunca havia conhecido alguém tão lindo quanto você, Hobi. E nunca vou conhecer.

Você correu até mim e me abraçou tão forte que eu juro que pude ouvir o osso da minha costela estalar. Eu não liguei, você estava alí. Estava alí comigo. Eu saio da realidade quando estou com você, amor. Como naquelas cenas onde todo o cenário ao fundo se desfoca e você só consegue enxergar o brilho da pessoa na sua frente. Eu fico assim todas as vezes que te vejo, é inevitável.

Você espirrou, o que me fez acordar dos meus sonhos e encarar a situação como um todo. Você estava ensopado de suor, você veio correndo, por que? Aquela sorriso maldito ainda estava lá. Por que?

Eu olhei para meus pais e então para você novamente, eu não estava entendendo.

Com toda inocência do mundo você piscou os dois olhos algumas vezes, me encarou com esperança no olhar e então disse.

Eles disseram que tem algo importante para falar hyung, eu vim correndo ver o que é, você está bem? Você vai para casa? O que aconteceu?

Meu sorriso se desfez tão rápido quanto tinha aparecido. Não era possível. Minha garganta se fechou e meu olhos se encheram de lágrimas. Eu estava com muita raiva. Você notou e ficou preocupado, eu apenas olhei para meus pais com aquela famosa expressão de "o que foi que vocês fizeram?".

Oh, Hobi. Me perdoe.

Como eles puderam falar para você que tinham algo importante para contar, algo importante. Isso é patético. Eles sabem como você sempre foi otimista, sempre enxergava o lado bom das coisas, como sempre foi esperançoso e tratam a porra da minha morte como algo importante para lhe falar.

Eu segurei firme na sua mão. Olhei dentro dos seus olhos. Suspirei.

Esse sempre foi nosso "sinal". O sinal de que algo ruim está por vir, o sinal da péssima noticia, o sinal do eu vou morrer. Seu sorriso sumiu, eu me arrependi de ter feito aquilo, eu precisava de seu sorriso, eu queria ele de volta, bebê.

Então eu te contei, eu te contei tudo. Eu contei que os medicamentos não funcionavam, eu contei que as quimioterapias não estavam mostrando resultado a semanas, eu contei que eu havia piorado mais e mais, eu contei que estava perto da morte, eu contei que ela estava mais perto do que você imaginava.

Apenas três dias?

Você tinha lágrimas grossas nos olhos, sua voz estava embargada e seu nariz estava entupido. Eu nunca senti tanta dor em te ver naquele estado. Você então olhou para o teto, respirou fundo e limpou os olhos na manga do seu moletom. Olhou para mim e abriu o seu melhor sorriso.

O que a gente está fazendo aqui ainda? Vamos viver, Suga. Vamos viver nesses três dias como nós nunca vivemos antes.

Eu esperava de você todas as reações possíveis, menos essa. O Hoseok super emotivo, sentimental, delicado e chorão parecia ter ido embora. Eu sorri com ternura, eu tenho o melhor amigo do mundo.

Você estava sendo forte por mim, eu estava sendo forte por você. A gente podia fazer aquilo.

Meus pais tinham me dado a liberdade de fazer o que eu quisesse nesses últimos dias, eu havia pensando nisso por muito tempo. Todas as noites que eu tive de passar sozinho no hospital eu acabava pensando demais. As duas coisas que sempre estavam na minha mente eram você, e a morte. A minha, óbvio.

Enquanto eu estive preso a uma maca, eu percebi como a vida é uma coisa delicada. Num momento você está aqui e no outro pode não estar mais. Assim, rápido. Eu decidi então que quando estivesse em estado terminal, eu voltaria para casa e faria as minhas coisas favoritas ao seu lado, minha pessoa favorita.

Eu não posso desperdiçar o resto de tempo que eu tenho me lamentando ou chorando, eu já passei tempo demais fazendo isso. Você parecia pensar a mesma coisa quando eu te contei sobre eu estar morrendo. Eu sei que essa não é a hora mas caramba, nós somos feitos um para o outro.

Eu saí do hospital depois de arrumar minhas coisas e dizer adeus a todos os médicos incríveis que me atenderam. Eu adorava cada um deles mas sempre há aquele especial. Suna. Ela era minha enfermeira favorita, a única que realmente parecia se importar comigo. Eu sei que os hospitais tem essa coisa de não se apegar emocionalmente com os pacientes mas conosco era diferente.

Ela não me tratava como um paciente, ela me tratava como um irmão. Eu espero que ela nunca se esqueça de mim.

Você segurou firme minha mão enquanto íamos no carro dos meus pais para casa, eu não estava nos meus melhores dias, andar e respirar rapidamente eram algo difícil, mas eu conseguiria, por você. A cada segundo você olhava para mim, sorrindo e me olhando com ternura.

Eu te amo tanto, eu não quero te perder. Você é a única pessoa do mundo que faria isso por mim, deve estar doendo tanto, amor.

Eu preparei minha mochila com algumas roupas enquanto você pegava todo o dinheiro que sobrara no meu cofrinho, apenas por precaução. Você me abraçou por trás, colocando o queixo no meu ombro. Seus braços rodeando minha cintura, me levantando e me girando no ar. Você me virou de frente para você e passou o dedão pela minha bochecha.

Está pronto para viver, Yoongi?

Eu estava pronto Hobi, eu estava mais do que pronto. Eu esperei a vida toda por isso, eu esperei a vida toda para de fato viver. Sentir a brisa gelada do mar bater no meu rosto, observar a cidade do topo de um edifício, beijar alguém na chuva.

Eu queria tanto te beijar.

Será que agora faz alguma diferença?