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História Cancer - Capítulo 4


Escrita por: Maduziinha

Capítulo 4 - Capítulo 4


Fanfic / Fanfiction Cancer - Capítulo 4

Frank havia conseguido ficar aquela noite toda com seu esposo, deitado naquela cama de hospital, e sabia que Gerard se esforçava para manter-se acordado, após horas de conversa casual jogadas fora.
Concentrava-se na respiração calma de seu namorado batendo contra seu pescoço. Frank havia dito que o mais velho podia dormir, mas ele se negava, alegando que queria ficar ali mais um pouco, e matar a vontade incessante de ficar perto do marido.
Eles deram risadas juntos, e também passaram por alguns assuntos pouco tristes, e Frank lembra-se da risada gostosa que seu esposo deu quando reclamaram em uníssono de como aqueles cupcakes estavam horríveis. E agora estavam ali, desfrutando da companhia um do outro, e enquanto Frank massageava o lóbulo da orelha do outro – uma mania que Frank tinha, que tornava o simples fato de ficar acordado dificílimo para Gerard-, Way acariciava os cabelos agora raspados de seu Pequeno.

- Amor? – Frank chamou.
O outro resmungou algo como um: “Diga, pequeno”.

- Sabe, quando você apareceu na minha vida, foi uma das melhores coisas que aconteceram. Eu trabalhava demais, e quando não estava de plantão, eu enfiava a cara nos livros.
No começo, eu ainda te dava pouca atenção, mas você foi tomando conta da minha mente, e eu não parava de pensar em ti um segundo sequer. Então eu me vi sem chance de continuar naquela rotina, e apesar de não admitir na hora, larguei tudo porque eu te amava incondicionalmente.
Mas Gee, aquele garoto de rotina agitada não existe mais. Ele parecia feliz a todo tempo, era gentil e preocupado com todos, mas lhe faltava algo, amor. Me faltava você. Gordinho, eu sou feliz ao seu lado. Como nunca fui antes, e te agradeço por isso, por me tirar do modo automático e me ensinar a viver com mais intensidade e amor. – Frank despejou tudo aquilo de uma vez sobre seu namorado, se apertando mais contra ele, e o vendo suspirar aliviado, acariciando seus cabelos curtos com mais vontade.

-Frankie? – Ele chamou.
-Eu quem tenho que te agradecer. Por tudo, sabe... Não só pelo que fez hoje, mas por todo o processo.
Por ter entrado na minha vida, e ter decidido ficar mesmo sabendo que eu te machucaria uma hora... Por cuidar de mim como se eu fosse uma das melhores pessoas do mundo, por me amar, por ter ficado do meu lado a qualquer hora, ou pelo simples fato de respirar... Obrigado, Pequeno. – E então Frank era só sorrisos, mantinha os olhos grudados nos de Way, gravando mais em sua memória aquele tom de verde inigualável que decidira amar.

Frank sabia que ficaria viúvo em pouco tempo, e que aquilo pelo que Gerard passava, não era viver. Ele era forte demais, mesmo tendo desistido do tratamento, Gerard era a pessoa mais forte que Frank conhecia. Não pediria que ele tentasse mais uma vez nem em um milhão de anos.
Sentia os dedos compridos de seu marido acariciando seus cabelos agora curtos, já que o pequeno o havia cortado quase que careca; fazia parte da surpresa de alguns dias antes.

- Eu amo você, Frankie... mas preciso que me desculpe.

- Desculpar o que, meu amor? – O menor franziu as sobrancelhas e se ergueu minimamente, para poder encará-lo.
Way, com os olhos verde-oliva fundos e opacos, olhou para Frank e sorriu como não fazia há tempos, e deixou um beijo terno em sua testa, antes de sussurrar: A pior parte de tudo isso, e deixar você. E entrelaçou os dedos aos de seu pequeno, observando as joias reluzentes nos dedos anelares, suspirando uma última vez antes de seus aparelhos começarem a apitar freneticamente. Os olhos ficando embaçados, e a boca entreaberta já nem fazia mais força para buscar o oxigênio que tanto lhe fazia falta.

         E então Gerard se foi, deixou finalmente aquele corpo doente que um dia lutou tanto para continuar ali. Os aparelhos apitando constantemente, e logo uma enxurrada de médicos e enfermeiras apareceu no quarto do homem, dando de cara com Frank de joelhos na cama, abraçando o corpo sem vida do outro, e pedindo para que não o deixasse ali. O menor empurrou os enfermeiros que tentavam tirar o corpo de Gerard de seus braços, e logo eles foram mandados para fora pelo médico que cuidava do caso de seu marido.

-Deixem-no em paz... não há mais o que fazer. – Ele disse, e então alguns saíram, outros ficaram ali, em silêncio, observando Frank soluçar abraçado ao corpo de seu amor.

         Iero sabia.
Sempre soube que ele não aguentaria por muito mais tempo, sabia que ele estava prestes a abandonar aquele mundo terrível, e que estava pronto para isso, apenas aguardando uma oportunidade. Não seria egoísta ao ponto de pedir que Gerard lutasse mais um pouco.
E mesmo sabendo disso tudo, doeu.
Doeu como ferro em brasa atravessando sua alma de uma vez só, doeu como nunca havia doído antes.
E então Frank chorou, chorou desesperadamente, como não havia feito antes, quando tentava se manter forte para apoiar seu namorado. A sensação era difícil de explicar, pois não haviam palavras para descrever o que aquele garoto sentia. Ele apertava o corpo do namorado contra o seu, sussurrando entre os soluços altos, que o amava, e que seria assim para todo o sempre. Quando o desespero lhe tomou conta, passou a gritar de dor, sem conseguir pensar em sua vida sem o outro no futuro.

         Era real. Toda vez que Frank começava a pensar sobre como seria depois daquilo tudo, sua mente estagnava. Ele tentava se preparar para o fim, mas não conseguia enxergar uma continuação.
Sua mente não funcionava se não conseguisse ver aqueles olhos verde-oliva. Aqueles olhos que agora estavam completamente sem vida ou brilho, quase se fechando.
E então Frank gritou, tão alto que poderia ter acordado o andar inteiro daquela ala hospitalar. Só então o Dr. Resolveu tomar alguma providência, para que não causasse nenhuma confusão.

-É um fardo bem grande para carregar, Frank. – O senhor falou, colocando uma das mãos no ombro do menor, que relaxou um pouco, ainda soluçando alto e abraçando o corpo mórbido de Gerard. E ele tinha razão.
A real verdade é que o fardo de Frank era tão pesado quanto o de seu esposo, e que quando tudo acabou, ele chorou de desespero por não ter mais Gerard ao seu lado, mas também de alívio por não vê-lo mais sofrendo daquele jeito. No final de tudo, Gerard sempre esteve certo.
A pior parte de tudo aquilo, era perdê-lo.

         Quando o Dr. Thompson tentou tirar o garoto dali, foi quase um sacrifício para que o conseguisse. Foi obrigado a dar uma pequena dosagem de tranquilizante a Iero, que prontamente acalmou-se um pouco, e ficou com o corpo um pouco mole.
Ainda tinha os dedos entrelaçados aos de Gerard quando as enfermeiras o tiraram dali, levando até a área de descanso do hospital, que mais parecia uma sala de estar com sofá-camas. Deixaram-no ali, deitado em um dos sofás, ainda com cachoeiras escorrendo dos grandes olhos castanhos, chorões e inchados. Ele manteve os olhos abertos, e o corpo encolhido, quando alguém saiu do elevador. Era uma mulher com uma pequena garotinha agarrada a barra de seu vestido, mas Frank estava cansado demais – física e emocionalmente – para dar atenção a qualquer uma das duas. Apenas concentrava-se na força de sua dor.
Quando percebeu, já havia adormecido.

         Frank foi acordado por Marie, a tia de Gerard, chacoalhando seu ombro delicadamente.

-Frank? Querido, você precisa ir para casa... Está aqui a dois dias. Precisa comer algo, e tomar um banho. - Ela disse, ajoelhada ao lado de Iero, que abria os olhos com dificuldade, por ter chorado tanto por um longo período. - Tome, você pode ficar à vontade em casa. - Marie entregou uma cópia da chave para o outro, que sorriu triste.

- Obrigado, Marie... De verdade. - Ele se levantou relutante, com a voz rouca ainda.

- Frank? - Ela chamou atenção do garoto, que parecia em transe. - Vamos nos despedir dele hoje à noite... - Marie parecia calma, falando sobre o enterro de seu sobrinho.
O menor concordou, incapaz de sentir mais qualquer outra sensação. Sua mente e corpo estavam exaustos.

Frank foi para casa de Marie, que era quase uma mansão de luxo, e tomou um banho demorado de banheira, tentando - sem sucesso - relaxar um pouco.
Quando se olhou no espelho, não se surpreendeu ao ver a imagem assustadora ali. Tinha os lábios sem cor, e um pouco ressecados. Os olhos fundos, quase sem brilho, inchados e decorados por olheiras escuras. Na verdade, Iero se sentia em pedaços. Já estava anestesiado de tanta dor que havia sentido nas últimas horas, e completamente incapacitado de se reerguer naquele momento. Ele mal percebeu as horas passando rapidamente, enquanto ele estava sentado na cama aonde Gerard dormia, que ainda exalava seu perfume o qual Frank tanto amava.
Ele vasculhou no guarda roupa de seu marido algumas vestes que havia deixado ali, e achou algo que pudesse usar. Vestiu uma calça jeans escura, uma camiseta de banda qualquer e um paletó escuro por cima. Calçou seus tênis mais surrados, e foi de encontro a Marie no andar debaixo, para que pudessem ir ao enterro de Gerard juntos.

 

         Tudo passou em câmera lenta diante de seus olhos. O carro de luxo chegando para transportá-los, a escolha das flores na porta do enterro, Frank comprando o buquê mais bonito de rosas vermelhas para homenagear seu amado.
O padre falando algumas palavras as quais Iero não conseguia compreender, e então, o caixão descendo lentamente. Marie e Dr. Thompson - que havia aparecido de surpresa - indo embora, e o deixando ali, sem antes perguntar se ele ficaria bem. Frank afirmou, mas era claro que não, não conseguiria ficar bem por um bom tempo. Quando finalmente o coveiro chegou para cobrir o caixão com terra, foi quando Frank tomou coragem de se mover para deixar o buque apoiado no carvalho que crescia bem ao lado de onde Gerard descansava, agora eternamente. Antes de deixá-lo ali, cheirou o perfume gostoso das rosas e deixou um beijo em uma delas, antes de colocar os óculos escuros e ir embora.

Frank não tinha mais nenhuma lágrima para derramar.



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