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História Canções, Fotografias e Meus Sapatos Furados - One-Shot


Escrita por: TheSecretWriter

Notas do Autor


Oie de novo! ^_^ Espero que gostem desta one-shot!

Esta one-shot faz parte da coleção "When a Kid Goes Missing", de minha autoria. Tal coletânea reúne três histórias ficcionais inteiramente baseadas em Stranger Things.

Esta história também foi postada no Nyah! Fanfiction por mim (TheSecretWriter). Se a vir postada em qualquer outro lugar por qualquer outro autor, denuncie.

Capítulo 1 - One-Shot


Olhei para os furos em meus sapatos. Bem à minha frente, estavam eles, Steve Harrington e Nancy, posando para a fotografia que eu estava prestes a tirar.

Era véspera do Baile da Neve, o evento escolar mais esperado e querido pelos alunos do colégio Hawkins. Como todo encerramento de semestre, o assunto pelos corredores era apenas um: quem seriam o rei e rainha do baile? Os responsáveis pelo anuário queriam fotos de todos os casais que disputavam tais títulos, de forma que eu ficaria o resto da tarde naquela salinha apertada, registrando-os.

Desde que me ajudou a salvar meu irmão, Nancy estava muito mais próxima de mim. É como dizem, a glória tem o poder de unir pessoas momentaneamente, mas é a desventura que cria vínculos inquebráveis.

Não era como se ela caminhasse comigo pelos corredores ou deixasse de andar com sua panelinha popular para impedir que eu almoçasse sozinho na escola todos os dias, mas conversávamos quando eu ia buscar Will na casa dela. Fora isso, havia o notável decréscimo das agressões que eu sofria de seu namorado e da trupe dele, com quem ele havia feito as pazes semanas antes.

No geral, estávamos melhor, Nancy e eu. Não estávamos bem — até porque, eu me convencera de que nunca estaríamos — , mas melhor, o que, para mim, já era bom o suficiente. Ela não me considerava mais uma aberração ou um perseguidor e já conseguíamos manter conversas agradáveis quando as partidas de Dungeons & Dragons de nossos irmãos se estendiam demais à noite, o que acontecia frequentemente. Praticamente todas as noites, eu visitava os Wheeler. Concordamos, Will, eu e nossa mãe, que ele não pedalaria mais sozinho para casa à noite por um bom tempo, portanto eu o buscava com o carro sempre que ele saía.

— Sorriam – eu disse, desanimado, ajeitando a lente da câmera que Nance me dera no Natal.

Steve pôs as mãos sobre a cintura dela e os dois obedeceram ao comando, ambos exibindo genuinamente suas pérolas brancas. Eles pareciam felizes na presença um do outro. Nancy não pensava mais que ele era um imbecil. Steve Harrington mudou muito na semana em que Will esteve desaparecido. Quase como se houvesse sido convertido pelo próprio Jesus, suas ações e atitudes estavam drasticamente diferentes, para meu infortúnio.

Olhei para a lente e configurei o foco, pondo o dedo sobre o botão que imortalizaria a imagem daquele casal, sentindo-me sujo.

Minha mente me permitiu devanear por um instante. Como se fôssemos uma fotografia recortada pelo Universo para uma colagem, Steve, Nance, eu e minha câmera nos tornamos as únicas massas corpóreas existentes na galáxia. Ele, com seu sorriso galanteador e olhar vitorioso, e ela, com seus olhos azuis como a parede da casa de Deus e seu sorriso puro, angelical, eram realeza. Eu, com minha companheira inanimada e meus sapatos furados, era a plebe, nada mais que um servo.

Eu era servo dela, escravizado pelo desejo e admiração. Nancy tirava o sono de minhas noites e a quietude de minha mente. Estaria sempre lá por ela, submisso e leal, oferecendo-lhe meus serviços em troca de eternizar mesmo que um único sorriso dela, como estava prestes a fazer.

Tirei algumas fotografias. A luz do flash machucou seus claros olhos azuis por breves instantes. Preocupei-me com aqueles preciosos pedaços de céu, perguntando-me quando eles voltariam a encontrar minhas íris barrosas de perto uma vez mais, da mesma forma como o mar encontra a areia na mais bela praia.

— Obrigada de novo pela foto, Jonathan — Nance disse, o sorriso dela ainda estampado em seu belo rosto — Quer que posemos para outra?

Engoli em seco a princípio, perdendo-me na sinfonia que era sua voz. Respondi que não, aquelas estavam boas. Nancy agradeceu uma vez mais, encaminhando-se à saída em seguida, acompanhada de seu namorado. Ao passar por mim, Steve me agradeceu também, dando-me um tapinha amigável no ombro. Assisti, pesaroso, à imagem deles abandonando o recinto. Impedi-me de suspirar desapontado, pois tinha mais fotos a tirar e o próximo casal já estava a postos.

Uma hora depois, a última dupla de alunos foi fotografada e todos os caprichos dos aspirantes à realeza, atendidos. Eu estava na sala escura, a luz vermelha era minha única companhia, além das substâncias químicas que testemunhavam minha solidão.

Pendurei as fotografias no varal e sentei-me numa cadeira para observá-las secar. Dei uma boa olhada em todas, certificando-me uma última vez da qualidade delas. Ao longe, porém, dentre as tantas imagens, a única obra de arte no varal prendeu minha atenção: a foto de Nancy.

Admirei sua beleza uma última vez antes de tomar uma atitude pouquíssimo profissional. Procurei novamente os negativos das imagens daquela tarde, permitindo-me revelar uma cópia extra da fotografia dela com Steve. Eu sabia o quão patético aquilo era, mas eu mais do que queria uma recordação dela para guardar por toda a vida, se tivesse sorte.

Ao fim da tarde, peguei todas as fotografias reveladas, guardei-as num envelope e rumei para casa sob meus sapatos velhos.

Chegando ao lar, me dirigi ao meu quarto, completamente sozinho na residência. Fechei a porta, liguei o aparelho de som e atirei-me na cama, esfregando meu rosto com as mãos por causa da frustração que me assombrava. Enquanto o ensurdecedor e gratificante rock’n roll me distanciava da realidade ao reverberar por minhas paredes no volume máximo, abri minha bolsa e dela tirei as imagens que carregava no envelope, dentre as quais apenas uma me interessava.

Com muito carinho e cuidado, a segurei em minhas mãos, maravilhando-me com o sorriso de Nancy. A morena dos olhos cor turquesa roubara meu coração no primeiro dia em que a vira. Anos de ignorância da parte dela, porém, haviam me libertado da ilusão, a qual fora reacendida por uma faísca incendiária no dia em que ela me deu palavras de apoio no corredor do colégio, logo após o sumiço de Will. Na época, estava preocupado demais com ele para notar, mas conforme a proximidade entre ela e eu crescia, aumentava também a loucura em meu peito.

Emergi de minhas lembranças apressado, dando-me conta de algo que eu precisava fazer. Levantei-me da cama num salto, levando a foto comigo para a cozinha. Revirei as gavetas em busca da única tesoura da casa. Quando a encontrei, cuidadosamente separei Steve Harrington da figura de minha musa, somente restando, sobre a impressão, as mãos dele, as quais repousavam sobre a cintura dela.

Olhei para a fotografia e sorri. Nancy estava alegre quando tirei seu retrato. Ao longe, a música em meu quarto começou a preencher meus ouvidos novamente, iluminando-me uma ideia: Nancy merecia uma mixtape.

Levei a foto dela para meu quarto e comecei a trabalhar em meu novo projeto. Selecionei canções e as uni em uma única fita, sendo embalado pela música até a noite cair.

— Jonathan, cheguei! — ouvi minha mãe anunciar, após fechar a porta de entrada ruidosamente — Já buscou o Will na casa do Mike?

— Estou a caminho, mãe, saio daqui a pouco! — eu disse, animado.

Em minhas mãos, eu segurava ouro. A lista de músicas que eu fizera no intento de captar a perfeição da pessoa que a inspirara me trazia paz. Com uma capa miserável, devido a meus limitados dons artísticos, a caixinha da fita dizia “Mixtape da Nancy”.

Ela gostaria daquilo, com certeza. Aquela era a noite pela qual eu havia tanto esperava: a noite em que eu confessaria a ela meus sentimentos. Finalmente, eu deixaria de ser um covarde e enfrentaria com coragem meus demônios. Eu queria que aquelas músicas lhe causassem encanto.

Caminhei até a porta de meu quarto, a fim de pegar a chave do carro no corredor. Detive-me no batente, porém. Apenas os dedões de meus pés tocavam o mundo que existia fora de meu quarto. Minha coragem desapareceu no ar como pó, meu riso morreu.

Dei dois passos para trás, voltando para dentro do quarto, sentindo-me cinza. Sentei sobre a cama, fraco, fracassado. Encarei a fita em minhas mãos. Tirei de meu bolso a foto recortada de Nancy e a acariciei com o polegar.

Cabisbaixo, vagarosamente retirei a terrível capa que eu havia desenhado, substituindo-a pela fotografia de minha deusa. Olhei para aquela preciosidade, a chave que podia abrir a caixa de Pandora em meu coração, e suspirei. Atirei-a no canto do quarto, onde jazia uma pilha de outras confissões amorosas como aquela. O ritual era sempre o mesmo: me inspirava, achava que teria coragem de contar a ela, me desiludia, desistia. Nance era a princesa de um conto o qual eu estava destinado a jamais ser o príncipe.

Calcei meus sapatos furados e dirigi à casa dos Wheeler a fim de buscar Will. Por um breve momento, naquela noite, pudemos trocar algumas palavras, Nancy e eu.

— Ansiosa para se juntar à realeza? — perguntei, tímido, com as mãos enfiadas nos bolsos.

Radiante, ela respondeu que sim, mas que não podia estar mais animada. O Baile da Neve seria como sonhar acordada, nas palavras dela. Vê-la feliz daquele jeito me trazia alegria.

Will logo apareceu e me despedi. Antes que eu pudesse partir, porém, uma pergunta me deteve.

— Vejo você amanhã, então? — a voz dela pronunciou.

— Pode apostar — sorri, saindo com Will.

A noite de sábado logo chegou. O comitê do baile havia me encarregado de ser o fotógrafo do evento, portanto eu fui um dos primeiros alunos a chegar. O ginásio do colégio, satisfatoriamente decorado em tons de azul, prata e branco, logo foi preenchido com adolescentes, música e luzes piscantes.

Nancy e Steve não tardaram a chegar. Ela estava linda, parecia a visão dos portões dos céus. Quando cruzaram a entrada do ginásio, todos os olhares pousaram sobre ela, como se fosse Cinderela chegando ao baile do príncipe. A única diferença era que, naquela ocasião, seu príncipe estava bem ali, ao lado dela, e eles estavam prontos para serem coroados rei e rainha.

Foquei em meu trabalho o resto da noite, fotografando o máximo de alunos que consegui. Após horas de incessantes flashes sendo disparados, senti uma mão pousar sobre meu ombro.

— Vossa alteza — eu disse, quando me virei e descobri que a dona da mão era Nancy. Graciosamente, ela entrou em minha brincadeira e fez um cumprimento real, gesticulando como uma princesa.

— Me concede uma dança, nobre cavalheiro? — ela pediu, iluminada pelas luzes do salão.

— Hm... — gaguejei, sendo pego de surpresa pelo convite. Antes que eu pudesse articular qualquer palavra, porém, a música parou e os candidatos a rei e rainha do baile foram convocados ao palco para o anúncio do resultado da votação — Seu príncipe a espera — eu disse, sem jeito.

O rosto de Nance se iluminou. De tão animada que estava, deu-me um abraço forte antes de se dirigir a Steve e subir ao palco de mãos dadas com ele.

Fiquei parado lá, estático, imóvel. Meus pensamentos estavam acelerados, ao mesmo tempo que minha mente estava vazia, como se houvesse ocorrido um apagão na cidade de meus neurônios, nada preenchia meu ser além de uma tela escura, pútrida e profunda.

Pus a mão sob minha câmera, posicionando a outra de forma a alcançar o botão que capturaria aquela imagem. Olhei dentro da pequena câmara que registraria o que minha lente mostrava. Nancy e Steve foram coroados e, mais uma vez, coube a mim a tarefa de imortalizar outro momento na história deles juntos. Nance sorriu para a câmera e eu tirei uma última foto antes de sumir para o fundo do salão.

Baixei os olhos para os furos em meus sapatos, desviando-os em seguida para o centro das atenções, o qual eu abandonara segundos atrás: o centro do ginásio, onde dançavam os novos rei e rainha do colégio Hawkins. Sorri, triste. Meu ego indolente admitiu novamente que Nancy era um sonho impossível. Éramos uma dama e um vagabundo desgraçados, eu e ela, fadados a estar sempre longe um do outro. Ela nunca olharia para mim como olhava para ele e eu era obrigado a aceitar isso.

Coloquei a mão dentro do bolso de meu paletó e, de lá, tirei mais uma mixtape.


Notas Finais




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