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História Canções Perdidas - Capítulo 13


Escrita por: GiuBlue

Notas do Autor


Oi gente. Eu sei, eu sei... Não me matem. Já entendi. Eu demorei... tipo... quase quatro meses pra voltar. Eu sei :'(. Em minha defesa devo dizer que os estudos me consumiram, de todas as formas possíveis. Toda vez que eu sentava na frente do computador no fim de semana eu não aguentava ver letras ou palavras ou sei lá e corria pra tv. Eu estava odiando ler e escrever coisas técnicas que quando chegou pra eu ler e escrever coisas que eu gosto... Acabei odiando também. Me perdoem gente, nunca foi minha intenção parar de escrever. Eu precisei ler os comentários divos de vocês de novo pra poder me "tratar" dessa "doença". Enfim, sobre o capítulo preciso comentar que sempre travo nele. Travei na primeira vez que o escrevi e travei agora que o reescrevi. Vocês vão ver porquê. Espero que não fiquem entediadas e que gostam do que tá aí. Na verdade é um pouco do meu entendimento sobre o assunto. Não vou dizer o que é kkkk vocês vão ver. Então... é isso. Espero mesmo que gostem, beijos e até as notas finais.

Capítulo 14 - Capítulo 13


Fanfic / Fanfiction Canções Perdidas - Capítulo 13

Por Harry.

 

  Lá estava eu. Em algum lugar completamente estranho para mim. Estava chovendo. Havia semanas que Londres passava por essa tempestade, o que deixava a cidade com um ar sombrio. Olhei ao meu redor e percebi ser um apartamento sofisticado, daqueles que parecem saltar de uma revista de design. Não sabia como havia ido parar ali. A única coisa que eu recordava era que havia estado com meus amigos em uma pizzaria e quando fui embora... Um grande ponto de interrogação ficava em minha mente impedindo que eu me lembrasse do que realmente aconteceu.

  Tentei me mexer e uma sensação desconfortável me invadiu. Tentei mexer meu corpo de novo e percebi estar amarrado com cordas em uma cadeira. Como assim...? Estou preso?! 

 - Ok! Isso só pode ser uma brincadeira de mau gosto! - Falei alto. Uma risada feminina se espalhou pelo cômodo. - Ok! Já podem sair cadê à câmera?! Não tem graça! Eu tenho um encontro hoje vocês sabem! Me tirem daqui! A loira não gosta que eu me atrase! - Falei sabendo que eram meus amigos, fazendo alguma palhaçada boba. Era bem capaz que eles filmassem minha cara de medo e colocassem no youtube.

 - Você não vai sair com ninguém Harry Styles. Nem hoje, nem nunca mais. - Uma voz impactante falou comigo. Pisquei os olhos até uma silhueta parar em minha frente.

 - Você?! - Falei com nojo.

 - A única pessoa com quem você pode sair é comigo.

 - Dá pra parar te imitar o cara dos jogos mortais e me soltar?

 - Por que eu faria isso? Você vai voltar correndo pra aquela desmiolada.

 - E o que você tem haver com isso?

 - Você é meu Harry Styles e de mais ninguém! Só você não quer admitir isso. - Ela falou feito uma idiota.

 - Você está louca. - Murmurei.

 - Por você - Ela sussurrou sentando-se em meu colo.

 - Saia de cima de mim! - Gritei.

 - Oh! - Ela murmurou. - Como senti falta disso. - Ela murmurou beijando meus lábios com paixão. A mordi com ódio e sem hesitação. Ela se afastou com os olhos esbugalhados e com a mão na boca.

 - Eu tenho nojo de você! - Cuspi as palavras pra ela. Tentei me livrar das cordas que amarravam minhas mãos e meus pés. - ME TIRA DAQUI! - Gritei.

 - Você me amava! Como pôde deixar de me amar assim? - Ela reclamou.

 - Depois de tudo, como quer que eu tenha algum sentimento por você?! - Perguntei. - Você acabou com minha vida! - Falei. Ela olhou para mim.

 - Ok. - Ela deu um sorriso cínico. - Se você não quer ser meu... Não vai ser de ninguém! - Ela falou estalando os dedos. Dois caras imensos entraram na sala. Estavam vestidos de preto e tinha uma cara... Do tipo "eu não tenho sentimentos". Meu corpo estremeceu. Ela tirou um pano de dentro de seus seios e chegou perto de mim mais uma vez.

 - O que você vai fazer comigo? - Perguntei com meu coração tendo mil batimentos por minuto.

 - Ah querido... Você já vai saber. - Ela murmurou e estalou de novo os dedos. Os Homens de Preto (MIB) se aproximaram mais uma vez. - Já sabem o que fazer, não é? Sabem que eu não quero que ele volte vivo. - Ela murmurou antes de se sentar no meu colo de novo colocando cada perna de um lado.

 - Não. NÃO! - Gritei antes de ela colocar o pano em minha boca.

 

 Acordei com o coração a mil.

 

 - Harry! Harry! - Veronika me chamava desesperada e falava uma língua que eu não conhecia. Eu distinguia apenas meu nome. Olhei para ela e percebi que havia sonhado tudo aquilo. Mais um pesadelo. Meu rosto estava todo molhado de suor. Ela havia colocado minha cabeça em seu colo e acariciava meu cabelo enquanto mais um suspiro saia de minha boca. Ainda confuso com o sonho e com suas palavras percebi que estava escuro, pelo abajur que ela havia acendido.


 

Por Lika.

 


 Eu havia sido acordada pelos gemidos de Harry, coisas do tipo... "Saia de cima de mim" ou... "Você é louca"... "Me tira daqui". Desesperada, liguei o abajur e levantei-me da cama observando assustada, o rosto de Harry molhado de suor, como se estivesse queimando em febre. Tentei acorda-lo diversas vezes, mas era como se estivesse preso ao pesadelo.

 - Harry acorda. Acorda Harry. Por favor. Você esta me preocupando! – Falei. Eu nem havia percebido que tinha deixado de pronunciar as palavras em inglês. Tinha essa mania. Na maioria das vezes, quando eu ficava nervosa começava a falar em português. Era uma mania de família, já tinha perdido a conta de quantas vezes eu vira minha mãe discutir comigo na língua nativa. Ajoelhei-me ao lado de sua cabeça no chão. Assim que segurei suas faces para aninha-lo, observei que ele estava suando frio. Tentei acalma-lo acariciando seu rosto.

 - Ela vai me matar, ela vai me matar. - Ele murmurava as palavras desconexas, os olhos abertos, mas como se estivesse atormentado demais para perceber que já havia acabado.

 - Ela não te matou Harry. Está tudo bem eu estou aqui. – Tentava aliviar sua angústia com palavras tão desconexas quanto às dele, mas eu não sabia se surtia efeito em seu psicológico. Abracei seu corpo grande e muito maior do que o meu, desesperada. Aos poucos seus olhos deixaram de ficar desfocados.

- Ainda estou sonhando? - Ele se questionou.

 - Não. – Sussurrei. – Por que diz isso?

 - Porque tem uma garota linda ao meu lado que não estava falando inglês. - Ele falou me fazendo sorrir.

 - Acho que você esqueceu que minha mãe é brasileira e que eu falo português.

 - Hum. Você fica sexy falando português. - Ele falou. Acariciei seus cachos ainda sorrindo.

 - Você é um idiota. - Ele deu um sorriso fraco. - Eu não imaginava que seus sonhos te perturbavam tanto. - Ele deu um suspiro.

 - Nem eu. - Harry murmurou. – O pior, é saber que toda manhã quando acordar nunca vou me lembrar do rosto dela. – Ele sussurrou engolindo em seco.

   Fitei Harry por alguns instantes processando o que ele havia me dito. Eu tinha uma bolha de sentimentos dentro de mim. 1º Sentia ódio eterno com a pessoa que fizera aquilo com ele. Eu só precisava de uma foto da cara daquela criatura, e ela provaria do próprio veneno se eu a encontrasse. 2º Sentia pena dele. Eu sei que não era o que eu deveria sentir, e sabia que aquela não era a mais nobre das minhas intenções, mas por outro lado, eu sentia que... Se eu pudesse trocar de lugar com ele eu trocaria. O 3º o mais absoluto e profundo sentimento que eu possuía naquele instante. Com Harry ali ao meu lado, entendi algo que meu subconsciente tentava esconder de mim desde o começo. Algo que se criou no instante que o encontrei, mas que se tornara tão forte que era impossível de se destruir. A vontade de protegê-lo de tudo que o afligia. Dos sonhos, de seu passado. Eu queria mantê-lo nos meus braços do jeito que eu estava fazendo naquele momento e não permitir que nada acontecesse a ele.

 - Como foi que você veio parar aqui embaixo mesmo? – Ele perguntou com um riso zombeteiro.

 - Você me acordou, ficava gemendo palavras. Eu fiquei preocupada, pensei que estivesse me traindo em seus sonhos. – Brinquei, mas ele não gostou da piada.

 - Não brinque com isso.

 - Nunca se sabe, às vezes o subconsciente brinca conosco.

 - Pare Lika, jamais faria isso com você.

- Nunca?

 - Nunca.

 - Bom saber disso. – Coloquei sua cabeça sobre o travesseiro e deitei-me ao seu lado enquanto dividíamos o pequeno espaço dos cobertores do chão. Ele abraçou-me de uma forma reconfortante.

 - Eu estou com sono. – Ele murmurou.

 - Pode dormir eu estou aqui.

 - Eu sei que isso vai soar ridículo, mas tenho medo de sonhar a mesma coisa - Ele murmurou.

 - Esta tudo bem agora. Estarei aqui quando acordar. – Deslizei os dedos por seu rosto.

 - Posso lhe pedir algo idiota? – Ele questionou.

 - Depende.

 - É algo simples e bobo. – Ele sussurrou rindo de forma tímida. Era engraçado vê-lo corado. O deixava com um ar de garoto. – Você... Cantaria pra mim? - Ele perguntou. Não consegui não corresponder o sorriso envergonhado. Assenti um pouco receosa e iniciei a canção que minha mãe me obrigara a aprender. Ele se apertou a mim e fechou os olhos. Era uma canção tão calma quanto uma canção de ninar, e acalmou os sentimentos angustiantes que sentíamos. Aos poucos, sem entender como aquele tipo de coisa acontecia, permiti que as palavras da música se tornassem verdades.

 

De onde é que vêm esses olhos tão tristes?

Vem da campina onde o sol se deita;

Do regalo de terra que o teu dorso ajeita;

E dorme sereno, no sereno sonha;

 

De onde é que salta essa voz tão risonha?

Da chuva que teima, mas o céu rejeita;

Do mato, do medo, da perda tristonha;

Mas, que o sol resgata, arde e deleita;

 

Há uma estrada de pedra que passa na fazenda;

É teu destino, é tua senda, onde nascem tuas canções;

As tempestades do tempo que marcam tua história;

Fogo que queima na memória e acende os corações;

 

Sim, dos teus pés na terra nascem flores;

A tua voz macia aplaca as dores;

E espalha cores vivas pelo ar;

 

Sim, dos teus olhos saem cachoeiras;

Sete lagoas, mel e brincadeiras;

Espumas ondas, águas do teu mar.

 

 Quando terminei de cantar Harry já havia adormecido. Sorri ao observa-lo dormir. Fechei os olhos e deixei que o sono me tomasse. Mesmo dormindo no chão eu dormi feliz, pois soube que ele dormiria seguro em meus braços.

 

 

8 da manhã. Domingo.

 

 

- Tenho certeza de que irá gostar. – Eu falava animada. Estávamos a cavalo indo em direção à igreja. Todos já estavam lá. Os únicos da minha família que não iriam estar presente eram aquelas que estavam na cidade. No caso, meus irmãos mais velhos e meu pai. A família inteira costumava ir às missas de domingo era como uma tradição. Não demorou muito e a pequena capela se mostrou no meio do mato. A construção feita pedra, dava a leve impressão de que havia sido criada pela própria floresta. Como um conto de fadas.

 Havia alguns carros estacionados ao redor dela, assim como carroças e cavalos. Harry desceu do cavalo e estendeu a mão me ajudando a descer. Eu só não contava que ele me puxaria bruscamente, utilizando do impulso do momento em que desci para chocar nossos corpos.

 - Harry! – Não tive tempo de exclamar nada, ele já estava me beijando.

 Derreti gradativamente em seus braços e deixei que ele fizesse sua mágica. Ele partiu o beijou e encostou minhas costas na parede da capela me fazendo arrepiar e voltando a me beijar. 

 - Lika...? - Ele murmurou próximo ao meu pescoço.

 - Hum...? – Sussurrei sentido seu perfume adentrar minhas narinas. Ele parou de beijar meu pescoço e voltou para meus lábios apertando minha cintura. Corri meus dedos por seus cachos e ele segurou meu rosto.

 - Não deveríamos estar assistindo a missa? - Ele perguntou sorrindo.

 - Que missa? – Perguntei extasiada. Ele soltou uma risada.

 - Você sabe... A que a sua família inteira esta participando e tal.

 - Quem foi que começou o beijou? – Questionei. Ele havia atiçado o fogo e agora queria parar e sair como o certinho?

 - E quem é que ta segurando quem aqui? – Ele questionou como resposta. Entendi o que ele quis dizer, pois eu ainda segurava seu cabelo.

 - Hum... Ninguém vai reclamar se a gente demorar um pouquinho. - Puxei ele pela camiseta e voltei a beija-lo. Ele ria em meio ao beijo e foi ele quem parou de me beijar sorrindo de forma maliciosa.  

- Nós somos os únicos que ainda não chegaram... Vão desconfiar. - Ele segurou meu rosto e eu repeti o gesto segurando sua face.

 - E daí?

 - Você vai ficar com uma péssima reputação. – Revirei os olhos.

 - Eu já tenho uma péssima reputação.

 - Mas eu ainda tenho a minha.

 - Desde quando você se preocupa com a sua?

 - Desde sempre. Eu quero uma esposa ideal sabia? - Ele falou brincalhão.

 - Ué? Está olhando pra garota perfeita.

 - Isso é um pedido de casamento?

 - Depende. - Ele sorriu e me deu um selinho.

 - Não acha que está na hora de entrarmos? Só lembrando é a primeira vez que venho pra missa.

 - Ok... - Ele me olhou como um cachorro que caiu da mudança. - OK! - Ele continuou me olhando daquela forma. – Harry! Você se decida, ou a gente vai pra missa ou você fica fazenda essa cara irresistível e eu te agarro aqui mesmo. Vamos, antes que você escolha a opção errada! – Puxei-o e o levei para entrada da igreja. Quando aparecemos na porta principal todo mundo olhou para nós dois como se fossemos alienígenas. Harry deu um sorriso sedutor quando as garotas do rancho Piaget olharam com seu típico jeito... Persuasivo, para não se dizer outra coisa. Depois de fazer uma reverência e o sinal da cruz, puxei Harry até o banco onde Adam estava sentado. Fiz questão de ficar entre os dois. Ajoelhei-me e fiz as minhas orações. Quando voltei a me sentar observei que os dois retardados mandavam olhares certeiros e com segundas intenções para às Piaget, instintivamente dei um beliscão nos braços dos dois.

 - Ai! - Eles soltaram em uníssono e olharam respectivamente para o meu rosto. Fiz cara de paisagem e sussurrei baixo o bastante para só eles escutarem.

 - Estamos aqui pra prestar atenção na missa não nas... Virtudes que frequentam elas.

 - Mas a missa não começou ainda... - Adam começou com uma voz chorosa e seu parceiro olhou para mim do mesmo modo.

 - Continue olhando pra elas e você morre. - Não precisei olhar para Harry para ele entender que a mensagem era para ele. Os lábios avermelhados deram um sorriso de canto e os olhos esmeralda pararam para me olhar.

 - Ciúmes? - Adam perguntou se direcionando para o Harry.

 - Sem sombra de dúvidas. - Revirei os olhos enquanto ele beijava minha bochecha. Afastei-o desajeitadamente.

 - Harry! Minha família inteira esta aqui! – Seu leso, minha família tá aqui deixa disso!Sussurrei. Ele arqueou as sobrancelhas rindo.

 - Então a gente tem um relacionamento não oficializado? Sério Veronika? – Ele perguntou zombeteiro.

 Apenas lancei um olhar de tédio para ele e esfreguei minhas têmporas repetidamente. Ele riu de novo e prestou atenção em meus movimentos.

 - Não fica olhando pra mim não.

 - Decida-se Rapunzel. Eu não posso olhar para as meninas e nem pra você. Não posso brincar nem mexer com você. É pra fazer o que então?

 - Calar a boca! - Falei o fazendo rir. Quando ele finalmente ficou em silêncio a missa começou. O padre, os ministros e os coroinhas passavam por entre o corredor enquanto a música de entrada cantada pelo coro ecoava pela pequena capela.

 - Bom dia irmãos e irmãs. Bem vindos a nossa celebração eucarística. - O padre falou alegremente como sempre. - Já deram bom dia a quem está ao seu lado? - Para quem participava da missa todo domingo sabia que aquele era o "código" para cumprimentar as pessoas ao redor. Os típicos "bom dias" saíram variados das bocas das pessoas. Dei um aperto de mão em Harry e Adam, e cumprimentei meus tios e conhecidos sentados no banco da frente.

 A missa prosseguiu com as canções de perdão e louvor, músicas de arrependimento e de alegria. Uma oração silenciosa para cada cristão. Fechei meus olhos e cantei junto com o coro e as outras almas presentes, orando especificamente pelas pessoas que amava e pelas pessoas que precisavam daquela oração mais do que eu. Não escutei a voz de Harry inicialmente, mas percebi que ele apenas estava tentando aprender a música.

 - Por que você não está no coro? - Harry perguntou de repente me tirando dos meus devaneios.

 - É uma longa história. Eu conto depois. - Ele assentiu e voltou a tentar cantar a música.

 As vozes eram como ressonâncias batiam e voltavam nas janelas decoradas da igreja, como notas sendo soltas por suas gargantas e escutadas por todos. Apesar do significado profundo a letra era simples sem complicações. Para se ter uma noção  as vozes não eram bonitas nem acalmadoras, elas eram um clamor. Eu conseguia sentir as almas ao meu redor trêmulas e espantadas, carregadas do que o mundo havia vomitado sobre elas. Ele acabava conosco com coisas pequenas. Nas próprias famílias, na falta de aceitação, nos pecados. Estava tão próximo e se encontrava em todos os lugares imagináveis. Principalmente na própria igreja, por mais estranho que pareça. Podia sentir como Harry ao meu lado se sentia, como um enorme vazio, mesmo não demonstrando. Ali eu sentia as minhas próprias aflições, como o preconceito familiar e a frustração de nunca ter uma revelação sobre minha vida. A sensação era a de uma cachoeira caindo e caindo turbulenta, com a sensação de que nunca vai acabar e de repente... Acalma-se em paz em um simplório lago. Era como se estivesse carregando algo extremamente pesado sobre minhas costas, algo que chegasse doer e algo ou alguém, delicadamente retirasse esse fardo dos meus ombros. Era sempre assim. Podia encontrar certo acalmamento em músicas, livros ou em qualquer outra coisa, mas o que eu sentia quando estava ali era incomparável. Era um poder incrível que nunca seria decifrado. Não era a música cantada, não eram as vozes era algo invisível... Uma paz que transformava o nada em tudo. Um espírito amável e soberano. Isso... Essa paz inimaginável... Era Deus.


Por Harry.


A missa prosseguiu. Cada palavra dita parecia se encaixar na vida de cada um de uma forma diferente. Eu gostava de como "Ele irá te levantar cada vez mais para perto das nuvens" soava na música. Confesso que desde que eu havia chegado à fazenda me sentia confuso. Tentando lembrar quem eu era e ao mesmo tempo sentindo coisas que nunca havia sentido antes. Coisas boas, sentimentos que eu nunca teria sentido se não tivesse parado ali, mas ainda assim coisas que aconteciam rápido demais e me deixavam meio sem noção.

 Ali eu me sentia... Calmo. Em paz. Era como entender e ao mesmo tempo não entender. Era meio louco, mas bom. Não tinha explicação. Eu estava me entregando. Com medo, mas estava. Era um sentimento confuso de dizer, algo que se eu não tivesse provado naqueles momentos, nunca iria imaginar que existisse.

 As liturgias e o evangelho foram lidos e o padre pregou tudo de modo compreensível. Lembro-me de Lika dividindo sua bíblia comigo. Era tudo meio... Sei lá. Eu não consigo explicar era algo novo. Fora da minha realidade. As orações como "pai nosso" e o "credo" estavam incluídas, e mesmo não sabendo prestei atenção nelas assim como fazia com tudo. Acho que levar-me a igreja foi uma das melhores coisas que ela fizera por mim.



  Depois de a missa acabar, Lika e Adam me apresentaram para todos os parentes deles. Fiquei atordoado ao descobrir que pelo menos 50 por cento das pessoas na igreja fazia parte da família deles. Todos tinham aquele carisma acolhedor e cativo, sempre com um sorriso e com brincadeiras na ponta da língua. Entendia agora que o jeito hospitaleiro era uma característica dos Fox.

 - Rapunzel. Você não me disse por que não cantava no coral.

 - Eu disse que iria contar?

 - Foi.

 - Ah! - Ela murmurou simplesmente. Parecia esconder algum segredo oculto, o qual só ela soubesse. - Jack! – Veronika chamou por um homem. Ele virou o rosto para ela e sorriu. Deixei de lado a pergunta e a conversa que para ela era desconfortável. Observei o homem que ela se direcionara. Tinha os cabelos ruivos de um tom vermelho vivo. O sorriso privilegiado por três dentes de ouro na linha de frente da Arcádia dentária. Os olhos castanhos de um tom quase que avermelhado, a barba rala escondendo as leves rugas nas bochechas e nos cantos dos olhos. A pele pálida, as roupas velhas e simples, o corpo troncudo aparentando ter no máximo quarenta e cinco anos.

 - Ei Lika! - Ele chamou. Ela correu e deu um abraço apertado nele. Acompanhei-a com os olhos e esperei ela me apresentar para o homem.

 - Eu disse que ia sentir minha falta! - Ela falou.

 - E quem foi que disse que eu senti? - Ele perguntou desafiador.

 - Sua cara te denuncia Jack. - Veronika falou na maior calma. Ele estava a ponto de responder, quando apareci do lado dela.

 - Quem é o garoto?

 - Ah sim! Jack esse é o Harry.

 - Oi. - Cumprimentei.

 - E aí? - Ele falou quase gritando e apertando minha mão fortemente. Jack me lembrava alguém, alguém que eu não faço a mínima ideia de quem seja. De repente dois olhos azuis e futebol brotaram em minha mente. Não entendi, mas ignorei o pensamento. Ele manteve os olhos em Lika esperando uma explicação. - É novo por aqui?

 - Mais ou menos. - Respondi.

 - Harry tá passando uns tempos lá na fazenda, Jack.

 - Então ele é o visitante que todo mundo anda falando. - Ela soltou um sorriso.

 - Isso aí. - Confirmei.

 - Como o conheceu Lika?

 - Vai por mim. A história é meio complicada.

 - Conta que eu descomplico. - O jeito confortável que Jack falou, me fez ter confiança nele. Ele tinha uma simplicidade honesta.

 - Digamos... Que eu salvei o Harry. - Ela começou. Contou a história toda, e Jack não se assustou como a maioria dos parentes presentes. Ele manteve apenas o rosto calmo como se aquilo fosse puro cotidiano. Como se uma garota de dezessete anos salvasse todos os dias um cara todo ensanguentado e sem memória.

 - Caramba garoto.

 - Pois é. Vida difícil. - Falei.

 - Vocês não mandaram nenhum pedido de busca, nem chamaram a polícia?

 - Achamos melhor não fazermos alarde. Do jeito que o Harry estava, tivemos medo que a pessoa que fez isso com ele retornasse.

 - Mas vocês deveriam ter acionado a polícia, quem quer que tenha feito isso com você, Harry, merece pagar.

 - Não me preocupo com isso agora. A fazenda Piaget me acolheu e já foi transtorno demais. Eu não quero trazer mais confusão pra ninguém. - Jack assentiu.

 - Você é um bom garoto, mas deve imaginar que seus parentes ou seus conhecidos devem estar loucos. Ninguém some e não deixa rastros. Além do mais, se fizeram isso contigo podem fazer com algum dos nossos. Esse maníaco está solto por aí. - Entreolhei-me com Lika, ambos com um olhar do tipo “Não tínhamos pensado nisso”. - Eu vou falar com o delegado local, talvez ele tenha algum pedido de busca. Se você for da cidade pode haver algum retrato falado seu na delegacia. Acho que ele pode fazer algumas buscas na floresta.  – Lika soltou uma risada.

 - Eu duvido que ele vá procurar alguém na estrada de pedra Jack! Você sabe que o povo é supersticioso. - Ela falou.

 - Bom se ele não for eu vou. Pelo menos dar uma olhada. - Ele afirmou convicto. - Seu pai já está sabendo que o Harry está por aqui?

 - Meu pai nem sonha que o Harry existe. Mas acho que ainda hoje ele liga lá pra casa. Tenho certeza que alguém daqui vai ligar pra ele e falar do Harry.

 - É melhor preparar os ouvidos.

 - Eu deixo essa parte com a minha mãe.

 - Coitada da Lucy.

 - Eu não diria o mesmo. Ela está doida pra ter uma briga com ele. Quer apostar quanto?

 - Nossa... - Murmurei.

 - Eu tô mentindo Jack?

 - De maneira nenhuma! Na verdade toda vez que eles têm uma briga acaba em sexo. - Jack falou direto, me fazendo dar uma risada abrupta. Agora sei com quem Lika aprendeu a dizer as coisas sem pensar.

 - Espero que isso seja de família. - Falei. Observei o rosto da garota ao meu lado corar enquanto Jack erguia uma sobrancelha.

 - Eu perdi alguma coisa? - Jack perguntou intercalando os olhos ente nós dois com um sorriso malicioso.

 - Não Jack. - Lika falou.

 - Vocês tem uma relação forte, né? - Eu e a ela nos entreolhamos e assentimos.

 - É. - Falamos em uníssono.

  - Forte até demais. - Ele intercalou os olhos novamente. - Eu vou indo antes que Berryane me deixe aqui e eu tenha que ir a pé.

 - Manda um beijo pra tia Berry. A gente se vê Jack. - Lika deu um abraço em Jack e soltou-se com um sorriso.

 - Foi um prazer lhe conhecer Harry. - Jack apertou minha mão novamente e me puxou para um abraço.  Próximo o suficiente do meu ouvido ele sussurrou secretamente. - Cuida dela direitinho garoto. Se a machucar vai se ver comigo. - Ele deu alguns tapinhas em minhas costas.

 - Ok Jack. - Ele se afastou correndo em direção a uma senhora loira, baixinha e rechonchuda. Voltei a fitar Veronika.

 - O que foi que ele falou pra você? - Ela perguntou sorridente e me puxando de volta para a igreja. A maioria das pessoas já havia ido embora, deixando a entrada do local vazia e silenciosa.

 - Nada. O que acha que ele iria falar pra mim? - Levantei uma sobrancelha.

 - Não sei. Mas ele falou contigo que eu vi.

 - Sim e ele falou com você também.

 - Não é a mesma coisa. Você escutou o que ele falou pra mim.

 - E você também escutou o que ele conversou comigo. - Fiz uma cara tipo "dãhr?".

 - Não o segredo que ele te disse no ouvido.

 - Que segredo?

 - Não se faça de moco! - Ela reclamou.

 - Não estou.

 - Harry. - Ela levantou a voz em um tom ameaçador.

 - Lika - Falei quase no mesmo tom, porém mais alegre e inocente.

 - Sabe o que vou fazer contigo se não me disser, não sabe?

 - Provavelmente me bater, mas eu ainda tenho esperança de que seja algo menos agressivo. – Falei esperando que ela não se irritasse mais com a brincadeira.

 - Ei! Me esperem! - Gritou Adam de repente. Olhei de esguelha e percebi ele correr.

 - Bem na hora, cara! - Falei batendo em seu ombro enquanto ele ficava entre eu e Lika. Observei o semblante de Rapunzel modificar de cor, em um tom escarlate, mandando olhares de raiva para seu primo. Ele percebeu a onda de ódio mandada para si e ficou sem jeito.

 - O que eu fiz agora?

 - Me salvou. - Falei. Veronika revirou os olhos e nos puxou novamente para dentro da igreja. A reunião do grupo já iria começar. Adam não parava de falar sobre como as garotas Piaget estavam dando mole para ele.

 - Bom Dia vaqueira! – Uma garota loira puxou as tranças de Lika maldosamente. Ela pareceu ignorar e tentar prestar atenção no caminho, mas ficou visivelmente irritada. – Não cumprimenta mais não, careta?  

  No momento que ela puxou a respiração com os olhos fechados, como um touro bravo que viu vermelho, eu soube que aquilo não iria dar boa coisa. Ela virou-se lentamente e fitou a garota.

  - Qual é a sua, Violet?

  - Olha! Ela fala. – A garota disse. Lika cerrou os olhos.

  - Violet... É bom que você tenha um bom motivo pra ter me irritado. – Ela falou calma e ameaçadora.

  - Qual é? Onde está o “E aí, Violet? Tudo bem com você?”? – A loira perguntou.

  - Deixei em casa. – Lika respondeu.

  - Por que não deixou a ignorância também? Estaria fazendo um bem pra sociedade.

  - Por que você não larga de ser vadia e me deixa em paz. Assim eu não mostro minha ignorância e nós duas fazemos um bem pra sociedade.

 - Estamos na igreja, se não se incomoda com os termos, pelo menos tenha respeito por Deus. Srta. Grossa. - A garota falou aparentemente ofendida.

 - Olha, pode ter certeza que Deus vai me perdoar se eu lhe der só uns dois tapas. – Uma garota morena de pele clara, aproximou-se quando Lika se preparou para avançar em Violet.

 - Ei, ei, ei! Vamos acalmar os nervos. – Os olhos dela, pareciam dois faróis azuis, ela mal piscava. – Ok? Respira amiga, não vale a pena, você sabe disso.

 - Ah vale. Pode ter certeza que vale Bianca.

 - Não vale sujar o nome com essa daí.

 - Olha só! A outra careta veio ajudar. Que coisa linda. Awn. – Violet atiçou. Foi fácil de escutar o grunhido que Lika soltou.

- Violet menos. – Outro garoto se juntou à situação carregando uma caixa de som até o altar. O eco de sua voz se espalhou pela igreja facilmente quando todos ficaram em silêncio para ouvi-lo. Ele tinha um sotaque escocês forte o que explicava bem os cabelos ruivos fogo e as sardas. – Para de perturbar a menina, hoje não era seu dia de lavar o banheiro?

 - Não se mete Mac. – Violet reclamou.

 - É melhor ir. O Jason já deve estar te esperando pra vocês... Aprontarem, o que vocês costumam aprontar dia de domingo. – Mac disse em um tom que evidenciava bem o que ele queria dizer. Violet ficou pálida e Bianca tentou reprimir pequenos risos.

 - C-como você...

 - Ah fala sério! Vocês precisaram ser silenciosos, se não fosse às reuniões todo mundo já teria descoberto sobre o caso de vocês. Agora capa o gato daqui antes que eu decida contar a história toda pra sua avó. – Mac falava em uma calamidade tão intensa que era estranho ver a garota loira começar a ficar apavorada e sair apressadamente pelo mesmo lugar que veio.

 - Cuidado que eu te pego na esquina otária! – Lika gritou. Violet nem virou mais o rosto. Bianca liberou a risada que prendia.

 - Mac é osso, eu querendo ver barraco ele vai lá e apaga o fogo. – Adam reclamou.

 - Cala a boca Adam. – O ruivo falou sem deixar de cumprimentá-lo com um toque de mãos. Esforcei-me pra ver o que ele tanto mexia no altar e percebi serem equipamentos de som.

 - Já conhece o Harry? – Adam perguntou altamente.

 - Já ouvi falar nele, e aí cara? – Ele disse de onde estava. - Sou Mac e aquela é a Bianca.

 - Oi! - A garota de cabelos e olhos castanhos enquanto se dirigia ao altar junto a Lika. Ela sorriu. Tinha um rosto angelical, do tipo infantil e uma voz gostosa de ouvir.

 - Tá tudo bem. Sou Harry, prazer.

 - A gente sabe. Quer dizer... - Mac deu uma risada curta. - Todo mundo sabe. Você meio que virou um famoso por aqui. Bem vindo a nossa paróquia e ao nosso grupo de oração.

 - Hum... Valeu. Você disse famoso? – Sentei-me na ponta do altar enquanto eles mexiam no equipamento sonoro.

 - É... As fofoqueiras de plantão ajudam a espalhar a história.

 - Caramba. Tá assim já?

 - Você não sabe nem a metade, amigo. Eu juro que esperava o Frankenstein. - Soltei uma risada.

 - Não fala mal do Frank Mac. - Lika disse.

 - Obrigada pela parte que me toca, Srta. Rapunzel.

 - Rapunzel? – Ele perguntou fitando Lika. – Gostei dessa. - Mac falou rindo.

 - Ótimo, agora o apelido vai pegar. - Ela falou tediosa.

 - Vai mesmo! - Bianca falou rindo.

 - Ai! - Lika gritou de repente. - Porcaria de fio solto.

 - O que houve? - Perguntei um pouco preocupado.

 - Nada. – Ela disse.

 - Sério eu desisto dessa droga de equipamento. - Bianca falou chateada.

 - Posso ver? - Perguntei.

 - À vontade. - Bianca falou. Subi no altar e comecei a examinar o material. - Eu duvido que você consiga alguma coisa, esse troço tem mais de dez anos e só uma pessoa com experiência musical poderia arrumar essa coisa, ou isso ou um mila... - Bianca parou de falar quando peguei o microfone.

 - Ei, Ei. Som, oi, som. Ei. - O som da minha voz soou pela caixa.

 - Gre. - Bianca terminou de boca aberta.

 - Prazer, me chamo milagre. - Falei no microfone.

 - Como você fez isso? - Ela perguntou rindo.

 - Eu não sei. Eu só fiz.

 - Não é possível! Eu mexo nessa coisa desde que tinha doze anos, e ela nunca pegou tão rápido! O que você fez? Sério! Eu tenho que aprender! - Soltei uma risada.

 - Só conectei os fios. Só isso. - Bati na caixa levemente.

 - Tá, mas como você sabe disso? - Levantei meus ombros.

 - Eu não sei. - Sorri. Bianca me olhava como se eu fosse um E.T. Literalmente.

 - Bia, não tenta entender. Essa frase é a única explicação que você vai ter, vai por mim. – Disse Lika.



 Mais ou menos uma hora depois a igreja estava cheia novamente, mas por adolescentes. Todos eles empolgados com algo. Enquanto eu conversava animado com Mac e Adam. Mac era gente boa, ele apontava discretamente pra cada garota que era e não boa de se envolver. Do tipo... Uma tal de Jéssica Sheldon era linda, perfeita de corpo britanicamente falando, mas burra ou melhor dizendo nas palavras de Mac com "silicone na cabeça". Por mais engraçado que pareça Lika foi à única garota de quem ele não falou, posso imaginar o porquê.

 - Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos. Quem pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura do céu, a extensão da terra, a profundidade do abismo? Quem pode penetrar a sabedoria divina, anterior a tudo? A sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos! O verbo de Deus nos céus é fonte de sabedoria, seus caminhos são os mandamentos eternos. A quem foi revelada a raiz da sabedoria? Quem pode discernir os seus artifícios? A quem foi mostrada e revelada à ciência da sabedoria? Quem pode compreender a multiplicidade de seus caminhos? Somente o Altíssimo, criador onipotente, rei poderoso e infinitamente temível, Deus dominador, sentado no seu trono; Eclesiástico capítulo 1, versículo 1 a 8.  - Bianca estava aos pés do altar, lendo a bíblia e com o microfone na mão. Eu já tinha orado, cantado e abraçado todo mundo. Tinha conhecido todas as pessoas presentes e não tinha decorado nem metade dos nomes. A reunião começou quando Bianca pegou o microfone e reuniu todos nós em um círculo. Mac havia saído do seu lugar e estava com um violão sentado ao lado de Bianca dedilhando algumas notas. Lika estava comigo e uma cadeira depois estava Adam.

 - Alguém tem algo a dizer sobre a palavra de hoje? - Bianca perguntou. - Hein? - Todos continuaram quietos, apenas com as notas de Mac ao fundo. - Calma dá pra todo mundo falar! - Bianca brincou ao perceber que ninguém comentou nada. Todos soltaram uma risada. - É sério gente. Vocês sabem que se eu começar a falar eu não paro. - Silêncio absoluto. - Ninguém? - Continuação do silêncio. - Ah não! Vou obrigar a vocês falarem. Não é possível... Ninguém?

 - Fala Lika. - Alguma garota pediu.

 - Eu?! Eu tô dando a oportunidade pra vocês falarem. Eu sou a metralhadora do grupo. Depois da Bia é claro. 

 - Não tem graça. - Bianca respondeu. - Gente! Vocês não vão falar nada?

 - Bia para de enrolar e vai logo. – Veronika falou rindo.

 - Ok. Então... Eu vou voltar pro meu plano inicial que eu ignorei no começo. O que é sabedoria? Se vocês não responderem eu vou embora. - Silêncio total de novo.

 - Eu acho que... - Comecei. - É ser inteligente. Acho que sabedoria é ser sábio e ser sábio é fazer a escolha certa. - Falei um pouco inseguro.

 - Obrigada Harry. Viram? O novato falou. Tá melhor que vocês. - Ela reclamou. - Mais alguém? - Silêncio de novo. - Eu acho que não. Estou decepcionada. - Ela disse fazendo uma cara triste obviamente ensaiada. Todo mundo ri de novo. - Certo, o Harry falou algo interessante. "Ser sábio é fazer a escolha certa". Vocês já sentiram que tinham uma decisão muito complicada pra se fazer, e passaram anos luz pra conseguir fazer uma escolha? Aquele tipo de decisão que se fizer a escolha errada, pra você, o mundo acaba? Acredito que a maioria das pessoas presentes aqui já sentiram isso. Então eu pergunto de novo... O que nós cristãos, ou... Pessoas que creem em Deus fazemos? - Ela esperou a resposta, e umas cinco pessoas responderam de uma vez.

 - Oramos. 

 - Exatamente - Respondeu Bianca. - Nós conversamos com Deus, procurando ajuda. Aí vocês me perguntam. "O que tudo isso tem haver com o tema de hoje?". - Ela juntou as pernas e colocou a cabeça no alto dos joelhos. - Quando estamos na presença dele, em comunhão nos tornando um e íntimos o bastante para poder mostrar tudo o que precisamos nós pedimos sabedoria. - Ela sorriu levemente, como uma criança sonhadora. - Quando eu era pequena eu vivia pensando... Como ele consegue entender todos nós, se eu não consigo entender nem a mim mesma? Até hoje eu me pergunto. Só então eu percebi que é como a bíblia diz "Quem pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura do céu, a extensão da terra, a profundidade do abismo?" O Espírito Santo é o único que pode fazer isso, por que ele sabe de tudo. Cada segredo, mágoa e sofrimento que passamos Deus conhece, afinal foi ele quem criou tudo. Cada vida e cada história, cada sorriso e piscar de olhos, foi ele quem planejou. Nós temos somente uma ilusória capacidade de imaginar que escolhemos nossos próprios destinos – Eu não sabia o que estava acontecendo, mas de repente era como se Bianca estivesse falando somente comigo. Acho que aquele era um sentimento comum para todos que entrassem na igreja. - E aí vêm as dúvidas... Se ele conhece tanto o mundo, por que ele permite que passemos por tudo isso? Se ele sabe que eu vou passar por provação e ele é meu tão amado pai por que ele não impede? - Silêncio. - Jesus veio para terra, foi humilhado e carregou sua própria cruz. Apenas três dias depois de sua humilhação ele foi elevado para o seu trono. Eu odeio quando as pessoas dizem que se seguirem Deus a vida não vai ter mais sofrimento. Isso é impossível, ele próprio fala "Pegue tua cruz e siga-me". Todos nós temos um fardo que nunca será curado. É o ciclo. Não se pode valorizar um sentimento se você não batalhou por ele. Se você esta passando por alguma complicação, quando tiver sua recompensa ela vai valer muito mais para você do que valeria se você tivesse ganhado ela rapidamente. - Um arrepio desceu pela minha espinha e sem querer deixei um tremor passar através de minha mão. Segundos depois observei a pequena mão de Rapunzel segurar a minha como um auxílio. Elevei meu rosto para fita-lá e ela soltou um sorriso delicado. - Aquilo que não te mata te deixa mais forte. Deus está conosco 24 horas por dia, não importa o que aconteça ele sempre estará conosco. Detalhe... Ele só vem se deixarmos. É necessário que nos entreguemos nele. Que nos derramemos em seu amor, deixar de lado medos e inseguranças e deixar nas mãos dele. Se você quiser isso é claro. Deus irá resolver tudo aquilo que nos impede de ser feliz, basta acreditar nele. - Ela calou-se por alguns segundos e se levantou. - Eu queria agora... Que vocês fizessem trios. Escolham três pessoas, rápido. 

 Em questão de segundos percebi Adam e Veronika se juntando... E me levando junto com eles. Levantamos-nos e fizemos um pequeno círculo assim como as pessoas presentes.

 - Em cada grupo um se ajoelha. - Nós nos entreolhamos e Adam foi o primeiro a se ajoelhar. Lika levantou a mão e com o dedão da mão direita fez o sinal da cruz na desta larga do garoto. Virei minha cabeça para o lado e vi que todos estavam do mesmo jeito que nós. - Nesse momento, vamos levantar nossas vozes não por nós, mas por nossos irmãos. - As vozes começaram a ecoar pela igreja mais uma vez. - Vamos levantar um clamor somente por um irmão. Iremos chamar nosso Deus e pedir que ele entre na vida dessa pessoa, que ele se torna a prioridade e necessidade desse amigo. Para que então ele tenha um pouco de paz.

  Lika começou a falar. Simplesmente fechou os olhos e colocou a mão na cabeça de Adam e orou altamente por ele. Eu estava atordoado não sabia muito bem o que fazer.

 - Rapunzel? O que eu faço? - Sussurrei. Ela abriu os olhos e fitou-me enquanto Bianca falava no microfone.

 - Coloque a mão na cabeça do Adam e simplesmente peça por ele. Ore.

 - Mas eu não sei orar. - Sussurrei desesperado.  - Eu não consigo.

 - Se entregue, Harry. Deixe que Deus te use de instrumento de cura. As palavras vão vir. - Ela falou convicta e calma. - Feche os olhos. - Ela pediu e eu fiz. - Você tem o sentimento que precisa pra se conectar com ele. - Ela sussurrou. - Agora Ore. - Ela colocou a mão sobre a minha e voltou a orar.

 As palavras desconexas das pessoas me desconcentravam, mas a mão acalentadora dela me acalmou. Um gesto pequeno despercebido pra qualquer um. Porém, um gesto de amor. De instrução. Aquilo me fez tentar. Fez-me querer ter a primeira conversa com Deus. Tirei a tensão dos meus ombros e pedi por Adam. 

 - Deus... Eu não sei onde estive ou o que fiz ultimamente, mas você me trouxe aqui. Ajude-me, por favor. - Sussurrei. Aos poucos as palavras jorraram em minha boca. Mais uma vez o meu eu sentimental apareceu e não era mais "eu" que me controlava. Rapunzel estava certa, eu tinha o sentimento necessário para me conectar com ele. Tinha o sentimento que precisava para pedir pelos outros. De repente eu não me sentia mais uma pessoa egoísta e mesmo sendo um nada, eu me senti alguém. Alguém com significado, alguém importante.

 Minhas palavras não eram mais sussurros elas eram altas. Não importava se elas tinham sentido. Eu me questionava se aquilo era para Adam ou para mim, pois apesar da minha voz pedir por ele eu me sentia melhor. Eu não entendia o porquê. As vozes ao redor começaram a se embolar, e se eu já não entedia praticamente nada antes, agora eu nem imaginava em que língua eles falavam. Era tudo muito embolado e TODOS oravam assim. Como uma canção. Não sei a causa, mas eu também estava orando naquela linguagem. Algo puro e simples se alojava dentro daquilo. Daquela emoção. Minha cabeça mandava milhares de mensagem para o meu corpo, e eu me vi arrepiado. Havia pessoas chorando ao meu redor eu podia escutar.

 De repente Adam tombou o corpo. Abri meus olhos rapidamente e segurei-o. Olhei desesperado para Lika esperando alguma reação compatível com a minha. Mas ela só ajeitou o corpo dele no chão. 

 - Ele desmaiou! - Falei. - Temos que chamar uma ambulância...!

 - Shhh! Quieto Harry. É a cura dele. 

 - Ele está bem?

 - Está mais que bem. - Ela sorriu. - Ajoelha. É sua vez. – Ajoelhei-me relutantemente de frente para ela ainda de olhos abertos e preocupado com Adam. Ela fez o mesmo procedimento que fez com Adam, e começou a orar. Tentei me concentrar na carga de oração que ela mandava para mim e sinceramente minhas pernas começaram a bambear. 

 Só havia um problema... Eu tinha medo. Medo do que aconteceria comigo quando fechasse meus olhos e repousasse. Medo do desconhecido. Eu não sabia o que iria acontecer. Eu tinha medo de me descobrir, de descobrir a verdade escondida dentro de minha mente e mesmo as ondas de emoção passando por meu corpo eu resisti. Não me entreguei e não me deixei ir pelo momento. Foi quando ela se ajoelhou diante de mim, e ainda rezando sussurrou em meu ouvido.

 - Se entregue, Harry. Deus vai te curar, vai dar tudo certo. - Ela falou calmamente. - Não resista. - Foram as últimas palavras que ouvi antes de repousar.

 

 

Por Lika.

 

 

 Fechei os olhos e absorvi o cheiro de relva e de orvalho. Eu gostava do cheiro do campo, principalmente depois de uma chuva de verão. Peguei o violão branco e tentei dedilhar as notas que estavam em minha mente. Depois de tentar mais uma vez revirei os olhos, e coloquei o violão de lado deitando-me no pasto com flores. Observei as nuvens procurando alguma inspiração para continuar a música. O som dos passarinhos monótono e delicado, o burburinho da cachoeira ao longe. Aquele lugar era gostoso de ficar. Com certeza o melhor depois da biblioteca.

  Concentrei-me na natureza e voltei a tentar tocar o violão até perceber um som de cascos próximo a clareira do meu esconderijo. Todos haviam ido para cachoeira passar o resto do domingo jogando bola, fazendo piquenique e tomando banho. Mas, como eu não sou todo mundo, dei uma escapulida e fugi para o meu paraíso escondido tentando compor uma música nova. O som dos cascos parou trocando de lugar com o som de passos.

 - Sabia que ia estar por aqui! - Harry falou.

 - Ei Harry! - Cumprimentei. Ele parou acima da sua cabeça interrompendo a luz do sol. - Senta aí. - Convidei. Ele se sentou e observou meu rosto enquanto terminava de tocar o que havia escrito. 

 - Música nova? - Ele perguntou. 

 - Hum rum. – Confirmei balançando a cabeça. Ele riu e me deu um selinho. - Por que não ficou com tudo mundo? Deve estar bem animado por lá. - Perguntei

 - Até que estava. Mas fiquei com saudade – Revirei os olhos.

 - Você esta ficando grudento. – Sorrimos com o comentário.

 - Quer que eu vá embora Rapunzel?

 - Não. Agora fica aqui. – Beijei sua bochecha como confirmação.

 - O Mac tá apostando dinheiro, quem ganhar dele no futebol fica com setenta libras. - Ele falou.

 - Ele só faz isso porque não estou lá, ele sabe que se estivesse ganharia dos meninos. – Falei. Ficamos calados por um instante enquanto eu dedilhava as notas do violão da tal música.

 - É sobre o que? - Ele perguntou se direcionando o violão.

 - Ainda não sei... Quer dizer eu sei, mas...

 - Explique-se, Rapunzel.

 - É que... Eu já tinha ouvido ela, em algum sonho ou lembrança eu não sei. Quando eu repousei hoje, na igreja, a imagem que eu vi... Foi essa lembrança. A de um quarto, bem claro e eu sendo um bebê deitada em um berço no centro dele. Tinha uma caixinha de música tocando ao fundo. É essa a música que eu tô tentando compor. Entendeu? É meio doido, por que... Sei lá é meio estranho ver isso em um repouso. – Falei observando as nuvens. Harry passou a ponta dos dedos por meu rosto deixando-o quente como lava. Virei-me para ele.

 - Você pode me explicar o que era aquela... Coisa que a gente cantava todo embolado? – Ele perguntou confuso. Eu ri.

 - Era a língua dos anjos, uma forma de oração. É quando não conseguimos expressar mais nada em palavras. Pelo menos é isso que o catolicismo prega.

 - Eu vi algo diferente também no repouso. - Ele falou e deu um sorriso curto.

 - Sou toda ouvidos.

 - Eu vi... Deus. Quero dizer, não ele de verdade, mas algo que o representava. Eu estava no campo da fazenda, caminhando quase perdido e era tudo muito bonito. A grama bem cortada, o céu azul. Parecia à fazenda Pé de Serra, mas era muito mais... Intensa. No fim eu o encontrei. Uma luz clara, falando comigo. Dizendo-me que estava o tempo todo ao meu lado e que tudo o que estou passando não era em vão. Eu achei que ele iria me mostrar algo sobre o meu passado, mas ele simplesmente falou que havia me dado um presente. - Ele pegou uma pequena flor arroxeada e colocou no meu cabelo. Todos os pelos do meu corpo estavam arrepiados com as palavras de Harry eu estava embasbacada.

 - Então você sentiu Deus? - Questionei.

 - Sim.

 - Caramba... – Eu não tinha nada a declarar. – Que incrível. - Ele continuou olhando meu rosto e deu um sorriso.

 - É eu sei. - Ele tirou a atenção de mim e observou o céu. - Ei! Você não me contou!

 - Não contei o que?

 - Por que não canta no coral. – Arfei ligeiramente.

 - Ah isso. – Hesitei. - Não é um assunto muito confortável.

 - Bem... Talvez você precise desabafar pra poder se tornar um assunto confortável.

 - Não Harry. Esse assunto nunca vai ser simples. – Comentei.

 - Se não quer dizer, tudo bem. - Ele disse.

 - Não... Tá ok. – Dei um sorriso triste para não deixa-lo pensando que ele havia me magoado por iniciar aquela conversa. - Acho que é bom eu contar isso pra você. - Suspirei e continuei. - Eu era do coral, sempre amei cantar e ano passado eu entrei pra o grupo. A Violet comandava e bom... Pelo que você viu hoje, a gente não se dá muito bem.

 - É eu percebi umas faíscas.

 - Então. Estava tudo ótimo, no grupo e tal. Só que tinha um ritual pra entrar nele, e... Eu teria que ficar com algum garoto, entende? Eu estava fissurada pra continuar naquele... Acho que posso dizer culto... Que fiz, mas eu não vi a burrada em que eu estava me metendo. Deu um rolo básico, porque eu só dei um selinho no garoto e... Eu tinha que fazer muito mais do que isso. As garotas que participavam do coral me tiraram do grupo e começaram a me zoar. De uma forma pesada, entende? Colocaram minha família no meio daquilo e elas comentavam sobre as rédeas curtas que os meus pais tem comigo. Você sabe como é. Enfim... Foi quando Mac e Bianca chegaram aqui. Mac é filho do Keith e Bianca é filha da Claudia, os pais deles são casados o que os torna meios-irmãos. Eles criaram o grupo de oração, eu entrei, virei grande amiga deles e por serem “populares” pela vila as garotas me deixaram em paz.

 - Então... Foi por isso que você beijou o Noah? - Harry perguntou. - Foi por isso que você não quis ficar com ninguém além dele? - Assenti.

 - Até o momento que eu encontrei você na estrada de pedra – Sorri envergonhada descontando a timidez em minhas mãos. Enquanto eu as torcia Harry as tomou e beijou devagar dedo por dedo de cada uma acelerando meu coração.

 - Elas não são melhores do que você em nada Rapunzel, não tinham o direito de fazer isso. – Ele terminou beijando a palma de cada uma das minhas mãos me fazendo sorrir.

 - Obrigada. – Beijei-lhe os lábios com carinho.

 - Sabe de uma... Eu tô com fome. – Ele comentou do nada.

 - Deveria ter comido no piquenique, aqui não tem comida.

 - Pensei que tivesse construído um forte Lika. Fortes precisam de comida, já imaginou se passasse um furacão, só tivesse esse lugar como refúgio e não tem comida? – Nós dois rimos.

 - Imaginação fértil a sua. - Falei. - Ok, amanhã vamos mandar o Adam ir pra vila pra ele comprar barrinhas de cereal, satisfeito?

 - Temos que trazer toalhas, cobertores e água também.

 - Larga de lerdice. – Falei rindo. - Vem levanta daí, quero apostar dinheiro com os meninos.

 - Fazer o que?

 - Apostar dinheiro! Tenho certeza que vou ganhar deles no futebol! - Mostrei a língua pegando o violão e correndo para o forte. Harry riu e me seguiu.

 No fim só sobrou três golaços para o meu time, uma queda (necessariamente do Adam), uma discussão, um maço de dinheiro no valor de setenta e cinco libras no bolso do Harry (É... Eu não ganhei), cinco olhares raivosos na direção dele, outra discussão, dois pedaços de torta de morango, mais discussão, música, fogueira e uma lembrança de uma tarde de verão.


Notas Finais


E então? Gostaram? O que acharam do assunto que comentei nas notas iniciais? Ficou muito chato? Repetitivo? Esperando os comentários amáveis de vocês. Beijos.
https://twitter.com/CookiesDoLouis
http://ask.fm/GiuBlue
'Xoxo Giu Blue


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