Acordei no meu sofá, toda quebrada. Parecia ter levado uma surra, como se a ministra tivesse me chicoteado, e não o contrário. O despertador do celular estava tocando freneticamente. Peguei-o e abri a agenda virtual. Tinha duas clientes marcadas dali à uma hora. Estava toda dolorida, suada e morrendo de fome. Odiava dormir no sofá. Isso era cada vez mais comum nos últimos meses, pois estava trabalhando demais.
Tudo por uma boa causa: precisava juntar dinheiro para o meu estúdio.
Por mais que eu goste do que faço, admito que já estou de saco cheio dessa vida. Preciso me dedicar a uma coisa mais calma e ao mesmo tempo interessante. Adoro fotografias, desde pequena. Deve ser por isso que virei modelo aos dezessete anos, sem pestanejar. Vivi por muito tempo diante das câmeras, mas minha vontade profunda sempre foi estar por trás delas. Fiz um curso há alguns anos, como hobby, e simplesmente me apaixonei. Prometi a mim mesma que iria montar um estúdio fotográfico e desde então venho juntando uma boa grana.
Quero tudo completo, organizado e planejado, de modo que possa continuar vivendo bem com a nova carreira. Não quero diminuir os padrões da minha vida, pois estou acostumada a não me preocupar com dinheiro.
Infelizmente meus planos tiveram que se atrasar um pouco por causa da Amanda, uma ex namorada – ou sei lá o que éramos – que tive há quatro anos. Gostava de sua companhia, apesar de não saber dizer se gostava dela. Havia a conhecido na festa de um colega, numa boate bem agitada. Saímos, jantamos juntos, transamos... Depois de um mês, ela colocou na cabeça que queria me namorar.
Bom, eu tentei.
Estava disposta a engrenar em um relacionamento sério, mas precisava do meu estúdio pronto. Infelizmente ela descobriu o que eu era antes que pudesse concluí-lo, nem me pergunte como. Só sei que Amanda teve tanto ódio que simplesmente colocou fogo no estúdio que eu estava montando. Sei disso porque ela mesma me disse, com todas as letras, antes de ir embora e nunca mais aparecer de novo.
O que eu fiz? Nada.
Fiquei tão desanimada e triste comigo mesma que simplesmente tratei de esquecer essa história. Continuei trabalhando duro, mas apenas para me manter ocupada. Desisti de montar o estúdio, havia perdido o resultado de um trabalho que necessitou de anos de planejamento.
Tinha tudo de que precisava anotado em um caderno, mas decidi guardá-lo e deixar para lá. Minha irmã Larissa soube do acontecido e, como a única pessoa capaz de me fazer refletir e mudar de opinião – posso ser bastante cabeça dura quando quero –, tentou me convencer a continuar juntando dinheiro. Admito que menti inúmeras vezes para ela, dizendo-lhe que estava economizando. Tudo balela. Gastei meu dinheiro todo muito rapidamente: adquiri uma BMW, troquei de apartamento, reformei tudo umas duas vezes até ficar satisfeita, comprei os melhores produtos, móveis, enfim... Saí rodeando a mim mesma de coisas caras.
Resultado: tive que começar do zero.
Aprendi da pior forma possível que não adianta fugir de um sonho. Ele sempre vai existir, e vou ficar me sentindo um pedacinho de lixo enquanto não fizer nada que me dê esperança, nem que seja um pouquinho. É diferente fazer as coisas com alguma expectativa, a sensação de que a situação pode mudar. Difícil mesmo é viver dia após dia sem rumo, sem um direcionamento. Considero o sonho da construção do meu estúdio um caminho a ser seguido quando todos os outros me sufocarem de modo insuportável. A ideia me faz bem, por isso decidi parar de enganar a minha irmã – e a mim mesma.
Tomei um banho quente. Devia ter desmarcado aquele compromisso, afinal, precisava estar descansada para o fim de semana. O problema era que aquele encontro era imperdível. Jamais desmarquei nenhum horário com as gêmeas. Sim, pasme, ia me encontrar com duas garotas que eram irmãs gêmeas idênticas. Apesar de lindas e bem-humoradas, ambas possuíam um gosto incomum. Elas têm verdadeiro prazer em fazer sexo a três, mais conhecido como ménage à trois. Incrivelmente elas não se tocavam; ainda bem, pois seria muito estranho se o fizessem – seria a mesma coisa se eu dissesse que era fissurado em transar com a minha irmã, o que é ridículo, gosto nem de pensar nisso. Morro de ciúmes da Larissa.
Bom, o fato é que, apesar de não fazerem sexo entre si, as meninas adoram abusar de mim como se eu fosse um brinquedinho compartilhado. Nem reclamo. Na verdade, cobro o valor mínimo por esse joguinho.
Comi qualquer coisa que estava na geladeira, vestindo uma roupa mais esportiva; tênis, jeans escuro e uma camisa branca. Elas gostavam de simplicidade. Para ser sincera, arrancariam aquilo em um segundo. Meu braço ainda doía – maldita ministra! –, e a cabeça girava um pouco. Acabei tomando um Tylenol e partindo para mais uma aventura.
Depois da sessão ménage, como sempre maravilhosa, decidi voltar para casa e organizar as minhas coisas. Liguei para a Flavia, e ela me informou que deveríamos partir às três da tarde. Viajaríamos rumo a uma casa de praia especialmente arquitetada. Lá receberíamos um grupo de seis garotas, que estariam comemorando uma despedida de solteira. Seguiríamos em uma van, que também fazia parte do empreendimento, portanto marcamos de nos encontrar na casa do Matt, outro colega nosso.
As gêmeas tinham acabado com a minha raça. Estava tão cansada que decidi dormir o máximo que pudesse, tomando o cuidado de deixar meu despertador no volume mais elevado.
Não podia me dar o luxo de perder aquela despedida.
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