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História Canned milk - 8


Escrita por: MarinaJauregui

Notas do Autor


Havana Oh na na

Capítulo 8 - 8


Marley convidou as garotas a irem para a sala, dizendo-lhes que uma surpresa especial às aguardava. A música parou de ser tocada, e me juntei aos meninos, e Flavia, perto das gaiolas. Eles estavam ansiosos, mas não demonstravam. Procurei fazer o mesmo, fingindo normalidade. De fato, tudo aquilo era normal. Não devia estar nervosa com algo tão idiota. Todos ali eram adultos, sabiam se cuidar. Nenhuma cliente era obrigada a fazer nada, portanto minha preocupação era infundada e, por que não dizer, tola. Marley saiu pela porta de vidro, fechando-a atrás de si. Seu velho sorriso sempre o acompanhava, seja qual fosse à situação.

– E então? – foi Pedro quem decidiu perguntar.

– Ficaram bem surpresas – ele disse, aproximando-se um pouco mais. – Clara pediu um minuto a sós com elas. A coitada ficou branca como um papel. – Gargalhou. Os caras o acompanharam, mas não achei graça.

Qualquer pessoa comum ficaria chocada com a situação. Quem não era acostumado àquele tipo de coisa certamente acharia tudo um absurdo. Eu me decepcionaria muito se Clara tivesse agido com naturalidade mediante à proposta do grupo. Não quero dar uma de santinha e nem ser hipócrita a ponto de dizer que prezo por pessoas recatadas, afinal, minha vida é feita de luxúria. Gosto de liberdade sexual e acredito que todo mundo precisa dela para se sentir bem consigo mesmo. É questão de autoestima e autoconhecimento.

No entanto, existe um “quê” de mistério enraizado em mulheres inocentes. Curto a inocência, é uma coisa que me atrai, talvez por ser algo que não possuo há muito tempo. Tudo bem, sei que sou um poço de contradições, visto que na hora do sexo jamais diferenciaria uma gostosa libertina de uma virgenzinha pura. Para mim, são todas iguais. Meu tratamento é exatamente o mesmo, em ambos os casos dou o meu melhor. No fim, não importa muito o que me atrai ou a minha opinião sobre a inocência. Tente me compreender; eu sou obrigada a transar do mesmo modo. Meu desejo está à venda para quem quiser comprar.

Os garotos conversavam sobre coisas que sequer chegavam a ser processadas pelo meu cérebro. Estava absorta e muito concentrada, por isso vi o exato momento em que Clara abriu a porta de vidro. Ela parecia desconcertada. Sua pele estava levemente rosada nas bochechas.

– Marley, pode fazer o que deve ser feito – disse com a voz vacilante. Depois, tornou a entrar na sala de estar.

– Vamos lá, meninos. Boa sorte! – Marley falou, e o acompanhamos para dentro da casa.

A sala estava bem iluminada, pude ver perfeitamente os rostos das meninas. Elas estavam sentadas no sofá preto de couro, silenciosas. Ficaram nos observando de cima a baixo, um por um. Permanecemos de pé, formando uma fila horizontal, expondo nossos corpos como se fossem produtos num supermercado. É isso aí. Meu corpo é um produto; faço a propaganda, o controle de qualidade e vendo para a cliente que pagar mais. Pode parecer chocante colocar as coisas desse jeito. Bom, pode ser, mas esta sou eu. Não adianta ficar me mascarando, aprendi a assumir o que sou.

 

Clara estava olhando para o chão, admirando algum ponto inexistente do piso de azulejos brancos. Parecia nervosa, assustada... Balançava a cabeça de leve, quase imperceptivelmente. Talvez estivesse travando alguma batalha interna. Daria tudo para ler seus pensamentos. Os rapazes e Flavia permaneceram calados, muito quietos e sérios, assim como eu.

– Clara, querida, é só escolher. Irei apresentá-los agora. Este você já conhece, é o Matt – disse Marley, apontando para o meu colega. Matt sorriu, mas Clara o encarou com um olhar sério e rígido. Reparei melhor nos seus olhos; amendoados, continham um brilho intenso, provavelmente resultado do reflexo fornecido pelas lâmpadas acesas.

– Este é o Chris. – Marley continuou a apresentação. Clara desviou o olhar para ele. Prendeu os lábios de leve, e seu rosto inteiro ficou vermelho. Uma reação meio óbvia para mim, pois a recebo o tempo todo; ela tinha gostado do Chris. Ele era belo, claro, não posso negar. Também não posso negar que senti um gosto amargo na boca. Fiquei com medo. Sim, medo. Acredita? Que bom, porque eu não acreditei.

– Esta é a Flavia.

Aquela mulher misteriosa guiou seus olhos na direção da minha parceira de pirofagia. Pensei em não ver suas reações, pois não ia gostar muito se escolhesse Flavia. Sabia que ela era uma das mais atraentes ali, principalmente por ser mulher, mas, por incrível que pareça, Clara não corou ou prendeu os lábios. Nem fez mais nada além de encarar os olhos castanhos da minha amiga com um pouco de desinteresse. Bom, não apenas os olhos. Poderia pensar que estivera enganada, Clara não era a outra garota que gostava de meninas, ou vai ver sacou tanto quanto eu que Lucy e Flavia já haviam se dado bem e não queria furar o olho da amiga, mas então percebi quando ela inclinou o rosto e deu uma bela sacada no corpo de Flavia. Ou ela gostava de garotas, mas não gostara especificamente de Flavia pra escolhê-la ou algo assim, ou ela soube hoje que gostava de garotas e então poderia negar esse desejo e não me escolher, o que me deixava aterrorizada, mas nas duas opções ela gostava de garotas. Notei o modo como ela dançou comigo, o modo como observou o corpo de Flavia. No mínimo bissexual, mas ela gostava. Aquela garota exalava desejo por mulheres. Fiquei com raiva. Uma raiva muito grande, nem sei dizer do quê. Acho que dela, por estar me fazendo ficar nervosa. Eu só queria protegê-la, e a imbecil ficava de gracinha com os caras e Flavia? Àquela altura do campeonato, iria achar bem feito se escolhesse Flavia.

– Esta você também já conhece, é a Marina – continuou Marley. Opa!

Acordei do estado de transe para o qual meus próprios pensamentos haviam me guiado. Nem tinha percebido que ia ser a próxima, estava chateada demais. Fechei a cara e observei Clara com a expressão mais séria que consegui reunir. Ela se aproximou de mim, fazendo nossos olhares se encontrarem. Clara ficou absolutamente parada, olhando diretamente nos meus olhos. Não os desviou, e eu também não estava a fim de fazê-lo. Daria tudo para saber o que pensava, pois sua reação externa foi praticamente nula. Ela não prendeu os lábios, não corou, não olhou para o meu corpo nem suspirou... Nada, nada. A maldita só me encarou profundamente, até eu começar a me sentir invadida. Ela parecia enxergar a minha vida inteira; tudo o que fui e sou, o que fiz e faço, o que penso e no quê acredito. Parecia me desvendar com um simples olhar; direto, insistente, firme. Perturbadora. Nunca vi mulher tão perturbadora quanto aquela.

O sangue circulava em um ritmo acelerado pelas minhas veias, e achei que fosse explodir. Tentava manter a seriedade, oferecendo uma expressão tão livre de traduções quanto à dela. Porém, acabei sendo vencida. Minha boca se moveu, e contracenei um sorriso torto. Foi então que sua reação veio. Mínima, mas veio. Clara abriu mais seus olhos chocolates, desta vez fitando a minha boca. Ótimo! Perdi uma batalha, mas venci a outra. Aquela reação era tudo de que eu precisava para manter a esperança; precisava vencer a guerra. Era questão de honra.

– Este é o Pedro – ouvi a voz de Marley muito distante. Sério, nem sei dizer se nos encaramos por segundos ou por horas. O tempo pareceu ter parado.

Clara finalmente tirou seus olhos de mim, voltando-se para Pedro. Resfolegou profundamente enquanto o encarava, soltando todo o ar dos pulmões. Admito: tive uma vontade séria de matá-la. Como ela podia reagir aos caras de maneira tão óbvia e a mim de um modo tão sutil? Devo estar mesmo muito ruim na fita. Talvez precisasse malhar um pouco mais, sei lá. Ou talvez meu cabelo estivesse assanhado demais. Que droga, não dava para acreditar que estava encucada com aquilo! Minha aparência nunca foi um problema. Nunca. Nunca, nunca, nunca!

– E por último, o Frank. – Marley apontou para o meu colega de quarto cabeludo. Frank sorriu amplamente, e Clara devolveu o sorriso com a mesma intensidade. Um sorriso. Dá pra imaginar? Seus dentes ficaram à mostra de um jeito impressionante, enquanto seus lábios desenharam uma expressão leve, divertida e, ao mesmo tempo, doce. Os olhos dela brilharam com ainda mais força. O maldito havia lhe arrancado um sorriso. E o que eu consegui arrancar? Merda alguma. Droga, droga, mil vezes droga!

– Espero que já tenha a sua escolha, senhorita Clara – concluiu Marley.

Clara se afastou um pouco, dando alguns passos para trás. Parecia analisar cada um de nós, mas fiquei surpresa quando me encarou mais uma vez. Isso mesmo, ela não olhou para os caras. Olhou apenas para mim. Passou alguns segundos daquele modo, enquanto eu tentava decifrar suas expressões. Depois de um tempo incalculável, Clara fitou o chão e disse:

– Matt pode ficar com a Simone, e a Flavia pode ficar com a Lucy.

Bela escolha. Muito boa. Flavia certamente havia ficado contente com aquilo, e eu fiquei mais ainda; agora tinha menos dois concorrentes. Faltavam mais três. Clara me fitou de novo, com a mesma expressão indecifrável. Estava começando a me cansar daquilo, mas me mantive sério. Meu estômago se contorcia por causa da adrenalina. Esperança é mesmo uma droga; não temos paz enquanto ela não para de martelar nosso juízo. Às vezes acho melhor não ter esperança. Pode parecer esquisito, mas nunca gostei de esperar para surpreender ou ser surpreendida. Pelas coisas, pelas pessoas, pela vida... Não sou daquelas que esperam acontecer. Simplesmente faço.

– Pedro fica com a Vanessa – completou Clara. Pedro riu. Faltavam dois. – Chris pode ficar com a Taylor.

Puts! Não aguentava mais tanta pressão. Que merda de destino era aquele? A decisão ia ficar entre o Frank e eu. E entre Clara e Carla. Seria cômico se não me causasse tanto pânico. Como passaria o fim de semana inteiro com a Carla, sabendo que Frank a queria? E o contrário? Droga. Milhões de vezes droga!

Clara pareceu estar em dúvida. Fitou o chão, meio desconcertada. “Oh, não, meu bem, não tenha dúvidas... Escolha a mim”, pensei. Bom, na verdade soou mais como uma oração do que como um pensamento. De repente, ela virou para trás. Buscou a amiga com os olhos. Carla estava linda, sentada no sofá com as pernas grossas cruzadas. Ela sequer olhou para mim; fitou Frank e depois sinalizou para Carla, alisando os próprios cabelos.

O sinal havia sido bem óbvio, uma referência ao tamanho do cabelo do meu colega. Carla preferia o Frank. Antes que eu pudesse deixar a ficha cair, Clara se virou na minha direção, tirando o meu fôlego com apenas um olhar e seis palavras:

– Frank pode ficar com a Carla.

Pirei. Um calor sinistro tomou conta do meu corpo. Tive que fazer um esforço absurdo para não deixar minhas pernas vacilarem.

Clara continuou me encarando seriamente, mas não consegui me controlar. Meu velho sorriso torto – o que ofereço quando sinto mais vergonha do que graça – se fez presente.


Notas Finais


E ai gostaram!?


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