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História Can't Pretend - Capítulo Único


Escrita por: Psycho-sama

Notas do Autor


❈ Hey! Hey! Hey!

❈ Como estão jovens?? ヽ(*≧ω≦)ノ

❈ Quem leu minha One de KageHina viu que eu havia avisado algo sobre outras One's em projeto, como WakaHina, OiKage e KurooTsuki. Eu disse também que elas seriam interligadas, mas depois notei que isso ia me dar dor de cabeça e decidi fazer elas separadamente mesmo uauahuahauha Já vou avisando que a próxima a ser postada provavelmente vai ser KuroTsuki, pois tô amando esse shipp de paixão kkkk 。゚(TヮT)゚。

❈ Enfim, essa fic é em um futuro alternativo de Haikyuu. Pode conter spoilers, ou pode não, nem me recordo agora, mas acho difícil alguém acompanhar só o Anime. u-u

❈ Mais uma coisa (like o Tio Jack), essa é uma one mais voltada pra um Draminha, do que qualquer outra coisa. Eu tentei me focar bem na realidade dos fatos (da vida, na vdd) mesmo, onde nada é cor de rosa nem tudo é como a gente quer que seja. Vocês verão isso bem retratado na vida do Ushiwaka e na forma de pensar do Hinata!

❈ AH!! TEM FOTINHOS TAMBÉM uauhauahuaha Sério, tem umas fanarts assim que te fazem babar. Fiquei super indecisa em qual das do Hinata mais velho eu pegava (super gato fofo <3) ☆*:.。. o(≧▽≦)o .。.:*☆

❈ Espero que gostem do novo look dele (e do Tsukki) tanto quanto eu..... ( ͡° ͜ʖ ͡°)

❈ Mais uma coisa... O personagem Soekawa Jin apareceu no penúltimo ou antepenúltimo mangá. Ele é o Vice-Capitão realmente, e não alguém que eu inventei. Nem sei se ele chega a aparecer no Anime, mas acho que não, pela forma com que ele foi apresentado no mangá uhauahuahua Então é óbvio que a personalidade dele pode acabar não sendo a mesma da qual Furu-dono fez -_-'''

❈ Sorry qualquer coisa hehe

❈ Boa leitura (づ ¯ ³ ¯) づ

❈ Coloquem essas músicas quando virem o símbolozinho "♫"

❈ Música 1: https://www.youtube.com/watch?v=7maJOI3QMu0

❈ Música 2: https://www.youtube.com/watch?v=TvfRDHVS3Ek

❈ Música 3: https://www.youtube.com/watch?v=I_L4T1YkXLI

❈ Música 4: https://www.youtube.com/watch?v=GAmdbu8pbvI

❈ Música 5: https://www.youtube.com/watch?v=-WAPJLfpUT8

P.S: As passagens que estiverem em itálico e entre esse símbolo "†" são lembranças do Hinata e/ou Wakatoshi.

Capítulo 1 - Capítulo Único


 

“Para os erros, perdão. Para os fracassos, uma nova chance, e para os amores impossíveis, o tempo.”

———— Maita Sanfelicce

 

 

. . .

 

Capítulo Único

Não Posso Fingir

 

. . .

 

Província de Miyagi

Karasuno Highschool

21:12

 

Hinata Shouyou estava cansado.

A única coisa que passava por sua cabeça era voltar para casa e dormir.

Os treinos estavam mais difíceis e cansativos do que de costume, uma vez que novos primeiro-anistas entraram para o clube de vôlei da Karasuno. Ou seja, ele, como um senpai e terceiro-anista era obrigado a ajuda-los no que precisassem. Se já não bastasse Kageyama em um péssimo mood nos últimos dias, ele tinha adolescentes em seu pé o tempo inteiro.

Agora entendia como seus senpais se sentiam quando ele entrara no clube.

Estar sempre puxando orelhas, gritando por silêncio e calma, censurando-os por besteiras ditas no calor do momento (e principalmente impedindo que pulassem em cima de Yachi e da nova encarregada do primeiro ano que a auxiliava), separar brigas tanto entre os próprios membros, quanto com adversários (principalmente Nekoma e Aoba Johsai), ajudar a estudar, dar conselhos, ensinar coisas básicas do vôlei; estas eram coisas tão cansativas que ele sentia que não queria ter filhos nunca, em sua vida.

Aquele bando de primeiro-anistas já era o bastante.

Não que odiasse a fama que o abatera depois que se tornaram representantes do Japão e conseguiram vencer as três potencias, mas era cansativo ser famoso.

———— Shouyou! É sua!

———— Pode deixar!! ———— Correu para o outro lado da quadra, apanhando o saque de Asahi e grunhindo quando sentiu seus braços tremerem, como se fosse virar pó. Como não esperado, mesmo longe do vôlei, aquele cara ainda sabia mandar saques monstruosos. ———— Subiu! ———— Olhou a trajetória da bola, vendo-a ir para fora da quadra. ———— Foi mal, a trajetória é ruim!

———— Eu pego! ———— Tanaka correu em direção a ela, apanhando-a com dificuldade e a lançando de volta para dentro, onde Kageyama saltou na rede, conseguindo um ponto para a Karasuno ao usar uma deixadinha.

———— Aaahh maldito Kageyama!! ———— Sugawara, no time oposto riu, bagunçando os cabelos com ira. ———— Fazia tempo que não sentia essa frustração!!

O levantador prodígio fez uma mesura, mesmo que não fosse a necessidade.

Fazia quase dois anos que Daichi, Sugawara, Asahi e Kiyoko haviam entrado para a faculdade e deixado de vez a Karasuno. No primeiro ano, ainda frequentaram a escola, garantindo que ficassem ali até o segundo que não pudessem mais adiar o inevitável. Eles estavam crescendo, se tornando adultos, e uma hora, o clube e aquela fome pelo vôlei, teriam que ficar para trás, e as responsabilidades viriam.

Hinata se sentia ainda, um pouco triste e nostálgico toda vez que olhava para aqueles quatro e lembrava-se de quando chegara à Karasuno como um primero-anista sem habilidade alguma no vôlei. Vê-los esporadicamente era doloroso, e sempre que se encontravam, fosse em uma partida — como aquela — na antiga escola deles, ou em uma quadra na rua, os sorrisos sempre eram difíceis e as lágrimas fáceis na hora do adeus (mesmo que se encontrassem também para passarem um tempo se divertindo).

———— Asahi-san!! Seu saque continua matador!! ———— Gritou para o antigo Ace do time, vendo-o coçar a nuca e se curvar, agradecendo.

———— E você continua molenga. Como pode conseguir errar a recepção?

Olhou de forma irritada para Kageyama, ainda tentando se acostumar com o fato de que era quase da mesma altura que o outro.

———— Cala boca, maldito! Tenta receber uma bola daquelas e depois vem falar comigo. ———— Apontou para o moreno do outro lado da quadra. ———— É quase como o saque do Grande Rei!!

Quando Hinata mencionara o nome do outro, foi como se Kageyama fosse dominado por algo que o fizera congelar no lugar, tremendo de leve e desviando os olhos. A palidez o tomou completamente, assustando o ruivo.

———— Oe? Você ‘tá bem?

———— Estou... ———— A voz morta fez Hinata duvidar de suas palavras, franzindo o cenho.

———— Ora... Parece que Oikawa-san ainda é uma ferida aberta para o nosso Rei. ———— Tsukishima comentou, no meio da rede, olhando para os dois com um sorriso torto nos lábios rosados. Hinata o mirou com irritação.

———— Fica quieto, Tsukki!

———— Já disse para parar de me chamar assim. ———— Suspirou enfezado, bagunçando os cabelos levemente compridos. ———— É nojento!

———— Que bom que continuam um grupo animado, pessoal! ———— Daichi sorriu, passando pela rede. ———— Já que venceram, o que acham de pagar uma bebida para os perdedores aqui?

———— Ainda somos menores de idade, Daichi-san! ———— Lembrou Yamaguchi logo atrás dos demais, acenando com a mão. Os cabelos compridos e parcialmente amarrados, como os de Asahi — que agora estavam maiores —, lhe dando um ar completamente diferente do garoto de quinze anos de antes. Era como se outra pessoa estivesse no lugar de Yamaguchi e Hinata.

Os dois eram os que mais haviam mudado naqueles dois anos.

Não só pela altura, mas pela personalidade.

Hinata agora vestia a camisa #4 dos corvos. Mesmo que fosse o Capitão, o ruivo sentia mais orgulho pelo fato de ser o ace do time, do que o líder. Faltavam poucas semanas para a formatura dos terceiro-anistas, e mesmo já não participando de partidas oficiais, Tanaka ainda parecia relutante em passar adiante sua camisa, para Hinata, e sua posição como Vice-Capitão, para Yamaguchi.

Mas no fundo o já não mais careca, tinha orgulho do que seus kouhais haviam se tornado.

Yamaguchi vestia a camisa #1, Tsukishima a #2 e Kageyama a #3.

Sem dúvida não sendo a única diferença ali a mudança na posição de bloqueador central para atacante, de Hinata, como também sua personalidade e mentalidade. Muitas responsabilidades vieram com o título que recebera, e tanto o ruivo quanto Yamaguchi, estavam ainda tentando se habituar à hierarquia. Mesmo que os demais soubessem que eles podiam lidar com o cargo.

Com a nova posição, Hinata havia decidido mudar seu visual. Antes revoltados, agora os ruivos estavam rasos nas laterais da cabeça e na nuca, um pouco mais baixos do que o normal. Sem contar no brinco preto na orelha direita, que assustou os universitários quando viram. Presente de Nishinoya, dizendo que Hinata seria o Capitão mais descolado que a Karasuno já teve.

Sem dúvida seu novo visual quase “rebelde”, sendo o que mais impactava à primeira vista. Usava knee pads, que foram presente de Bokuto da Fukurodani quando o mais novo vencera Itachiyama, nas nacionais. Claro que fora bem óbvio que o presente seria uma forma de agradecer pela vingança, depois que as Corujas perderam para eles.

Mesmo que Nishinoya e Tanaka também não ficassem para trás. Começando por Ryuunosuke, que escolhera por deixar o cabelo crescer, raspando apenas as laterais da cabeça, enquanto Nishinoya decidira parar de arrepiar tanto os fios castanhos, deixando-os caídos e controlados. Claro que ele parecia mais baixo, e um Nishinoya completamente estranho, mas Asahi o elogiara, dizendo que assim o garoto parecia mais velho. E mesmo que com já dezoito anos, a aparência de um adolescente lhe caía bem.

———— Não disse que era para vocês beberem! ———— Hinata riu, olhando para Kageyama ao lado e vendo-o anuir, bagunçando os cabelos. Não é como se tivessem a chance de recusar.

 

.

 

———— Mais duas mesas aqui, Senhor!! ———— Hinata ergueu a mão, chamando a atenção do chef atrás do balcão.

O velho já era conhecido dos jovens corvos que frequentemente iam até o estabelecimento comemorar uma vitória, ou apenas passar as noites de sextas e sábados em um lugar calmo, com uma boa comida e música boa ao fundo.

Fazendo sinal em resposta, o homem se afastou, chamando mais quatro garçons para ajuda-lo. Quando as mesas foram postas lado a lado, o homem cumprimentou os universitários, dizendo que era uma pena tê-los conhecido apenas agora e não na época que estudavam na Karasuno.

———— Ele é um tio gentil! Eu gosto dele!

———— Me diga de alguém que você não gosta, Hinata! ———— O ruivo lançou um olhar descrente para o levantador ao seu lado.

———— Desculpa se minha habilidade nata de fazer amizade irrita você. ———— Kageyama fechou a cara.

———— Habilidade nata? Eu não chamaria assim. ———— Tsukishima logo se meteu, incapaz de perder a oportunidade de provocar Hinata. ———— Eu diria que é algo semelhante a um rato que deseja ser amigo do gato para que ele não o devore eventualmente.

Kageyama sorriu, concordando com maneios positivos enquanto se distraia com a comida sendo posta à frente de todos. Shouyou, em contrapartida, bufou, pegando seus hashis recém postos sobre a mesa, e ameaçando acertar Tsukishima à sua frente.

———— Maldito!! Cala a boca!

———— Lembrei agora! ———— Sugawara exaltou-se de repente, assustando Daichi e Asahi que estavam em seus flancos. Olhou para Kageyama mais próximo, curvando-se sobre a mesa. ———— Vocês não tem um jogo treino contra a Shiratorizawa segunda? ———— O levantador concordou, escolhendo alguns pedaços de filé e os depositando sobre seu prato.

———— Às sete.

———— Acredito que não precisam se preocupar com Ushijima, já que Hinata e Tsukishima conseguem pará-lo sem problemas. ———— Comentou Asahi sorrindo, pegando um pedaço de carne do prato de Nishinoya ao seu lado, sorrindo quando o menor gritou com ele.

———— Ushiwaka não seria problema de qualquer forma. ———— Tsukishima comentou com descaso, servindo-se de um pouco de suco, deixando que os esfomeados se servissem primeiro, assim evitando ter uma mão ou um braço arrancados no processo.

Os universitários ergueram a cabeça, mirando Kei com escrutínio e confusão.

———— Ele está na universidade. Parou de jogar vôlei tem mais de um ano, eu acho. ———— Quem respondera às questões estampadas nos rostos dos mais velhos, foi Hinata, que enchia seu prato com pedaços de takoyaki.

———— O quê?

———— Como assim? Ushiwaka desistiu do vôlei? ———— Sugawara parecia incrédulo quando Hinata ergueu os castanhos para ele.

No fundo, não recriminava a reação. Ele mesmo reagira daquela forma quando ouvira. Até mesmo, levemente decepcionado e frustrado, quem sabe. Parte sua esperava que passasse o resto de sua vida em partidas contra aquele — agora — homem; mas outra parte sabia que era sonho de criança. Não pretendia passar o resto de sua vida atrás de uma rede de voleibol, ou quem sabe ingressar em um time profissional e ser conhecido mundialmente. Por mais que ele fosse adorar a ideia se isso acontecesse mesmo, suas prioridades eram outras.

Conversara com sua mãe há poucos meses, logo quando ingressara no segundo ano e a pressão sobre futuras faculdades e o vestibular caíram sobre sua cabeça, e de seus colegas. Ela entendia que Hinata amava o vôlei, mas temia que aquilo não fosse o certo para o garoto. Ele tinha talento, mas nada garantia que seu futuro estivesse inteiramente seguro com aquilo. Ganharia bem, mas não teria estabilidade.

Ela só queria que seu filhote fosse feliz e fosse bem sucedido. Que não tivesse problemas financeiros como ela tinha.

E Hinata entendia. Por Deus, entendia tão bem que chegava a doer.

Ele teria que deixar o vôlei, inevitavelmente, mas queria aproveitar até o último dia que teria atrás de uma rede, e com o uniforme negro e laranja. Talvez Kageyama seguisse no ramo profissional, talvez fosse vê-lo muito na TV, dali dois ou três anos. Sairia espalhando que fora colega do levantador do time de vôlei do Japão. Ninguém acreditaria, talvez, mas ele saberia que seus dias na Karasuno não foram um sonho de criança.

Conquistara o título de Pequeno Gigante, mesmo que essa não fosse sua intenção real. Claro que ele almejava o topo, queria ser reconhecido como aquele número 10 foi, queria ter um apelido tão legal quanto ele, e quanto Kageyama, mas não queria roubar seu título.

Infelizmente, isso não era algo que ele podia controlar.

Depois de chegar ao segundo ano, depois da conversa com a mãe, e após uma palestra motivacional para aqueles que ingressavam nos últimos anos da escola, Hinata Shouyou percebeu algo. Percebeu que tinha de tomar árduas decisões a partir dali. Que estava deixando de ser uma criança para se tornar um adulto responsável. Teria que zelar por seu próprio futuro, pois nada cairia do céu ou lhe seria dado de mão beijada. E percebeu que talvez fosse isso que tivesse ocorrido com Ushiwaka.

Ele entendia. Era chocante, era triste e muito deprimente, mas ele entendia.

Queria jogar contra ele outra vez, como naquele dia. Não queria que o outro fosse embora daquela forma, claro que não. Por mais que fossem rivais, quase inimigos, na realidade, ele gostava de Ushijima Wakatoshi. Gostava da imparcialidade deles, das discussões e da rixa infantil, que podia ser mais assustadora da que tinha com Kageyama. Talvez fosse mais semelhante à Kageyama e Oikawa Tooru.

Sim, eles se pareciam um pouco.

Depois daquele amistoso, depois daquele incidente... Se via desejando conversar melhor com Ushijima. Queria conhece-lo e queria saber mais sobre a pessoa por trás da muralha de indiferença e ingenuidade. Caramba, aquele cara era tão à-toa que chegava a parecer rude e grosseiro. Seu descaso irritante, sua sinceridade perturbadora. Sua infantilidade inerente.

Mas ele gostava.

Achou que pudessem ser amigos, quem sabe, conhecidos; mas Ushijima apenas negou seu caloroso pedido sincero. Disse que não poderia ser amigo de alguém que o derrotou, não uma, mas duas vezes. Seria demais para seu ego e o orgulho ferido. Maldito filho da mãe egocêntrico.

———— Hi-na-ta? ———— Ergueu a vista para Sugawara, vendo-o rir. ———— Estava pensando em quê?

O ruivo levou o pedaço de polvo frito à boca, mastigando-a calmamente antes de responder.

———— Ushiwaka.

O grisalho arqueou as sobrancelhas, enquanto aqueles mais próximos, e que puderam ouvir o ruivo, o olharam com descrença. Era estranho quando Hinata admitia tudo com tamanha sinceridade e sem vergonha do que poderia parecer. Claro que os demais não perdiam tempo para provoca-lo, principalmente Kageyama Tobio e Tsukishima Kei.

———— Uau... Já está assumindo seu amor por ele? ———— Hinata estreitou os olhos perigosamente na direção de Tsukishima, vendo-o alargar o sorriso provocante.

Depois que ele optara por usar lentes de contato, ficava mais fácil ver a provocação e a malícia nos olhos cor de mel. O que era dez vezes mais irritante que antes. Tsukishima tinha aquele rosto inocente e infantil que o tirava do sério profundamente.

———— Não se preocupe Hinata, daremos nosso total apoio. Mesmo que ele seja assustador. ———— Quando até mesmo o ex-levantador da Karasuno brincou, o ruivo sentiu-se desolado, como se de repente, tivesse perdido seu único alicerce que o mantinha erguido.

———— Até você, Sugawara-san!?! ———— Os demais riram diante a desmotivação do menor.

———— Vamos brindar, pessoal!! ———— Chikara ergueu seu copo, chamando a atenção de todos ao redor da mesa, que pouco a pouco iam erguendo seus masus ou copos com suco. ———— A um futuro brilhante e feliz para todos nós! Juntos ou separados, seremos sempre membros da Karasuno. Mesmo há quilômetros de distância, ou se estivermos cada um em uma ponta do mundo... Vamos sempre poder nos lembrar dos dias que passamos aqui, na pequena Miyagi, e saber que fomos felizes!

———— Um brinde!! ———— Todos gritaram, chamando a atenção dos demais fregueses do restaurante familiar. Quando a porta fora aberta calmamente, e as rodinhas rolaram pelos trilhos, produzindo um som característico, o líbero dos corvos tivera sua atenção roubada momentaneamente por quem entrava.

E logo seu rosto empalideceu.

———— Eu não posso acreditar nisso... ———— Hinata fora o único que notara a distração do menor, logo seguindo seus olhos e tendo a mesma reação.

Sua mão que firmava o copo transparente pareceu frágil demais, e o objeto escapou de seus dedos, caindo sobre a mesa, derramando suco sobre a carne, até mesmo atingindo alguns dos corvos sentados perto, como o próprio Hinata, Tsukishima, Daichi, Sugawara e Kageyama. Olhou o estrago do copo que apenas não quebrou, pois bateu sobre as carnes na grelha, e piscou. Confuso.

Como se não entendesse o que acabou de acontecer.

Com o barulho, os demais fregueses e garçons voltaram suas atenções para o clube de vôlei mais no centro do lugar.

Quando percebeu que tinha chamado atenção demais, Hinata voltou seus castanhos outra vez para a porta, deparando-se com os olhos verdes musgo que o faziam tremer dos pés à cabeça. Mesmo à distância, e mesmo depois de dois longos anos.

Respirou fundo, reprimindo a ânsia que o acometeu de repente. Ignorou os xingamentos ao seu redor, e as risadas altas. Sua atenção era unicamente do homem parado, ainda, na entrada do restaurante. Parecia tão inacreditado que via o ruivo, quanto o próprio de que via Ushijima Wakatoshi.

 

 

Dois anos antes...

Shiratorizawa Gakuen

 

———— O que está fazendo aqui, Hinata Shouyou?

O menor tremeu, sentindo que o barítono cortante ia fazê-lo ser partido ao meio. Era intenso e parecia infiltrar-se nas partes mais fundas da sua alma. Nunca havia reparado naquilo antes, ocupado em temer Ushiwaka apenas pela força e habilidades dele na quadra, que ignorara o fato de que ele próprio já era uma presença ameaçadora.

———— E-Eu... Q-Q-Queria assistir s-s-seu treino... ———— Ushijima não pareceu convencido, arqueando uma sobrancelha em sua direção, parado na porta do ginásio da escola, olhava-o com indiferença e frieza calculadas. Mas não podia se deixar intimidar, mesmo que suas pernas tremessem como um maldito chihuahua diante um rottweiler feroz e faminto, ele não voltaria. Havia deixado o treino de sábado com a Karasuno para estar ali, e não seria em vão (ou Kageyama e Daichi o matariam). ———— Por favor, me deixe assistir o treino!!

Curvou-se, erguendo a voz para que o outro notasse que estava realmente determinado para aquilo.

Quando uma segunda sombra se projetou ao lado da de Ushijima, Hinata se empertigou rapidamente, temendo que fosse o técnico ou o treinador, sabendo que o primeiro não simpatizava muito consigo.

Quando se deparou com um rosto mais jovem, seu corpo relaxou automaticamente. Mesmo que não se recordasse do nome do vice-Capitão da Shiratorizawa.

———— Soekawa. ———— Quando Ushijima o cumprimentou, Hinata se recordou. Era Soekawa Jin. Um cara simpático, mas que ele pouco tivera contato naquele amistoso treino que invadira, pouco tempo atrás.

———— Ora, se não é o #10 da Karasuno. ———— Ele sorriu para o mais novo, acenando. ———— Você quer assistir o treino?

Hinata abriu a boca para responder, entusiasmado e esperançoso, quando a voz trovejante o cortou outra vez.

———— Ele não deve! ———— Os dois se voltaram para o Capitão. Olhos confusos e olhos furiosos eram enfrentados por indiferentes. ———— Washijou não vai querer a presença dele aqui.

Soekawa pareceu chocado com a fala, logo olhando para Hinata. Temia que o menor fosse se sentir humilhado ou coisa parecida com as duras palavras de Ushijima, mas assustou-se quando viu um pequeno corvo abrir suas asas de forma pomposa.

Ele desafiava Ushiwaka.

———— Tudo bem se eu não puder entrar... Mas eu queria muito mesmo, que você me ensinasse algumas coisas, Ushijima-san! ———— Quando o ruivo se curvou outra vez, Jin não fora capaz de conter um riso baixo, olhando de esgueira para o moreno ao seu lado.

Surpresa estampara seu rosto quando vira os olhos dele se arregalarem, também pego desprevenido pela sinceridade e impulsividade do mais novo.

 

 

Dias atuais

 

———— Hinata Shouyou! ———— Seu nome... Seu nome nunca pareceu tão desconcertante ao ser dito por alguém.

Quando seu rosto esquentou, sentiu-se como aquele garotinho de quinze anos de novo, e não um rapaz de dezessete, que era o Capitão de um time. Que tinha o controle sobre suas decisões. Era como ter sua mente inteira em um turbilhão de informações, que latejava.

Soltou o ar dos pulmões, sem notar que o havia prendido. Baixou a mão que ainda estava erguida, tentando sorrir para o outro quando se ergueu, deixando a mesa.

———— Ushijima-san! ———— Quando se aproximou o bastante para apenas um braço separá-los, Wakatoshi notou a diferença que havia se instalado em seu cérebro ao passo que fisgou Hinata.

Não sabia expressar exatamente onde, além do corte de cabelo, e daquele brinco negro na orelha que o instigava no momento. Mas via agora. Era sua altura, sua voz, seu rosto, seu corpo.

Ele não era mais um garoto.

Quando pudera parar de olhar para baixo, e conseguia olhar diretamente nos olhos do outro?

———— Achei que você fosse morar em Kanto. O que faz aqui? ———— O mais velho olhou sobre seu ombro, parecendo incomodado com algo. Quando Shouyou seguiu seus olhos, viu por que.

Todos estavam com os rostos voltados para ambos, tanto que Sugawara era oprimido contra a mesa por um Asahi e Nishinoya intrometidos, enquanto Kageyama tinha uma expressão tão lívida no rosto, que parecia nem respirar. Franziu o cenho para eles, vendo como nem pareciam incomodados com o fato de que havia os pegado no flagra. Logo se voltando para Ushijima.

———— Você deve estar ocupado, não vou incomodá-lo! ———— O ruivo abanou a mão em frente ao corpo sorrindo (não queria que ele se sentisse irritado com aqueles corvos sem educação), movendo a perna para retornar, quando algo quente e áspero se fechou em volta de seus dedos. Fora um toque leve, quase como se tivesse medo de machuca-lo, por mais leve e gentil que fosse.

Ergueu os castanhos para Ushijima, vendo-o soltar sua mão quando teve a atenção que queria.

———— Vamos conversar. ———— Não fora um pedido. Fora uma ordem que Hinata se via não querendo descumprir no momento.

 

 

———— No final das contas, não pôde dizer não para ele, certo? ———— Soekawa segurou o riso, vendo como Ushijima Wakatoshi parecia tão consternado consigo mesmo ao assistir Tendou ajudando Hinata no saque, que chegava a ser adorável.

Era até mesmo cômico como um garoto de quinze anos conseguira tirar aquela máscara de calmaria que estampava e cobria o rosto do Capitão da Shiratorizawa.

———— Qual o problema dele? ———— Jin deu de ombros, logo apoiando a mão sobre o ombro do amigo.

———— Convenhamos, aquele garotinho tem um charme.

———— Charme? ———— Voltou-se para Soekawa, as sobrancelhas franzidas.

———— Não me entenda mal, mas... Hinata-san é cativante. Ele tem esse brilho ao redor dele, que faz você sentir-se quente... Como em uma manhã de domingo, com o sol escaldante sobre si. Algo que você sente incomodar depois de um longo tempo exposto, mas sempre acaba cedendo e ficando mais. ———— Riu, cruzando os braços e depositando uma mão abaixo do queixo quando notou que o outro pareceu ainda mais confuso. ———— Agora que vejo, é como se Hinata-san fosse o próprio sol... ———— Ergueu os olhos para Ushijima, de forma travessa. ———— E você não pode contrariar o Astro Rei, pode?

Contrariar o Astro Rei, huh?

———— Você tem uma forma estranha de pensar, Soekawa. ———— O castanho riu alto.

———— Você que é o estranho aqui.

———— Ushijima-san!!! ———— Hinata gritou do outro lado da quadra, acenando para os dois quando giraram o rosto para ele. ———— Olha isso!! ———— O Capitão da Shiratorizawa franziu o cenho, estranhando quando o corvo deu alguns passos atrás e de repente lançou a bola para o alto. Ao vê-lo correr em direção a ela, saltar e cortá-la no ar como um habilidoso jogador de vôlei, surpresa estampou sua face outra vez quando a bola veio em sua direção.

Ouvindo a risada de Hinata, e sentindo Soekawa se afastar, Ushijima soube o que fazer.

Suspirou, erguendo a face para a trajetória que a bola tomaria, e estendendo os braços ao longo do corpo para recebê-la de forma calma e silenciosa.

Fora um saque perfeito, com uma recepção perfeita.

Uma perfeita sincronia.

 

 

Sentaram-se em uma mesa mais afastada dos olhos dos corvos. Mesmo que à distância Hinata ainda podia senti-los sobre suas costas. Era como uma navalha posta em sua nuca, tocando sua pele apenas com a ponta gelada.

Era tão irritante.

———— Então... ———— Tomou outro copo em mãos, intencionando livrar a garganta daquela secura, quando notou que sua mão tremia. Baixou o copo outra vez, contentando-se apenas em pigarrear de leve. ———— Por que deixou Kanto?

———— Meu tio faleceu, há dois dias. ———— Hinata ergueu os olhos, surpreso e chocado, não soube o que dizer exatamente. Ushijima não pareceu interessado em palavras compreensivas, entretanto. ———— Ele tem algumas ações, que cuidava para meu pai, e por isso fui obrigado a retornar e tratar delas.

———— Sendo assim, a empresa da sua família vai ser completamente sua? ———— Seria indelicadeza falar daquilo? É claro que seria!!! Que diabos Hinata estava pensando?

Wakatoshi concordou, pegando o copo d’água sobre a mesa e bebendo um longo gole antes de retornar a falar.

———— Não que eu queira. Mas sem outros familiares, nem por parte da minha mãe, não há com quem dividir tudo isso.

Shouyou anuiu, estreitando os olhos ao ver como Wakatoshi mirava com escrutínio os próprios dedos. Parecia interessado naquilo, como uma criança se interessaria por um brinquedo na fachada de uma loja. Era repentino, e logo que continuasse andando, seu fascínio sumiria como se nunca tivesse estado ali para começar.

De repente o bloqueador central da Karasuno sentiu-se triste.

Foi como se seu coração se apertasse dentro do peito, ficando pequeno e difícil de respirar. Pensar em tudo que Wakatoshi estava carregando nas costas agora que já se tornara um adulto, mesmo que com apenas vinte anos, era assustador. Sabia que ele sempre fora sozinho, independente de quantas pessoas estivessem ao seu redor; mas nunca deixou de se sentir deprimido pelo mais velho.

Era incabível que alguém se acostumasse a estar sozinho.

———— Você se sente solitário? ———— Quando notou o que sua voz proferiu, Hinata arregalou os olhos, baixando-os para a mesa.

Não ouviu nenhuma resposta, e mesmo os movimentos do homem à frente não foram captados. Engoliu em seco, levando o copo de suco aos lábios antes que dissesse algo mais estúpido.

———— Talvez. ———— Ouvir aquilo... Foi como uma facada.

Ergueu os castanhos, sendo pego pelos verdes intensos e brilhantes. Reparou que nunca havia visto aquele olhar em Wakatoshi antes.

Era assustador, o tanto quanto era lindo. Seu peito parecia um tambor, o coração batendo forte contra a caixa torácica, deixando-o zonzo e com os ouvidos zunindo.

 

 

No final, ele aguentara mais do que esperava.

Vendo aquele corpo atirado no chão do ginásio, com a respiração tão ruidosa e pesada que parecia algo como um animal selvagem ferido, Ushijima se perguntava qual era o maldito problema de Hinata Shouyou. O garoto recebera todos seus saques, se recusando a parar mesmo quando era óbvio que seus braços não aguentariam mais nenhuma bola lançada daquela forma pelo Capitão da Shiratorizawa.

Por mais que Soekawa e Tendou tenham dito que era crueldade continuar com aquilo, algo em Ushijima lhe impedia de fazer o que os colegas pediam. Hinata estava ali, determinado em conseguir erguer seus saques, em receber suas boladas por mais dolorosas que fossem. Aquela vontade de continuar de pé, de saber que uma hora acertaria, era o que impedia Ushijima de parar.

Ele queria ver, queria que Hinata pegasse seu saque. E quando menos se deu conta, queria que ele vencesse.

E isso era absurdo.

Ao notar como estava se deixando levar pelo menor, seu corpo parou. Seu saque já estava a caminho quando fizera aquilo, e a única coisa que pudera fazer fora acompanha-la com os olhos. Tão rápida, tão forte, que Ushijima até mesmo se surpreendeu por não ter arrancado os braços de Hinata até aquele instante.

E então, para a surpresa de todos, o som que ela fizera ao se chocar contra o bloqueador central fora diferente dos anteriores, e ela subiu. Quando todos a viram ganhar altura, fora como se uma tensão no ar os fizesse congelar. Hinata gargalhou, correndo até onde a bola cairia e a cortando na quadra onde Wakatoshi estava.

———— Ele conseguiu! ———— Soekawa gritou, batendo palmas. ———— Ele conseguiu mesmo!!!

É... Pelo visto ele conseguiu mesmo.

Antes que os outros dois deixassem o ginásio, o vice-Capitão aproximou-se de Ushijima, carregando uma garrafa d’água consigo. Estendeu-a para um suado e confuso Wakatoshi, fazendo sinal para Hinata do outro lado, que pouco a pouco ia se debruçando sobre o chão gelado, esparramando-se ali, incapaz de aguentar as próprias pernas e braços.

———— Leve para o garoto. Ele merece. ———— Dando dois tapinhas em seu ombro, Soekawa aproximou-se de Tendou, e após um certinho do ruivo, ambos partiram para a escuridão de Miyagi.

Suspirou, voltando sua atenção para o corvo.

Pensou que ele era tão frágil e pequeno que poderia ser esmagado em um estalar de dedos. Mas era tão irritante como estava sempre superando suas parcas expectativas, que tinha vontade de soca-lo. Quando diziam que ele não conseguiria, ele provava que podia ir mais além. Quando achavam que ele era o oponente mais fraco, mostrava suas presas e garras, e rugia como não o era.

Aquele garoto o irritava.

O tanto quanto o instigava.

Aproximou-se cauteloso, mirando o jovem. Hinata sentiu-se incomodado após alguns segundos, abrindo os olhos pesados a tempo de agarrar a garrafinha d’água que lhe foi jogada. Resmungou de dor, os braços tão pesados que tremiam violentamente ao erguê-los.

———— O que achou... Ushijima-san?

———— Foi apenas uma recepção. Você ainda tem muito chão pela frente. ———— Hinata pareceu frustrado, fazendo um bico com os lábios.

Infelizmente devia se sentir acostumado a nunca ser encorajado ou elogiado depois de um feito. Já que Kageyama nunca o fazia.

Ele sentou-se, bebendo a água com sede. Wakatoshi aproveitou para sentar-se ao lado dele, olhando-o beber como se fosse a coisa mais interessante no momento.

———— Mas sabe... ———— Respirou fundo, voltando-se para o mais velho. Sorriu tão radiante que Ushijima sentiu-se tentado a concordar com Soekawa sobre Hinata ser como o sol... ———— Isso significa que vou poder treinar com você mais vezes, certo?

... Poderoso... Caloroso... Era impossível fugir dele, por mais que você se escondesse. Por mais que evitasse, fugisse, se protegesse. Ele sempre estaria lá.

Mas tinha que impedir-se de queimar a si próprio naquele fogo incandescente.

———— Não.

———— Não? ———— Endireitou-se, confuso. ———— Você quer dizer que... Não podemos mais treinar, ou ser amigos?

———— Somos rivais em quadra. Uma amizade é incabível!

———— Mas fora dela somos pessoas. ———— Pôs-se de pé, tremendo. ———— Kageyama e eu também éramos rivais antes, agora somos aliados.

———— Vocês estão no mesmo time, isso é o esperado, certo? ———— Hinata pareceu consternado, vendo o outro se pôr de pé calmamente. A diferença de altura o deixando encurralado. ———— Não somos nada além de rivais, dentro e fora das quadras... ———— Voltou seus olhos para o ruivo, fazendo-o recuar um passo. ———— Não confunda o que estou fazendo aqui com gentileza. É apenas para que não pensem que a Shiratorizawa desceu tanto de nível a ponto de perder para corvos sem asas.

 

 

———— Sinto muito.

———— Pelo quê? A culpa não é sua por eu ter sido mandado à Kanto.

Hinata negou, juntando as mãos em frente ao corpo.

———— Não era sobre isso. ———— Suspirou, como se tomasse fôlego para algo difícil. E realmente o era. ———— Eu deveria ter tentado mais... Naqueles dias.

Ushijima reprimiu expressar-se em choque como seu corpo quis. Impediu-se de demonstrar que aquele garoto realmente mexera com ele de uma forma que ninguém fizera antes, e que sofrera por ter ignorado isso por dois longos anos.

———— Não deveria ter simplesmente desistido de sua amizade. Eu queria ter insistido mais, entretanto parte minha tinha medo que você me odiasse.

———— Você estava sendo ingênuo ao querer a amizade de alguém como eu. ———— Hinata ergueu o rosto, mirando aquele rosto austero e poderoso com uma coragem duvidosa. ———— Talvez desesperado. Você acabaria se machucando.

———— O quê? É claro que não! ———— Exaltou-se, irritado. Ushijima se permitiu contemplar aquele pequeno corvo — que agora se mostrava um pássaro adulto — a perder as estribeiras de uma forma que nunca vira antes. ———— Eu queria ser seu amigo, pois você era incrível! Não, ainda é, acredito... Eu queria ser seu amigo, pois eu gostava de ficar perto de você. Por mais que me odiasse, e por mais que deixasse claro isso...

Ushijima piscou, engolindo em seco. Tinha de se manter calmo, tinha de ser impassível.

“Não demonstre que se importa. Não demonstre que se importa! Não demonstre nada!!”

———— Você é difícil de lidar. Difícil ‘pra cacete! Mas não é pior do que Kageyama-kun! ———— Deu de ombros, rindo em seguida. ———— Você apenas sabe como irritar de uma forma mais inocente. Ainda sim... Eu posso lidar com você.

O outro não pareceu entender, o que fez Hinata sorrir.

———— Por que preza tanto por uma amizade comigo? ———— A pergunta repentina pegou o menor desprevenido, erguendo o rosto surpreso para mirar Wakatoshi em dúvida.

Hinata não soube o que responder. Não por que não tinha a resposta, ele tinha, mas ela era... Inadequada. Não queria que Wakatoshi pensasse nele como alguém tão superficial que se deixa levar por coisas simples como o físico ou a aparência. Ushijima era incrível, um Ace no vôlei, e isso por si só já era o bastante para fazer Hinata admirá-lo além do normal; mas havia um porém: não era apenas isso.

Suas habilidades, sua força, sua fama, nada disso parecia o suficiente perto do verdadeiro motivo que impulsionou Hinata a fazer um pedido tão inocente quanto ganhar a amizade de Ushijima Wakatoshi.

———— Não sei... ———— Não era uma boa resposta, de longe melhor do que as outras, mas a única que ele podia dar no momento. ———— Só quero. ———— Sorriu, tentando esconder o fato de que aquele assunto o deixava sem jeito. ———— Não podemos? Desta vez...?

Ushijima o mirou com intensidade. Seu coração batendo rápido dentro do peito. Sentia suas mãos suarem em volta uma da outra sobre a mesa. Uma atitude tão... Infantil, que não se impediu de recriminar-se internamente. Por que sempre se sentia estranho perto daquele bloqueador central?

Por que aqueles olhos castanhos sempre o fascinavam, ainda mais quando afilados e perigosos?

Como conseguia? Como conseguia desestabilizá-lo com apenas um maldito olhar?

———— Talvez. ———— Murmurou quase sem voz, ouvindo a risada contida do outro como uma melodia harmoniosa preencher seus ouvidos. Era doce, e o dava vontade de sorrir em resposta. Mas ele não o fez.

———— O quê? Essa será sua resposta automática? ———— Hinata curvou-se sobre a mesa, sentindo-se mais leve do que quando se sentara ali logo no início. Quando viu Ushiwaka abrir a boca para falar, ergueu a mão, interrompendo-o. ———— Se disser talvez de novo, vou ser obrigado a jogar esse copo em você.

Ushijima sorriu, respirando fundo.

———— Tem certeza que é isso que você quer? Uma amizade estranha com alguém como eu?

———— Desde quando tem uma visão tão péssima de você mesmo, Ushijima-san? ———— Seu semblante sério deixava o mais velho desconfortável.

Não era para menos; ver um Hinata sério, era quase intimidante.

———— Eu esperava algo como “eu sou bom demais para ser amigo de um remelento como você”, mas eu escuto apenas “não sou bom o bastante”. ———— Wakatoshi desviou os olhos, incapaz de encará-lo no rosto enquanto era repreendido, de certa forma. ———— E então?

———— Então o quê?

———— Quando vai desistir e deixar eu me aproximar?

 

 

O sol contra seu rosto era torturante. A pele já avermelhada encontrava-se rosada em pontos estratégicos, como se tivesse esfregado o lugar várias e várias vezes. Sentia-se quente, claro, mas não bastante para suar, como acontecia com a maioria dos demais membros do clube de vôlei da Shiratorizawa. Eles sempre foram diferentes.

Ou seria ele o único diferente ali?

———— Ei... Ushijima-san! ———— Voltou seu rosto para Soekawa, parado na parte de dentro do ginásio, escondendo-se do sol. O castanho olhava-o com cenho franzido e bochechas rubras.

Parecia uma criança, não deixando de comparar.

———— O quê?

———— Hinata-san não vem hoje? ———— À menção do nome do pequeno corvo, o semblante de Ushiwaka pareceu se transfigurar em um mais sério. Mais austero e pomposo. O vice-Capitão não entendeu, muito menos quando ele permaneceu em silêncio.

———— Por que está perguntando para ele, Jin-kun? Ushijima-san não é o namorado do Monster-chan!

———— Monster? ———— Soekawa sobressaltou-se, tanto com a aparição repentina de Tendou, quanto pelo apelido estranho para um garoto tão adorável quanto Hinata.

———— Ele não... ———— Os dois deixaram de se encarar, um confuso e outro furioso, para voltarem-se para o moreno. ————... Aparecerá aqui de novo.

Ambos se calaram, sentindo que aquele sentimento na voz de Ushijima Wakatoshi era incomum até mesmo para o próprio Ushijima Wakatoshi. Algo errado havia acontecido. Algo muito errado mesmo.

Tendou fora o primeiro a piscar, olhando de relance para Soekawa ao seu lado, e depois se voltando para o Capitão, quando a voz do castanho se ergueu e reverberou pelo ginásio.

———— AH NÃO! O QUE VOCÊ FEZ COM ELE, USHIJIMA-SAN? ———— Wakatoshi franziu o cenho, olhando o colega com óbvia confusão.

———— Deve tê-lo matado! Depois escondeu o corpo nas paredes do ginásio. ———— Comentou Tendou com ironia, rindo mais quando Soekawa começou a suar frio, olhando as próprias mãos.

———— Eu não duvido... Eu não deveria ter deixado eles dois sozinhos... Eu deveria ter ficado... Agora Ushijima-san é um assassino.

Tendou fechou a cara, não gostando do que o outro dizia. Esperava por mais escândalo e talvez, que ele se jogasse no chão. Aquela reação sem graça não o divertia.

———— Ei, qual o seu problema? Claro que Ushijima-san não o matou. Ele é o rival dele, afinal!

Ushijima ergueu os olhos para Tendou, franzindo o cenho em seguida.

———— Rivais?

Quando o ruivo voltou-se para ele, já agarrando um Soekawa catatônico pelos ombros para tentar enfiar-lhe juízo, uma sombra se projetou pela porta, e alguns uivos do restante do time aguardando em frente ao ginásio fora chamativo o bastante para ecoar pelo lugar. Os olhos verdes captaram com intensidade aquela sombra, sentindo-se arrepiar dos pés à cabeça quando reconheceu-a.

———— Ushijima-san!! ———— Aquela voz... Devia ser coisa da sua cabeça, certo? Afinal, dissera-o coisas frias da última vez, dois dias atrás. Como ele poderia querer ver seu rosto de novo? Ele não havia entendido? ———— Eu quero aprender mais coisas com você!!

Ergueu os olhos, brilhando em uma hesitante confusão. Soekawa e Tendou olhavam do pequeno corvo parado nas escadas, para o homem em frente a eles, se perguntando como era possível conseguirem ver aquela expressão no rosto de Ushijima Wakatoshi.

Incredulidade.

———— Por favor, me deixe treinar com você!

———— Oooh... Não é que você tem coragem de aparecer aqui assim, na maior cara dura? ———— Shirabu mirou-o com ódio dos pés a cabeça, enquanto Leon sorria de leve, de braços cruzados e de pé ao lado do menor. Admirava a coragem do corvo, mesmo que fosse esse mesmo motivo que fazia o Nº 10 zombar tão arduamente do visitante inesperado.

Hinata moveu o rosto para o castanho, estreitando a vista. Kenjiro esperou pela resposta malcriada que não veio, fazendo-o inclinar a cabeça. Aquele ruivo estaria doente? O levantador ainda inclinou a cabeça, como se o incentivasse a dizer algo, mas o outro parecia tentado a ouvir Ushijima primeiro.

Quando Shouyou se voltou para o Capitão da Shiratorizawa outra vez, todas as cabeças o imitaram, a espera da fala do maior. O silêncio perdurou por longos segundos, quando Soekawa de repente irrompeu da porta, assustando Hinata que não o havia notado ali logo de início.

———— Nós estamos indo até o parque, Hinata-san, o que acha de ir conosco?

———— O quê? ———— A maioria retrucou em uma única voz, olhando para o vice-Capitão com expressões azedas. Ushijima nem mesmo pisara, inacreditado de que via Hinata Shouyou à sua frente.

Jin sorriu, erguendo um dedo em frente ao rosto.

———— É aniversário do Tsutomu, e vamos relaxar lá um pouco. ———— Inclinou a cabeça, divertido.

Quando ouviu o sincero pedido, os olhos do ruivo brilharam em animação infantil. Tanto pelo convite quanto pela possibilidade de passar um tempo com a Shiratorizawa.

Podiam ser times rivais, e a maioria ali, Wakatoshi, Tendou, Goshiki (talvez) e Shirabu (obviamente), podiam odiá-lo, mas Hinata se sentia eufórico com a possibilidade de terem uma amizade fora das quadras. Algo como o relacionamento deles com a Nekoma seria demais, entretanto esperava por algo mais parecido com o que tinha com a Fukurodani e a Date Tech, por exemplo.

———— Você está brincando, certo, Soekawa-san!? ———— O aniversariante também protestou, erguendo os braços em frente ao corpo. ———— Primeiro que ele é praticamente nosso inimigo. Segundo, ele vai se sentir excluído lá, e terceiro, mas não menos importante ———— Frisou, ainda de voz exaltada. ————, sinto que Shirabu vai mata-lo. ———— Ao término da fala, todos os rostos se voltaram para o castanho, vendo uma aura de hostilidade e ameaça que Hinata segurou a vontade de se encolher.

———— Mah, mah... Pessoal! Vamos tratar bem nosso convidado, como se ele fosse um amigo de longa data. Nunca fomos ensinados a ser rudes com rivais ou inimigos, certo? ———— Muitos resmungaram em resposta, reconhecendo a fala do treinador. Logo começando a andar e se afastando, sabendo que seria inútil discutir depois daquilo.

Shouyou ainda permaneceu no lugar, olhando para Soekawa Jin como se ele fosse seu herói. E sem dúvida quando o mais velho envolveu seu ombro, o conduzindo para seguir os demais, o pensamento na mente do ruivo apenas se intensificou. Eles podiam ser amigos, no futuro.

 

 

Hinata sorriu resplandecente, curvando-se para frente outra vez.

———— Posso assumir isso como uma derrota?

Ushijima franziu o cenho, soltando um breve suspiro em seguida. Via como era difícil discutir com aquele garoto.

Entendia um pouco por que Kageyama Tobio se irritava tão facilmente com o bloqueador central. O fato de como você se via sem saída, sendo trapaceado ou chantageado sem nem ao menos notar, era frustrante. E ainda quando isso vinha de Hinata Shouyou, as coisas pareciam piores.

———— Não reclame depois.

———— Eu não vou! ———— O menor rebateu rápido, erguendo uma mão como se fizesse uma promessa. Olhos castanhos e verdes trocavam um singelo olhar. Era calmo, lembrando vagamente a visão do oceano sem ondas, ou um dia de verão sem vento, abaixo da sombra de uma árvore. Era... Caloroso. Como o sol. ———— Agora, o que acha de irmos até ali e nos juntarmos com o pessoal?

Ushiwaka mal teve tempo de refletir sobre o que ouvia, quando Hinata já segurava seu pulso, pronto para erguê-lo. Manteve seu peso na cadeira, entretanto.

———— O quê? Acha mesmo que eles me querem ali?

Hinata riu como uma criança. Um som tão gracioso que Ushijima fora desarmado naquele segundo.

———— Provavelmente não. Mas agora que você é meu amigo, também terá de ser amigo deles.

———— Isso não foi mencionado. ———— Shouyou se pôs de pé, arrastando o mais velho consigo.

———— Não se preocupe. Eles não mordem, tenho certeza. ———— Pareceu pensar um pouco, rindo olhou sobre o ombro. ———— A não ser Tanaka-san e o Nishinoya-senpai... Mas pode ter certeza que o Ennoshita-san dá conta deles. ———— Fez um certinho com o dedo, parando diante a mesa repleta de corvos, e chamando a atenção de todos.

Yamaguchi até deixou seus hashis caírem quando viu quem estava logo ao lado de Hinata.

———— Pessoal, o Ushijima-san vai se juntar a nós, certo? ———— O silêncio caiu, por longos segundos ninguém parecia acreditar no que seus olhos viam. Era como uma miragem. Olhos arregalados e bocas entreabertas não eram nenhuma exceção (talvez Tsukishima que fazia uma expressão de azedume comovente). ———— Ei, falem alguma coisa, mal educados!

Como se só notassem o silêncio depois daquilo, uma enxurrada de falas foi dita ao mesmo tempo, e nenhuma fora entendida. Hinata ainda pôde capturar um “seja bem-vindo” de Daichi, Sugawara, Asahi e Ennoshita, que pareciam educados por pura conveniência de serem naturalmente, e não por apreciarem a visita. Enquanto Kageyama resmungava um “perdi o apetite” de forma emburrada, e largava seus hashis e a tigela de arroz de lado. Não era novidade aquele cara comer tanto quanto Hinata, e ficar frustrado quando não o podia. Tanaka e Nishinoya estavam tão chocados com a visão de Ushiwaka ali que pareciam estátuas, até mesmo o rosto pálido do mais alto parecia o de Buda.

Hinata riu, vendo como Ushijima Wakatoshi podia ser o único a deixar aquele grupo desconcertado. Empurrou-o para o lugar vazio ao lado de Tsukishima, firmando o homem ali e vendo como o loiro se retesou no lugar, afastando-se como se tivesse levado um choque.

———— Sente-se aqui, ao lado do Tsukki! ———— Quando o loiro lançou um olhar fulminante para si, Hinata não pôde conter o riso, vendo como Ushijima parecia indiferente ao lado do bloqueador central furioso. ———— Tenho certeza que ele não se importa.

———— Hinata... ———— A ameaça e ferocidade na voz de Kei era quase arrepiante, mas o menor estava tão acostumado a tirar Tsukishima e Kageyama do sério (da mesma forma que eles faziam consigo), que já estava livre das palavras cortantes e a evidente ameaça.

———— Então... Ushijima-san ———— Sugawara logo tentou puxar conversa, vendo como alguns ali tinham uma aura de afronta, como prestes a devorarem a presa, em disputa com outras feras. Wakatoshi era o prato principal, e eles disputariam pelo pedaço maior. ————, como é morar em Kanto?

Alguns continuaram comendo como se nada tivesse acontecido, enquanto outros prestavam atenção na conversa. Hinata era um deles, atento para que seu novo amigo não se sentisse desconfortável perto dos corvos.

———— É diferente de morar em Miyagi, ou morar em Tóquio. ———— Disse calmo, olhando para o ex-levantador.

Hinata aproveitou e puxou um masu vazio, enchendo-o de sakê para o outro.

———— Mas é bom, ainda sim.

Daichi e o grisalho sorriram.

———— Nós entendemos o que quer dizer. Quando comecei a fazer faculdade de Administração em Tóquio, também me sentia assim. ———— O ex-Capitão bagunçou os cabelos curtos, olhando para seu prato com escrutínio. ———— Ás vezes sentia saudades de Miyagi, mais pelos amigos e pelas coisas que deixei para trás do que qualquer outra coisa... Mas ás vezes Tóquio conseguia roubar toda minha atenção. ———— Riu, erguendo os castanhos para Ushijima. ———— Era diferente, e por isso eu gostava.

Wakatoshi concordou, vendo-o levar o copo de — agora — suco à boca. Daichi precisava se manter são para impedir os esquentadinhos de fazerem merda. O que ele sabia que aconteceria futuramente, ainda mais com Ushiwaka ali.

———— Quando você for procurar por um emprego, deveria passar na empresa da minha família. Precisamos de alguém com seu senso de liderança, por lá. ———— Daichi se engasgou com o suco, batendo no próprio peito enquanto Sugawara lhe batia nas costas, alarmado.

———— C-Como é? ———— Olhou de forma chocada para o outro, curvando-se sobre a mesa. ———— Não acho que eu vá superar suas expectativas.

———— Meu avô costumava dizer que a vida é uma grande escola, onde você aprende coisas que seus pais e amigos não podem te ensinar. O que você não aprende na faculdade, você aprende em seu trabalho. ———— Aceitou o masu quando Hinata o ofereceu, sem beber, entretanto. ———— Não se espera que você faça tudo no seu primeiro emprego depois da faculdade, apenas se espera que você demonstre que pode ser capaz de fazê-lo, no futuro.

Daichi piscou, embasbacado. Sugawara e Asahi ao lado também pareciam bem chocados com a oferta.

———— Isso é... Isso é algo bem...

Ushijima bebeu do sakê com calma, degustando-o nos lábios e depois olhando para Hinata. O ruivo, sentado à sua frente sorriu, como se perguntasse se estava bom.

———— Seu avô devia ser alguém bem vivido. ———— Sugawara comentou, rindo.

Ushijima o olhou, dando de ombros.

———— Talvez... Mas não o suficiente.

———— O que quer dizer? ———— Asahi perguntou, interessado.

———— Ele acabou deixando a empresa decair, e quase falir, quando meu pai era jovem. Ele não pôde suportar a pressão e acabou se matando, deixando todos aqueles problemas e dívidas para que meu pai lidasse. ———— Várias cabeças se ergueram e olhos se arregalaram. Hinata sumiu com o sorriso. ———— Por isso ele não pôde aproveitar a vida de casado como queria... Minha mãe adoeceu logo após meu nascimento e ele não conseguia me criar e cuidar de uma empresa em falência ao mesmo tempo. Teria que escolher um dos dois.

Hinata engoliu em seco, sentindo aquela vontade de abraça-lo de novo. Fechou as mãos em punho, crispando os lábios.

———— Mas ele conseguiu lidar com a empresa. Ela não é uma das melhores do país hoje à toa. ———— Daichi comentou, surpreso pelo outro estar falando algo tão pessoal com pessoas que não pareciam muito felizes com sua presença.

———— É... Ele conseguiu. Sacrificando seu tempo, sua saúde, e sua família. ———— O silêncio reinou, enquanto os olhos de Ushijima estavam presos no próprio masu quase vazio. Suspirou, mirando Daichi em seguida. ———— Tenho certeza que ele faria tudo igual se tivesse uma segunda chance. Então não me importo com isso. Só me faz perceber como meu pai e eu somos um pouco diferentes.

———— Como assim? ———— Quem perguntou fora Hinata, preso naquele olhar opaco, e naquele barítono entorpecido.

Quando Wakatoshi o mirou, foi como colocar o dedo na tomada. Seu corpo inteiro se arrepio e tremeu de leve, deixando-o em alerta como se estivesse prestes a ser atacado.

———— Eu não sacrificaria as coisas que são importantes para mim.

———— E quanto ao vôlei? ———— Perguntou, vendo-o crispar os lábios.

———— Por isso eu disse “um pouco diferentes”.

 

 

Hinata sentou-se abaixo de uma cerejeira repleta de folhas rosadas. O chão estava coberto do manto rosa, e o cheiro doce era convidativo. Observou os membros da Shiratorizawa preparando o lugar para o “piquenique” que fariam, colocando uma enorme toalha branca no chão, e distribuindo bolsas térmicas que escondiam comidas e bebidas de vários tipos diferentes.

Dohira Leon trouxera um rádio portátil em uma mochila. Parecia funcionar à bateria, já que ele não tinha fio. Assistiu-o preparar o aparelho, tirando alguns CDs e baterias extras da mesma mochila. Tendou ficou encarregado de distribuir a comida pelo lençol, enquanto Goshiki e Shirabu se afastavam, o primeiro com uma bola de vôlei nas mãos.

Riu, vendo-os se posicionarem um pouco longe do lençol e dos demais, e passarem a levantar a bola um para o outro.

———— Ei, malditos! Coloquem a rede se não querem ajudar aqui!!! ———— Soekawa gritou, enfurecido. Goshiki se assustara, perdendo a bola de vista e recebendo-a bem na cabeça, onde ela quicou e rolou pela grama.

Shirabu rolou os olhos, cruzando os braços sobre o peito.

———— Tch... Aquele corvo está sentado ali e você não diz nada. ———— Hinata arqueou as sobrancelhas ao ouvir que o outro se referia a si. Pôs-se de pé alarmado, quando Soekawa arremessou um pedaço de pão no levantador, irritando-o.

———— Ele não tem a obrigação de ajudar, já que não é membro do time! Para de reclamar e vá fazer o que eu disse!! ———— Shirabu ficou na dúvida de retrucar ou obedecer, até que Goshiki apareceu, pedindo por ajuda.

Hinata suspirou, vendo que os membros do time estavam se desentendendo graças a sua presença. Talvez tivesse sido melhor se ele tivesse recusado. Era um estranho para todos, aquele não era seu lugar.

Quando sentiu uma mão sobre seu ombro, sobressaltou-se, erguendo o rosto para Leon.

———— Não se preocupe, Hinata-kun, Shirabu é assim com todos no início. Ele foi até mesmo pior com o Goshiki. Não é nada pessoal.

Hinata sorriu de forma amarela, baixando os olhos.

Por mais que quisesse acreditar no outro, sabia que era sim, pessoal.

———— Tudo bem, Leon-san! Já estou ficando acostumado com tratamentos assim, graças ao Kageyama, Tsukishima e todos com quem já jogamos contra. ———— Leon fez careta.

———— Isso não é algo ao qual você deveria se acostumar.

———— Hinata-san, quer um pouco? ———— Quando Soekawa se aproximou, Leon se retirou para ajudar os outros dois a montar a rede improvisada.

O ruivo lançou um olhar brilhante para os onigiris nas mãos do vice-Capitão da Shiratorizawa, sentindo-se em conflito interno sobre aceitar e recusar. Já o castanho pareceu bem divertido ao ver a hesitação do menor, com a mão erguida e ainda sim tentando resistir à tentação.

———— Estão bem gostosos, experimente. ———— Estendeu a bandeja com os bolinhos, e viu-o fechar a cara em uma careta de dor. ———— Vamos, vamos... Estou oferecendo!

———— Urghhh... E-Eu não po-posso... ———— Ele estava com ambas as mãos erguidas, os dedos tremidos e a fome expressa no rosto. Soekawa riu, achando adorável a cena.

De repente alguém apanhou um dos onigiris. Soekawa quase deixou a bandeja cair com o susto, vendo Ushijima apanhar o bolinho. Hinata piscou confuso quando viu a cena, logo arregalando os olhos ao notar que Wakatoshi ia em sua direção. Recuou um passo, temendo o que ele faria ergueu as mãos em frente ao corpo, para evitar que ele se aproximasse demais, quando sentiu seu pulso ser segurado e puxado para perto dele. Abriu a boca para protestar e segundos depois ela era coberta de arroz.

———— Se quer comer um, apenas pegue! ———— E assim como apareceu, Ushijima se afastou, indo até onde alguns já se posicionavam para jogar uma partida de três contra três. O Capitão retirou o casaco preto que usava, ficando apenas com a regata branca por baixo, e o calção bege enquanto se colocava no time de Tendou.

Hinata e Soekawa pareciam mais perplexos, junto daqueles que viram a cena. O ruivo ainda teve que lembrar-se da boca cheia de arroz, sem conseguir acreditar no que tinha acontecido.

———— Bem, você vai querer jogar, Hinata-san? ———— O ruivo ergueu a vista, mastigando o bolinho com as bochechas enormes. Soekawa segurou o riso e a vontade de apertar aquele garoto.

Ele negou, falando ao mesmo tempo que mastigava.

———— Acho melhor você engolir. ———— Aconselhou, com medo de que ele se engasgasse.

Hinata voltou a se sentar algum tempo depois, observando os membros da Shiratorizawa se divertirem. O rádio tocava algumas músicas que ele costumava ouvir quando, lá nas raras ocasiões, também escutava rádio em casa. Outras ele nunca ouvira, principalmente algumas internacionais.

Longos minutos se passaram enquanto observava, sentado ao lado de Jin. Conversavam vez ou outra, na maior parte do tempo apenas comentando uma das jogadas daqueles que se divertiam. Era engraçado ver como Soekawa perdia a compostura quando erravam um toque, parecendo amadores.

Sorriu quando viu Yamagata Hayato tentar receber uma das cortadas de Ushijima, e acabar acertando o próprio rosto em seguida, caindo para trás. Goshiki que estava no mesmo time do líbero caiu na gargalhada a ponto de curvar-se sobre a própria barriga.

———— Vamos trocar!!! ———— Gritou Soekawa, tendo a atenção de Wakatoshi, que concordou e se retirou do campo, limpando o suor da testa com a barra da própria regata. O vice-Capitão antes sentado ao seu lado se ergueu, deixando-o com a bandeja de onigiris e caminhou até Ushijima, batendo sua mão com a dele e retirando o casaco pelo caminho, deixando-o cair na grama.

Wakatoshi se aproximava calmamente. Encolheu-se ao notar que ele pretendia se sentar próximo de si. No fundo achava que ele o odiava, depois do que disse há dois dias, e como parecia ignorá-lo. Tudo bem que ele aceitara treiná-lo, mas o próprio dissera que era pelo próprio orgulho e ego feridos do que por empatia.

Quando ele sentou-se, um suspiro deixou seus lábios. O vento de tarde balançou os galhos da árvore, trazendo com ela o cheiro de perfume masculino e suor. Soube que se tratava do de Wakatoshi, e não por obviamente ele ser o mais próximo de si, mas por apenas saber. Seu corpo tremeu, e os pelos em sua nuca e braços arrepiaram.

Algumas pétalas da cerejeira caíram, misturando perfume masculino com cheiro doce. Respirou fundo, gostando da mistura.

———— Pretende ficar sentado aí a tarde inteira?

A pergunta o fez saltar no lugar, derrubando dois onigiris da bandeja. Fez careta, olhando para Wakatoshi como se o culpasse.

———— O que mais posso fazer? Se eu fosse jogar, eles me trucidariam! ———— Apontou o dedo para os que jogavam. ———— Sem mencionar, que se Kageyama não está aqui, não sou de muita utilidade.

Wakatoshi o olhou, arqueando uma sobrancelha.

———— Pelo menos você consegue ver o óbvio.

Hinata trincou o maxilar, grunhindo.

———— O que foi que disse, maldito? ———— Quando notou o brilho nos olhos de Ushijima se transformar perigosamente para um mais intenso e escuro, notou como havia falado com ele, e logo o medo o tomou, afastando-se. ———— F-Foi mal!! Foi o reflexo!

Ushijima permaneceu olhando-o por longos segundos após aquilo. De longe ele parecia irritado, e Hinata Shouyou começou a divagar se talvez não estivesse imaginando coisas, até por que o Capitão da Shiratorizawa deixara claro que não queria aquele tipo de aproximação; que não fazia questão da amizade de Hinata.

Mas se tinha uma coisa que o ruivo gostava de fazer, era sonhar alto. Mesmo que parecesse bobeira na hora, era apenas questão de tempo até conseguir o que queria. Sabia que Ushijima e ele ainda seriam amigos. Esta era sua meta a partir dali.

 

 

02:13

 

Hinata gargalhou alto ao ver Nishinoya tentar subir em cima da mesa para dançar, enquanto Asahi segurava a cintura do menor com uma força destrambelhada que estava a um ponto de levar os dois para o chão. Já não tão são assim para tentar impedir terceiros de fazerem besteira.

Daichi estava debruçado sobre os próprios braços, dormindo, enquanto Sugawara ao seu lado conversava com o Sawamura como se ele estivesse desperto (o ex-Capitão havia dito que não ia beber, mas acabou caindo na tentação). E isso já fazia quase uma hora e meia. Hinata nunca viu alguém ter tanto assunto. Kageyama ao seu lado parecia o tipo de bêbado que passa da fase “rindo de qualquer coisa”, para “chorando por qualquer coisa”. Não que o mais alto estivesse à beira de lágrimas, mas aquela aura de depressão e a pena de si próprio demonstravam em que nível de bebedeira ele se encontrava.

Os únicos que haviam partido antes que o time da Karasuno entrasse naquele estado de embriaguez vergonhosa, foram Tsukishima (que recebera a ligação de alguém), Yamaguchi, Yachi e juntamente da novata, Ennoshita, Narita e Kinoshita. Diria que foram os espertos, já que sobraria para ele, Tanaka (que não bebera por estar dirigindo) para levarem os mais embriagados de volta para suas casas.

Se bem que Kageyama morava ali perto, a poucas quadras do bar e podia ser levado a pé. Já os três universitários junto de Nishinoya, seriam um problema. Esperava que pudesse contar com a ajuda de Ushijima, pelo menos.

Ao lembrar-se do moreno, ergueu a vista, não o vendo sentado à sua frente como deveria estar. Franziu o cenho, parando o copo de suco a meio centímetro dos lábios.

Aonde ele foi? Ah, sim... Ele estava no banheiro. Ergueu o rosto, baixando o copo e deixando-o na mesa. Estava a um passo de se erguer e verificar se o mais velho estava mesmo bem (já que se encontrava extremamente pálido antes de sair), quando alguém se sentou no assento livre do seu lado esquerdo, assustando-o.

Quando sentiu o peso sobre seu ombro, o cheiro amadeirado de colônia masculina invadiu seu nariz, e foi como um dejá vu. Arregalou os olhos, congelando no lugar ao ver Ushijima Wakatoshi apoiar a cabeça em si, completamente relaxado sobre a cadeira.

———— U-Ushiji... Ushijima-san? ———— O braço dele apoiara-se em sua coxa, e fora impossível não se sobressaltar com o toque. O peso dele caindo sobre si, de longe era tão desagradável quanto ele pensava que seria. ———— Ushijima-san, você está bêbado?

Ele negou, e seu cabelo roçou no pescoço e bochecha de Hinata, fazendo cócegas. Riu baixo, tocando a testa dele e vendo como estava gelada. Desceu a mão para sua bochecha, sentindo-a quase ferver. Balançou a cabeça, voltando a vista para frente.

———— Por que está mentindo quando está na cara que você está bêbado?

———— É muito barulhento... Aqui...

———— Eh? ———— Hinata voltou-se para ele, vendo-o mover a cabeça para cima. Quando sentiu a ponta de seu nariz tocar seu pescoço, o arrepio fora involuntário e descontrolado.

Corou, sentindo-se tremer.

———— Muito barulho... Barulho... Barulho... Minha cabeça dói!

Hinata entrou em desespero, olhando para os lados. Se até Ushijima estava naquele estado, só ele e Tanaka não dariam conta dos demais. Olhou de forma alarmada para seu senpai, vendo-o tentar acordar Daichi que era usado como travesseiro por Sugawara.

Aquela era uma batalha perdida. E os bêbados venceram.

Suspirou, olhando Ushijima outra vez.

———— Nós vamos embora agora, mas preciso que você fique aqui até que eu leve Kageyama para casa. ———— Wakatoshi se afastou, balançando-se no banco como se não tivesse estabilidade nenhuma. Ele concordou, logo se debruçando sobre a mesa.

Hinata suspirou, olhando para aquele homem completamente perdido, e apiedando-se dele. Sabia que Wakatoshi não estava bem, pois se estivesse, ele não teria voltado. Sabia que quando Ushijima partira fora com a certeza de nunca mais voltar.

Não tinha nada para ele em Miyagi.

———— Shouyou? ———— Ergueu o rosto, vendo Kageyama o olhar com olhos vermelhos e semicerrados pelo álcool. “Só bêbado para me chamar de Shouyou... Bakageyama!” Bufou, pondo-se de pé. ———— Meus olhos estão pesados... Acho que estou ficando cego. Não consigo ver direito... Meus olhos não abrem mais! EU VOU FICAR CEGO!! ———— Hinata riu ao ver o levantador se agarrar em seus braços em completo desespero.

———— Você só precisa dormir... Talvez vomitar antes, e depois você vai ficar bem. ———— Puxou-o do banco, passando um de seus braços sobre seu ombro e circundando a cintura dele. Olhou para Tanaka, ignorando o choramingo que Tobio fazia. ———— Tanaka-san, você vai levar o Daichi-san?

O ex-Vice-Capitão o mirou, assentindo. Suor descia por sua têmpora.

———— Ele vai ficar esse final de semana na casa do Suga-san, então vou chamar um táxi para eles.

———— Eles estão bem para irem sozinhos? ———— Ao término da pergunta, Daichi ergueu a cabeça. Os olhos vermelhos e o rosto marcado pela roupa.

———— Estou bem, Hinata, só tonto. ———— Ele abanou a mão em frente ao corpo, pondo-se de pé e ajudando Tanaka (parcamente), a erguer Sugawara também. ———— Obrigado pela preocupação.

O ruivo riu, acenando.

———— Nós nos vemos de novo algum dia, Capitão! ———— E girou nos calcanhares, sem conseguir ver o olhar surpreso e brilhante que estampara a face de Sawamura.

 

 

Já passava das seis da tarde quando todos pararam para comer.

Como esperado, Hinata se sentia um completo intruso ali, se recusando a comer muito, por mais que Soekawa e Leon o oferecessem de cinco em cinco minutos. Terminou sua refeição logo e se afastou dos demais, postando-se abaixo da árvore de cerejeira e se contentando em observá-los de longe.

Sabia que era idiotice o que fazia, mas não conseguia afastar aquela sensação ruim na boca do estômago. Era como se as palavras de Ushijima, do outro dia, apenas o deixassem pior. Não queria parecer enxerido, mas queria a amizade daqueles jogadores tão habilidosos. Era algo da sua natureza solitária, sempre desejar por mais amigos com quem podia jogar vôlei e se divertir.

Suspirou, recostando-se na árvore quando sentiu algo macio contra seu braço. Girou o rosto rapidamente, deparando-se com Ushijima sentado ao lado. Arregalou os olhos ao notar que ele dormia, provavelmente tendo terminado ainda antes que Hinata e decidido aproveitar o intervalo para descansar.

Manteve-se em silêncio, observando-o com escrutínio indisfarçado. Nunca pôde analisa-lo daquela forma antes, até por que aquele cara sempre o metera um medo desgraçado. Tentava não fazer muito contato visual, e quando o fazia era para trocar algum desafio ou farpas. Era estranho pensar nele como humano, e como alguém a quem ele queria chamar de amigo. Na verdade, era absurdo. Se os demais membros da Karasuno soubessem, o chamariam de doido.

E eles não estavam longe da verdade.

Ushijima mesmo pensava igual. Ele próprio pensava igual. Mesmo assim, tinha algo naquele Nº1 da Shiratorizawa que o instigava demais. Era perfeição demais para uma pessoa normal, e por isso, talvez procurasse alguma rachadura na armadura impecável? Talvez alguma brecha, uma fraqueza?

Ou só estava curioso para saber o que Ushiwaka escondia por trás daquela fachada de seriedade e indiferença?

———— Quando você fica encarando é irritante! ———— Sobressaltou-se ao ver Ushijima abrir os olhos verdes, mirando-o com intensidade.

———— D-D-Desculpe, pensei q-que estava d-d-dormindo.

———— Costuma observar pessoas dormirem? ———— Hinata abriu a boca, ultrajado.

———— Claro que não! ———— Ladrou, vendo o outro se endireitar, coçando os olhos. ———— Você estava aí tão vulnerável que foi inevitável.

Ushijima franziu o cenho, olhando para o ruivo e vendo-o cruzar os braços, emburrado.

———— Vulnerável?

O menor concordou, mirando os próprios joelhos dobrados em forma de lótus.

———— Você está sempre tão indiferente a tudo, tão inalcançável e inabalável como uma muralha, que ver aquela expressão serena no seu rosto foi-

Parou de falar quando notou o que dizia. Arregalou os olhos, girando o rosto lentamente para Ushijima, vendo que ele total seu. Engoliu em seco, sentindo o suor descer por sua testa.

———— E-Eu...

———— Continue. ———— Havia uma sinceridade em sua voz, que era quase infantil. ———— Eu quero saber. ———— Hinata sentiu suas mãos suarem e tremerem. Apertou-as contra seus braços. ———— Foi o que?

———— Foi agradável.

Wakatoshi arqueou as sobrancelhas, sem entender o que o outro quis dizer realmente com aquilo.

———— Agradável? ———— Hinata corou, virando o rosto.

———— É-É-É... T-Tipo... Foi di-diferente!

———— Você é estranho, Hinata Shouyou!

———— O quê? ———— O ruivo voltou-se rapidamente para o outro, na intenção de xingá-lo um pouco mais, quando seus atos foram barrados e toda sua irritação expulsa.

Aquele sorriso no rosto de Ushijima Wakatoshi o desarmou piamente.

 

 

Hinata olhou para a mesa abarrotada de bebidas e comida, e suspirou. Aquilo daria trabalho para o dono.

Talvez passasse ali no outro dia para pedir desculpas.

———— Hinata! ———— Ergueu o rosto para Tanaka, vendo-o levar um Nishinoya alegre e cantando em direção à porta. Asahi os seguia logo atrás, cambaleando e zigue-zagueando de um lado para o outro. ———— Vou levar esses dois, você cuida do Ushiwaka.

———— Era o que eu pretendia. ———— Olhou para o moreno ainda debruçado sobre a mesa, ressonando de leve.

———— Nos vemos segunda! ———— Nem mesmo girou o rosto para acenar, caminhando em direção ao mais velho.

Apoiou a mão em seu ombro, e balançou-o de leve. Ouviu um resmungo baixo escapar de seus lábios, como se fosse um ronronar. Riu, aproximando-se um pouco.

———— Ushijima-san, vamos ‘pra casa?

Quando os olhos dele se abriram, Hinata quase pulou no lugar, corando afastou-se. Ushijima se endireitou, ainda parecendo tonto, tentou se colocar de pé. Shouyou teve de circundar sua cintura e envolver seus próprios ombros com o braço dele. Aquele maldito continuava alto.

———— Onde...?

———— Onde o quê? ———— Começou a andar, conduzindo-o para a saída.

———— Onde é “casa”? ———— Hinata baixou os castanhos, sem coragem de mirar a face de Ushiwaka.

———— Você não está na sua casa? ———— Abriu a porta do estabelecimento, recebendo um abraço do vento gélido da madrugada. Olhou para o outro lado da rua, vendo Tanaka colocar Nishinoya no banco de trás do próprio carro com dificuldade, enquanto Asahi parecia prestes a vomitar do lado do veículo.

Continuou andando.

———— Eu vendi... Antes de me mudar...

“Ah, é verdade... Foi dessa forma que descobri que ele havia mesmo partido...”

———— Você não está em algum apartamento?

Ushijima concordou, andando com dificuldade.

———— Não sei o endereço, e não posso dirigir...

“Ah, saco!” Hinata grunhiu, quase caindo com o peso dele.

———— Vamos nos sentar num lugar. Talvez você só precise de um pouco de ar. ———— Wakatoshi concordou, olhando para a mão de Hinata que segurava firmemente seu pulso.

Ele tinha dedos tão pequenos que o surpreendia a força usada nas cortadas.

———— Por que foi beber tanto?

Usijima deu de ombros, quando avistou o parque, para onde Hinata o levava.

———— Apenas bebi três copos.

———— TRÊS? ———— Wakatoshi grunhiu pela dor em sua cabeça, ouvindo logo em seguida pedidos de desculpa ao cambalear para a direita. ———— Você é muito fraco para o álcool!

Aproximou-se do banco no meio da praça vazia. Sentou Wakatoshi ali, e viu-o abrir os braços e jogá-los para trás do banco, tombando a cabeça igualmente enquanto soltava uma longa lufada de ar. Suspirou, sentando-se ao lado dele.

———— Ou talvez você apenas estivesse com problemas... ———— Murmurou baixo, olhando as próprias mãos sobre o colo.

 

 

———— Você está preocupado comigo? ———— Ouviu-o perguntar de repente, fazendo seu coração acelerar e aquele calafrio caloroso subir sua espinha.

———— Amigos servem para isso. ———— Respondeu rápido.

———— Não é o que quero saber. ———— Wakatoshi se endireitou, olhando-o, mas Hinata sem coragem não pôde erguer o rosto. ———— Você estava preocupado comigo? Como pessoa, e não como Ushijima Wakatoshi, muito menos como um possível amigo... Você estava?

O ruivo engoliu em seco, respirando fundo algumas vezes.

———— E se eu estivesse? ———— Ergueu o rosto, mirando o outro com desafio. Via as íris parecerem esmeraldas brilhantes e nebulosas. Eram perigosas.

Ushijima pareceu soltar um suspiro aliviado, curvando-se para frente. Hinata recuou um pouco, assustado ao sentir a mão dele parar em seu braço, subindo até alcançar seu pescoço e permanecer na intercalação. O toque o fez tremer, encolhendo-se.

———— Eu diria obrigado... ———— Hinata arregalou os olhos ao vê-lo ir contra si, de repente o envolvendo num abraço tão apertado e tão quente, que foi impossível não desejar ficar ali para sempre. ———— Obrigado... ———— Dedos atrevidos se infiltraram em seus cabelos, e o cheiro de perfume o embriagou, deixando-o tonto e quente.

Evitando tombar, circundou as costas largas, entregando-se ao momento como um idiota.

———— Eu havia esquecido como era a sensação de ter alguém cuidando de mim... Eu havia esquecido como é quente. Obrigado por me fazer lembrar... Hinata Shouyou.

Hinata arregalou os olhos, sentindo-os embaçarem e a ponta do nariz arder.

Era tão doloroso aquilo. Como queria dar fim à dor dele. Como queria mantê-lo perto de si para sempre, aquecê-lo e confortá-lo quando sozinho. Queria vê-lo sorrir e chorar, queria ouvi-lo falar e ouvi-lo reclamar. Queria poder dizer que estaria ali para ele a qualquer momento. Queria impedir que seu coração fosse tomado por tristezas e solidão.

Seria tão difícil assim?

———— Hum!! ———— Sorriu, apertando o casaco que ele usava para evitar-se chorar.

 

 

Shiratorizawa Gakuen

16:34

 

———— Ushijima-saaaaan!!! ———— O Capitão da Shiratorizawa girou o rosto a tempo de ver Hinata passar correndo pela porta do ginásio, largando mochila e casaco próximos da entrada. ———— Vamos treinar saque!

O moreno suspirou, voltando-se para frente e ignorando o outro.

Já fazia duas semanas que estava treinando com o ruivo em um dos ginásios de futebol da escola. Dissera ao treinador que queria alguns dias de privacidade para testar algumas coisas novas, e mesmo não gostando nem um pouco da ideia, Washijou permitiu, dizendo, entretanto, que queria ver 120% de Ushijima nos dias que ele não estava de “TPM”.

Claro que todos os membros do time sabiam a verdade, e Wakatoshi agradecia que eles não tivessem contado nada. Nem mesmo o conselheiro do time viera vê-lo, talvez não querendo interrompê-lo. Agradecia essa compreensão vinda dos mais velhos.

———— Ne, vai me ignorar, é? ———— De repente Hinata estava do seu lado, olhando-o com aqueles olhos castanhos e enormes. ———— Achei que já tivéssemos passado dessa fase.

———— Por que deveria? Somos rivais e inimigos, não se esqueça.

———— Tch, lá vem você com essa ladainha de novo. ———— Olhou para o ruivo com as sobrancelhas arqueadas. ———— Inimigos e rivais não precisam se ignorar, sabe? Ainda mais quando trocam favores mútuos.

———— Quando isso se tornou mútuo? Você é o único aqui que recebe algo.

Hinata pareceu ofendido.

———— Se quer alguma coisa de mim é só pedir!!

Ushijima virou o rosto.

———— Você não tem nada que me agrade.

Wakatoshi se afastou, colocando-se numa das pontas da quadra para sacar. Jogou a bola para o alto e correu, saltando quando ela alcançara a trajetória certa, e atacou. Viu-a tomar o rumo perfeito para atingir a garrafa d’água vazia do outro lado, quando um vulto ruivo se colocou na frente, recebendo seu saque sem maiores dificuldades, diferente de como era no início.

Trincou o maxilar, vendo-o cortar a bola que ele mesmo jogara para o alto. Não querendo perder para o menor, conseguiu interceptar seu corte, imitando o gesto dele quando ambos se encontraram em frente da rede. Hinata fazia força contra a bola para que ela caísse no lado do Capitão da Shiratorizawa, no final, Ushijima ganhando na batalha. A bola estava prestes a acertar o chão quando Hinata a chutou com força para o alto, dando-o tempo para se endireitar e posicionar-se direito.

Recuou alguns passos, correndo em direção da rede e acertando a bola. Ushijima a recebeu de novo, mas Hinata teve um pequeno problema na rede. Como estava embalado demais, não pôde se conter e bateu contra a velha rede que ficava no ginásio de futebol. Seu peso fora o bastante para arrebentar os fios velhos, e como esperado, ele caíra do outro lado da quadra, sobre Ushijima.

A bola caiu no mesmo local que eles, acertando a cabeça de Hinata e a forçando para baixo. O ruivo grunhiu, alisando o local em seguida. Quando abriu os olhos, deparou-se com duas pedras afiadas e intimidantes. Seu corpo tremeu ao sentir a mão dele em volta de sua cintura, enquanto suas pernas circundavam uma das dele.

Ao notar a cena constrangedora, sentara-se alarmado e corado se afastou, testando diversos tipos de desculpas para um Ushijima distraído e perdido em pensamentos.

Ele nunca havia visto um garoto com uma cintura tão fina quanto a de Hinata.

Talvez não fosse completamente verdade... Que ele não possuía nada que agradasse Ushijima Wakatoshi.

 

 

02:46

 

———— Isso... É só subir a rua. ———— Hinata olhou para um Ushiwaka esparramado e sonolento no banco, suspirando. ———— Você pode vir rápido? Mais dez minutos e ninguém vai conseguir acordar Ushijima-san até amanhã.

———— Chego aí em cinco minutos. Obrigado por dar as informações, Hinata-dono! ———— E a ligação fora encerrada.

Hinata mirou a tela do celular de Ushijima, vendo um papel de parede sem graça.

“Deve ser legal ter motorista particular e empregados... Ele fez parecer que é completamente solitário!”

Olhou de forma enfezada para o moreno, aproximando-se do banco e o entregando o celular.

———— Seu motorista está vindo. Foi uma boa hora ele ter ligado.

———— Diga isso por si próprio. ———— Ele ligara no exato momento que estavam abraçados, e Ushijima não pareceu nem um pouco feliz com aquilo.

Hinata riu, sentando-se ao lado dele e enfiando as mãos dentro dos bolsos do casaco.

———— Quando você vai voltar para Kanto?  ———— O outro pareceu suspirar pesadamente, guardando o aparelho.

———— Em alguns dias, talvez... Não sei ao certo.

———— E por que não? ———— Ambos se encararam. Hinata genuinamente confuso. ———— Você não tem coisas para cuidar em Kanto?

Wakatoshi nada respondeu, permanecendo naquela troca de olhares com o mais novo por longos segundos, quando desistira, desviando os verdes para a paisagem escura ao redor deles.

Mesmo com aquela mudança de aparência, Hinata Shouyou continuava tão lento quanto antes.

———— Posso visita-lo amanhã? ———— O ruivo arregalou os olhos com a pergunta, voltando-se para o outro. ———— É domingo... ———— Ele dissera numa voz tão mole e quebrada, que para Hinata pareceu uma súplica.

Assentiu, sorrindo.

———— É claro, Ushijima-san! ———— Ele concordou, girando o rosto quando ouviu o som de um carro subir a rua. Logo reconheceu como Takashi, seu motorista.

Pôs-se de pé ainda tonto, olhando para o veículo que subia.

———— Dê seu endereço para Takashi... ———— Hinata também se ergueu, olhando as costas de Ushijima e sentindo-se vazio de repente. Aquela dor na boca do estômago e o aperto no peito que o colocavam para baixo. ———— Eu vou vê-lo amanhã...

Hinata respirou fundo, vendo Ushijima o encarar por sobre o ombro. Era forte e intenso, comovente.

Sorriu assentindo.

———— Vou estar esperando...

 

 

Domingo

08:14

 

Como esperado, ele não conseguira dormir.

Aquela sensação estranha o corroera a noite inteira, mesmo depois de achar que conseguiria dormir por mais horas do que o normal. Sabia que não era nervosismo pela visita de Ushijima à sua casa, mas sim pela partida dele, naquela madrugada.

Foi como se ele nunca fosse voltar.

A mesma sensação que tivera no dia que encontrara os portões da mansão Ushijima com uma placa de “Vende-se”, e notícia nenhuma de Wakatoshi. O mesmo desespero de pensar que nunca mais veria o outro, o colocando numa depressão e frustração irritantes. Sempre odiara sentir-se daquela forma, tão fora de seu habitual.

Queria poder sorrir de verdade perto dele, queria poder ser ele próprio, perto de Ushijima; mas era sempre tão difícil. Quando olhava para o mais velho, a única coisa que entrava em sua cabeça é que logo não o veria mais. Que seria repentino e doloroso quando ele partiria outra vez, para voltar sabe-se-lá quando. Não queria dizer adeus, mas também não queria que ele fosse embora como da última vez.

Queria ficar com ele... Queria muito. Queria tanto que chegava a doer.

Grunhiu, apertando o peito dolorido com a mão e fechando o rosto em uma expressão de desgosto. Aquele vazio fazendo-se notar, aquele enjoo e arrepios... Ele conseguia ver o que era agora: eram saudades.

“Eu quero vê-lo logo!!!”

 

 

Shiratorizawa Gakuen

 

Sentia-se envergonhado por pisar ali depois daquele esbarrão e da forma embaraçosa com que Ushijima ficara olhando para ele. Fazia dois dias que não aparecera na Shiratorizawa, isso por que o próprio Wakatoshi dissera que deviam apenas se ver de dois em dois dias, para que Washijou não brigasse mais com ele.

Ainda sim, sua memória estava fresca e seu embaraçoso era renovado a cada vez que pensava sobre o assunto.

Entrou no ginásio de futebol, e já deixara suas coisas ao canto da porta. Pegara a bola de vôlei e colocara com dificuldade a rede no centro. Treinara algumas sacadas sozinho, outras cortadas que eram difíceis de realizar já que tinha que levantar para si próprio, e praticara sua mira no momento do saque. Quando entediado de jogar sozinho, sentara-se no chão e ali ficara, brincando com a bola pelo que pareceram horas. Ao começar a sentir cansaço e sono, deitara-se, encarando o teto alto, e apercebendo-se do silêncio gritante, apenas quando parecia prestes a sufocar.

Quando decidido a avaliar o que estava acontecendo de errado, ouviu a porta ser aberta num rompante, assustando-o. Sentou-se, sorrindo ao imaginar que Ushijima havia se atrasado, mas barrou-se ao ver Soekawa ofegante adentrar o lugar, aproximando-se dele com um semblante sério e taciturno.

Sentiu um arrepio subir sua espinha, fazendo-o tremer e apertar a bola nas mãos inconscientemente.

———— Soekawa-san? A-Algum problema?

O castanho parou dois passos de distância, suspirando demoradamente.

Não acreditava que Hinata tinha ficado ali esperando por Ushijima por quase seis horas. Era insano!

———— Hinata-san, você deveria ir embora, agora. ———— O ruivo se pôs de pé, parecendo tão desolado que Jin segurou a vontade de abraça-lo. Enfiou as mãos dentro do casaco do uniforme.

———— O que tem de errado?

O vice-Capitão não soube como dizer aquilo, sentindo um nó na garganta prendendo sua voz e suas palavras. Sabia que ia machucar Hinata, de uma forma ou de outra. Era óbvio que aquele garoto tinha se apegado à Ushijima como se fossem grandes amigos.

Como deveria lhe dar a notícia?

———— Wakatoshi... Foi embora.

Hinata piscou, por segundos permaneceu encarando Jin com a mesma expressão, quando então ela se transfigurou em uma irritada, e ele deixou a bola cair de suas mãos e rolar pela quadra.

———— E aquele maldito nem para avisar? Ele vai pra casa e me deixa aqui plantado feito idiota? Ele vai ver uma coisa!! ———— Girou nos calcanhares, começando a se afastar. ———— Quando eu pegar ele, aquele cara vai-

———— Hinata-san!! ———— Soekawa o segurou pelo braço, chamando sua atenção. O ruivo quase caíra no processo, olhando de forma alarmada para o mais velho. ———— Ushijima não vai voltar. Ele foi embora de Miyagi!

Os olhos castanhos se arregalaram, conforme a cor sumia de sua face. Ao notar que ele havia entendido, Soekawa o libertou, encarando-o ficar naquele estado por mais tempo do que antes.

———— C-Como? Por que ele partiu?

———— Problemas de família. Acredito que ele terá de assumir a empresa da família paterna dele. ———— Hinata sentiu-se tonto e enjoado de repente, como se estivesse caindo de um enorme penhasco e soubesse que a morte era certa.

———— Eu não acredito! ———— Ergueu a cabeça, olhando para o castanho com determinação. ———— Ele não iria embora assim!

Soekawa suspirou.

———— Se não acredita em mim, posso leva-lo até a casa dele. ———— Os castanhos brilharam.

———— Certo! Vamos!!

Soekawa observou o menor correr até suas coisas, guardando o que estava fora, e vestindo o casaco de novo.

Não deixou de pensar que aquela determinação apenas seria sua ruína no final.

 

 

Cobriu o rosto com as mãos.

Ainda bem que sua mãe e irmã estavam do outro lado da cidade depois de ganharem vales de graça para uma famosa onsen num sorteio. Voltariam apenas dali dois dias, deixando-o completamente sozinho para se distrair com suas loucuras e pensamentos idiotas. Não queria a mãe lhe fazendo perguntas inconvenientes, ou Natsu em seu pé tentando adivinhar o que tinha de errado.

Passara dois anos remoendo aqueles sentimentos e emoções que não entendia. Sofrera com a partida de Ushijima Wakatoshi e por um bom tempo se enganara achando que era pela “amizade” que tinham construído, mesmo que o outro se negasse a aceita-la.

Mas agora não tinha mais quinze anos, nem era uma criança inexperiente.

Ele entendia que o que sentia por Wakatoshi ia além da amizade. E só podia estar ficando louco... Mas era amor, não era? Aquele desejo pelo outro era inumano.

A música de seu despertador o assustou, fazendo-o procurar pelo aparelho com pressa. Desligou-o, logo se pondo a sentar-se na cama, olhando as próprias pernas sem cobrir. Respirou fundo, tentando preparar-se para aquele dia. Preparar-se para os futuros que viriam, e para a solidão que os acompanharia igualmente antes.

Ergueu-se, indo em direção ao banheiro no corredor. Tomara um banho demorado, cansado demais para ligar para a conta de água naquele dia. Sentia que estava a um ponto de desmoronar, precisando de um lugar para se apoiar, mesmo que um pouco.

Segurou-se na parede, deixando a testa bater contra o frio. Fechou os olhos, sentindo a água quente contra suas costas.

 

 

 

Soekawa seguia em frente com sua bicicleta, enquanto Hinata tentava manter seu foco no castanho.

Mas era difícil. Muito difícil quando a única coisa que pensava era que Ushijima havia ido embora. Embora de Miyagi, ainda. Como ele pudera fazer algo como aquilo? Sem avisar? O que Hinata era para ele?

“Espera... Eu não sou nada, mesmo! O que estou pensando feito um imbecil aqui?”

Parou de andar, frenando a bicicleta a ponto de o pneu cantar pelo asfalto. Mirava suas próprias mãos sobre o guidom, sentindo-as tremerem e suarem, deixando óbvio que seu coração também estava fora do normal. Batendo tão forte e tão rápido, que doía demais.

———— É aqui, Hinata-san! ———— O ruivo ergueu o rosto, vendo Soekawa parado diante enormes portões de prata.

Mirou-o de longe, sem coragem de se aproximar daqueles muros enormes. Entretanto suas pernas pareciam não ouvi-lo, descendo da bicicleta e caminhando em direção ao vice-Capitão da Shiratorizawa com calma e lentidão. Queria parar, não queria continuar e ver o que temia. Ver que estava enganado aquele tempo todo.

“Não! Não! Não!”

Ushijima havia partido.

Seus olhos se arregalaram vendo a placa branca e lívida com as inscrições “Vende-se” em um vermelho sangue. Seria daquela forma então, que se despediam?

———— Eu disse... ———— Ouvir a voz de Soekawa foi como um soco na boca do estômago, aumentando seu desconforto.

Sentiu sua respiração acelerar conforme seus batimentos ficavam mais descompassados e fortes. Largou a bicicleta com rudeza, aproximando-se do portão enorme. Fechou as mãos em punho, trincando o maxilar com força antes de atingir um soco no metal que mantinha a placa recém-colocada ali firme. Soekawa se assustou, sobressaltando-se.

———— Hinata-san?!

———— Aquele maldito filho da mãe! ———— Quase cuspiu as palavras, acertando outros dois socos antes que o mais velho o segurasse. ———— Eu pensei que fôssemos amigos!!

Jin suspirou, vendo o ruivo começar a se acalmar conforme a ira ia deixando-o por meio de lágrimas espessas e contínuas. Afastou-se.

———— Se serve de consolo... Ele não nos avisou também. ———— Riu, sem humor, olhando para a fachada da enorme mansão entregue à escuridão.

Hinata o olhou, fungando baixo.

———— Então você devia... Tentar também! ———— Soekawa o olhou de cenho franzido, sem entender logo o que o menor quis dizer. Quando compreendeu, olhando para a mão fechada em punho que gotejava sangue, e não pôde segurar o riso.

Largou sua mochila de qualquer forma, aproximando-se do portão e olhando-o como se fosse uma ameaça que devia ser detida. Fechou as mãos em punho, e prendendo a respiração, acertou um soco em cheio na grade, ouvindo-a protestar e logo a dor tomar conta de seus dedos. Grunhiu alto, encolhendo-se em seguida e choramingando.

Entretanto, notou que mesmo com a dor, uma parte daquela sensação de frustração e raiva haviam ido embora. Uma parte bem pequena, mas notável. Seus olhos embaçaram pela dor nos nós dos dedos, mas ele sorria, ainda sim.

Ergueu o rosto para Hinata, vendo-o ainda encará-lo com aquele semblante tristonho. Tinha vontade de acertar alguns murros na cara de Ushijima apenas pelo fato de ele ter feito o menor chorar.

———— Acho que deveria chamar o resto do pessoal... Isso até que funciona.

 

“Existe uma cura para esta dor?

[...]

Eu suportei mais um outro dia no meu quarto frio, em sobras e pedaços deixados para trás.

Eu sobrevivo na sua memória.”

 

 

09:02

 

Ligou a cafeteira, e deixou-a trabalhar enquanto se aproximava do balcão da cozinha e olhava o celular. Viu três ícones de mensagens não lidas, e todas de pessoas diferentes. Riu ao ver o nome de Kenma na primeira, enviada às sete da manhã.

Perguntou-se o que alguém preguiçoso como aquele levantador estaria fazendo acordado tão cedo.

 

K. Kenma =3=

07:03 a.m

Assunto:

Shouyou!!! Iremos dar uma festa de despedida

Para o Kuroo semana que vem; você não quer vir?

Pode chamar o pessoal do time!

 

O ruivo gargalhou, logo respondendo o mais velho.

 

Eu

09:03 a.m

Assunto:

Kenma, o que você quer me mandando mensagens às

Sete da manhã? Você andou bebendo?

E eu ia adorar ir, pode deixar que falo com o pessoal!

 

A próxima que abrira era de Kageyama Tobio, para sua surpresa. Fazia quase dois anos que haviam trocado de números, mas era a segunda vez que ele lhe mandava uma mensagem. A primeira foi para confirmar que Hinata não havia dado o número errado.

 

Bakageyama ¬-¬

08:03 a.m

Assunto:

Hinata imbecil! Me diga agora o que foi que eu fiz

Ontem à noite ou eu vou até aí matar você! (▼▼#)

 

Franziu o cenho para a tela do celular, endireitando-se no banco da cadeira. Logo digitou uma resposta, nem um pouco satisfeito com a ameaça.

 

Eu

09:03 a.m

Assunto:

Qual seu problema? Ouviu alguém contar sobre você

E sua dancinha da música Daddy do Psy em cima da mesa?

Aquilo foi lindo, Kageyama-kun!! ♥♥♥♥♥♥

〜( ̄▽ ̄〜)

 

Riu, imaginando como o levantador ficaria catatônico com aquilo.

Era mentira, claro, mas nada o impedia de se divertir um pouco.

Enquanto sentia o cheiro do café e ouvia a cafeteira trabalhando, procurou pela terceira mensagem, não vendo nome, apenas um número. Estreitou os olhos, não se recordando de ter dado seu número para alguém, recentemente.

 

(XX) XXX-XXX-XXX

08:56 a.m

Assunto:

Chegarei antes das 10h00min. Espero que esteja acordado.

U. W.

 

Hinata arregalou os olhos, se pondo de pé tão rápido que o banco caiu à suas costas.

———— COMO ELE TEM MEU NÚMERO? ———— “Não, espera!” ergueu os olhos para o relógio de parede, vendo que ainda tinha tempo para aprontar tudo.

Respirou fundo, tentando acalmar seu coração acelerado, salvou o número. Endireitou a cadeira e voltou a se sentar, respondendo rapidamente e com dedos trêmulos.

 

Eu

09:04 a.m

Assunto:

Estou acordado. Não consegui dormir direito.

Vou estar esperando! ^////^

 

Leu a mensagem três vezes para corrigir os erros ortográficos e enviou. Quando a leu uma quarta, sentiu seu rosto esquentar, batendo a cabeça contra a mesa com força.

———— Por que eu coloquei essa carinha estúpida? O que ele vai pensar agora? Como sou infantil!!

Grunhiu, batendo as pernas no apoio da cadeira numa forma de extravasar sua frustração e vergonha.

Sentiu seu celular vibrar, e logo procurou o motivo. Uma mensagem. Seu coração bateu mais rápido dentro do peito, deixando-o quente e com dificuldade para respirar.

 

Ushijima-san

09:10 a.m

Assunto:

Certo. Vou voltar para Kanto hoje à noite.

 

Seus olhos se arregalaram, sentindo aquele arrepio caloroso. Seus dedos pararam de tremer, mas sem dúvida não por uma coisa boa. Ele não queria responder. Não queria mais ver Ushijima. Mas não queria que ele fosse embora, nem que ele fosse sem se despedir.

 

Eu

09:10 a.m

Assunto:

Espero que se despeça direito desta vez.

U-U

Aliás, como conseguiu meu número?

 

Ergueu a cabeça para a cafeteira, vendo-a parar de fazer o barulho de sucção. Se ergueu, desligando-a e depois tirando-a da tomada. Apoiou-se no balcão quando sentiu o celular tremer. Viu que se tratava de Kageyama agora.

 

Bakageyama ¬-¬

09:11 a.m

Assunto:

Como assim dancei Psy? VOCÊ

ESTÁ MENTINDO, NÃO ESTÁ?

 

Riu alto.

 

Eu

09:11 a.m

Assunto:

Até gravei, Kageyama-kun! Se quiser, posso

Te mostrar amanhã, na escola! Mas já digo

Agora que você até que tem coordenação

Motora! ;-) ♥♥♥

 

Outra mensagem.

 

K. Kenma =3=

09:11 a.m

Assunto:

Lev nos trouxe bebidas estranhas ontem, e

Depois não consegui dormir. Não consigo nem

Parar de falar ou piscar. Meus olhos ficam abertos o tempo todo.

É assustador e doloroso!!

 

Hinata nem podia acreditar no que via diante seus olhos. Kenma passou a noite na farra? Estava algo aí que necessitava de sua atenção.

 

Eu

09:12 a.m

Assunto:

Você bebeu? Que milagre é esse? Devo esperar

Por chuva de canivetes? Uhauahuahuahau

E que história é essa do Lev trazer bebidas

Estranhas? Kuroo-san não falou nada?

 

Suspirou, guardando o celular no bolso e preparando seu café da manhã sobre o balcão. Olhou para o relógio outra vez, sentindo-se ansioso demais antes da hora.

Preparou seu desjejum, sentando-se para aproveita-lo e olhando o celular outra vez.

 

Ushijima-san

09:17 a.m

Assunto:

Eu não sou bom com despedidas.

E um de seus amigos me passou. O de cabelo

Claro que era levantador.

 

Bakageyama ¬-¬

09:17 a.m

Assunto:

Se eu descobrir que isso é mentira, Hinata imbecil...

Eu vou trucida-lo lentamente, tá ouvindo, seu imbecil?

 

Eu

09:18 a.m

Assunto:

Deveria melhorar seu vocabulário, ele se baseia

Só em ofender com “imbecil”?

 

Eu

09:18 a.m

Assunto:

Sugawara-senpai? Por que ele te daria meu número?

Isso é muito suspeito!

 

K. Kenma =3=

09:19 a.m

Assunto:

Eu fui forçado! Perdi uma aposta com Kuroo.

E bem, ele é o Kuroo, claro que não fez nada!

Pareceu bem divertido em me ver passando mal ㅇㅅㅇ

 

Eu

09:20 a.m

Assunto:

Diga ao Kuroo-san que se ele gravou, eu quero ver!!!

(ノ> ◇ <)ノ♪

 

Hinata riu, não se surpreendendo. Kuroo podia ser bem sádico quando queria.

Quando a campainha tocou, seu corpo inteiro congelou, e o celular escorregou de seus dedos, batendo contra a mesa. Girou o rosto na direção do som, logo ouvindo-o outra vez. Se colocou de pé, guardando o celular no bolso e se aproximando da porta.

Assim que a abriu, seu rosto ficou pálido ao ver Ushijima Wakatoshi ali, com três sacolas nas mãos.

———— Bom dia!

Hinata engoliu em seco, maneando a cabeça.

———— ‘Dia... ———— Lhe deu espaço para passar. ———— Entra... Eu estava tomando o café da manhã. Você quer? ———— Fechou a porta, olhando para o mais velho e sentindo-se começar a ficar nervoso. ———— N-Nem perguntei como v-v-você está.

Wakatoshi deu de ombros, tirando o sobretudo e entregando à Hinata quando este pediu.

———— Estou bem. Algumas horas de sono foram o bastante. ———— O ruivo concordou, pegando suas sacolas em seguida e se encaminhando para a cozinha. ———— Seus pais não estão?

———— Minha mãe e minha irmã ganharam ingressos grátis para uma onsen do outro lado da cidade. Só voltam em dois dias. Pode se sentar e tomar café comigo. ———— Sorriu, vendo-o se acomodar na cadeira ao lado da que seria sua, já que era a única afastada da mesa. Viu-o analisar a comida com olhos quase infantis. ———— Não deve ser um café da manhã tão rico quanto aos quais você está acostumado, mas-

———— Está ótimo! ———— Hinata arregalou os olhos ao vê-lo parecer quase sorrir, encarando-o. ———— Preciso de uma xícara.

O ruivo ainda ficou algum tempo sem reação, quando se tocou do que ele dissera. Apressou-se em entrega-lo o objeto de cerâmica azul. Quando alcançou a ele, viu-o apontar para as sacolas ainda em sua mão.

———— Comprei alguns ingredientes para fazer Tempurá! ———— Hinata o olhou de forma alarmada, depois abriu as sacolas e viu que tinha ingredientes até demais ali. ———— Eu vi a receita na internet por acaso, e fiquei curioso sobre como devia ser o sabor.

Shouyou riu, olhando para Ushijima e concordando.

“Ele parece uma criança!”

———— Sorte sua que eu já observei minha mãe fazer, por isso não acho que vá ser um problema. ———— Guardou os ingredientes na geladeira, enquanto ele se servia calmamente.

Quando se sentou à mesa, lembrou que Kageyama e Kenma podiam tê-lo respondido, por isso logo olhou o celular.

 

K. Kenma =3=

09:21 a.m

Assunto:

De que lado você está afinal, Shouyou? ¬-¬

 

Eu

09:24 a.m

Assunto:

Estou do lado divertido da força!

ヾ( ̄ー ̄)X(^∇^)ゞ

 

Bakageyama ¬-¬

09:21 a.m

Assunto:

Idiota, sem noção, estupido, retardado, abestalhado, tonto, abobado, pateta...

Gostou? }:D

 

Bakageyama ¬-¬

09:21 a.m

Assunto:

Responde logo, caramba!

Oe!!

 

Bakageyama ¬-¬

09:22 a.m

Assunto:

Se você não responder em cinco segundos, vou mandar mensagens sem parar!

 

Bakageyama ¬-¬

09:22 a.m

Assunto:

Oeeee!! Sabe como seu nome está salvo no meu celular? HINATA BOKE!

Por que pode existir mais de um, vai saber... ‘-‘

 

Bakageyama ¬-¬

09:22 a.m

Assunto:

Acho que não dá pra evitar, certo? É da sua natureza...

 

Hinata fez careta, olhando discretamente para Ushijima ao seu lado, que se distraia com um pedaço de bolo de cenoura. Voltou-se para o celular, de bico. “Qual o problema desse cara?”

 

Eu

09:25 a.m

Assunto:

Você ainda está bêbado, Kageyama-kun?

E seu nome está salvo como BAKAGEYAMA NO MEU!!!

Uauhauahuaha

ヘ( ^o^)ノ\(^_^ )

 

———— Desculpe ficar mexendo no celular, Ushijima-san! Mas Kenma e Kageyama estavam me enchendo a paciência. ———— Guardou o aparelho dentro do bolso.

———— Kenma? ———— Ergueu o rosto antes prestes a bebericar do café.

———— Hum! O levantador da Nekoma! Jogamos contra eles nas Nacionais, se recorda? ———— O mais velho pareceu pensar um pouco, enquanto Hinata o assistia. Seu coração acelerando conforme dava-se conta de que estava tão próximo dele para que seus braços se tocassem sobre a mesa.

———— O garoto desanimado!

———— Esse mesmo!!! ———— Hinata riu, concordando. ———— Eu o conheci um pouco antes dos jogos, num amistoso. Nossa escola tem uma história de rivalidade e amizade com a Nekoma que vai desde a geração que os treinadores Ikkei e Nekomata eram alunos, acho! ———— Voltou-se para sua torrada. ———— Eu espero que a Karasuno e a Nekoma possam ser amigos por muitas outras gerações futuras, ainda.

Ushijima concordou, admirado por aquela expressão de leveza no rosto do ruivo.

Não disseram mais nada em seguida, terminando o desjejum com calma. Wakatoshi o ajudou a guardar as coisas e se voluntariou para lavar a louça. Hinata teimara que não havia necessidade e que estava acostumado com aquilo, mas o mais velho era teimoso. O ruivo sabia que aquela devia ser a primeira vez que ele o fazia, já que parecia levemente perdido, mas muito determinado.

Pouco tempo depois, ouvira-o resmungar, ostentando um corte na palma direita.

Suspirou, balançando a cabeça.

———— Eu disse que podia fazer!! ———— Afastou-se, pegando o kit de primeiros socorros que sua mãe tinha numa das gavetas da cozinha. Colocou-a sobre a mesa e se aproximou de Ushijima, colocando sua mão abaixo da água e limpando o corte. ———— Como você foi fazer ele tão fundo?

 

 

Wakatoshi o olhou, mesmerizado pelo fato de que Hinata conseguia parecer cada vez mais adorável. O cheiro de shampoo, os cílios longos e grossos, o nariz arrebitado e os olhos enormes e brilhantes... Pareciam tenta-lo de alguma forma que Ushijima se via no dilema de resistir. Era confuso e estranho aquele sentimento de posse. De querer ter Hinata por perto, de saber tudo que ele fazia e com quem fazia.

Era a primeira vez que lidava com aquele sentimento sufocante, as emoções conflitantes... O que estava acontecendo de errado com ele, afinal? Havia decidido partir, há dois anos, pelos mesmos motivos que se via lidando naquele segundo. Não conseguia resistir à Hinata em nada, nem dizê-lo não. Era frustrante, e Ushijima Wakatoshi odiava se ver à mercê dos desejos de alguém. Ainda mais alguém que um dia ferira seu orgulho e ego.

———— Eu apenas fiz força contra a esponja... ———— Hinata riu, puxando-o para a mesa e o fazendo se sentar. O fizera, vendo o ruivo fazer o mesmo à sua frente, puxando a cadeira para mais perto e ficando entre suas pernas. Observou-o abrir o kit, e procurar por um pedaço de algodão.

Ele molhou num tipo de água oxigenada, e segurando com uma pinça, aproximou-se de Ushijima. Olhou-o com intensidade, tendo os castanhos sobre si rapidamente.

———— Vai arder um pouco. ———— Avisou, puxando a mão de Wakatoshi com tamanha delicadeza, que o moreno queria apenas sorrir.

Era idiota.

Por isso fora embora.

Concordou, vendo-o se voltar para sua mão e lentamente descer o algodão. Quando sentiu a fisgada puxara a palma um pouco, tendo os dedos dele mais firmes em volta dos seus. Uma pressão tão confortável, que ele sentiu seu peito se aquecer. Fora uma atitude infantil e desesperada, mas foi como se finalmente aquela parte sua que parecia vazia, estivesse se completando de novo.

Talvez por isso tivesse voltado. Pois não conseguia parar de pensar nele. Queria dizê-lo isso, de como ficara dolorido todos aqueles meses distante. De como pensava no ruivo sempre que olhava para o céu de tarde, quando o via tingido daquela bela cor calorosa: laranja. Sentia-se aquecer, e depois era sufocado por uma falta de ar excruciante.

Queria ver Hinata. Queria estar com ele de novo, e não podia aguentar mais um dia longe daquele garoto, imaginando-o com outra pessoa, sorrindo para outra pessoa.

Era doloroso.

———— Eu senti sua falta. ———— Hinata congelou, arregalando os olhos, com o algodão a pouco centímetros do corte avermelhado. ———— Por isso voltei... Aquilo sobre meu tio, foi apenas parte do verdadeiro motivo.

Ele puxou o ar com calma, entreabrindo os lábios.

Ushijima sorriu ao não vê-lo erguer a cabeça.

———— Só queria que você soubesse!

 

“Me mostre você, me ensine sobre você apenas um pouco.

Como eu posso te confortar e te abraçar?

[...]

Em todos os momentos que virão, eu espero que você esteja neles.

Porque mesmo os dias difíceis derretem quando eu estou ao seu lado.”

 

 

10:10

 

Hinata ligou o rádio, aumentando o volume ao ponto que pudessem ouvir do lado de fora. Quando reconheceu a música que tocava na sua estação favorita, suspirou, girando nos calcanhares e deixando a casa.

Viu Ushijima sentado no muro de sua casa, olhando para o céu nublado. O vento fresco bagunçava seus cabelos e suas roupas, mas ele não parecia incomodado. Na verdade, nunca parecia incomodado com nada. Shouyou se encontrava naquele momento enfrentando um dilema depois da confissão que o outro fizera, e o maldito nem parecia afetado por aquilo. Por acaso ele não percebia como soava o que dissera?

Aproximou-se calmamente, apoiando-se ao lado e olhando para a rua em frente. Tinha quase setenta metros de apenas floresta de ambos os lados de sua casa, até que alcançasse a vizinha. Era calmo, assim, mas sua mãe sempre tivera medo de deixa-lo sozinho em dias de tempo fechado, ou para passar a noite. Ela era preocupada, e Hinata entendia o porquê, mas nunca havia parado para pensar no assunto.

As mães sempre costumavam trazer pensamentos do tipo à tona.

———— Você precisa voltar que hora? ———— A pergunta pareceu estúpida depois que proferiu-a, olhando para o céu fechado.

———— À tardinha está bom. ———— Hinata concordou, baixando os olhos. Quando reconheceu a nova música na rádio seu rosto se voltou para ela rapidamente.

“Só pode estar brincando... Justo agora?!” aquela era a música mais depressiva que conhecia.

———— Já ouvi essa música antes... ———— Ushijima começou, olhando-o com curiosidade ao notar sua expressão. ———— Ela é comovente.

O ruivo sorriu, olhando-o com diversão.

———— Se até você achou comovente, ela deve ser mesmo. ———— Wakatoshi não se deixou abalar pela brincadeira, olhando a fachada da casa. ———— Wagamama na seikaku ga naosara itoshiku saseta (N/A: Sua natureza egoísta me fez te amar ainda mais). ———— Quando ouviu Hinata cantar, seus olhos percorreram o caminho até ele, vendo-o sorrir enquanto perdia-se nas nuvens carregadas sobre suas cabeças. ———— One more chance kioku ni ashi wo torarete, one more chance tsugi no basho wo erabenai (N/A: Mais uma chance, as memórias restringem os meus passos, mais uma chance, eu não posso escolher meu destino).

———— Hinata Shouyou, você não nasceu para isso. Não embarace mais a si mesmo. ———— O ruivo o olhou de forma ofendida, antes de rir diante seu olhar travesso, e lhe dispensar um soco na perna.

———— Cala boca, Ushijima-san! Você que não é um bom apreciador.

O outro concordou, sorrindo.

———— Aliás... Você não foi visitar os demais membros da Shiratorizawa? ———— Ushijima suspirou, sumindo com o sorriso.

———— Acredito que eles estejam ocupados.

———— Ushijima-san... ———— Ralhou, fazendo careta. ———— Todos eles sofreram com a sua partida. Principalmente o Soekawa-san, Shirabu-san, Goshiki-san e o Tendou-san... Eles quase destruíram seu portão.

Riu.

Wakatoshi não entendeu, olhando-o com o cenho franzido.

———— Meu portão?

Hinata engoliu em seco, olhando-o em alarde. Riu em seguida, coçando a nuca.

———— Modo de falar. ———— Ushijima duvidou daquilo, mas nada dissera. ———— Acho melhor entrarmos... Vai vir um temporal! ———— Apontou para longe, onde nuvens mais escuras começavam a se juntar, tornando o cenário muito mais sombrio e perigoso.

———— Certo! ———— Ushijima saltou do lugar, acompanhando o ruivo para dentro de casa outra vez.

O vento começava a se tornar forte e opressor. As janelas e portas batiam, obrigando Hinata a trancá-las logo. Permaneceu na sala, onde tirou alguns eletrônicos da tomada e acendeu a lareira, dispersando algumas almofadas no chão onde sentou-se, ao lado de Ushijima, que permaneceu no sofá.

O silêncio entre eles era pesado, e um pouco desconfortável. Agora que estavam em silêncio, ficava mais fácil para Hinata se recordar do que o outro dissera, e isso o deixava nervoso. Era como se ó naquele momento tivesse consciência do que acontecia consigo. Internamente.

Apertou as pernas contra o peito, abraçando os próprios joelhos ao notar que estava tremendo de leve. Talvez o fogo na lareira não fosse o suficiente?

———— O que é isso? ———— Ergueu o rosto para Ushijima, vendo-o erguer um caderno de capa dura e verde. Ao perceber que aquilo era um álbum, o mais velho já o abria. ———— Um álbum de fotos...

———— AH!! ———— Hinata se pôs de pé, começando a corar. ———— Não olha! ———— Saltou sobre o outro, sendo prontamente driblado quando ele se colocou de pé, ainda analisando as páginas.

———— Essa é sua imouto? Ela é parecida com você... Mas sua mãe nem tanto. ———— Hinata corou mais ainda, saindo do sofá e saltando sobre Ushijima, tentando pendurar-se nas costas dele, mas o outro parecia ter olhos na nuca, desviando de forma que parecera quase uma dança. Começou a andar pela sala, enquanto deixava um Hinata desesperado e frustrado no chão.

———— NÃO OLHA!!! ———— Ushijima sorriu, quando parou de andar.

Via a foto de um homem jovem e bonito, de cabelos ruivos e bagunçados, com uma franja proeminente. Parecia uma versão mais velha de Hinata.

———— Este é seu pai?

Hinata congelou, engolindo em seco. A foto que tinham naquele álbum, a única foto dele, era a qual usaram para colocar no retrato sobre seu caixão. Sempre pulava aquela página quando olhava o álbum, achando que era doloroso demais ver aquele sorriso gentil na face do patriarca, e se lembrar de que nunca mais o veria de novo.

———— Ele morreu quando Natsu tinha dois anos... ———— Pôs-se de pé, olhando para as costas de Ushijima. ———— Essa é a única foto que mamãe conseguiu guardar dele. As demais foram... ———— “Foram rasgadas por mim...”

Wakatoshi fechou o álbum com força, olhando-o. Hinata se sobressaltou, erguendo um braço e recuando um passo. Sentia que Ushijima iria de repente, voar em seu pescoço e estrangulá-lo tamanha intensidade daqueles olhos.

———— Você cresceu bem, Hinata... ———— Os olhos dele se arregalaram, sentindo seu coração retumbar nas veias. ———— Eu sei como é crescer sem uma figura paterna ou materna... E mesmo assim, você é capaz de sorrir.

O ruivo se sentiu desestruturar diante aquela voz calma e gentil. Era como um afago no topo de sua cabeça, um abraço apertado e gentil.

———— Acho que seu pai ficaria feliz de vê-lo hoje. ———— Deu de ombros, largando o álbum sobre o sofá, e voltando-se para Hinata. ———— Vamos fazer o Tempurá?

Shouyou piscou, erguendo o rosto confuso.

———— O quê?

 

 

———— Certo... ———— Hinata ergueu a faca, vendo Ushijima subir a manga da camisa que usava, olhando-o em seguida. ———— Aqui no site diz que devemos cortar a cebola em rodelas, e depois cortá-las no meio... Espetando um palito nos anéis ‘pra eles não separarem! ———— Apontou a cebola. ———— Você faz isso.

Ushijima não pareceu conformado.

———— Você vai dar o pior ‘pra mim?

Hinata riu.

———— Eu tenho que cortar a cenoura, o pimentão, a abóbora japonesa, a batata doce e a berinjela em fatias finas. Você mal tocou na louça antes e se cortou, como pretende cuidar disso? ———— Olhou-o com superioridade, vendo como o mais velho pareceu frustrado, olhando-o com enfezo.

———— Tanto faz. ———— Quando ele virou-se para a pia, Hinata riu, começando a fazer o que dissera que faria.

Levou pouco menos de dez minutos para picar tudo e separá-los em potes, enquanto Ushijima ainda cuidava da cebola. Sabia que ele fazia aquilo com cuidado para ficar bom, mas era engraçado como ele se concentrava tanto naquilo que vincas eram formadas entre suas sobrancelhas. Era até fofo, ousava dizer.

Balançou a cabeça, voltando-se para os ingredientes. Leu o que deveria fazer em seguida, notando pelo canto de olho que ele terminava também.

———— Você corta a vagem ao meio, sem separá-la totalmente! ———— Frisou, voltando-se para ele e apontando a faca. ———— Tem que deixar 1 cm na base.

Wakatoshi pegou a vagem, erguendo-a em frente ao rosto.

———— Não sabia que cozinhar exigia tanto.

Shouyou segurou o riso, voltando-se para o celular.

———— Enfim... Vou tirar as pontas e o fiapo da ervilha torta, depois vou limpar o camarão, enquanto você pode picar a couve-flor e o brócolis. ———— O mais alto o olhou, arqueando uma única sobrancelha.

———— Isso eu posso picar? ———— Pareceu irônico ao perguntar, o que irritou Hinata.

———— É em talos! Então pode ir com tudo!!

Era extremamente frustrante cuidar daquelas ervilhas, mas fez o mais rápido que conseguia para tratar logo do camarão ao lado. Olhando-o, percebeu que eram camarões enormes que provavelmente custara bem caro.

Ushijima e essa mania de gastar dinheiro desnecessário.

Voltou a seus afazeres, e quando terminado, juntou os camarões e tratou de limpá-los. Tirou a cabeça primeiro, depois as “cascas”, sentindo que descascava um ovo. Tirou o rabo com delicadeza, puxando-a e fazendo três cortes na vertical, para tirar as vísceras, e para que ele ficasse reto na hora de fritar. Calmamente as empurrando sobre a mesa. Certificou-se de que estava bem limpo antes de pegar o próximo.

Quando estava lá pelo oitavo, notou que Ushijima o observava, parado ao seu lado. Ergueu o rosto para ele, vendo como mesmo depois de ter 1,85, ainda era mais baixo que aquele maldito.

———— Você... Quer fazer?

Wakatoshi pareceu animado com a ideia, os olhos brilhando e aquela concordância que enaltecia-o como uma criança no corpo de um adulto. Hinata riu, não deixando de pensar que talvez ele fosse tão inocente em alguns aspectos, pois não tivera ninguém para ensiná-lo aquilo tudo, quando criança.

———— Já viu como eu faço, né?

———— Sim.

———— Faça igual com os outros seis, enquanto eu vou cuidar da massa. ———— Ele concordou, se colocando onde Hinata estava e calmamente tratando dos camarões.

Quando pronto, acendeu o fogo e deixou o óleo esquentar, pedindo que ele passasse um pouco de água nos camarões, para tirar qualquer vestígio de vísceras, e então colocou tudo pronto sobre a pia. Passou o camarão e os legumes na farinha, levemente, depois na massa. Fritou-os por alguns minutos, até ficarem dourados, como sua mãe fazia. Tudo sendo prontamente assistido por um curioso Wakatoshi.

Enquanto estava ocupado, pediu-o para picar alguns tomates para salada. Auxiliando-o de tempo e tempo para evitar que novo desastre ocorresse.

Quando pronto, retirou os alimentos do óleo e os deixou escorrer um pouco, preparando uma nova tigela para coloca-los, envolvidos em papel. Aprontou a mesa, distribuindo tudo corretamente, e convidou o mais velho para se sentar.

E isso já passava das onze horas.

———— Acho que agora você pode matar sua vontade de comer Tempurá! ———— Wakatoshi assentiu, deliciando-se com aquele camarão frito.

———— Você não parece do tipo que cozinha bem.

———— Não ofenda o Chef! ———— Ele sorriu. ———— Agora vou tirar uma foto e fazer Kageyama vomitar o resto da tarde! ———— Riu, tirando o celular do bolso.

Wakatoshi o analisou, confuso.

———— Vomitar?

———— Hum... Ele bebeu demais ontem, me disse que acha que vai passar o resto da vida vomitando. ———— Riu mais, digitando algo freneticamente. ———— Também pudera, aquela foi a primeira vez que ele bebeu daquele jeito.

Ushijima concordou, voltando-se para sua comida e ignorando as risadas esporádicas do ruivo, que no fundo, o deixavam instigado e irritado.

 

 

14:23

 

———— Não acredito que a luz acabou! Maldição!! ———— Aproximou-se da sala e sentou-se perto da lareira ainda acessa, vendo Ushijima o imitá-lo, puxando algumas almofadas com ele.

Logo após comerem, Hinata notou que a chuva havia começado, caindo forte e intensa. Não via-se nada do lado de fora, apenas cinza. Sentiu-se preocupado com o motorista do mais velho. Sabia que se ele fosse até ali buscar o “Jovem Mestre”, poderia ter problemas. Aquela chuva e as ruas cheias de curvas acentuadas eram perigosas e duvidosas.

———— Talvez eu tenha que passar a noite aqui.

———— Como é? ———— Hinata se alarmou, olhando o homem ao seu lado. Seus olhos estavam focados no fogo, deixando-o com um semblante taciturno e forte. Era opressor.

———— Você não quer? ———— Olhou-o, e o ruivo recuou um pouco. ———— Não quer que eu fique?

———— V-Você pode ficar, s-s-se não tivermos outra opção...

Ele concordou, sem tirar os olhos do menor. Estava apenas provocando-o, não falava sério sobre passar a noite ali. Sabia que não seria necessário. Queria apenas ouvi-lo dizer que necessitava de si com ele. Queria ouvi-lo admitir que sentiria sua falta se partisse.

Mas era difícil.

 

 

Enfiou a mão no bolso da calça, tirando dela uma caixinha retangular, azul. Hinata tivera sua atenção capturada pela movimentação dele, arregalando os olhos quando viu o que ele segurava. Os castanhos logo se ergueram para os verdes.

———— É um presente de despedida. ———— Entregou-o a um Hinata embasbacado. Abriu a caixinha para ele, sabendo que o ruivo levaria algum tempo para voltar à realidade. Quando o fez, os olhos castanhos se arregalaram mais ainda, brilhando forte mesmo na escuridão ao redor deles. ———— E um pedido de desculpas pela ultima vez.

Shouyou puxou o colar, erguendo a ponta arredondada e sorrindo ao ver que se tratava de um corvo encolhido no pequeno circulo. Era de prata e comprido, garantindo que não o atrapalharia em jogos futuros e poderia ficar escondido dentro de sua roupa.

———— Gostou? ———— Hinata tocou a ponta, sentindo seu coração aquecer de uma forma que ele não soube explicar.

Sentiu que estava despencando outra vez. Necessitava de um apoio, um refúgio. Não podia lidar com aquele aperto no peito e o vazio no estômago. Não podia lidar com Ushijima Wakatoshi quando ele fazia aquelas coisas. Como podia ser gentil, com a intenção de partir depois? Como podia ser tão cruel a ponto de fazê-lo se apaixonar sem a intenção de retribuir?

———— Não seja gentil comigo... ———— O mais velho franziu o cenho, vendo o ruivo baixar o colar, olhando-o. Havia desespero nas íris castanhas. Um medo que abalou Ushijima. ———— Não faça isso se não quer arcar com as consequências...

———— Consequências? ———— Largou a caixinha de lado, endireitando-se para ficar mais perto do outro. ———— Do que está falando?

———— Estou falando do fato de que eu realmente fiquei magoado quando você partiu!! Eu não sabia por que, mas doeu como o inferno! ———— Fechou a mão em volta do colar, sentindo sua voz começar a subir alguns decibéis. Não era seguro continuar, mas sentia que não podia mais esconder. Ia acabar explodindo se o fizesse. ———— Agora você volta como se não tivesse deixado um buraco na minha alma, e age dessa forma... Dessa forma gentil!! Você quer me matar, maldito?

Wakatoshi realmente não estava entendendo onde Hinata queria chegar.

———— Você está querendo dize-

———— Estou querendo dizer que não quero que você vá!! ———— Esbravejou, vendo os olhos do outro se arregalarem. ———— Estou dizendo que sou egoísta o bastante para não ligar para seus desejos. Não quero saber se você quer ir embora mesmo, eu apenas penso em mantê-lo do meu lado e impedir que você saia!! Você me transformou em um ser egoísta e narcisista, Ushijima!!

O outro respirou fundo, vendo um Hinata ofegante tentar se acalmar. As bochechas vermelhas e os olhos brilhando tanto de irritação quanto esperança. Acreditava que aquele silêncio não devia ser tão ruim assim.

———— Hinata-

———— Esquece! ———— O ruivo girou o corpo, erguendo uma perna para se afastar, quando seu corpo foi segurado com força.

Pelo menos foi o que pareceu.

Na verdade, ele estava sendo abraçado.

Seu coração bateu forte, esquentando todo seu corpo e congelando-o ainda sim. Não queria se mover. Não queria sair dali.

———— Não posso mais fingir... ———— Ouviu-o admitir, enterrando o rosto na curva de seu pescoço e ombro. Arrepiou-se quando sentiu a respiração dele. ———— Eu não quero ir embora. Não quero sair daqui. Não quero ficar um dia sem ver você de novo, por que eu sinto que vou morrer! E isso é tão irritante e frustrante... Eu nunca precisei lidar com isso antes, mas agora me vejo tendo pensamentos estranhos...

Hinata baixou a cabeça, corado, voltou a se sentar, deixando-o apertá-lo mais um pouco.

———— Pensamentos... Estranhos?

———— Quero segurá-lo assim... Quero pegar na sua mão, e quero afundar meus dedos no seu cabelo. Não quero vê-lo sorrir por outros, ou para outros... Não quero perde-lo de vista um segundo.

Hinata riu.

“Ele deve ser um misto de Kuudere¹ e Yandere²!”

———— Tudo bem... ———— Olhou-o sobre o ombro, apoiando suas mãos sobre as dele. ———— Você pode fazer tudo isso. Eu não me importo!

Ushijima ergueu o rosto, olhando-o com surpresa. Afastou-se um pouco, e Hinata virou-se para ele.

———— Se você não vai mais fingir... Eu também não vou. ———— Sorriu, coçando a nuca em seguida. ———— Eu meio que não aguento mais essa sensação sufocante de quando você vai embora.

Wakatoshi suspirou, pegando o colar da mão dele. O ruivo o olhou com curiosidade, antes de receber um sinal para virar-se. Ele logo o fez, vendo-o colocar o adorno em volta de seu pescoço. A peça caiu até abaixo de seu peito. Baixou a cabeça, alisando a peça com os dedos e sentindo-se alegrar repentinamente.

———— Eu apenas queria ouvir você dizer isso. ———— Ergueu o rosto, virando-se para Ushijima outra vez. Seus olhos brilhavam de forma infantil e intensa, deixando-o mesmerizado pela visão. ———— Só queria que você dissesse que precisa de mim.

Hinata sorriu, achando aquela atitude tão ingênua, que era fofa também.

———— Eu preciso de você, Wakatoshi-kun! ———— Riu, vendo-o entreabrir os lábios.

Quando pensou que ele diria algo, suas mãos foram em direção de seu rosto, circundando suas bochechas e pescoço. Os dedos se infiltraram um pouco em seu cabelo, obrigando ambos a se aproximarem. O coração de Hinata acelerou, deixando as palmas suadas. Perto o bastante, fora obrigado a apoiar as duas mãos nas pernas de Ushijima, tendo sua testa colada com a dele.

Riu, sentindo suas bochechas arderem. Aquele maldito estava tentando-o, só podia.

———— Wakatoshi-kun? ———— Ele abriu os olhos, olhando-o. Hinata sorriu, agora sendo sua vez de circundar seu rosto com as mãos e quebrar a distância entre eles, beijando-o.

 

 

Shouyou não tinha muita experiência naquilo.

Na realidade, ficara com poucas garotas até aquela altura. Duas ou três, e nenhuma delas pudera lhe provocar a mesma sensação que apenas um tocar de lábios com Ushijima Wakatoshi, provocava em seu interior. Era como ter borboletas em seu estômago e ácido sendo despejado em seu cérebro.

Quando ele entreabriu os lábios, Hinata o imitou, tendo sua boca invadida por uma língua exigente e apressada. Ushijima ergueu-se um pouco, forçando o ruivo a recuar, para em seguida descer as mãos grandes até o quadril e puxá-lo contra si. Shouyou ofegou surpreso ao ver-se sentado sobre o colo do outro. Seu rosto esquentou mais, mirando aquelas orbes esverdeadas sedentas e anuviadas.

Aquela troca de olhar durou tão poucos segundos, ainda sim pareceu uma eternidade. Havia uma imensidão de sentimentos e emoções que foram ditas naqueles milésimos de segundos, e mesmo assim nenhuma voz fora proferida. Hinata sorriu, envolvendo a nuca do mais velho e voltando a beijá-lo como sempre tivera ânsia de fazer. Enterrou os dedos nos fios escuros, sentindo as mãos experientes vasculharem suas coxas, apertando-as com força desnecessária que mesmo sabendo deixar marca, ainda arrancara-lhe um gemido baixo de deleite.

Moveu-se sobre o colo do outro, sentindo sua intimidade pulsar dentro da roupa quando sentiu a dele igualmente. Ofegou, afastando-se um pouco para respirar, tendo a brecha para que Ushijima removesse sua camisa, em seguida, beijando-o na curvatura do pescoço. Um gemido escapou, arqueando o corpo para que ele tivesse melhor acesso a sua pele exposta.

Suas costas foram apertadas pelas mãos exigentes, seu ombro mordido e em seguida beijado. A língua quente percorrendo um caminho até a base de sua orelha, chupando o lóbulo e arrepiando-o monstruosamente.

Sorriu, enfiando as mãos por baixo da camisa dele e erguendo-a com rapidez. Liberto da veste, Hinata pôde passar os olhos por aquele corpo forte e trabalhado. Aqueles músculos tentadores pedindo para um toque mais ousado. O ruivo nem mesmo conseguia se conter, apenas reagindo à suas vontades. Queria tocar Ushijima, queria beijar cada parte do corpo dele, queria vê-lo enterrado em si.

O pensamento o deixou mais corado, enquanto olhos curiosos percorriam cada linha do corpo alheio, sentindo com a ponta dos dedos o que os olhos captavam com perfeição. Ele era lindo, e Hinata não conseguia aguentar aquele fogo que estava começando a consumi-lo por dentro. Sentia sua intimidade pulsar dentro da roupa, necessitado de um toque mais quente, de uma atenção calorosa.

———— Hinata... ———— Desceu os olhos para Ushijima, vendo-o alisar sua bochecha e em seguida seu lábio. Notou que estivera mordendo-o a ponto de agora, doer.

Os lábios de Ushijima tomaram o mesmo curso que seus dedos, primeiro seu pescoço, depois sua bochecha e então seus lábios, intenso e voraz, ele tomou todo seu fôlego em poucos segundos, descendo para seu queixo e mordendo-o. As mãos voltaram para suas costas, descendo até a altura de seu bumbum, e apertando-o. Hinata gemeu rouco quando as intimidades se tocaram com mais força. Moveu o quadril, arrancando som semelhante de Wakatoshi.

Seus dedos se cravaram contra as costas dele, necessitando de mais fricção, sentindo que seu corpo entraria em ebulição diante aquela sensação gostosa.

Apoiou seu rosto contra o ombro dele, sentindo-o puxar seu corpo contra o dele, também pedindo por mais contato. Mordeu seu pescoço, gemendo e arranhando-o quando sentiu seu membro pulsar abaixo de si.

De repente fora empurrado contra o tapete da sala. O corpo de Wakatoshi colocou-se sobre o seu perfeitamente. Não era tão pesado, e mesmo não sendo leve igualmente, era aprazível. Todos seus neurônios e células nervosas extasiadas com aquele contato. As mãos apoiadas ao lado de seu rosto, os lábios dele a centímetros dos seus, mal tocando-o e já o esquentando dos pés à cabeça.

Desceu suas mãos pelas costas largas, sentindo os músculos e como a pele estava quente. Sorriu para ele quando alcançou seu bumbum, apertando-o de forma atrevida. Ushijima segurou o riso, beijando-o em contrapartida. Sua mão desceu até a coxa trabalhada do menor, apertando-a e puxando contra si. Encenou uma estocada, e Hinata gemeu de forma obscena, fazendo Wakatoshi pulsar insatisfeito naquele confinamento de roupas.

Desceu seus lábios pelo pescoço do ruivo, sentindo o gosto da pele clara e macia, marcando-o para seu próprio prazer. Queria que todos vissem que Hinata Shouyou já pertencia a alguém. Queria ostentá-lo a todos. Ele era seu, e o seria até que cansasse.

———— Wakatoshi-kun... ———— Alcançou seu mamilo rosado e intumescido, chupando-o. O corpo menor se contorceu abaixo de si, deliciando-se com a sensação nova.

Não podia negar. Estava mais do que excitado com a ideia de ser o primeiro dele. Primeiro e único, pois jamais permitiria que alguém tocasse Hinata daquela forma. Ninguém veria aquela expressão chorosa em seu rosto, ou aqueles olhos suplicantes e sem pudor algum, pedindo que ele fizesse logo o que estavam ambos ansiosos para.

———— Ninguém jamais vai tocá-lo assim... ———— Os castanhos brilharam quando as mãos pousaram sobre o cós de sua calça. O nervosismo o consumindo dos pés à cabeça conforme Wakatoshi arrancava aquela peça de roupa de si com fúria quase animalesca, jogando-a para trás e derrubando alguma coisa.

Riu, vendo-o se debruçar sobre si outra vez, removendo a cueca, agora, com mais calma e delicadeza.

“Tão bipolar quanto um Tsundere!”

Quis rir com o pensamento, mas quando Ushijima tocou seu membro latejante, foi como se uma onda de calor o fizesse se contorcer no chão, apoiando os cotovelos atrás das costas para ver o que aconteceria. Estava ansioso, sedento. Os olhos verdes o encontraram uma vez mais, maliciosos e escuros antes de curvar-se sobre ele e tomar o membro na boca.

Hinata grunhiu, jogando a cabeça para trás ao ter aquela sensação quente e húmida em volta de si. Quando Wakatoshi sugou-o, seu corpo tremeu e os braços não puderam mais se manter ali, firmes. Caiu sobre o tapete outra vez, levando a mão para a peça felpuda abaixo de si, descontando ali o prazer que sentia. Gemeu alto, sentindo-o descer e subir em si, enquanto a língua fazia um trabalho excepcional ao circundá-lo.

———— Ah!! Espera, eu estou... ———— Olhou para Ushijima, tentando fazê-lo parar antes que chegasse ao limite. ———— Droga, Wakatoshi!!

Ele intensificou a velocidade, aumentando a sucção. Hinata quase gritou, se não tivesse se contido antes, cobrindo a boca com a mão.

“Wakatoshi... Sádico!”

Grunhiu, olhando-o com raiva e frustração. Quando os verdes se ergueram para si, a visão fora mais excitante do que pensara e acabara chegando ao ápice. Ele não se sobressaltou, já tendo sentido quando o membro pulsou com força e a face do ruivo se contorceu numa dolorosa.

Hinata tombou a cabeça, cobrindo o rosto com as mãos para impedir-se de ver a visão erótica que era Wakatoshi limpando os lábios.

“Ele é demais pra mim... Não posso aguentar isso!”

Pôde ouvir Ushijima abrir o recuo da própria calça, jogando para o lado, pouco antes de colocar-se sobre Hinata de novo. Descobriu seu rosto, rindo quando viu a face vermelha a encará-lo com raiva.

———— Aquilo foi rápido!

———— Claro que foi, maldito! ———— Bateu no peito dele duas vezes, antes de ter seus pulsos agarrados. ———— Você é bom em tudo que faz? Me irrita pensar como ficou tão bom nisso!!

Ushijima sorriu, prendendo os pulsos dele sobre sua cabeça e beijando-o. Hinata quis brigar mais um pouco, apenas para ter o prazer da discussão, mas quando sentiu aquele gosto doce dos lábios dele, seu membro respondeu rapidamente, e seu quadril se ergueu, pedindo por um contato com o dele. Quando sentiu-o nu, gemeu de forma erótica, atiçando os nervosas já abalados de Wakatoshi.

———— Viu? Você tem um gosto bom... ———— Murmurou contra seus lábios, lambendo-o antes de focar seus verdes nos castanhos brilhantes. ———— E esta é a minha primeira vez fazendo algo do tipo... Não precisa ficar bravo!

Hinata arregalou os olhos.

Tudo bem, aquilo não queria dizer necessariamente que ele era virgem, apenas que ele nunca havia estado com outro homem?! Ou que ele apenas se recusara a fazer aquilo em outro homem?

Quando Ushijima notou que Hinata estava divagando demais de novo, beijou-o, soltando seus pulsos apenas para poder erguer um pouco as coxas dele. O ruivo resmungou alguma coisa quando os lábios se afastaram, e Wakatoshi se posicionou sobre os joelhos diante dele. Fora impossível não corar, sabendo que o mais velho tinha uma visão e tanto dali.

Desviou os olhos, agarrando uma almofada. Estava a um passo de usá-la para cobrir seu rosto, quando sentiu algo que o deixou perplexo (depois do grito/gemido surpreso). Voltou sua atenção para Ushijima, mal conseguindo vê-lo entre olhos estreitos de prazer. Mas conseguia sentir a língua dele invadi-lo num lugar que não deveria. Era estranho o tanto quanto era prazeroso demais.

———— Ah... Eu odeio... Voc-

Mal terminou de dizer e a língua atrevida o penetrou junto de um dedo, obrigando-o a arquear as costas. Choramingou, agarrando o tapete com força, quase rasgando-o. Aquela sensação de desconforto e invasão mesclando-se com a de prazer e excitação. Ele não sabia se gemia ou se xingava, incapaz de apenas se manter em silêncio.

Quando Ushijima se endireitou, apenas o dedo permaneceu em sua entrada, movendo-se em vai e vem lentos e profundos.

———— Isso é mesmo... Necessário?

———— É... Se você não quiser sentir dor. ———— O ruivo arqueou-se, sentindo um segundo dígito e grunhindo alto.

———— Eu vou sentir... De um jeito ou de outro... Droga!! ———— Wakatoshi sabia disso, mas não podia simplesmente ignorar a situação de que aquela era a primeira vez de Hinata. Não queria que ele se recordasse daquele momento e apenas rememorasse a dor.

Beijou-o, ouvindo-o gemer contra seus lábios. Ocupou sua mão livre com o membro dele, masturbando-o para aliviar o desconforto e distrai-lo. Sentia-a o duro entre seus dedos, pulsando e afetando até mesmo o autocontrole de Wakatoshi.

Tinha que prepara-lo primeiro, mas se continuasse naquela provocação maluca, ele não poderia se segurar.

———— Hinata... ———— Gemeu, incapaz de aguentar aquela dor que forçava seu membro a pulsar como nunca antes.

As unhas do menor foram de encontro a suas costas, arranhando-o desde a altura dos ombros até próximo a sua bunda. Gemeu manhoso, envergonhando-se logo em seguida.

Hinata sorriu, afastando seus lábios e beijando-o a bochecha, descendo até seu pescoço e então seu ombro.

Afastou-se, sem conseguir conter aquele fogo avassalador. Retirou seus dedos de dentro dele, posicionando-se melhor. Para ajudar, não havia trazido camisinha, não acreditando que algo do tipo aconteceria.

Respirou fundo, vendo Hinata se mover ansioso, para mais perto. Sorriu, tocando sua entrada com sua cabeça, atiçando-o com crueldade. O ruivo resmungou, olhando-o com ira.

Quando o invadiu lentamente, viu o corpo pequeno se arquear com força. Entrou com um pouco mais de força para que pudesse fazê-lo logo, e viu-o gemer sofregamente, agarrando seus braços ao redor de seu corpo. As unhas o machucaram, mas ele não dissera anda, ocupado a gemer baixo pela sensação prazerosa que o tomou em seguida.

———— Ah... Ah... ———— Ofegou, olhando para Hinata e sua expressão deleitosa. Beijou-o com fúria, movendo seu quadril e sentindo-o se agarrar com mais força em si. ———— Que droga...

———— Mova-se... Mais... ———— Escondeu seu rosto na curva do pescoço do menor, fazendo o que ele pedira e movendo-se mais fundo. Ouviu-o gemer, jogando a cabeça para trás. Mais uma vez, e outra.

Não conseguia se conter diante aquela sensação. Era como estar tentando alcançar o Nirvana, e com Hinata, ele sabia que não seria difícil.

Apertou sua coxa, forçando-se com mais rapidez contra ele. Hinata gritou, murmurando coisas desconexas que apenas o faziam sentir-se bem. Abruptamente ele parou, e o menor xingou, fazendo-o sorrir. Puxou suas costas e o trouxe para junto de si, enquanto sentava-se calmamente. O ruivo pareceu embriagado com a sensação por alguns segundos, apoiando-se em seus ombros para conseguir se ajeitar.

Mordeu o lábio ao senti-lo pulsar dentro de si, jogando a cabeça para o alto. Ushijima aproveitou para atacar seu pescoço, beijando-o e lambendo cada parte de pele exposta, que deixava-o eriçado. Gemeu contido quando ele apoiou ambas as mãos em seu bumbum, auxiliando-o a se mover contra o membro duro.

Ofegou, sentindo-o muito mais intensamente do que antes. Seu membro pulsou, pedindo que ele desse atenção. Levou a mão até o próprio pênis, masturbando-se com força. Alisou a glande com o dedo, gemendo de forma manhosa e demorada. Aquilo era demais para ele controlar a própria boca. Eram sensações avassaladoras que pareciam destruí-lo e remonta-lo, apenas para ter o prazer de fazer tudo de novo.

Subiu e desceu sobre ele, ouvindo-o gemer contra seu pescoço. Segurou-o firme pelos ombros, empurrando-o para trás e pedindo que ele se deitasse. Ushijima o fez, descendo suas mãos para as coxas dele, apertando-as quando sentiu a pressão aumentar contra seu membro. Era demais, mesmo sem se mover, a sensação era indescritível.

Jogou a cabeça para trás, e Hinata subiu e desceu em meio a um gemido contido. Os movimentos acelerando conforme ele pegava o jeito da coisa. Logo as vozes começaram a se enrolar, entre gemidos e gritos estrangulados. Apertou a pele abaixo de suas mãos, deliciando-se com a visão de Hinata cavalgando sobre ele. Ergueu o quadril com força, fazendo-o se desestabilizar e gritar, apoiando-se no sofá ao lado para não cair.

Moveu-se, chocando-se contra sua entrada, preenchendo a sala com o barulho de pele batendo contra pele. O som mais erótico que existia.

Sentiu sua entrada se contrair contra ele, e os olhos se fecharem com força. Hinata estava se aproximando, ele sabia. Não estava longe disso, entretanto. Sorriu, firmando as mãos em seu quadril e voltando a se sentar, parando de se mover no momento que Hinata entreabriu os lábios, pronto para gemer daquela forma obscena que o atiçava.

———— Por que parou? ———— Empurrou-o, forçando que ele se retirasse de seu colo. O ruivo pareceu extremamente inconformado e pronto para retrucar, quando se colocou sobre os joelhos.

———— Vire-se! ———— Hinata arqueou as sobrancelhas, surpreso pela “ordem”. Ajudou-o, vendo que ele demorava para fazer o que queria, e o pôs de quatro. Empurrou suas costas para frente, forçando seu rosto para mais perto do chão, e puxou o quadril, empinando-o.

A visão era tão linda que ele não pôde se segurar e alisou a bunda do ruivo, ouvindo-o gemer, apoiando a testa no tapete.

Aproximou-se, tocando a entrada dele com sua glande, e provocando-o mais um pouco. Riu quando ele agarrou sua coxa, arranhando-o com raiva. Assim que o invadiu, um grito fora ouvido, e ele se arqueou inteiro. Passou a mover-se com rapidez e força logo no início, firmando as mãos contra o quadril dele para intensificar a sensação.

———— Ah meu deus! Ah meu Deus!! ———— Hinata agarrou um travesseiro, escondendo o rosto ali para abafar os gemidos. Não podia mais aguentar. Acabaria se envergonhando no outro dia se dissesse coisas embaraçosas naquele segundo.

Ushijima jogou a cabeça para o alto, gemendo quando sentiu tocar a próstata dele. Ouvindo-o gemer daquela forma descontrolada o deixava com mais ânimo para continuar com mais força e mais rapidez. Subiu sua mão até os cabelos ruivos, apertando-os e puxando sua cabeça para trás, deixando Hinata sobre os joelhos também. Não parou de se mover, distribuindo beijos contra seu pescoço e beijando a ponta de sua orelha.

Ele tremeu, apertando seus braços e gemeu.

———— Wakatoshi... Wakatoshi... ———— Ah, como ele amava aquela voz rouca.

Penetrou-o com mais força, sentindo seu canal envolve-lo com mais força. Ele estava vindo de novo.

Acelerou os movimentos, agarrando seu membro com a mão livre e masturbando-o segundos antes que um grito escapasse de seus lábios, e ele se derramasse intensamente em sua mão e no tapete. As unhas curtas se fincaram em sua carne, provavelmente arrancando um pouco de sangue no processo.

Gemeu, invadindo-o mais poucas estocadas antes de chegar ao ápice dentro dele, agarrando sua pele com tamanha força que a marca demoraria a sair.

Soltou-o, permitindo que ele ficasse de quatro. Saiu de dentro dele, assistindo-o tombar no chão, sobre o travesseiro e fechar os olhos, cansado, ofegante e levemente suado. Imitou-o, esparramando-se ao seu lado.

———— Se eu soubesse que era assim... Deveríamos ter feito isso antes. ———— Ushijima riu, incapaz de conter a felicidade que o tomava naquele segundo.

———— Temos tempo...

Hinata girou a cabeça, olhando-o.

———— Você não vai para Kanto? ———— Ushijima negou, virando-se para ele. Tocou o colar que caia sobre o tapete, alisando a superfície fria.

———— Eu só precisava que você me pedisse para ficar.

Hinata riu, aproximando-se dele e beijando seu queixo.

———— No final... Você e seu pai são mais parecidos do que pensa realmente... ———— Wakatoshi o olhou, envolvendo o garoto pela cintura e sentindo sua respiração quente bater contra seu peito. ———— Por mais que ele tivesse que escolher entre você e a empresa... Ele não pôde decidir. Sabia que se optasse por você, não teria como lhe dar um futuro promissor. Se escolhesse a empresa, não teria como ficar com você.

Wakatoshi suspirou, alisando os fios ruivos enquanto tentava entender onde ele queria chegar.

———— Por isso ele te ensinou vôlei... Para que tivessem algo em comum, no futuro. E por você, pelo seu futuro, ele trabalhou tão duro para erguer a empresa de novo... E você, tendo que escolher o ramo da família ou o vôlei... Acabou fazendo a mesma coisa que seu pai.

———— Eu não tive que escolher entre o vôlei e a empresa. ———— Hinata o olhou, confuso. ———— Eu tive que escolher entre você e o ramo da minha família. ———— Baixou os esmeraldas brilhantes, beijando o topo da cabeça de Hinata e apoiando o queixo ali. ———— E você me ajudou a decidir, agora...

O ruivo crispou os lábios, impedindo-se de sorrir como uma criança. Olhou para o peito do outro, começando a fazer desenhos sobre a pele exposta, enquanto Ushijima lhe acariciava os cabelos e as costas, arrepiando-o dos pés a cabeça.

E aquilo fora o bastante.

———— Wakatoshi!

———— Hum? ———— Hinata ergueu o rosto, sorrindo de forma maliciosa.

———— Vamos de novo!?


Notas Finais


❈ Tsukishima - https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/d3/da/16/d3da16430d8e6d2c198f2fd7ca49f895.jpg

❈ Yamaguchi - https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/e2/4c/2c/e24c2ca1ba9098516631eab87d42ab08.png

❈ Hinata - https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/b7/56/26/b7562661e1ed7033f357285fcee4294c.jpg

❈ Nishinoya e Tanaka - https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/ab/12/6c/ab126c35aa65f6617d2b02a43e3110b6.png

❈ Colar - https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/7f/d8/56/7fd856bf2ad3622e68f589fb5f0c5e78.jpg

❈ Kuudere —— Personagens de animes/mangás com a personalidade aparentemente fria, que tentam esconder de toda forma sua verdadeira natureza e emoções, mas que em certos momentos acabam revelando uma personalidade extremamente moe, ou seja, uma personalidade adorável, inocente, por sua vez fofa.

❈ Yandere —— Um termo japonês para uma pessoa que inicialmente é muito carinhoso e gentil com alguém antes de sua devoção se torne destrutiva na natureza, muitas vezes através da violência. O termo é derivado das palavras yan significa uma doença mental ou emocional, e dere sentido de demonstrar afeto. Yandere personagens são mentalmente instáveis, muitas vezes usando de extrema violência como uma saída para suas emoções.

❈ O que acharam minhas crianças? Não esqueçam de deixar a opinião de vocês. Isso sempre incentiva autoras ou autores a continuarem ou a melhorarem u-u

❈ Capítulo não revisado u-u

❈ Até a próxima <3


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