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História A Era Mais Escura - A Primeira Maravilha - Parte 2


Escrita por: MarleyMAlves

Notas do Autor


Olá! Eu acabei demorando para postar este capítulo... Porém, ele acabou ficando maior também! Não sei se isso é bom... Ninguém comenta! Fazer Uque né...

Capítulo 11 - A Primeira Maravilha - Parte 2


Fanfic / Fanfiction A Era Mais Escura - A Primeira Maravilha - Parte 2

Rumavam uma ao lado da outra enquanto atravessavam o extenso corredor, a cor vermelha predominava na decoração devido ao imenso tapete que cobria o chão por todo o caminho, era estampado com silhuetas de homens, mulheres e criaturas, enquanto as bordas eram enfeitadas com fios de ouro. Definitivamente aquilo era uma demonstração de riqueza exagerada, a qual era característica daquele lugar mítico.

            - Santa Leia, protetora da fé... – Murmurou Alyssa boquiaberta, ao observar as centenas de lamparinas e candelabros que estavam dispostos por toda a extensão do cômodo, iluminando tudo com a luz das velas. – É tão lindo! Só que quando eu era pequena imaginava que as cores seriam mais vivas, e que tudo seria menos, pavoroso.

            - Sabe, na teoria, achar a entrada não é difícil. – Explicou à amiga, ao retirar o capuz que ocultava seu rosto. – Mas conseguir uma moeda que um pobre perdeu; acredite, leva tempo, eles costumam cuidar de ouro melhor que dos próprios filhos. E não estou brincando.

            - Mas como você conseguiu isso em um só dia?! – Questionou a taverneira. – Ah, você roubou um daqueles coitados no porto, não é?

            Olhando-a com desgosto, respondeu:

            - Claro que não! Aqueles mendigos nunca teriam uma moeda de ouro. Além de que não funcionaria se eu roubasse, ela tem que ser perdida.

            - Mas então, como?

            - Eu tinha a moeda a anos, estava escondida naquela taboa solta do seu quarto. – Declarou, ao olhar para a amiga com uma sobrancelha erguida.

            A cozinheira então abriu com um sorriso inocente, antes de falar:

            - Eu vou consertar aquela taboa um dia.

            - Você diz isso desde quando comprou aquela casa, por isso eu sabia que aquele era o lugar perfeito para guardá-la. Sabe Alyssa, é pior mentir para si mesma do que para os outros. – Repreendeu-a.

            Observou então que finalmente podia ver uma porta ao fim do longuíssimo corredor, logo, virou-se para a curandeira sorridente e começou a dizer:

            - Esse lugar, assim como todos os lugares que existem, tem um proprietário, ou nesse caso uma proprietária. – Admirava as estampas do tapete enquanto falava, sob seus pés podia ver a imagem de um monstro desolando uma cidade, poucos metros à diante percebeu o desenho de um casal, a mulher e o homem tentavam desesperadamente alcançar um ao outro, mas uma força parecia separá-los. – Ela é uma feiticeira muito, muito poderosa; essa mulher, ela já tem tudo que se pode ter, e não quer mais ouro ou qualquer tipo de riqueza, o que busca hoje em dia são histórias, algo que a entretenha mesmo depois de todos os anos que já viveu. Foi por isso que insisti para que viesse comigo hoje.

            - Como assim? – Questionou a taverneira, confusa.

            - Eu já vim aqui antes... – Revelou, fitando a companheira com sinceridade. – Quando ela descobriu minha história, acabou se interessando ainda mais pela sua, e então me disse que daria qualquer coisa para saber do seu passado.

            A curandeira ficou em completo silêncio durante alguns longos segundos, apenas fitando o tapete que enfeitava o chão de madeira; ambas pararam de andar, faltavam poucos passos para alcançarem a porta, a qual era feita de madeira maciça e com dobradiças de ouro incrivelmente brilhantes.

            - Ela tem algo que é muito importante para mim. – Admitiu, mesmo que seu coração latejasse por ter de pedir tal favor. – Eu jamais te pediria algo assim se não fosse muito importante, sabe disso, não é?

            - Mila, eu não sei se consigo falar sobre isso. – Reconheceu ela por fim, ao respirar fundo.

            Como resposta, abriu um largo sorriso e pôs sua mão pálida sobre o ombro da acompanhante rechonchuda, enquanto dizia:

            - Você não precisa se preocupar com isso, você não vai ter que falar nada, se não quiser. – Contou, enquanto erguia o queixo da amiga com a outra mão.

            - Como então ela vai ficar sabendo do meu passado? Ela vai simplesmente ler a minha mão? – Indagou a taberneira, enquanto gesticulava com as suas próprias.

            - O quão louco vai parecer se eu te disser que é exatamente isso? – Questionou, ao brincar com uma mecha de seu cabelo negro.

            - Sabe, depois de tudo que acabou de acontecer, acho que nem um pouco. – Falou Alyssa ao voltarem a caminhar rumo a porta.

            Levou sua mão a maçaneta dourada da magnifica peça, mas esperou um segundo antes de virá-la. Olhou por cima dos ombros, para acompanhante, e avisou-a:

            - Só uma coisa, sei que você não é de fazer essas coisas, mas não tente roubar ou pegar algo sem permissão, ela vai saber.

            Quando escancarou a porta, observou um mar sem fim de altíssimas prateleiras se estender diante delas, todas estas mais do que lotadas de itens valiosos e raros. Algumas expunham poções milagrosas e venenos letais, outras, livros e pergaminhos tão antigos que suas datas eram de antes do Elo, haviam armas em algumas e armaduras em outras, eram coisas demais mesmo para um lugar tão infinitamente grande; sentia agora a mesma sensação de quando vislumbrou o empório pela primeira vez, que se um único item fosse removido, tudo desmoronaria e a enterraria viva. Era um medo muito possível.

            Esperou a amiga atravessar a entrada para cerrar a porta, assim percebeu que as supostas paredes da loja mística eram feitas de livros e itens de todos os tipos e tamanhos, que empilhados subiam até além de onde sua visão alcançava. Isso a fazia pensar se aquele lugar realmente existia em algum lugar, ou era localizado em um espaço vazio. Essa com certeza seria uma teoria ridícula em padrões normais, mas levando em conta a pessoa que ali vivia... tudo era possível.

            Andaram empório adentro, a companheira caminhava ao seu lado novamente, dessa vez mais próxima, e definitivamente mais quieta.

            Seguiram em linha reta, de ambos os lados os diversos corredores formados por prateleiras eram armadilhas paras os desavisados; já havia ouvido histórias sobre os que se perderam se aventurando pelas passagens, e não estava com vontade de ser a próxima.

            Observava as estantes quando por um segundo podia jurar ter visto uma silhueta feminina, avermelhada e pútrida, caminhando por um corredor adjacente ao que trilhavam; involuntariamente aproximou-se mais da amiga, como se aquilo a trouxesse alguma proteção contra os terrores de sua própria mente.

            Repentinamente, Alyssa se sobressaltou e parou onde estava, assim como ela mesma fez quando voltou a olhar para frente e observou que o caminho entre as fileiras de prateleiras havia sumido, e em seu lugar havia um pequeno e velho coreto feito de madeira. O que havia acima de sua escadaria, era impossível dizer, pois o lugar estava completamente cheio com algum tipo de fumaça branca e densa que a impedia de enxergar seu interior; mas não precisava ver através daquela névoa para dizer quem esperava lá.

            - Mila Dameron, de volta à cidade. – Falou ironicamente uma voz poderosa e sedutora, como a dela nunca poderia ser. – Eu não esperava vê-la de novo tão cedo.

            Percebeu a taberneira congelada ao seu lado, observando a figura oculta naquele coreto medonho e completamente envolto por plantas trepadeiras; ela mesma sentia um frio na espinha ao conversar com a feiticeira e dona do empório, no entanto jamais poderia deixar tais medos transparecerem, sabia que a mulher sentiria o cheiro de hesitação a quilômetros de distância.

            - Cora, eu trouxe alguém que você estava ansiosa para conhecer, esperava uma recepção mais... – Ousou dar um sorriso forçado ao completar a frase. – Apropriada.

            Logo em seguida a nuvem de fumaça começou a se desmanchar aos poucos, como se fosse espalhada pelo ar; e depois de alguns segundos de silêncio, e apreensão por parte da companheira, a névoa branca havia se dissipado por completo. Em seu lugar se revelou uma mulher com um longo bufante vestido negro, sentada em uma grande e elegante cadeira de balanço, esta segurava um cachimbo enquanto de sua boca soprava a densa fumaça alva. Na sua cabeça, escondendo em parte seus cabelos dourados, havia um longo chapéu que desfrutava de uma imensa aba e uma longa pena como adorno, o acessório, assim como tudo na exuberante bruxa, possuía cores negras com detalhes roxos.

            - Vejam só! – Exaltou-se a mulher misteriosa, ao se levantar do acento e caminhar lentamente até a beirada das escadas, seu rosto (agora mais visível do que antes) era ameaçadoramente lindo, do mesmo modo que seus olhos amarelos e brilhantes como os de um gato; tal face agora as encarava a poucos metros de distância e com um meio sorriso inquietante. – Você deve ser Alyssa, não sabe o meu prazer em finalmente conhecê-la.

            A curandeira demorou alguns instantes para entender que precisava dizer algo, e então coçou a garganta e deu um passo à frente, ao falar:

            - O prazer é todo meu, senhora, a senhora tem uma loja muito... – Ela olhou em volta por um segundo, procurando sem dúvidas por um elogio adequado.

            - Grande? Magnifica? Ah, que gentileza, minha querida! – Adiantou-se Cora, admirando seu próprio negócio.

            - Venha, Venha! Suba aqui, temos muito o que conversar. – Convidou a feiticeira, ao estender a mão.

            A cozinheira lhe lançou um olhar, como se esperasse sua permissão para aceitar o convite da bruxa misteriosa, teve de tomar alguns instantes antes de gesticular positivamente com a cabeça para a amiga.

            Infelizmente, Cora era uma mulher muito esperta, o que era sem dúvidas uma vantagem de sua vida quase eterna, e estava pronta para tirar proveito de tudo e todos de todas as maneiras possíveis, se por algum acaso suspeitasse que Alyssa seria uma pessoa fácil de manipular (o que ela era), sabia que a situação poderia mudar da água para o vinho.

            A taverneira então começou a subir a escadaria velha e apodrecida do coreto, estando logo atrás dela, se moveu no intuito de seguir a amiga até o topo das escadas, no entanto as porteiras de madeira se fecharam repentinamente diante dela, impedindo-a de ir adiante.

            - O que significa isso?! – Questionou falhando miseravelmente em esconder sua surpresa.

            A bruxa, ainda com aquele sorriso um tanto maléfico no rosto, respondeu:

            - Nós já nos conhecemos tão bem, Mila. Não quero mais atormentá-la com minha curiosidade, além do mais, tenho certeza que sua razão de estar aqui é muito mais pessoal. – Elevando seu braço, a mulher apontou para um dos corredores de prateleiras ao seu lado. – Eu poderia lhe indicar o caminho, mas acho que você pode ouvir o que procura te chamando, ou melhor dizendo, pode ver.

            Quando olhou na direção que lhe fora apontada, fora surpreendida mais uma vez pela imagem medonha do espectro vermelho que a fitava ao longe, um pouco antes deste se virar e caminhar mais fundo para dentro do irreal armazém.

            Antes de seguir a aparição, voltou-se para Alyssa, que parecia estar muito mais do apenas nervosa, presa naquele coreto amedrontador.

            - Vai ficar tudo bem, apenas vá lá e converse com ela, volto logo.

            A curandeira apenas sinalizou positivamente com a cabeça, antes de se virar, dura como uma múmia para a feiticeira e voltar a subir os degraus até o topo do coreto envelhecido.

            Se permitiu por fim seguir o terror vermelho pelos caminhos inseguros do empório imemoriável.

 

 

           

            Podia jurar que faziam quase trinta minutos que caminhava por entre prateleiras altas e pilhas de livros e pergaminhos, mas ainda seguia a aparição, a qual sempre parecia esperá-la ao longe, para que pudesse observar para qual lado virar em seguida; em sua cabeça, o percurso até ali estava claro como água, mesmo assim, temia que aquele pega-pega durasse muito mais, não poderia nunca arriscar se perder naquele labirinto de conhecimento. Já tivera muitos pesadelos com aquela situação.

            Quando atingiu o fim de um corredor, ouviu murmúrios de dor e choro vindos de sua esquerda; sabia que não deveria dar atenção a tais coisas, principalmente naquele lugar, mesmo assim, virou-se para ver o que havia lá.

            Ao longe, no fim do caminho entre as estantes, havia uma porta de ferro quase escondida pelos livros, pergaminhos, frascos e armas que eram as paredes do empório de Cora, nesta porta existia uma abertura com barras em sua parte superior, da qual pôde observar que saia um braço, e por trás das barras, pode ver o rosto de um belo homem de cabelos vermelhos, o qual chorava incessantemente.

            Quando este avistou-a, se agitou e tentou chacoalhar as barras de ferro sem sucesso.

            - Por favor, por favor! Me ajude, ela vai me usar de novo! Vai me usar! – Ele suplicou, mesmo distante, podia dizer que o jovem trincava os dentes em desespero. – Eu não sou o brinquedo dela... eu não sou! Me tire daqui... não vou tentar roubar nada de novo, eu juro! Me ajude!

            Não cabia a ela julgar os métodos da bruxa anciã, sabia disso, e sabia ainda mais as consequências de desafiar as leis que regiam aquele bazar mágico, ainda assim, não conseguia desviar os olhos do homem de cabelos vermelhos, deveria ser tão fácil, sempre foi fácil; de algum modo começara a sentir compaixão por aquele prisioneiro.

            Deu um passo à frente.

            Sentiu algo como uma corda puxando sua consciência, e em seguida um arrepio percorreu toda a extensão de seu corpo, parecia a intimar a virar-se e olhar para trás, para o caminho a direita do último corredor. Obedeceu.

            O espectro a esperava ao longe, chamando-a. A ideia de estar sendo guiada por aquela aparição ainda a dava náuseas, por outro lado, não sabia alguém melhor para a levar até o que estava procurando. 

            Não precisava de outro aviso, entendera a mensagem, mas se permitiu espiar uma última vez por cima dos ombros, apenas para ver mais uma vez o homem clamando por ajuda, esticando desesperadamente o braço como se ela fosse a sua única esperança.

            Reprimindo qualquer auto identificação que poderia sentir por ele, voltou-se para o espirito escarlate e seguiu-o mais uma vez. As suas costas, pode ouvir os gritos de desalento e amargura:

             - Não! Por favor! Eu faço qualquer coisa, não me deixe sozinho! Não! Não!

            Com o passar do tempo, o choro e os urros agoniantes começaram a se tornar distantes, até que finalmente sumiram por completo. Isso não a fez se sentir melhor, no entanto.

            Já devia fazer uma hora desde que abandonara Alyssa sozinha com a feiticeira naquele coreto horrendo, mesmo que quisesse dar meia volta agora e retornar, não poderia, pois esquecera o caminho; mesmo assim não entraria em pânico, porque de nada adiantaria, sua única e melhor opção era continuar seguindo em frente. Seguindo o fantasma avermelhado.

            - Seguir em frente... – Murmurou para si mesma.

            Inesperadamente, depois de virar em uma bifurcação, se viu em uma sala arredondada. Ao meio, centenas de velas queimavam, e toda sua luz revelava as incontáveis espadas dispostas ao redor do cômodo, algumas enfincadas no chão, outras nas paredes e outras simplesmente jogadas. Sentia em seu âmago que seria naquele cemitério de armas que encontraria o que procurava.

            Estava completamente certa.

            Quase que de imediato, uma lâmina em particular chamou sua atenção, era vermelha e sentia algo semelhante a pulsações exalando do metal; conhecia profundamente aqueles pulsos.

            - Finalmente. – Agradeceu, ao caminhar em direção ao objeto com uma expressão de alívio estampada no rosto.

            Esticou a mão para pegar o punho da espada que estava enfincada em volta de inúmeras outras laminas velhas e quebradas, no entanto, a arma avermelhada permanecia intacta e brilhante como se tivesse acabado de ser polida. Não poderia ser diferente.

            Sentiu repentinamente um enjoo no estômago, e quando se deu conta, a aparição se encontrava a abraçando pelas costas, uma de suas mãos pútridas acariciava seu rosto com delicadeza. Percebeu tremores tomarem conta de seu corpo, a impedindo de se mover, sua mão, porém, permanecia esticada e a poucos centímetros de tocar a empunhadura da magnifica espada.

            A assombração aproximou-se mais, e então começou a cochichar em seu ouvido com a voz composta por incontáveis pessoas em sofrimento:

            - Por que insiste criança? Sabe que vai mais uma vez se afundar em minhas vontades, me dar o que quero.

            Mila forçou a mente e permanecer calma e o corpo a continuar firme, não parou de fitar a espada vermelha nem mesmo por um segundo, pois sabia que ela a encarava de volta.

            - Eu não estou insistindo, não existe outra escolha a não ser esta, é isso o que eu quero. Você não tem poder sobre mim. – Vocalizou, muito mais para si mesma do que para a aparição.

            Sentiu o abraço assustadoramente gentil se apertar mais em volta de seu peito quando o fantasma se aproximou ainda mais, deixando sua boca medonha praticamente colada a sua orelha.

            - Você. Não tem. O direito.

            Se surpreendeu quando não precisou tomar coragem para responder a aquela provocação:

            - Não te cabe ditar o que é de direito meu; o que você sabe sobre direito? Afinal, você é só uma espada. – Constatou, e então esticou a mão e pegou na empunhadura.

            Percebeu-se ofegante, e sozinha; sabia que aquela seria a primeira de muitas lutas que deveria vencer, mas o faria, porque aquela lâmina escarlate era sua e de ninguém mais. Sua por direito, por herança.

            A retirou então do monte de armas onde se encontrava, os pulsos que sentia emanar da relíquia se tornaram fortes, quase fortes demais, logo, não perdeu tempo e imediatamente guardou o objeto em uma bainha que encontrara pelo caminho, descansando-a por fim em suas costas; um peso familiar, porém que a trouxe imediatamente memórias inquietantes e tristes. Eram momentos que enterrara durante sua prisão, seu retiro que gostava de pensar ter sido imposto por aqueles os quais aquela lâmina feriu; os filhos dos quais tirou os pais, pelos pais dos qual tirou os filhos, assim como as mulheres que tornou viúvas por pura luxuria, era a eles que oferecia aquele renascimento. Chegara a hora da espada lhe servir, e não ao contrário.

            - Kalista... – Comentou uma voz maliciosa às suas costas, o que a fez se virar rapidamente e sem tempo de conter o susto. – Vejo que encontrou o que procurava. É uma pena ter que me despedir de um item tão valioso de minha coleção.

            Cora contornava lentamente o aglomerado de velas situado no centro do lugar, passava hipnoticamente os dedos longos e delgados pelas chamas de uma vela a qual a cera endurecida já chegara ao chão, ao mesmo tempo que observava a mercenária fixamente.

            - Ela nunca foi sua, Cora. – Lembrou, ao retomar o controle e a calma. – O que faz aqui?

            - Eu temo precisar de sua ajuda, Mila. – Revelou a bruxa, continuando a brincar com a chamas.

            A assassina pressentia que não viriam boas coisas em seguida, mas não se sentia na posição de recusar qualquer favor à anciã, ao menos não ali, e não naquele momento.

            - Minha ajuda? – Retrucou, fingindo-se surpresa, ainda que estivesse verdadeiramente desacreditada.

            - Creio que a essa altura, saiba do tão, tão triste falecimento de Barlowe, não é? – A ouviu ironizou, não se esforçando nem um pouco para suavizar o largo sorriso de satisfação com o fato.

            - Talvez eu tenha ouvido algo. – Sabia o quão poderia ser perigoso ocultar informações daquela mulher, levando em consideração seus múltiplos meios de arrancá-las com facilidade.

            Aquele malicioso sorriso não revelava nada, nem uma intenção ou sentimento, nem uma vontade ou previsão.

            - Então também deve saber que nosso charmoso regente e sua rainha estão de viagem neste momento, soube que o povo acredita que essa viagem não passa de uma necessidade de política, não que isso seja uma surpresa, levando em consideração o estado de seu reino ultimamente.

            “Rainha? ”, surpreendeu-se em silêncio, Logan não havia mencionado que Aurius havia se casado; se pegou questionando se o General havia simplesmente se esquecido, ou na verdade, optara por omitir a informação.

            - Ah, você não sabia da rainha. – Não tinha ideia se a bruxa de algum modo conseguia ler sua mente, ou se com o passar dos anos, adquirira a capacidade de ler até mesmo as mínimas expressões faciais dos outros. – Que interessante, mas isso, no entanto, não me importa; a única coisa que me interessa é o verdadeiro propósito desta comitiva ter ido rumo à costa, existe algo a mais acontecendo.

            - Mas o que te interessa nesta viagem, exatamente? – “Aurius se casou”, escutava ressonar por sua mente, juntamente com um misto de curiosidade com antigas lembranças, não parecia conseguir afastar estes pensamentos.

            - Apenas descobrir o seu propósito. Sabe, ainda existem lendas neste mundo as quais se é prudente temer, e sinto como se fosse meu dever temê-las antes dos outros; E além do mais, a ida de sua majestade aconteceu em um momento curioso. – Cora se aproximou, sempre com aqueles grandes olhos amarelos fixos em seus verdes. – Mas não é do meu feitio especular, e é por isso que estamos conversando agora.

            Tentou perceber alguma sinceridade ou mentira nas palavras da excêntrica proprietária, mesmo assim, nada parecia entregar as verdadeiras intenções por trás daquele pedido.

            - Vai garantir nossa segurança do mesmo modo que garante a daquele garoto? – Mila se permitiu exibir um meio sorriso desafiador para a misteriosa mulher.

            Durante os instantes seguintes, ambas se calaram e apenas ficaram encarando uma a outra. Luzes verdes e amarelas em um conflito silencioso.

            - Desde quando deixou este tipo de compaixão aflorar... Lâmina Sinistra? Não permitiria que meus inimigos percebessem isso se eu fosse você, sabe que é muito fácil tirar proveito de alguém com um coração. – Cada frase dita era desconstruída e analisada, isso era algo que mesmo ela não conseguia fazer com facilidade.

            Não ousou respondê-la ou mesmo desviar seus olhos, apenas esperou até que a bruxa voltasse a se pronunciar, o que não demorou muito; ainda assim, percebeu-se inquieta com a ideia de estar perdendo as rédeas daquela conversa, e não poderia atribuir mais isso a seus anos excluída da sociedade, era algo a mais que estava diferente em si.

            - Quando seu rei retornar, seria interessante que você começasse a investigar o que anda se passando no palácio, acredito coisas importantes estão para acontecer, e caso eu esteja certa, vou precisar de você bem no meio desta tempestade.

            - E o que você ganha com tudo isso? – Perguntou, cruzando os braços na altura do peito.

            - É tudo pelo bem maior, Mila. Tudo pelo bem maior. – A feiticeira não parecia estar disposta a se tornar confiável, por outro lado, não podia esconder que também ficara intrigada com as informações que acabara de adquirir. A rainha acima de todas, tinha de admitir.

            - E por onde eu devo começar, não acho que tenha esquecido que sou uma mulher procurada, certo? – Sabia que havia alguma outra informação ou dica que poderia extorquir da bruxa, sempre havia algo.

            Cora então sorriu, sem dúvida havia percebido suas intenções ao questioná-la.

            - Engraçado, isso nunca foi um problema para você três anos atrás... – Teve de escutá-la insinuar, provavelmente a bruxa estava saboreando cada resquício nas entrelinhas de suas palavras.

            - Três anos atrás eu não precisava me preocupar com uma cidade inteira conhecendo meu rosto. – Retrucou a mercenária, erguendo as sobrancelhas e não escondendo seu descontentamento com aquele fato, uma desvantagem que se lembrava de lutar tanto para evitar, quem sabe um dia chegasse a achar graça daquele fato, mas não seria hoje ou em um futuro próximo.

            - Se eu fosse você, começaria investigando os desaparecimentos que andam acontecendo na capital que atualmente você chama de lar, talvez isso a ajude a entender as minhas preocupações.

            Guardou aquela informação, tinha dúvidas se realmente havia algo errado em Losran, mas agora, chegara a hora de descobrir o que realmente estava se passando, ainda mais por ter conseguido ler o incômodo que aquilo estava causando em Cora, deveria admitir, havia uma primeira vez para tudo.

            A bruxa fez menção de se virar, mas logo se voltou novamente para a assassina.

            - Ah, antes que eu me esqueça. – Disse ao estender a mão, a mesma que a poucos minutos passava pelas chamas das velas, porém, agora esta segurava uma pequena caixa retangular.

            - O que é isso? – Indagou, olhando da caixinha de madeira para a feiticeira, e visse versa.

            - Aceite como um brinde, para uma cliente fiel.

            Mila pegou a caixa e fitou-a por um segundo, antes da mulher dizer:

            - Digamos que é algo para ajudá-la a esconder estes olhos incríveis, quase tão incríveis quanto os meus. – Ela passava gentilmente a mão pelo rosto da assassina.

            Cora então levou as mãos ao seu grande chapéu e ajeitou-o em sua cabeça, acariciou em seguida toda a extensão da pena que o adornava, e logo virou-se, começando a caminhar de volta para o labirinto de livros e objetos que era aquele lugar.

            - Venha, sua amiga a espera. – Chamou.

            Observou uma vez mais a pequena caixa em suas mãos antes de caminhar atrás da bruxa, que virou para a direita logo na primeira oportunidade, saindo de seu campo de visão.

            O quando grande foi sua surpresa quando ao segui-la, se viu de volta ao pequeno e assustador coreto, onde Alyssa e a feiticeira conversavam informalmente. Era como se Cora não tivesse nunca saído de lá.

            - Veja, parece que nossa amiga voltou. – Notou a proprietária, ao levantar-se de sua cadeira de balanço.

            A cozinheira, sentada confortavelmente em uma grande poltrona, levantou-se logo em seguida se virou para ela com o sempre sincero olhar de surpresa.

            - Mila! Nossa, eu perdi a noção do tempo, isso nas suas costas é uma espada?

            Cora então dirigiu-se as escadarias da construção, Alyssa a seguiu logo atrás.

            - É uma longa história, como foi a conversa? – Questionou, a pergunta foi para a amiga, por outro lado, olhava para a maga enquanto falava.

            - Você não sabe! Cora também sabe cozinhar, ela me passou uma receita de risoto orfilênio que eu preciso testar o mais rápido possível! – A taverneira sorria energeticamente enquanto chacoalhava as mãos na altura do peito em excitação.

            - Querida, também estou louca para fazer a torta de amora que me indicou, sabe, doces são a minha maior fraqueza! – Se exaltou a bruxa, enquanto passava a mão pelos ombros de Alyssa, em seu rosto pôde ver um sorriso sincero demais para ser verdadeiro.

            Quando atingiram a base da escadaria, já as esperava ao lado da porteira. Não era difícil encantar a curandeira e sabia bem disso, mas não podia esconder o receio de ver a confidente em um diálogo tão espontâneo com aquela feiticeira tão poderosa e influente.

            - Espero muito que tenham apreciado a visita ao meu empório. – Disse Cora, com o sorriso sempre malicioso no rosto, porém ao menos desta vez, pôde ver claramente em seus olhos o sentimento de satisfação; o que já a dizia que a bruxa havia atingido seus objetivos. – Voltem em breve, especialmente se tiverem alguma novidade. – Sentiu como se aquelas palavras fossem direcionadas a ela; era bem possível que fossem.

            -Voltaremos. – Falou, exibindo o sorriso mais falso que conseguiu.

            Finalmente se viraram e começaram a andar em direção a porta de saída, porém, a felicidade durou pouco, pois logo ouviu:

            - Ah, Alyssa, antes que vá embora, deixe-me a dar um presente de recordação. – Assim que se viraram, a bruxa se aproximou, e em suas mãos havia um embrulho roxo com uma fita negra em cima. Típico.

            - Por Mérida, você já me deu uma receita de risoto! Não tem que me dar mais nada. – Exclamou Alyssa com indignação.

            Rindo com aparente sinceridade, a bruxa estendeu os braços oferecendo o presente para sua amiga.

            - Você é realmente inquietante; pegue, mas quero que me faça um favor. – Pediu para a cozinheira.

            A taberneira pegou o pacote com gentileza e olhou para a feiticeira esperando que ela continuasse:

            - Você deve dar este presente somente para a pessoa que mais ama. – Explicou Cora, colocando suavemente a mão sobre o embrulho que Alyssa segurava. – E apenas no momento em que esta pessoa estiver passando por um momento de extrema dificuldade, você entende?

            - Sim, pode deixar comigo! Não vou te decepcionar. – Garantiu, enquanto abraçava o pacote.

            Se afastando, dona do empório ergueu a mão e mexendo os dedos, se despediu:

            - Bom retorno a vocês.

            Uma vez mais, Mila se virou e caminhou até a porta de madeira adornada e com dobradiças de ouro, a amiga a acompanhava de perto. Abriu a porta por fim, e permitiu que a confidente fosse a primeira a passar; quando ela mesma atravessou a passagem e puxou a porta para fechá-la, observou que tanto o coreto repleto de vinhas quanto a bruxa, não estavam mais lá.

 

 

 

            Saíram do corredor vermelho pela mesma porta velha e podre pela qual entraram, voltando mais uma vez a admirar o velho e decrépito jardim da mansão em ruínas; o sol não havia se movido no céu, a idosa de vestes negras ainda podia ser vista passando pela rua. O tempo não havia passado.

            - Alyssa, ela leu sua mão? – Perguntou, não olhando para a taverneira, mas para o céu azul acima.

            - Sim, eu acho... – Começou Alyssa, coçando a cabeça. - Ela só tocou na minha mão e sorriu, e aí começamos a conversar, e ela parecia saber tudo sobre mim, foi um pouco estranho, mas eu gostei muito!

            Começaram a descer os degraus da escadaria de pedra, enquanto conversavam despreocupadamente, não podia esconder o alivio que era ter saído daquele lugar; não sabia dizer o porquê, entretanto, tudo lá parecia errado de alguma forma.

            - E essa espada, quando vai me contar sobre ela?! – Indagou a amiga com sorriso curioso no rosto redondo.

            Não suprimiu a risada que misturava alívio, felicidade e inquietação, e então replicou:

            - Depois do jantar, não sei porque, mas estou com uma vontade de comer ensopado de peixe! – Revelou, e era verdade.

            Rumaram para casa vagarosamente naquela tarde, conversaram por todo o caminho sobre suas experiências no mítico “Empório imemoriável”, Mila, no entanto, teve muitas outras coisas para divagar durante o caminho de volta, assim como nos dias que se seguiram. Como por exemplo: o fato de estar agora em posse da espada, a qual queria acima de tudo, levá-la a loucura, ou do misterioso pedido da bruxa anciã, assim como os presentes dados a ela e à amiga.


Notas Finais


Comentem, isso pode parecer pouco, mas me ajuda a tornar minha história melhor!


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