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História Carnalismo - Capítulo II


Escrita por: LittleStar15

Notas do Autor


Gostaria, primeiramente, de agradecer a todos que favoritaram e comentaram nesse primeiro capítulo. Sério, vocês me fizeram querer continuar com essa história que até para mim parece confusa e um tanto utópica (mas tá valendo, né?!)
Obrigada(s) a ~Izakatrynne~serafim87797 ~aneribeiro ~Yuka-Chan_ ~LullyDean ~ananda15 ~LorenaTaisho ~prisla-chan ~j3nn1f3rp4z pelos favoritos e a ~Jkelinda e ~Yuka-Chan_ pelos comentários.
Bom, aí vai mais um, encontro vocês nas notas finais.
Boa leitura.

Capítulo 2 - Capítulo II


 

" Uma coisa é fantasiar, Belle. Recusar-se a enfrentar a realidade porque tem esperanças de algo que jamais existirá é outra totalmente diferente. Na psiquiatria, chamamos de delírio." - Meg Cabot, A Modelo e o Monstro.

*Kagome POV

- Que drama, Kagome. Só pode ser doida mesmo para achar que realmente algo mudou desde a última vez que esteve lá. - Eu senti algumas lágrimas se formando no canto dos meus olhos. Queria de verdade acreditar que meu “abandono” houvesse passado despercebido. Eu nem havia dito adeus a Shippou. Não havia dito adeus para o homem com quem me deitei. - Já chega!

Chutei a mochila para fora da cama e tornei a ficar serena. Ele deixou claro em seus atos que todo o nosso “envolvimento” foi puramente carnal e que não gostaria de perguntas. Era um pensamento claramente ditador de sua parte, visto que eu não me pronunciara sobre isso, mas como ele também não o dissera, ficou por isso mesmo.

- Ele nem gosta de falar, menina. Aquiete-se, quem é você na fila do pão? Quem é você na cesta básica da vida?! - Eu ajeitei a calça justa que usava junto à scarpin (sim eu iria de salto) e a camiseta três quartos. O cabelo preso numa trança composta.

Me virei para despedir-me da minha mãe e colocar involuntariamente o celular no bolso de trás da calça. A mochila estava pesada demais, então só coloquei o essencial numa menor e pulei no poço.

- Ai,ai… estou ficando velha para isso. - Havia batido com tudo no chão de terra e começado a subir. Meu houriki ajudava aliviando minha própria dor e eu fiz uma nota mental para perguntar sobre um mestre para as férias de verão. Estava precisando aperfeiçoar minha limitada habilidade antes que fosse tarde demais para tal.

O lógico de se esperar era que houvesse nessa época alguma feira por causa da estação (ou não né), mas o que havia não era NADA comparado a isso. Um barulho vinha de trás das casas. Onde estavam as pessoas?

Percebi a decoração amarela e rosa claro e  que haviam toalhas como hoje chamamos de piquenique espalhadas pela grama, com almofadas para os aparentes convidados se sentarem. Havia um palco improvisado lá também, assim como servos com os comes e bebes.

Corri o máximo que pude nos saltos e aí me lembrei de um pequeno detalhe: eu estava na Era Feudal, não na faculdade. E  o chão não era de concreto, era terra.

- Que saco, agora vou ter que ir pulando. - Do melhor jeito fui pulando em cima de pedras desalinhadas no caminho e notei a movimentação. Era uma festa. De aniversário. - Credo, tem mais gente aqui do que em show das Spice Girls.

- Quem são essas? - Quando me virei para julgar a pessoa que não os conhecia, notei um detalhe: era a Rin que falava comigo, com um yukata florido e nas suas cores preferidas, o cabelo preso com alguma flores enfeitando-o e realçando os infantis olhos chocolate. E ela não parecia me reconhecer.

- É um grupo que canta isso aqui ó. - Tirei um MP3 player do bolso de trás da calça ainda chocada por ela não ter me notado e coloquei Wannabe em alto e bom som. - Rin-chan… sou eu, Kagome.

- Mana Kagome? - Seus olhos saltaram e ela me abraçou. Percebi que parecia receosa à primeira vista e eu a retribui. - É meu aniversário hoje… o Senhor Sesshoumaru me deixou fazer uma festa no vilarejo porque ele só poderá vir mais tarde. - Ela tinha os olhos castanhos com algum brilho escondido. Será que…?

- Parabéns, pequena! Se eu soubesse tinha trazido um presente maior pra você. - Estendi a Barbie Sereia para ela, que pegou a caixa com curiosidade. Era mais um pedido de desculpas por não tê-la dito adeus da outra vez. - Me desculpe, querida. Eu não fui justa com você. E isso é uma boneca, pode brincar com ela.

- Não precisa se desculpar. Ele sempre vai embora sem me avisar, eu meio que me acostumei. - Ela coçou a parte de trás da cabeça com cumplicidade e eu me senti mal instantaneamente. Gostaria do fundo do meu ser que aquela garotinha confiasse em mim como a uma amiga por tudo que já passou sem merecer. Porém logo ela desfez a expressão em uma tanto quanto divertida e meu coração bateu rápido. - Eu vi você e o Senhor Sesshoumaru abraçados na cama dele, mana. Vi tuuuuudinhoo.

Claro que meu coração foi a Marte e voltou depois daquela. Meu rosto deve ter feito inveja ao arco-íris e minhas mãos numa tremedeira. - O q-que-e?!

Antes que eu pudesse pará-la, ela sorriu afoita e correu para brincar com a Barbie, me deixando com cara de idiota fitando nervosamente o nada. Tanto que nem vi Miroku se aproximar de mim com um copo de qualquer coisa da mão.

- Me dá isso. - Eu virei ele com tudo e percebi que era só saquê. Ele me olhou assustado. - Eu esperava uma tequila de você, Monge!

- Kagome-san? Desde quando está aqui? Tá bem hein. - Ela apontou para o meu decote e eu corei, empurrando o idiota. Não mudava mesmo a criatura. - É brincadeira. Sentimos sua falta, parça. Mas nem todos são tão pacíficos quanto eu. Principalmente exterminadoras e hanyous. - Seus olhos violeta me olharam com certa brincadeira e eu engoli em seco. Meu amigo dizia a verdade, afinal. - Eu sei que tinha algo maior lá onde mora e sei que não quer contar para seus próprios amigos a verdade, mas deveria. Fugir nem sempre é uma opção.

- Puxa, sempre que eu converso com você levo umas boas surras da vida. Tá parecendo quase sábio agora. - Eu apertei o copo vazio entre meus dedos. - Sango está bem?

- Sim. Na verdade… - Ele pareceu feliz e quase encantado ao encarar a garota, que caminhava furiosamente em nossa direção e interrompia o seu discurso.

- Miroku, se você contar, eu juro que te parto ao meio! E você - Ela detinha uma fúria acumulada que me fez encolher no banco. - Vai me contar e-xa-ta-men-te o que aconteceu pra sair daquele jeito, sua vaca.

- Ok. - Eu soava pelas mãos e pedia que qualquer coisa me tirasse dessa situação.

O monge foi embora tanto quanto preocupado e eu só mandei um “legal” com o polegar. A exterminadora parecia estar se acalmando, apesar de contrariada.

- Eu me senti abandonada por você, sabe. Você era o motivo de estarmos naquele lugar, pra começo e de conversa, e depois some como defunto roubado e só reaparece depois de quatro meses!  Inuyasha quase conseguiu descer ainda mais no meu conceito quando sentiu o seu cheiro nas roupas de Sesshoumaru. E eu, como boa amiga, garanti a ele que era pura imaginação pelo abandono, mas o fato foi que o Lorde-sei-lá-das-quantas voltou duas horas depois com roupas idênticas e sem o seu perfume para convencer a criatura. Não que ele realmente precisasse fazer isso, porque era nada menos que o dono da casa, mas você ainda estava desaparecida. E foi aí que percebemos isto. - Ela tirou uma folha amassada do bolso, como se houvesse sido dobrada um milhão de vezes para caber ali. Era a carta que eu havia lhe deixado. - Eu não a li para ninguém, óbvio, mas expliquei que você havia precisado voltar para casa urgentemente.

- E agora você quer que eu diga? Na lata? - Ela assentiu, ainda contrariada, e eu soltei. - Eu e Sesshoumaru transamos. Estou cursando medicina em Tóquio. Não durmo com um cara desde isso e estou louca por uma bebida nesse momento.

Foram necessários longos minutos para que ela acordasse do transe e voltasse para mim rindo loucamente. Estranha.

- O QUÊ?! Eu pensei no máximo uns beijinhos ou que ele tivesse te agredido de qualquer outra maneira. Mas você, amiga. - Ela parecia orgulhosa. - Fez história. Pegou o bofe mais gato desse mundo.

- Não foi bem assim. Rolou um clima. Não teve sentimentos nem nada disso para ele. Eu sou humana, por Deus. Só mais um sexo casual.

- Sei. Até parece que não sabe que o termo “sexo casual” não existe por aqui.  - Ela não parecia acreditar em minhas palavras e eu agradeci por ter esquecido o tópico abandono por hora. Isso eu não estava pronta para lidar.

- E você? - Soei maliciosa, tentando mudar o foco da conversa. - Algum progresso com o boy?

- Estamos namorando a três meses,  Kah. Três longos meses sem ter como contar a novidade pra você! - Ah, não. Não acredito. Sorri de orelha a orelha.

- Eu sabia, sabia, sabia! - Saí dançando por aí e os outros convidados da festa me olharam como se eu fosse perturbada e eu ignorei. Puxei o monge que estava em algum lugar conversando com a banda animadamente. Nem vi que tinha banda de tão entretida. Logo uma ideia surgiu em minha cabeça e eu sorri mais. - Vamos cantar, por favor!

A Sango te contou não foi? - Ele parecia querer esconder a felicidade, mas eu só concordei. - Vamos lá.

Expliquei mais ou menos como eram os acordes da canção e treinei os vocais com ele. Já havia visto Miroku cantar, e era quase suave, mas ao mesmo tempo forte sua voz, nada muito incrível, assim mesmo sincero.

- Hum. - Limpei a garganta, chamando a atenção das pessoas e logo Rin veio com Shippou, que parecia realmente feliz ao me perceber tanto quanto eu a ele. - Dedico esta música para grandes amigos meus. Sério, vocês são lindos juntos. E Rin-chan, feliz aniversário!

Peguei o violão que havia trazido e pus-me a dedilhar as notas iniciais com o monge me acompanhando nos vocais e a banda na batida.

Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito


Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor

 

Olhei para a multidão de convidados e deixei meu olhar passear antes de tomar um ar e fazer uma estrofe solo.


E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância

As pessoas pareciam paralisadas e até emocionadas com o tom saudosista da canção. Eu a amava porque transmitia a paixão de uma relação saudável como todas deveriam ser. Enquanto eu continuava, notei a presença de um certo youkai.

Seus olhos, meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só

Você é assim
Um sonho pra mim
Quero te encher de beijos
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito


Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor


E a gente canta
A gente dança
A gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância


Seus olhos, meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só

 

Não procurei encontrar sua face, mas ela foi atraída para mim e eu o notei encostado numa árvore um pouco mais afastada. Sua figura ainda não fora percebida pelos outros, mas a expressão levemente confusa, feroz e desejosa estavam ali, numa gama de sentimentos que emanava perigo para quem se aproximasse. Não deixei o medo me dominar pelo seu poder quase absurdo que detinha, mas romantizei a situação olhando bem fundo em seus olhos e tentando não corar.


Você é assim
Um sonho pra mim
Você é assim
Você é assim
Um sonho pra mim
Você é assim

Me mantive somente tocando enquanto deixava Miroku se declarar para a garota em versos tão simples, mas tão curtos. Eu percebia os olhares confidentes e as lágrimas dela ao ouvi-lo. Era seu sonho, afinal.


"Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito
Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo

É o meu amor”

Ele desceu com tudo do palco e a beijou em frente a todos e eu ri com a cena. Os convidados bateram palmas para tudo isso e uma garota junto com os amigos pediu prontamente:

- Cante de novo, por favor!

- É mana, por favor! - Rin-chan passara a outra música dançando e agora batia palmas, atraindo mais atenção ainda. O kitsune se juntou ao coro.

- Vai Kah! - Meus amigos gritaram em uníssono e eu quis enterrar-me naquele palco. Derrotada, pedi permissão para a banda, que se dispôs prontamente.

Ajeitei a trança de lado e limpei as mãos decidindo a música.

- O nome dela é Mil Razões, de um cantor que eu admiro muito. Obrigada.

Eu sei que fui ousada na escolha e que era uma festa de criança afinal, mas eu amava aquela música. E eu tinha um desejo, quase ínfimo e secreto, que isso também o agradasse.

Se você chega
Tudo incendeia
Põe tudo em jogo
Tudo clareia


O sal no afago
O tris de tristeza
O sexo fogo
Sem gentileza


E o dia em que lhe vi chorar
Não que lembrar precise
Uma represa não tem reprise
O cio macio que dói
E aonde você foi?
A teimosia
A poesia


Posso lhe dar mais mil razões pra te querer
Coisas que eu já nem sei o nome
Posso compor mais cem canções de amor
Pra quê?
Se quando eu canto você some


O doce instinto
Deus indeciso
Eu indefeso
No teu sorriso

Me controlei para não rir de sua expressão ao se identificar com a letra. Sorri, pois era o mais puro acaso. Não que ele realmente estivesse ligando, claro. Duvidava que afeição por outras pessoas fosse um de seus tópicos preferidos de conversa.

O gosto atípico
E o jeito sério
Teu rosto místico
Mais um mistério


E o brilho que de ti reluz
E a tantos sóis seduz
É realeza, não tem deslize
Pornos, por nós dois nus

Foi a partir desse verso que recebi um certo olhar chocado dos convidados e concretizei a informação que me fora passada nas aulas de história: o sexo era um tabu fortíssimo e uma mulher cantar abertamente sobre isso… era quase uma blasfêmia. E foi assim que me repreenderam ao final da apresentação e até xingaram, até que explicaram que eu não era daqui.

E os clássicos céus azuis
Os tantos ui ui uis
Os cantos doidos e doídos
Que pra cada céu que é seu eu já compus


Posso lhe dar mais mil razões pra te querer
Coisas que eu já nem sei o nome
Posso compor mais cem canções de amor
Pra quê?
Se quando eu canto você some

☆☆☆

Alguns grupos se dispersaram de volta para a vila e os youkais conhecidos da menina também. Isso depois de vinte minutos da última música, quase nove da noite.

- O pessoal aqui é pontual, hein? - Minha voz já estava até rouca depois de tanta cantoria, mas era mais fácil cantar com ela já amaciada.

Haviam me explicado em algum momento que Inuyasha havia partido há alguns dias para um treinamento por alguns meses e eu me senti um pouco triste. As batatinhas venceriam se ele não voltasse, mas eu me recompus. Eu esperaria que ele voltasse para poder me desculpar pelo “abandono” e tudo o mais. Ele era meu amigo íntimo apesar do ciúme, super proteção e mais algumas coisas.

     - Já foram quase todos embora. - Eu comentei enquanto conversava com os remanescentes: a Vovó Kaede (que eu não havia notado desde que chegara), Shippo (meu pequeno kitsune estava tão grande!), o casal 20, a aniversariante (que cambaleava de sono depois de brincar e dançar numa maratona), algumas pessoas desconhecidas (por mim), e ele.

Ele que havia chegado em toda sua graça e me observava (desde o momento em que notei, pois duvidava que já estava ali a tempos) com um certo brilho misterioso no olhar, apoiado na árvore. Eu me aqueci por dentro, devo dizer. E a partir daquele momento dediquei secretamente todas as músicas para sua pessoa, mesmo contrariando o que eu disse para minha amiga antes. Não foi só sexo casual, pelo menos não para mim. Mulher tinha dessas de enxergar coisas onde não tem e eu me contentei com essa ilusão. Mas o olhar era real, eu senti isso. E todas aquelas sensações vieram à tona, me impedindo de encará-lo como deveria.

Covarde, ecoou em minha mente. Vá lá falar com ele. Eu me obedeci, mas quando levantei, ele seguiu para a floresta adentro, como se adivinhasse a minha intenção. Segui seus passos apressados e calmos enquanto eu me mantive estável. Era só ele, afinal.

Toda a falsa segurança se esvaiu no momento em que seu olhar se cravou em minha alma como dois caleidoscópios me analisando. Eu imitei mais profundamente e segurei sua mão, que não recuou ao meu toque.

- Você partiu daquele jeito. - A voz com tom gutural parecia não ser usada a algum tempo quando falou. A expressão passiva agora tinha um certo rancor (?) e falta de interesse. Tudo numa dança que o fazia não parecer se importar. Eu comprimi minhas emoções para não me liberar ali mesmo. - Não tinha esse direito, humana.

- Às vezes a vida nos prega peças. - Eu ri sem emoção e ele ergueu uma das sobrancelhas, indagando meu ato. - Eu parti naquele dia pretendendo me matricular na faculdade com todo o meu futuro preenchido pela minha paixão. Não estava nos meus planos aquela noite.  - Sua expressão se tornou feroz a me ouvir proferir as palavras e me prensou contra uma árvore qualquer. Azul no Dourado. - E sei lá, o medo de enfrentar as consequências e o de você simplesmente me julgar depois do que nós fizemos foi maior. Nem nos conhecemos, Sesshoumaru.

Ele não me respondeu, como eu previa, mas retirou seus olhos de mim e fitou a lua e voltou-se novamente. Esqueci que quatro meses para ele eram nada.

- Não, humana. - Seus lábios finos e pálidos fitavam os meus, que já não estavam com o gloss incolor. Eu fixei esta imagem na mente e me entreguei apesar de minhas convicções.

- Nem tudo, sabe. Nem tudo acontece como a gente quer. - Eu disse isso antes dele deslizar a língua para dentro da minha boca, num beijo tão sensual que eu só pude arfar.

- Hm. - Ele me respondeu entre mais alguns. Eu já me acostumava a suas poucas palavras e muitas ações.

☆☆☆

Eu fitei a mesma lua, agora embalada pelo verão e me cobri com um lençol que trouxera na mochila.  Era tarde da noite e o youkai me apertou junto a si, numa ação possessiva e eu suspirei. Seus braços definidos e pálidos eram marcados por algumas pequenas cicatrizes, que eu contornava com as pontas dos meus dedos.

- O que nós estamos fazendo? - Eu bati a mão na testa, por Deus. Onde estava meu bom senso?! - Eu estou me encontrando com você secretamente sem nem saber o que está acontecendo aqui. - Ou se tem alguma doença venérea, mordi a parte interna da bochecha. Não é como se eu pudesse pedir para ele usar camisinha, de qualquer forma. A maior proteção é o anticoncepcional mesmo que eu tomo religiosamente, o que ele não sabia, também.

Ele decidiu me ignorar, como se já houvesse debatido consigo mesmo o desrespeito enorme que era se encontrar comigo. Não o julgava, só não faria o mesmo.

- Bom, já que você não quer debater eu também não vou. Só quero saber se há compromisso ou se é aberto e talz. - Ele levantou-se com tudo, suas mãos me prendendo ao chão. Nossa, ele era quase um deus de tão harmonioso em suas formas e essa foi a segunda vez que pensei isso.  Ele passou a garra do indicador pela minha bochecha e eu grunhi em protesto. Fez um corte pequeno ali.

- Como ousa mencionar que a dividirei com alguém, miko?! Se isso já estiver acontecendo. - Ele me encarou friamente de um modo quase assassino. - Ele não estará mais aqui para continuar.

- Nós nunca definimos nada sobre isso. - Suspirei e encarei seus olhos críticos. - Não há mais ninguém, tá legal?! E antes que se irrite, não houve mais nenhum depois de você… e pode me chamar de Kagome. Ou Kah, se preferir. - Eu desviei meu olhar para os músculos bem definidos de seus braços e abdome iluminados pela lua. Senti que secava meu corpo a mostra e corei violentamente fazendo-o esboçar uma expressão serena e se deitar ao meu lado.

☆☆☆

Seis meses depois

E foi assim o que mais tarde chamaria de “fase de negação”, pois estava apaixonada e não havia premissa certa. Eu só quis agarrar-me a este sentimento e me deixar levar. Mesmo que o mundo inteiro nos separasse, mesmo que séculos no tempo o fizesse, eu ainda teria para quem cantar uma música melancólica, desde que ele me pedisse.

- Você é como um lírio. Honesta, transparente. - Ele soltou o apelido sem medo numa das conversas e eu assenti, um pouco envergonhada. Não era nada fácil para ele elogiar as pessoas se nem mesmo um amigo verdadeiro ele possuía. Dei um beijo casto em sua face como no dia em que me despedi dele há dez meses e notei a mudança de seu tom. Ele sabia que eu iria partir. De novo. Sua postura enrijeceu e a máscara de indiferença tomou seu rosto.

- Eu voltarei, sabe? Mesmo que eu seja apenas uma sacerdotisa humana pequena. Sentirei sua falta.

Ele não me respondeu imediatamente. Eu só gostaria saber a dimensão de seu afeto por mim antes de me entregar de corpo e alma nisso. Eu tinha muitas alternativas para mudar, mas agora… eu só queria terminar o meu curso e encontrar um estágio descente para atuar no meu ofício.

- Eu fiquei sabendo que estão com problemas para o lado do Oeste. O Sul também, na verdade. Aquela tropa estranha continua numa missão suicida. - Eu apertei os olhos tentando lembrar o nome do líder, mas nada pareceu me ajudar a recordar isso.

- Eles não buscam o que nós pensamos, Kagome. Os traidores estão aumentando. Ordens de execução são dadas todos os dias. - Ele era outra pessoa ao falar de seus domínios, quase que possessivo demais. - Viajarei para o Oeste e só voltarei quando esses conflitos estiverem resolvidos.

- Rin ficará no vilarejo, suponho. - Suspirei. Poderia vir visitá-la mês que vem depois de uma palestra que estava marcada para a sexta à noite. Ficaria para o fim de semana. Ele não me respondeu, mas sabia disso. Ele pareceu me olhar de soslaio e depois falou.

- Quando voltar, mandarei Jaken para trazê-la de volta. - Eu não soube a quem ele se referia, se a mim ou à sua protegida, então dei de ombros. Não sabia interpretar sua frieza muitas vezes, mas sabia que este tempo para mim era diferente, então peguei em sua mão e escrevi meu nome com uma caneta e dei um bilhete pequeno para ele, que esperou-me finalizar.

- Só… não esquece, tá bom? - Eu me forcei a prender as emoções e permanecer minimamente calma. Eu não sei como ele reagiria se soubesse que eu sentia algo a mais pela sua pessoa.

Nessa hora, ele me abraçou e deixou eu envolver meus braços ao redor de seu tronco, tentando não ferí-lo com meu poder espiritual, que estava instável pela mudança de sentimentos. Ele sentiu isso e tentou me acalmar, democraticamente.

Eu sabia que ele não voltaria por mim. Tínhamos nada definido no nosso relacionamento e a única coisa que eu sabia era que éramos exclusivos. E isso me aborrecia muitos vezes, porque eu me sentia presa a um homem que não me dava o devido valor. Eu tinha muitos outros atrás de mim e não me entregava porque não podia mais. Comparava sempre ele aos outros e isso me corroía por dentro. Saber que não tinha futuro uma relação tão sem sentido como essa. Mas o deixar ir era ainda mais dilacerante, pois era sempre eu quem o deixava e eu quem o procurava depois.

- Já vou indo. - Não percebi a dor em seus olhos quando me virei, talvez camuflada pela minha própria dor ou por não acreditar que ele possuía tais sentimentos.

Sua posição desaparecia no horizonte ao passo que eu pulava no poço e voltava à realidade.


Notas Finais


Gente, só lembrando umas coisinhas para se situarem:
1) A fanfic se passa somente alguns anos após o fim definitivo do anime, portanto, não colocarei objetos tipo um celular na fanfic, só coisas que existiam na época. A música Mil Razões é uma das exceções :)
2) Comecei a desenvolver a personalidade da Kagome, mas vemos ainda muito pouco do Sesshoumaru, então aguardem mais uns caps, é muito cedo para isso já que ele é um personagem "fechado".

Músicas do cap:
*Velha Infância - Tribalistas;
*Mil Razões - Tiago Iorc;

Até o próximo :)


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