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História Carnalismo - Capítulo III


Escrita por: LittleStar15

Notas do Autor


Aí está o terceiro! Agradecendo imensamente à ~VeronicaSignori ~Engel_Thanatos ~Mary2017 ~Luarmoon ~Mikooh_Chan ~YangMimisaki- ~LucyCheney0603 e ~Deb-chan13 por favoritarem e a ~aneribeiro e ~Jaquelinegatona pelos lindos comentários :)))))

Boa leitura.

Capítulo 3 - Capítulo III


"- Escrever faz você feliz?

- Muito. Apesar de ser uma profissão muito autoindulgente. Você pega todos os seus piores temores e todas as suas mais loucas fantasias, mistura tudo e torce para que os outros achem interessante." - Lucinda Riley, A garota italiana.

- E isso é tudo por hoje. Semana que vem será o teste laboratorial, não esqueçam. E senhorita Higurashi. Pode vir aqui? - Eu fechei a apostila e me dirigi a passos lentos para encontrar o professor, que me olhou com expectativa. Estranhei sua posição, mas respirei fundo.

- Sim?

- Eu noto quando um aluno é o destaque da classe quando eu o vejo. E todos os anos um é escolhido para representar a Universidade em um discurso público nos EUA, para representar o Japão nessa mostra científica. Gostaria que a senhorita fosse esse aluno. - Eu engasguei com minha própria saliva. Como?!

- Eu?! Mas eu sou só uma aluna mediana que-

- Que dedica fins de semana inteiros a permanecer nos abrigos de hospitais dando assistência enquanto os outros estão confortáveis com suas tarefas mais fáceis. Às vezes… temos que simplesmente fazer o que nos agrada ao invés para impressionar qualquer pessoa. Parabéns, estou muito contente que encontrei uma aluna tão dedicada quanto a senhorita. - Ele se curvou minimamente e eu agradeci, ainda chocada com isso.

Minha amiga Lisa estava flertando com o Michael, um estudante de intercâmbio e nem notou quando eu cheguei junto de si. Eu estava tão feliz que puxei a garota e comecei a gritar:

- EU VOU PARA OS EUA, LIZ! - Ela soprou a franja ruiva do rosto e abriu um sorriso ostentoso e um tanto malicioso.

- Com quem, aquele seu namorado? - Eu revirei os olhos para ela.

- Não, idiota, melhor ainda! O Sensei Tanaka me indicou para representar a faculdade numa convenção que irá haver por lá… - Senti minhas bochechas queimarem. Eu não havia me acostumado com a ideia ainda. Seu rosto pareceu compreender, mas pegou em minha mão, preocupada.

- Você irá perder uma semana inteira trabalhando, Kah. Não era… o dia de descanso? - Ela certamente tentava estar feliz por mim, mas a preocupação era um dos fracos da garota. Ela cruzou os braços na frente do tronco e me esperou completar a frase. Eu só baixei os olhos e retirei o jaleco para colocá-lo na pasta adjacente. - Eu sei que está com problemas aqui. - Ela apontou para o coração. - Posso sentir isso. Sei que não gosta de falar de amor colega, mas não conseguirá descansar com tantos problemas assim!

- Eu sei. Sei disso. É complicado. - Eu deixei que ela me conduzisse pelos corredores cheios de alunos e chegasse à cafeteria. - Eu posso te contar, se quiser. Só não acho que acreditará em mim.

Seus olhos amendoados se alegraram com essas palavras e ele retocou o batom pink que já havia desgastado.

- Ótimo! Vamos comprar o almoço. - Eu a acompanhei na fila e logo eu viajei para a terra de que eu sinto tanta falta. Sentia falta do pessoal, de usar meu arco e flecha e de poder treinar meu houriki.

Voltamos à mesa e comecei a comer minha salada com hambúrguer distraidamente, até que ela sugeriu que eu começasse.

- Há quatro anos atrás, quando ainda estava na escola secundária, meu gato sumiu. Eu fui procurá-lo ao redor do templo e acabei entrando num depósito. - Ri me lembrando da cena e ela fez uma careta confusa. - Lá tem um poço fundo e seco que não tem mais utilidade.

- Já sei, você caiu lá dentro? Kah-chan, que descuido! - Ela ria enquanto terminava seu pudim. Neguei.

- Eu fui puxada para lá. Por um monstro. E quando dei por mim, estava no terreno do meu templo mas… numa época totalmente diferente. - Ela bateu com as mãos na mesa.

- Chega! Eu não vou ficar ouvindo ladainha sem sentido. Se você não quer me contar, tudo bem só- Kagome… - Ela arregalou os olhos e respirou fundo. - Ok, calma, nada de pânico, mas você está ficando lilás!

Eu comecei a sentir meu corpo esquentar e ser envolvido pela energia lilás. Me preocupei. Algo havia acontecido com alguém que eu amo lá! A minha amiga segurou minha mão no último instante e tudo ficou preto.

Alguns minutos depois

Abri as pálpebras lentamente e tossi, tentando me localizar. Coloquei a mão na cabeça e senti um extremo cansaço. Havia usado energia demais para me transportar involuntariamente. Olhei para frente e vi Miroku e sentado na posição de lótus concentrado e minha amiga desmaiada ao meu lado. Lancei mão de uma esfera de energia e quebrei a barreira do monge, que levantou com a expressão preocupada nos olhos violeta.

- Kagome-san! Graças a Buda. - Ele apertou minha mão e ignorou totalmente a presença da ruiva.

- O que aconteceu? Você precisou me chamar para quê?

- Foi uma necessidade e eu não sabia se você conseguiria voltar a tempo. - Ele fitou o nada e eu percebi as olheiras abaixo de seus olhos. Parecia querer me chamar há muito tempo. Seu braço estava enfaixado.

Um pressentimento horrível me ocorreu, e eu senti meu corpo esquentar outra vez com a intensidade do sentimento. Lágrimas caiam dos meus olhos.

- Quem morreu, Miroku? - Recebi um olhar angustiado dele. Não, não, não, NÃO! - POR FAVOR, me diga que ainda não morreu.

- Não morreu ainda. É o Inuyasha, Kagome. - Ele levantou-se e apontou para onde estávamos. Um jardim numa espécie de fortaleza. Ele se dirigiu para os fundos da residência, com os punhos ao lado do corpo e eu percebi que estava tentando manter a concentração provinda da meditação.

Chegamos num quarto com porta de shoji e iluminado por velas. Lá estava ele. Meu querido amigo, a quem eu confiaria minha vida de olhos fechados. A quem um dia já pude chamar de amor, quem me mostrou que a vida mesmo te tirando tudo não tira de você quem você é na essência.

Segurei as lágrimas e me sentei ao seu lado no futon. O corpo estava coberto de hematomas, principalmente o tronco e a parte das pernas. A barriga estava enfaixada e um líquido roxo saía de suas feridas. Era putrído seu cheiro.

- Miasma. Como…? - Eu senti que o veneno o estava contaminando pouco a pouco e não o permitia regenerar-se como de costume, além de que os arranhões eram muito profundos e provavelmente infeccionariam se eu não tratasse. - Vamos por partes. Precisamos-

- Purificar o seu corpo, já tentei isso e é poderoso demais apenas para mim. Por isso te chamei. Precisamos unir as forças, Kagome.  - Ele me deu uma de suas mãos e colocou a outra sobre o corpo do ferido. Eu imitei seu gesto.

Começamos a repetir um mantra simples e com o tempo fui sentindo a resistência daquele veneno. Mas não o deixaria vencer! O meu impulso de poder espiritual foi tanto que em algum momento começamos a levitar, minha luz lilás juntamente com a roxa do monge em perfeita harmonia. Pude sentir todas as partes do meu corpo e meus sentidos apuraram e sabia que se qualquer youkai passasse por ali naquele instante seria purificado instantaneamente.

Depois de mais ou menos dez minutos, ouvimos um grito de dor abaixo de nós.

- PAREM, JÁ PODEM PARAR… ai… - Pousei de volta e encarei com expectativa o hanyou, que parecia desnorteado com o ambiente fúnebre. Ele virou os olhos dourados em minha direção e eu o abracei com tudo que pude.

- Você está bem! Ah, fiquei tão preocupada que… - Demorou uns dois segundos para que ele me correspondesse e eu chorei baixinho em seu ombro. Depois me virei para o servo que estava na porta. - Pode me trazer uma agulha, linha, alguns panos, água e se você tiver, álcool etílico? - Ele estranhou o etílico, mas acho que entendeu. - Ou água oxigenada, tanto faz. - Depois de assentir, ele saiu do quarto. Eu me dirigi apressadamente para o jardim, onde encontrei minha pasta que havia trazido. Lá estavam comprimidos de analgésicos e até alguns anti-inflamatórios. Prescrevi tudo apressadamente num papel e trouxe para o quarto.

- O que é isso? - Inuyasha pareceu estranhar a bolsinha de plástico com os comprimidos, e eu suspirei.

- Seu tratamento. Eu prescrevi uns remédios para ajudar na dor e para não infeccionar. Não trouxe antibióticos, mas isso não tem problema, porque duvido que haja bactérias perigosas por aqui, mas de qualquer maneira-

- Eu sabia que você tinha mudado. Sabia, mas não queria acreditar. - Ele falou entrecortado, quase como se doesse mais do que suas muitas feridas. Eu toquei levemente os seus longos fios de cabelo, como se tentasse expressar que eu ainda estava aqui para ele.

- Tenho muito a te dizer, Inu. Na verdade… muito mesmo. Mas admito que tive medo dessas mudanças em pontos cruciais da minha vida, como assumir responsabilidades. Ser adulta e decidir de uma vez qual é o meu papel neste mundo. - Segurei sua mão e o fiz olhar para mim. - Eu ainda estou aqui e ainda sou sua amiga de alma. Não vai se livrar tão cedo da minha companhia e sarcasmo.

- O-obrigado. - Ele desviou o olhar, incomodado por eu ter conseguido dobrá-lo com tanta facilidade.

- Bom, então vamos à luta! Alguém pode me dar essas coisas aqui? Acho que quero a-

- AH! O QUE ESTÁ ACONTECENDO? SAI DE PERTO DE MIM! KAGOME! - Um grito feminino ecoou pelo estabelecimento inteiro e eu bati a mão na testa. Esqueci da Lisa.

Saí correndo, derrubando quem quer que estivesse pela frente procurando minha desnorteada amiga, que se encontrava em cima da árvore do jardim, aprontando nervosamente para o servo youkai que guardava nossa porta. Seu rosto era puro desespero e o servo não entendeu a reação. Assim que me viu, se debulhou em lágrimas.

- KAH-CHAN! ESTOU MORRENDO AQUI… meu vestido vai ficar todo amarrotado desse jeito.

- Calma amiga, desça daí, ele não vai te machucar!

- Quem garante? Por acaso já viu alguma patologia dessas na aula? É quase sobre-humano! - Ela apontou para o rosto dele e eu revirei os olhos.

- É porque ele realmente não é humano! E desce daí logo. - Ela desceu meio derrotada e chegou perto de mim, os olhos quase em fendas para o homenzinho, que voltou ao seu posto de trabalho. Ela ajeitou a saia do melhor jeito que pôde e limpou os saltos. Quando estávamos nos virando, Inuyasha aparece realmente irritado pelo barulho.

- Que merda é essa, Kagome?! Tão achando que é festa é? - Lisa saiu de trás de mim e comentou.

- Miga, que bofe é esse?! - Ela o analisou nada discreta. - Aparência oito! Corpo, com certeza um dez, e personalidade-

- O que pensa que está fazendo? Feh!  Eu não sou cachorrinho pra você ficar dando nota! - Ela fez uma careta.

- Dou um dois em personalidade, que cara mal-humorado, hein, Kah. - Ela sussurrou a última parte e ele perdeu o resto da paciência, indo em direção ao quarto e batendo a porta com tudo.

Nós rimos bastante, mas antes que eu pudesse falar alguma coisa, Jaken aparece ao meu lado. Arregalei meus olhos. Então a casa era dele. Não havia parado para perguntar onde estamos.

- Sesshoumaru-sama deseja vê-la, humana. - Eu congelei em meu lugar.

- Se-Sesshoumaru? Essa casa é dele? - O youkai sapo me olhou com superioridade e afirmou freneticamente. - Diga a ele que já vou.

- Hum… então é ele,  não é mesmo? - Liz colocou uma mão no queixo me analisando, junto com olhar sugestivo. Eu a repreendi com o olhar, falhando miseravelmente. A quem eu estava querendo enganar? - Uh, estou ansiosa.

- Sim. E não diga mais nada, por favor. Já basta essa situação nada confortável. - Ela acatou meu pedido e se voltou para o pequeno youkai que se encontrava à nosso dispor e saiu. Eu me virei para Jaken e ele pôs um olhar irritado.

Seguimos por um corredor de paredes com uma decoração um tanto quanto sóbria demais, com todo aquele vermelho e marrom e pinturas históricas feitas à mão. Eu levei uma mão ao cabelo, tentando diminuir o volume dos fios e quem sabe me fazer mais apresentável. Bufei, pelo menos eu havia colocado maquiagem hoje de manhã.

O youkai sapo parou em frente a uma sala com porta dupla, um tanto incomum para aquele tempo. Eu estava calma tanto por dentro quanto por fora quando ele abriu a porta. Eu não pude evitar sorrir. Fazia mais tempo do que eu esperava.

Ele demorou mais do que pareceu para erguer os olhos afiados do pergaminho abaixo de si para me fitar e eu me aproximei. Sesshoumaru levantou-se da cadeira e fez o mesmo, se aproximando lentamente. Eu levantei minha mão, e toquei a barra de seu quimono. Eu não soube o que fazer imediatamente, mas ele não tinha pressa. Seus olhos passavam tudo e nada ao mesmo tempo, com os lábios em uma linha fina me analisando, como se procurasse algum ferimento e eu me lembrei, quebrando nosso silêncio.

- Por que Inuyasha está aqui? O que está acontecendo? - Ele endureceu ao me ouvir perguntar sobre o meio-irmão e eu toquei sua face.

- O mundo está em guerra outra vez, miko. - Eu o compreendi e balencei a cabeça, apreensiva. Ele mudou seu foco do meu rosto para a parede onde se encontravam suas espadas, Bakusaiga e Tenseiga. Eu senti que se segurava para não se levar pela raiva, numa expressão de indiferença.

- Sabe que pode me contar qualquer coisa, não é? - Ele não me respondeu do jeito convencional, mas voltou-se para mim com um misto de desejo e raiva. Eu o devolvia. Parecia que três semanas sem vê-lo mexia mais comigo do que deveria.

Ele colocou as duas mãos em minhas faces e beijou-me avalassadoramente. Eu segurei firmemente em seus cabelos e ele me prensou contra a parede, e eu subindo em seu colo, colando nosso corpos. Sua língua era quente, assim como o resto de nós, e eu soube, naquele momento, que não queria estar em qualquer outro lugar senão ao seu lado. Sim, eu estava rapidamente me apaixonando por aquele youkai aparentemente sem coração.

- Ele parou abruptamente e me encarou. - Você tem que fazer uma escolha, miko.

Eu demorei bem uns dois segundos para entender do que ele falara e eu me surpreendi a ponto de parar no tempo. Minha garganta ficou seca e minhas mãos tremiam. Desviei o olhar. 

- Você fala… ficar aqui? - Ele não iria me responder. Estava clara em sua expressão com o maxilar trincado e os punhos tensionados.

- Sabe como é torturante passar meses sem vê-la? - As orbes me encaravam mais intensamente do que antes e vi que se segurava.  Seu tom foi baixo e cortante. - Vai tomar uma decisão.

- Si-im… eu prometo. - Lágrimas caíram dos meus olhos e eu joguei meus braços contra sua figura e ele me apertou junto a si, inalando seu cheiro de sândalo um tanto quanto amadeirado. Esse cheiro que tantas vezes me inebriou.

Nosso momento pareceu durar por mais algumas horas, até que eu mesma me dei um toque de realidade e me afastei. Precisava saber do mundo antes de tudo. Corei e olhei para si. Era lindo, tinha que admitir. Ele notou e um pequeno sorriso malicioso despontou em sua face.

- Gosto como você fica corada. Parece até ingênua assim. - Eu lhe lancei um olhar falsamente irritado.

- Mas eu sou inocente! Você não vê?!  - Eu ri quando ele continuou com o mínimo sorriso irônico e eu demorei mais um pouco para fechar a camisa que usava, até que o youkai  voltou-se para o pergaminho. - Até mais… prometo não encher sua paciência até lá.

Eu o mirei uma última vez antes de fechar a porta cuidadosamente. Minha mão foi de encontro aos meus lábios e eu suspirei alto. Sabia que ele poderia me escutar mesmo que estivesse cinco metros longe, então dei de ombros e ri de felicidade. Talvez eu houvesse encontrado meu caminho, e dessa vez, eu iria abraçá-lo.

Não me demorei muito ali parada, então limpei as palmas suadas na minha calça branca e ajeitei qualquer coisa na blusa rosa bebê de renda. Retornei aos fundos da casa onde o hanyou estava junto com o houshi, e foi aí que me dei conta, passando os dedos nas paredes com uma fina camada de poeira. Não havia visto Sango ou Shippo desde que chegar e isso me preocupou de verdade.

Acelerei meu passo, quase tombando umas duas vezes em alguma pessoa (ou coisa) que se perdia no caminho. Pois dizer também que o olhar os criados do Senhor do Oeste eram de estranheza ou, no máximo, curiosidade. Afinal, o que uma humana faria junto à seu mestre, que tão veemente e explicitamente repudiava todos eles? Contudo, ergui meu queixo e continuei andando. Eles não sabia nada sobre mim ou sobre minhas conquistas. Julgavam com base plena e sem fundos só com base em minha espécie e isso me irritava. Apesar de que Sesshoumaru fazia dez vezes pior comigo, eu sabia que ele tinha mais traumas do que confessava, e, apesar de não ser uma justificativa, ele tinha seus motivos. Por Kami-sama, quem, em sã consciência, não ficaria chocado quando descobre que seu pai construiu uma outra família?! E que essa família era prioridade em sua vida?!

Era assim que eu o via, uma criança rejeitada e criada pelos empregados, sem limites e com uma personalidade mais forte do que o esperado. E foi assim que ele cresceu.

Eu conseguia ver através de seus belos olhos o mundo inteiro. E como aquela garotinha o havia ajudado a ser uma pessoa melhor. Era mais grata a ela do que deveria.

Sorri.

☆☆☆

Sango-chan aparentemente estava em outro lugar, junto à frente norte das tropas do Inu youkai. Fiquei preocupada instantaneamente. Miroku não parecia muito melhor do que eu, mas meditava sempre que podia para espairecer e não endoidar com a preocupação de ter a mulher que amava liderando algum exército. Eu percebia seus músculos retesados e um vinco entre as sobrancelhas quase permanente todo vez que o olhava.

- Shippo deveria estar aqui conosco… se alguma coisa acontecer àquele filhote de raposa, eu…- Mordi meu lábio com força para conter as lágrimas que se formavam em meus olhos. Estava em um quarto consideravelmente grande, com as paredes decoradas e os lençóis perfumados. Lisa parecia entretida demais analisando alguns dados da aula de patologia jogada em algum lugar do quarto. Ninguém havia tido coragem de avisá-la que estávamos em uma guerra.

- Olha, amiga, eu sei que estou super sobrando aqui e tal, mas… - Ela tirou os óculos pink de leitura lentamente, deixando a mostra os olhos amendoados um tanto quanto preocupados. - Tenho a certeza de que o que quer que esteja acontecendo não é tão ruim quanto parece. Sempre há uma luz no fim do túnel… ah sei lá. - Ela abaixou os olhos frustrada, e eu me levantei e fui para junto dela.

- Eu sei, eu sei, só… não parece. Me desculpe. Por minha culpa está presa aqui, e duvido que consigamos te mandar de volta agora. - Ela balançou os cachos ruivos com leveza, negando.

- Está tudo bem, sério. Não tem problema. É bom sair da rotina um pouco. E além do mais… - Eu a olhei como se ela fosse louca e depois dei de ombros, rindo. - Mal posso esperar para ver os outros bofes que há por aqui! Não aguentava mais procurar pelo cara perfeito, quando no máximo eu encontrei foram meias sujas e uma mente do tamanho de uma ervilha.

Ambas fizemos cara de nojo e eu não pude discordar dela. Era a pura verdade. estalei os dedos. - Lembra do seu ex-namorado, o Steve? - Ela revirou os olhos.

- O louco das calcinhas? que só admitiu ficar comigo por causa da minha “personalidade alternativa”?! - Ela bufou e jogou uma das almofadas contra a porta, que se abriu no exato momento, em que Inuyasha entrava.

- Kag- FEH, O QUE É ISSO?! - Ele arremessou a almofada de novo, mas eu desviei.

- Ei, não fui eu! - Cruzei meus braços na frente do tronco e levantei rapidamente.

Os deixei discutirem enquanto saía discretamente do quarto. Eu vinha planejando fazer uma pequena visita às pessoas que moravam perto da “casa” de campo de Sesshoumaru, onde estou no momento.

A escassez de alimentos juntamente à guerra estava acabando com a saúde das pessoas, então juntei algumas coisas e coloquei uma roupa mais confortável que haviam me designado. Não queria que ninguém soubesse para não me impedirem de sair nesse caos. Não aguentava mais sentir tanto sofrimento na face das pessoas que não tinha nada a ver com essa luta.

Os guardas que vigiavam o portão me deixavam passar tranquilamente depois deu ter fingido ser uma empregada qualquer por conta da capa que usava. Suspirei enquanto me esquivava das muralhas protetoras e senti como se devolvesse o peso do mundo a Atlas.

A melancolia se abateu sobre mim e de repente meus olhos se encheram de lágrimas, me lembrando da última conversa que tivera com o Lorde do Oeste. Eu só tinha dezenove anos e deveria tomar um decisão para… não sei, talvez para sempre?

Mas… eu o amo? Depois de tanto tempo me dedicando somente ao Inuyasha, apesar de não sentir mais aquela paixão incontrolável por ele, fica díficil para minha mente aceitar o que o meu coração já determinou. Mesmo assim é como se a minha cabeça me estivesse protegendo de outro relacionamento destrutivo: frágil, instável, e altamente questionável quanto à veracidade de sentimentos do hanyou, que já gostava de outra pessoa, e eu. Como se ligasse os pontos, apesar de eu já me sentir física e mentalmente pronta para selar meu próprio destino.

- Eu quero ser uma médica. Quero me formar e exercer meu curso onde quer que seja! Não realmente importa se serei remunerada ou não… porque aí eu seria necessária. - Segurei o arco com força na palma da mão. É verdade, sempre foi. O quanto doía depender de seus queridos amigos para te salvar todas as vezes. O quanto eu senti que faltavam peças na história sempre que me deparava com algum obstáculo.

“Você pensa demais, Kagome. Se soubesse metade do que sei, pararia num minuto para me ouvir."

- Quem está aí? - Procurei em todos os locais da estrada onde caminhava.

- A sua sorte - Um homem com uma aparência estranha para aquela época me surpreendeu. A pessoa tinha cabelos loiros perfeitamente penteados para trás, uma roupa formal, tipo um fraque, e parecia se divertir com minha situação. Ele sorriu, jogando um objeto que brilhava para cima. Era uma espécie de medalhão.

- Eh… acho que não fomos apresentados antes, embora eu ache que você já me conhece. - Estreitei os olhos, lutando contra o impulso de fazer uma enxurrada de perguntas. Guardou o objeto estranho no bolso da frente do sobretudo inglês que ele usava.

- Todos os viajantes conhecem você! A senhorita ficou famosa depois de ajudar aquele meio demônio, mas como é o nome dele mesmo… - O homem olhou num relógio de bolso qualquer coisa e estreitou as sobrancelhas espessas.

- Inuyasha. E ele é um meio-youkai, não necessariamente um demônio. - Baguncei minha franja, confusa. - Espere, o senhor disse que há mais de ‘nós’... quem seriam esses viajantes.

- Ora, ora, acho que ficou confusa, não é mesmo? - O estrangeiro alargou o sorriso desalinhado. - Mas por hora, estou somente encarregado de te entregar isso. Pegue e lembre-se: somente um viajante pode usá-lo.

    O que o homem de olhos claros me deu antes de se teletransportar dali foi um relógio. Um simples relógio de bolso antigo com detalhes encravados nas bordas, em dourado. Ele cabia na palma da minha mão e era do mesmo modelo que o dele.

- Que estranho. - A estrada pareceu mais sombria conforme eu caminhava e me perguntei durante um segundo se o que eu vira fora realmente real. O homem estava vestido com roupas do século XIX e falava um japonês arrastado.

Um vento gelado raspou nas minhas costas enquanto começava a chover. Decidi retornar ao castelo do Dai-youkai antes que dessem por falta de mim, se isso já não houvesse acontecido. Eu precisava  conversar com alguém que pudesse me explicar o que estava acontecendo.

☆☆☆

Passei pelos portões quase como um raio, sabendo que a qualquer momento os guardas poderiam me reconhecer. Entrei pela porta dos criados e joguei toda a roupa molhada no chão do meu quarto de banho, para o qual se tinha acesso somente passando pelo meu quarto de dormir, como uma suíte nos dias atuais.

Eu estava congelando de frio por conta do tempo, e me repreendi mentalmente pela décima vez naquele dia. Os pelos do meu corpos estavam todos arrepiados antes de eu entrar na banheira com água quente. Enquanto relaxava, tornei a olhar para o relógio de bolso para saber quanto tempo aproximadamente eu passara fora. Foi aí que eu notei. Ele… não calculava somente as horas como um relógio comum. Havia outra coisa lá no visor… algo que eu não sabia explicar.

- Quem seria você, homem desconhecido? - Murmurei enquanto fixava meu olhar em outro lugar.

    Naquela noite eu coloquei um quimono simples ainda meio anestesiada. Prendi meus cabelos com uma fita da minha Era em um semipreso, deixando algumas mechas soltas emoldurando meu rosto. Vesti o obi azul escuro por cima da vestimenta rosa com estampa floral. Sesshoumaru gostava de quimonos florais.

    Todos já estavam sentados à mesa quando eu cheguei e talvez fosse pelo meu humor, mas falei pouco durante aquelas horas. O dono do castelo, que estava sentado na cabeceira da mesa ao meu lado, jogou uma de suas olhadelas interrogativas para mim enquanto Liz entretia os outros com alguma de suas histórias.

- Está tudo bem, Sesshoumaru. Aconteceu uma coisa hoje… - Eu mordi meu lábio inferior e ele trincou o maxilar, embora mantivesse sua postura calma.

- Eu senti cheiro de chuva quando você voltou para cá, mas havia outra coisa também, miko. - Minhas bochechas coraram. Então ele sabia desde o começo que eu havia saído.

Lógico que sim, né Kagome! O cara é um youkai e não é como se você estivesse saído só por dez minutos, foram duas horas! Minha consciência pegou pesado enquanto eu tornava a olhar para o outro. Ele parecia mais concentrado em alguma coisa que um de seus oficiais, um inu youkai de cabelos curtos e brancos, o relatava. Sesshoumaru notou que eu o fitava e virou os olhos, de perfil, em minha minha direção com um questionamento de ‘que é?’

    Eu ri de sua expressão e ele me ignorou, voltando-se para o rapaz e eu terminando de comer com um certo pressentimento de que alguém estava me observando. Passei meus olhos pela mesa e foi aí que notei que todos os meus amigos encaravam a flertada que acabara de acontecer entre mim e o Senhor do Oeste.

    Miroku contia sua risada com uma careta exagerada, Liz parecia querer vomitar arco-íris e eu mandei ela ficar quieta, mas o pior ainda estava ao lado da minha amiga, com uma aura sinistra bastante perturbadora. Oh, oh.

- Inuyasha…? Está tudo bem? E-eu- - O hanyou se levantou da mesa bruscamente, saindo para os jardins do castelo. Eu o segui, preocupada demais com meu próprio deslize para me importar em terminar o jantar.

    Eu o achei em cima de uma árvore, com uma expressão pensativa. Tirei as sandálias e comecei a escalá-la com destreza, e me sentando ao seu lado. Os olhos dourados encaravam a lua, com os lábios crispados.

- Sabe, quando a Kikyou morreu, eu pensei que tudo estava resolvido. Que eu finalmente iria ficar com você sem precisar escolher, e que tudo iria se resolver maravilhosamente por eu não ter um papel ruim na vida de nenhuma das duas. - Ele voltou-se para mim, com uma expressão cansada. - Porém, Kagome, as coisas não são como nós queremos. Naquele tempo que você passou longe daqui eu me vi muito confuso em relação aos meus sentimentos e aquele treinamento com certeza foi a melhor solução… mas você sempre esteve um passo na minha frente, não é mesmo?

- Fui terrivelmente egoísta, tenho total noção disso porque eu não pedi um término do que tínhamos, simplesmente presumi que seus sentimentos por mim haviam acabado. Mas o que aconteceu com o seu irmão-

- Meio-irmão, e eu não quero saber! Achei estranho o Sesshoumaru nos trazer para sua própria casa e martelava na minha cabeça qual teria sido o motivo, já que nunca nos demos bem. Mas parece que é mais complicado que isso.

- Inuyasha, você é meu melhor amigo. Eu confio em você de olhos fechados, nunca hesitaria em te seguir aonde quer que fosse. Mas eu cresci, e em algum momento os meus sentimentos se acalmaram dentro do meu coração. Talvez isso tenha sido bom de alguma forma, pois você foi meu primeiro amor, e esse a gente guarda para sempre nas memórias. Por isso - Eu segurei suas mãos e fiz ele olhar em meus olhos, sentindo tudo o que ele não estava conseguindo me dizer, toda a frustração, as palavras não ditas, os erros, tudo. - Não importa se eu estou com outra pessoa ou não, sempre vou estar aqui para você. Mas de um outro jeito agora.

- Eu… entendo, Kagome. Obrigado, mas saiba que para mim não é o suficiente.- Percebi que ficou chateado com as minhas palavras duras, mas eu só suspirei, cansada, e o dei boa noite.

Sesshoumaru me esperava assim que eu entrei no meu quarto de dormir. Ele ficou na varanda, de onde se tinha a perfeita vista de onde eu e Inuyasha estávamos anteriormente. Quando me viu, dirigiu um olhar frio e interrogativo, apesar de eu ter certa noção de que ele provavelmente sabia o que eu e seu (meio) irmão havíamos conversado.

Já era por volta das onze da noite, e todos da casa já estavam em seus quartos para dormir e eu pensei muito pouco antes de jogar as sandálias em algum canto do quarto e caminhar lentamente na direção dele. Seus cabelos estavam iluminados pela luz da lua, dando a eles um brilho mais especial. Senti que também me olhava.

- Sabe, está parecendo o dia que você me beijou pela primeira vez. - Ele estava em pé e o abracei de costas, sentindo que congelou ao meu toque.

- Beijo? Não está esquecendo de outra coisa, miko? - Seu sorriso malicioso era o que fazia o rosto parecer ainda mais atrevido, seu nariz tocando a ponta do meu.

- Ah sim, acho que me lembro… ou quem sabe o senhor prefere me mostrar? - Ele foi chegando mais perto, até me beijar. E como era perfeita essa sensação.

- O youkai me ergueu e o envolvi com minhas pernas, assim como havia feito na biblioteca naquele mesmo dia.

☆☆☆

Em algum lugar

- James, tem certeza que conseguiu entregar a ela? A garota ainda não ativou o relógio-pass.

- Paciência, Lorry-sama. Ela vai fazê-lo. A magia só funciona se ela realmente acreditar. - O inglês ajeitou a gravata ao redor do pescoço e a outra se calou, acomodando-se na cadeira. Alguma coisa ainda o irritava, ela sabia. - Mas tem uma coisa.

- O quê? Não me diga que alguém te viu? Sabe que o designei para essa tarefa na mais polida das intenções, que isso passasse despercebido pelos mortais.

- Então acho que quanto a isso não precisa se preocupar. Pois quem nos viu foi o Lorde do Oeste.



 


Notas Finais


Gente, esse capítulo não foi mais tão focado no casal 20, e o início do movimento que estou planejando para a história. E deixo vocês com a seguinte pergunta: será que a Kagome é mesmo a única capaz de viajar no tempo?

Até a próxima!


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