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História Carne Muerta - Arena


Escrita por: FresadelaLuna

Capítulo 1 - Arena


Fanfic / Fanfiction Carne Muerta - Arena

“Vai chegar um dia em que você se sentir melhor

Você vai se levantar livre e fácil nesse dia

E flutuar de galho em galho

Mais leve que o ar

Simplesmente quando esse dia estiver chegando, quem pode dizer?”

 

 

Ela correu o quanto pode, sem ar, sem fôlego, mas mesmo assim, correu.

Seus pés batiam contra os corpos podres e tentavam se desviar das carnes muertas que cercavam aquela parte da estrada.

Era de se esperar que todos eles estariam nessa região, o som da queima das fogueiras há metros dali o chamaram, trazendo-os para aquela direção como um imã. Era essa a intenção, afinal de contas, ela tinha que mantê-los o mais longe possível da cidade que seu grupo estava construindo e esse era o principal objetivo e trabalho que ela mesmo decidiu tomar cargo: mantê-los o mais longe possível.

Os muros de quase dez metros de altura sempre eram vigiados por voluntários, mas Ela conhecia cada parte dali. Sabia que existia uma placa de ferro frouxa escondida entre os arbustos, que dava vazão para dentro do complexo e a levaria diretamente para o seu abrigo.

A lama grudava-se ao seu corpo, assim como o suor que escorria do seu rosto, pregando sua camiseta por todas as suas curvas quase inexistentes pela magreza da fome. Ela se considerava um trapo com roupas.

Hoje era um dia diferente, havia uma coisa que ela encontrara e daria certo, ao menos esperava que desse, afinal, tudo se tratava disso. Se tratava de funcionar e ajudá-la a sobreviver.

Ela nunca conheceu seus pais, teve de sobreviver sozinha desde que toda essa merda aconteceu, e isso a fazia pensar se ainda valia a pena, afinal de contas, não tinha como saber. Para Ela, o que estava acontecendo dentro da comunidade os estava deixando loucos, tão doentes quanto os carne muerta do lado de fora.

Um surto de insanidade e hidrofobia.

Vermes.

Era sempre o que Ela pensava a respeito deles.

Idiotas estúpidos que só pensam em si mesmos.

Suspirando, Ela escorregou pela lama em meio aos arbustos, correndo as costas para dentro da placa de aço até se ver em um pequeno túnel de esgoto antigo, não mais usado.

Nas mãos, a única coisa que carregava era uma faca. Nunca gostou de armas de fogo, para ela, eram barulhentas demais, e embora os monstros fossem cegos, ainda assim eles sabiam ouvir bem, sabiam andar bem e principalmente, morder bem.

O duto de ar do teatro abandonado era a única coisa que a fazia se sentir em casa. Há cinquenta metros dali, ela chegaria e se jogaria ao centro do palco de madeira podre, onde sempre dormiu e sempre ficou.

A respiração contida pelo cheiro podre a fazia sentir náuseas.

Socando o duto para cima, conseguiu pular para o lado de fora, sentindo o vento frio contra a pele suada.

A mochila foi jogada para longe, escorregando para as cortinas mofadas e ela pulou, correndo até o baú jogado ao centro da platéia de bancos quebrados.

Assim que o abriu, sorriu como se houvesse acabado de ver a esperança de toda a humanidade.

Mas era apenas uma lataria. Um robô militar sem os dispositivos de guerra. Apenas um robô qualquer que precisava de uma nova bateria e óleo o bastante para queimar toda essa cidade, como ela fizeram com as fogueiras a quase dez quilômetros dali.

- Olá! - riu, puxando a mochila do palco e a jogando ao seu lado, tomando fôlego - Será que agora você funciona? - perguntou para si mesma, como que esperando que sim, afinal, fazia tempos que estava sozinha e isso a deixava cada vez mais patética.

Agarrando os braços do homem de lata, Ela o puxou para o lado de fora, jogando-o sobre dois bancos de esponjas estouradas. Havia uma pequena abertura para a bateria e Ela acreditava veemente de que conseguiria compactar a energia de um carro ali dentro.

Engolindo a seco, passou as mãos imundas pelo rosto, sentando-se no chão, pensando como tudo aquilo parecia estúpido, afinal, nunca soube de mecânica e não era agora que saberia. Se mostrasse o robô para os homens do lado de fora, o transformariam em sucata e com certeza ela não iria querer isso.

Suspirando, olhou ao redor, vendo como a faca tremia entre os seus dedos.

- Que merda! - praguejou para si mesma assim que começou a ouvir os reboliços do lado de fora.

Correndo, Ela foi em direção a uma das janelas quebradas cobertas por tiras de madeira lascadas, conseguindo ver, através da luz quente do sol e os painéis de energia solar, uma multidão se alvoroçar como formigas.

Três pessoas carregavam um homem que se debatia para ser solto. Eles o estavam levando para a Arena no centro do complexo.

Como ela odiava esses jogos.

Revirando os olhos, embainhou a faca e abriu a porta do teatro, fechando-a atrás de si rapidamente.

- O que está acontecendo? - perguntou para uma mulher nova na comunidade, na casa dos vinte anos que mancava.

- Um cara roubou uma lata de cerveja e três enlatados na dispensa. - avisou, agarrando-se mais a bengala.

- Estão levando ele para a Arena... - disse ela consigo mesma.

- Todos que cometem crime vão para lá!  - retrucou - Ele mereceu.

Ela nunca gostou desse jogo, Ela sabia que eles só faziam isso como meio de distração, muitas vezes as pessoas votavam para entrar lá, para ficar no meio da Arena e sentir a adrenalina que existe do lado de fora, mas Ela sabia muito bem que não era adrenalina nenhuma, era medo, era sobrevivência, era a própria perda da sanidade.

De um jeito ou de outro, Ela não queria se importar, não era problema dela, isso daqui nunca foi, mas Ela não sairia daqui, Ela chegou aqui primeiro e não deixaria com que eles tomassem seu espaço por causa de um jogo idiota de sobrevivência.

Negando com a cabeça, tentou recuar, mas continuou a ouvir os reboliços e isso a deixava cada vez mais agonizada.

Não podia deixar isso acontecer!

Se ela deixasse mais outras pessoas morrerem, já não bastando o quanto de pessoas morriam do lado de fora, Ela tinha medo de que parasse de ser humana.



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