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História Carpe Diem (EM PAUSA) - Day Three


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
Mil desculpas por essa imensa demora. Mas, estou de volta, e pretendo continua com a história até dar por concluída, aqui na plataforma. Enfim, aqui está mais um capítulo.
Espero, de coração, que gostem. MWAH!

➡ Capítulo ainda não revisado, perdoem-me se tiver erros.

Capítulo 4 - Day Three


Fanfic / Fanfiction Carpe Diem (EM PAUSA) - Day Three

Sabia que meu telefone estava tocando sobre o pequeno criado mudo ao lado esquerdo da minha cama. Apenas não queria abrir meus olhos. Mentalmente, torço para que a pessoa que ousou ligar-me, a sabe-se lá qual hora desta manhã, desistisse, e ligasse mais tarde. Ou, simplesmente, não me ligasse.

Para a minha primeira frustração do dia, a pessoa não desiste. E bufando como um animal raivoso, tateio a madeira fria até alcançar o aparelho, e sem ao menos olhar, deslizo o polegar pela tela, guio-o ao meu ouvido direito, que era a única parte não coberta pelo meu cobertor e travesseiro.

— Alô?

— Bom dia, flor do dia. – uma voz rouca e masculina soa complacente do outro lado.

Abro meus olhos depressa.

— Quem está falando?

— Ora, não se passaram nem vinte e quatro horas e já se nega a lembrar da minha voz? – graceja. — Sou eu, Justin... Justin Bieber.

Oh. Meu. Deus.

— Você... Isso não... É... – estreito os olhos, e sento-me rapidamente, sentindo os fios do meu cabelo cair em meu rosto. — Como conseguiu o meu número?

— Com a sua amiga. – diz como se fosse comum. — Ela me ameaçou, e não foi agradável imaginá-la realizando atrocidades com o meu corpo, mas, após espantar toda a merda para fora de mim, consegui alcançar o meu objetivo.

— Eu não... Porque pediu o meu número?

— Eu sou o tipo de cara que liga no dia seguinte, Hope. – ele parecia sorrir, algo em sua voz me dizia isso. — E também, queria chamá-la para tomar café da manhã... Ao meu estilo, é claro.

— Tomar café da manhã com você? – praticamente ralho, e isso parece diverti-lo. — Está brincando comigo?

— Bom, se levar em conta que estou na porta da sua casa a mais de quatorze minutos, eu acho que a resposta é não. – ele diz e eu olho para a janela, levantando-me ao mesmo tempo. Alcanço minha mochila com o cilindro.

— Está querendo dizer que neste exato instante está na porta da minha casa?

Marcho até o amontoado de tecidos que formavam a cortina branca com detalhes lilás, e olho pela brecha para baixo, deixo minha mochila ao lado dos meus pés. E avisto um carro, o mesmo da noite passada. Recostado contra a lataria, estava um homem alto, forte, trajado em nada mais que uma calça jeans escura, tênis casuais e uma camisa preta de mangas longas e corte arredondado na gola.

Era ele.

— Sim. É exatamente isso que quero dizer. – assisto seus lábios se moverem ao mesmo tempo em que sua resposta ecoa no aparelho. — Então, irá querer que eu seja formal e fale com seus pais, ou...

— Não!

— Não o que? – ele inclina sua cabeça para o lado esquerdo. — Só para deixar claro... Não estou querendo lidar com um ‘’não’’ como resposta. Sou um pouco insistente quando quero algo. E veja bem, quero mesmo levá-la para tomar café da manhã.

— Por quê?

— Porque eu acho que é isso que duas pessoas que querem se conhecer fazem. Sabe, interagem juntas, conversam e fazem várias perguntas sobre suas personalidades, coisas assim.

— E quem disse que quero conhecer você? – não soou tão rude quanto imagino, e ele sorri da maneira mais arrogante possível.

— Eu posso ser o amor da sua vida. Irá mesmo querer perder essa chance? – questiona-me.

Engulo em seco.

— Você tem um ego alto. Vejo que já sei algo sobre você.

Ele continua sorrindo. Desta vez, seu sorriso se amplia no mesmo instante em que ergue sua cabeça e olha para o exato andar que ficava o meu quarto. Para a minha janela. Para mim.

— E você não é nem um pouco discreta. Vejo que já sei algo sobre você também. – rebate, e fecho rapidamente a cortina, afastando-me em quatro passos para trás. — Vamos lá, Hope. Meus dedos estão coçando para tocar a campainha da sua casa.

— Você não irá me deixar em paz se eu recusar, não é?

Pode apostar que não.

Solto um suspiro longo e pesado.

— Tudo bem. Dê-me alguns minutos. – respondo-o e começo a andar até o meu banheiro. — E fique longe da minha campainha.

— Sim, senhora. – responde-me em tom divertido.

Encerro a ligação.

Apressada, livro-me da minha cânula e do meu cilindro. Olho-me no espelho e deixo meus ombros caírem. Minha pele estava pálida, mas ao mesmo tempo corada. Tomei inalação durante três horas, e adormeci pelo cansaço. Não tive tempo para pensar sobre a minha noite ao lado de Justin, mas saber que ele estava na porta da minha casa, fazia-me estremecer.

Não fazia sentido tê-lo tão perto. Na noite passada, não teve sentido também. Nós conversamos, e ele foi gentil comigo. Ele podia ter ficado na festa e aproveitado-a como todas as outras pessoas, mas não o fez, apenas ofereceu companhia a uma garota deslocada. Em todos os sentidos.

Somos incompatíveis. Como água e fogo. Não preciso conhecê-lo bem para saber disso. Colocando-nos lado a lado, fica bem claro nossas diferenças. Se misturarmo-nos, iremos nos destruir.

E eu já tenho a minha própria destruição para lidar.

Faço minha higiene matinal, e tomo um banho rápido. Geralmente, minha mãe acorda e fica me esperando do lado de fora do box, apenas para se certificar de que eu não vá ter problemas. No hospital, enfermeiras fazem o mesmo. Isso era muito além de invadir a privacidade de alguém, e eu me sentia a beira do limite sempre que dava um passo e tinha alguém logo atrás de mim, preocupado demais que eu pudesse morrer antes do meu tempo acabar.

Puxo uma toalha que estava suspensa no suporte do lado de fora do box, e seco-me antes e me enrolar nela. Salto para fora, e volto ao meu quarto, marchando em direção ao meu roupeiro. As minhas peças de roupas eram diferentes, mas pareciam iguais. Contra os dedos que percorriam as peças entre diversas texturas, escolho uma camisa de botões e um jeans um pouco gasto.

Desfaço-me da toalha felpuda e me visto em peças intimas comuns. Coloco a roupa que escolhi e encaro meu reflexo no espelho ao lado da minha cômoda. Era simples. Bom o suficiente para ir a sabe-se lá onde o lutador pensou em me levar. Apanho uma escova de cabelos, e penteio os fios alvoroçados que emolduravam o meu rosto. Revoltos demais para deixá-los soltos, junto cada um deles em um rabo no alto da minha cabeça. Meu rosto estava limpo de maquiagem, e continuaria assim. Não importava o quanto eu tentasse esconder os vestígios sobre meu cansaço, era quase que uma marca dos anos que passaram.

Calço meu tênis, e puxo minha mochila para mais perto, ajeito a cânula por dentro da minha roupa, e torno a me encarar no espelho. Não era como um colar que complementava um traje, nem mesmo como um detalhe mínimo, mas marcante em uma pessoa. Era feio. Era o sinal de que eu era diferente demais para me misturar, ou me camuflar por entre as pessoas.

Pondero a ideia de desmarcar com Justin e mandá-lo embora, mas no exato instante que alcancei o meu celular, um sinal avisa-me que estava recebendo uma mensagem de texto.

‘’Se estiver pensando em desistir, saiba que não irei sair da sua porta. Não tenho nada mais importante para fazer hoje. J.’’

Solto um suspiro.

Não o respondo, no entanto. Apenas movo-me pelo quarto, arrastando o meu cilindro para fora. Passo pelo corredor, e lido com os degraus que tanto odiava ter que subir e descer carregando a minha mochila. No andar de baixo, olho para os lados e escuto vozes na cozinha. Guio-me até elas, sentindo minhas mãos suarem, de repente. Meu irmão é o primeiro a perceber minha presença, e acena com uma de suas mãos, enquanto a outra levava a seus lábios uma grande fatia de bolo. Minha mãe olha para trás.

— Filha, o que faz de pé? – ela olha-me dos pés a cabeça. — Já tomou banho? Eu ia ajudá-la, Hope.

— Estou de saída. – digo depressa, usando a mínima porcentagem de coragem que aspirei para mim.

— Saída? – meu pai ergue as sobrancelhas. — Para onde vai a está hora?

Umedeço os lábios, e meus dedos pressionam com um pouco mais de força a alça da minha mochila.

— Irei sair com Mackenzie. – eu minto, e odeio-me por isso. — Iremos tomar café... Juntas.

— Porque ela não vem tomar café conosco? – minha mãe pergunta parecendo desconfiada.

Eu queria correr.

— Iremos ao shopping, também. – balanço minha cabeça, sentia-me a pouco de explodir com a minha mentira, ainda que fosse pequena. — Iremos tomar café e ir ao shopping. É isso.

— Eu não acho que isso seja uma boa ideia, Hope. Você saiu ontem à noite e... – minha mãe começa a dizer, mas meu irmão intervém, assim que termina sua mastigação incessante.

— Deixe-a, mãe. – ele diz despreocupado, e lança-me um sorriso sereno. — Mackenzie é a única amiga de Hope, e é bom elas terem algum tempo juntas.

Mentalmente, dou um forte abraço em meu irmão. Mas permito transparecer apenas um sorriso de agradecimento.

— Elas podem ter um tempo juntas aqui. – minha mãe pontua, sem se abalar.

— Pare com isso, querida. – meu pai olha para a minha mãe assim que recebe um olhar incompreensível. — É apenas uma ida ao shopping. Assim que ela terminar, podemos buscá-la.

Minha mãe sussurra, e vira-se para mim.

— Não sentiu nada essa noite? Dores no corpo, no peito...

— Apenas dormi, mãe. Não senti nada.

Falo a verdade, ainda que estivesse sentindo um pouco de dificuldade para sentir meus pulmões inflar o ar, como se um peso estivesse sobre eles.

— Ligue-me se sentir qualquer coisa. – ela me alerta com seriedade.

— Tudo bem. – olho para baixo, desejando desviar-me do olhar investigativo da minha mãe. — Então, eu estou indo... Tchau.

Giro meus calcanhares, ficando de costas para a minha família.

— Eu te amo! – minha mãe grita. — Não quer uma carona?

— Eu também te amo. – grito de volta, e apresso-me para alcançar a porta. — Mackenzie está me esperando na porta. Obrigada.

— Mande um abraço para ela. – meu pai eleva a voz para que eu o escutasse, abro a porta da frente e passo por ela, como se estivesse fugindo.

Solto um suspiro pesado.

Direciono meu olhar para frente, encontrando a mesma pessoa que me tirou da cama, como outra jamais fez antes. Mackenzie possuía um dom de ser chantagista, era algo natural seu, e sempre conseguia me fazer ficar de pé, mesmo que desejasse ficar jogada no meio dos lençóis e cobertores. Mas, agora conheci um adversário a sua altura, tão convincente quanto ela. Arrisco-me dizer, ainda melhor, e mais egocêntrico, também.

— Bom dia. – ele replica, e um sorriso genuíno assume posse de seus lábios. — Você está bonita.

Estreito os olhos.

— Porque, realmente, está aqui? – estava soando grossa, e se meus pais ouvissem-me falar dessa maneira, estariam me espreitando.

— Eu já lhe disse... Quero conhecê-la. – move seus ombros. — Eu gostei de ter me esbarrado com você naquele hospital. E gostei de tê-la encontrado na noite passada. E irei gostar de sair com você, hoje. – ele balança sua cabeça. — Precisa mesmo encontrar uma razão em tudo?

Sim, eu precisava.

— Não. É, que... – limpo minha garganta, e olho para o jardim. —  Apenas não faz sentido para mim.

— O que não faz sentido? – não consigo olhá-lo, mas imagino-o erguendo uma de suas sobrancelhas grossas e escuras. — Eu estar interessado em te conhecer e sair com você?

— Ninguém esteve interessado antes. – as palavras saem em baixo tom, e sinto o frescor do dia ainda amanhecendo levá-las para longe.

Justin não diz nada, nem mesmo ri da minha realidade. Sentia-me exposta a ele, completamente vulnerável, e isso não podia ser algo bom.

— Podemos ir? – ele questiona, olha-o de soslaio e assinto.  Não tinha mais forças para questioná-lo, queria apenas que as horas corressem.

Queria pode conhecê-lo.

— Para onde vamos? – pergunto, enquanto arrasto a minha mochila pela varanda, e logo pelo pequeno trilho que levava-nos a calçada.

— Não será mais uma surpresa se eu lhe disser. – abre a porta de seu carro, e afasta-se para que eu entre. — Posso ajudá-la?

Eu queria negar. Queria poder fazer sozinha, afinal, estava acostumada com os empecilhos sempre que lidava com quaisquer objetos pelo caminho, ainda que inanimados. Apenas aceito, e me sento no banco do carona, enquanto vejo-o colocar a mochila para dentro, entre minhas pernas.

— Obrigada. – agradeço-o, e ele apenas sorri, se afastando e fechando a porta.

Seu carro era tão confortável quanto podia me lembrar. Era limpo, arejado, e cheirava a hortelã. Tinha um cinzeiro no suporte que servia para colocar copos, mas parecia ter sido limpo. Na noite passada, posso jurar tê-lo visto cheio de cinzas e com pequenos cigarros tragados até o fim.

O som da porta do outro lado sendo aberta faz-me encolher-me um pouco. O corpo viril de Justin faz presença atrás do volante, e ele olha para frente, mas antes de ligar o carro, mexe no seu rádio, e parecia procurar por alguma música especifica.

— O que gosta de ouvir? – pergunta, naturalmente.

Penso por um instante.

— Eu cresci ouvindo clássicos dos anos 80, e muito Rock, também. – conto para ele, lembrando-me de quantas noites meu pai me colocava para dormir ouvindo seus vinis preferidos, grande parte deles herdados por meus avós. — Mas, me dispersei um pouco disso. Apenas ouço o que agrada meus ouvidos, não tenho uma regra.

Ele solta uma risada baixa.

— Não me diga que temos uma fã de cantores adolescentes aqui?

Olho-o ofendida.

— Qual o problema? – olho desafiadoramente. — Gosto de One Direction. Eles cantam bem.

— Eles não cantam, realmente. – zomba, e apoia seu braço esquerdo no volante, se mantendo inclinado para mim. — Podem ser bonitos, mas isso é tudo.

— Não fale deles. – ergo meu rosto. — Eles são talentosos, sim. E eu gosto de ouvi-los, de vez em quando.

Dou de ombros, sentindo meu rosto e orelhas esquentar.

— Seu gosto musical é péssimo. – Justin ri, e coloca uma música para tocar. — Isso é ter talento. O que aqueles garotos fazem, é seduzir meninas e deixá-las suspirando.

Os acordes do violão que soavam junto a voz do cantor, preenchem o carro, rapidamente. Era uma melodia suave, mas, ao mesmo tempo, instigante.

— Ed Sheeran? – olho-o incrédula. — É isso que o lutador de Underground ouve em seu tempo livre?

— O cara possui uma voz fantástica. – argumenta, e se endireita no banco, colocando o carro em movimento pela pista vazia. — Gosto de ouvi-lo. De alguma maneira, me sinto como um adolescente, novamente. Livre, cheio de sonhos, e feliz.

Umedeço os lábios.

— E você não é todas essas coisas?

— Não como imaginava que pudesse ser. – ele diz, e dobra a primeira esquina.

Não sabia o que lhe dizer ao lutador. Mackenzie sempre teve fascínio absoluto por homens altos, fortes e tatuados, e seus gritos histéricos sempre que lia ou assistia alguma entrevista com um homem com esses requisitos, fazia-me pensar se algum dia ela agarraria um deles. Justin Bieber sempre esteve em todos os sites de fofoca, revistas e jornais, era como um rosto essencial para as vendas. Vez ou outra saiam fotos dele machucado, ainda dentro dos ringues, outras vezes, ele estava apenas saindo de algum clube noturno, acompanhado por alguma mulher bonita, e cheia de curvas. Mas, nunca o via sorrir.

E o seu sorriso era lindo.

Ele me lembrava de Kane Khol. O capitão do time de base de beisebol do meu colégio. Ele era estupidamente lindo, tinha um par de olhos escuros feito breu, duas tatuagens em suas costas, e uma em seu bíceps esquerdo, o corte de cabelo baixo, como de um militar. E o sorriso mais bonito, que era direcionado a todas as garotas. Ele tirou notas baixas em seu último ano, e como líder do clube de auxilio estudantil, passei a ser sua tutora, ajudando-o a não perder a chance para conseguir a bolsa de estudos. Ele era um grande idiota, e a cada dia que estudávamos juntos, pedia-me conselhos sobre as garotas, e Mackenzie era uma das que ele desejava colocar em sua lista. O fato era que me sentia atraída por ele, gostava de olhá-lo e vê-lo fazer cálculos, mesmo que seus erros fossem estúpidos, o que me fazia compreender o fato dele nunca tirar mais que um D- em álgebra. Ele nunca me notou, mas me permitiu entrar em sua vida, ajudá-lo com seus problemas familiares, mas tinha vergonha de mim. Nos corredores do colégio, ele nunca me cumprimentava, nem mesmo me olhava, e ele me via passar ao seu lado. Assim que ele conseguiu um B+, deixei de ser sua tutora, e lhe deixei uma carta. Foi algo idiota da minha parte, pois no dia seguinte, todos do time estavam zombando de mim. Não chorei, nem mesmo culpei-o, pois era minha culpa procurar sempre entender as pessoas, ser boa para elas, mesmo que nunca fossem boas para mim. E no dia do meu acidente na piscina, meu último olhar foi direcionado para ele. E, sendo loucura ou não, ele parecia estar se desculpando. Mas eu não queria suas desculpas. E depois, só me lembro da escuridão, e dos gritos. Talvez, ele tenha gritado por mim também, nunca procurei saber.

— Chegamos. – a voz rouca de Justin se sobrepõe a mais uma música de Ed Sheeran, e nem mesmo saberia dizer quantas faixas tinham tocado durante o percurso.

Espio do lado de fora do vidro.

— Um hotel?

— Apenas me siga – um de seus polegares alcança o meu queixo, e ele salta para fora do carro, deixando-me imóvel por algum tempo.

Faço o mesmo, assim que minha consciência volta a sua clareza comum.

Justin segue em passos calmos, e sabia que era para que o acompanhasse. Arrasto minha mochila pelo caminho, mas não subimos as escadas do hall do grande edifício cheio de andares. Seguimos para um estreito beco, que o separava de uma floricultura. Não questiono, mas me sentia confusa, e um pouco cansada.

— Porque estamos aqui? – pergunto assim que paramos em frente a uma escada de metal branco, um pouco envelhecido.

O lutador me olha, e um pequeno sorriso ergue os cantos de seus lábios.

— Tenho mesmo que lhe dizer novamente o motivo de tê-la convidado para tomar café comigo? – ergue as sobrancelhas, e bate seus cílios longos e escuros em suas maças levemente mais avantajadas naquela manhã. — Só vamos subir. A magia está lá em cima.

— Iremos subir tudo isso? – olho para cima.

— É alto demais para você? Podemos pegar o elevador se isso a fizer se sentir melhor. – seu tom estava livre de humor.

Oh, não. Aquele maldito tom de preocupação, como se eu tivesse mais limitações que realmente possuía.

Ergo meu queixo.

— Eu posso fazer isso. Só... – tento levantar minha mochila, mas o cilindro parecia mais pesado do que de costume. — Dê-me um minuto.

Era uma mochila, eu podia colocá-la nas costas e andar por todos os lugares, e ainda continuar respirando. Mas, algo não parecia certo. No começo, logo quando precisei lidar com o fardo de carregá-la aonde quer que fosse, além de praguejar, gritar, chorar e me recusar a sair do quarto por dias, conseguia manuseá-la bem. Nos últimos seis meses, tudo me cansava. E mesmo que minha força interior gritasse para que conseguisse sustentá-la, parecia uma pequena formiga tentando erguer uma pedra nas costas.

— Deixe-me ajudá-la. – Justin se aproxima, e toma de minhas mãos as alças da mochila. — Podemos mesmo ir de elevador, Hope. Foi um ato insensível trazê-la aqui e...

— Não! Por favor... – balança a cabeça, forte demais. Meu pescoço iria doer mais tarde. — Isso é algo que não quero que aconteça. Se estamos aqui, vamos fazer isso devidamente. Eu não sou feita de vidro, e não irei me quebrar. Só... Não faça isso.

Um suspiro pesado deixa seus lábios.

Rosados e bonitos demais.

— Desculpe. Eu sou um idiota.

O idiota mais estupidamente bonito que já tinha conhecido.

— Uh, pare de me olhar assim, ou irei me sentir ainda mais culpado. – seu tom debochado retorna, e encolho meus ombros. — Suba em minha frente, estarei logo atrás de você.

Olho para a escada.

— Tudo bem. – sussurro, mais para mim que para ele. — Eu consigo fazer isso.

Seguro as primeiras barras e encaixo meu pé esquerdo no último degrau enferrujado. Respiro fundo, e sinto uma leve dor vibrar em meus pulmões. Impulsiono meu corpo para frente, e começo a subir. Não era tão difícil, e eu conseguia sentir um corpo mais forte e quente que o meu logo atrás de mim. O ar ainda corria para dentro de mim, então, ele estava mesmo em acompanhando.

Era mágico e ao mesmo tempo assustador estar subindo uma escada que levava ao topo de um prédio de dez andares. Sentia que poderia desmaiar se olhasse para baixo, então não o faço. Se meus pais soubessem disso, me trancariam em meu quarto por pelo menos um ano. Talvez, pelo resto da minha vida.

Seria um segredo prazeroso de guardar.

Sentia-me como um pequeno pássaro que escapou de uma gaiola. E sem que desse conta, um sorriso brilhava em minha face. Estava gargalhando, como se estivesse sozinha, e não com um belo e tatuado lutador atrás de mim, sendo meu suporte para não cair e continuar respirando.

— Você está rindo por estar subindo em algo tão alto assim?

— Vai dizer que está com medo? – provoco-o, e continuo subindo.

Uma mão, depois a outra. Um pé, depois o outro.

— Não sou um grande fã de altura, e nem de elevadores.

— Você é claustrofóbico? – pergunto, achando um pouco surpreendente alguém como ele ter medo de alguma coisa.

— Se eu tenho medo de uma caixa metalizada ligada a fios que desce e sobe o dia inteiro por um lugar escuro e estreito? – ele pigarreia. — Pode apostar que sim. Não aprecio limitações, nem espaços pequenos.

— Bom. Escadas também não são seguras assim. – comento, avistando os últimos degraus, alcançando-os de pouco a pouco. Respirando com certa dificuldade.

Eu também não apreciava limitações, Justin. Podia compreender você.

— Você me parece bem com toda essa altura. – ele comenta, falando um pouco alto, como se tivesse acabado de olhar para baixo.

— Às vezes, temos que superar algumas coisas que nos assustam.

Minha mão direita agarra o último degrau, e ao inclinar meu corpo para cima, passo minhas pernas para o lado de dentro do grande vazio que me faz abrir os lábios, em busca de ar, e extasiada pela visão de toda a cidade. Era o terraço de um prédio, como qualquer outro, mas dava-me a visão mais bonita que já tive um dia da cidade que vivo por tanto tempo.

— Você parece um pouco decepcionada. – a voz de Justin alcança meus ouvidos.

Olho-o depressa, balançando a cabeça.

— O que? Não! – olho para cima, sentindo a deliciosa brisa do frescor da manhã. — Isso é lindo... Eu nunca tive essa visão da cidade. É mesmo incrível!

— Eu gosto de ficar aqui durante a noite.

— Esse é o seu hotel? – pergunto curiosa. Era, evidentemente, um hotel luxuoso, algo como cinco estrelas, ou mais que isso.

— Sim.  – faz uma careta. — Minha equipe disse que era o melhor da cidade, e que era seguro.

 — Livre de invasões de fãs loucas a procura de um fio de seu cabelo?

Uma risada sonora deixa sua garganta, e gostaria de tê-la gravado para ouvir mais tarde.

— Oh, não tem como se livrar destas. – graceja. — Estão por toda parte. Acho que tem uma em meu banheiro, é a quinta vez que perco minha escova de dentes dento de semanas. Suspeito, não?

Não consigo segurar a risada melodiosa que atinge Justin em cheio, fazendo seu sorriso desaparecer, e seu olhar cair sob meus lábios. Era um olhar estranho, algo como admiração. Ninguém nunca me olhava assim.

Era assustador.

— O que foi?

— Nada. – parece acordar de um transe. Ele limpa sua garganta, e com um de seus indicadores, aponta para seu lado direito. — Eu não sei o que gosta de comer, mas tem de tudo ali... Siga-me.

Começa a andar, e o acompanho, voltando a arrastar minha mochila pelo concreto do terraço. As rodinhas emitiam um incomodo som, mas não podia evitar.

— Você fez tudo isso? – pergunto, sentindo-me coberta pelo torpor.

Era algo simples, mas adorável. Tinha dois pequenos bancos, uma mesa que parecia ser de montar e desmontar, algo relacionado a acampamentos, e muitas coisas sobre ela. Doces, bolos, biscoitos, frutas e duas garrafas térmicas, e canecas plásticas.

Eu queria chorar.

— Bom, tecnicamente comprei tudo, mas, tenho que dar-me os créditos também. – brinca. — Como manterei meu ego se não dizer que tem um pouco de mim em cada uma dessas coisas?

— Claro. Seu ego precisa estar intacto. – estreito os olhos, e olho fascinada para a vista que teríamos se nos sentássemos nos bancos, e deixássemos nossa mente vagar por todos os prédios e casas que podíamos ver.

— Sente-se. – aponta para os bancos, parecendo nervoso, de repente.

Sentia-me do mesmo modo.

Arrasto um dos bancos, e sento-me, de frente para a mesa e para a vista, tendo ao meu lado minha mochila, podendo soltar a alça. Volto a olhar para a quantidade de comida, e questiono-me se conseguiríamos comer tantas coisas em pouco tempo. Era apenas um café da manhã, e eu não esperava nada como isso.

 — Estou surpresa. – confesso, enquanto ele se senta no outro banco, de maneira mais relaxada.

— Com o que, exatamente?

— Tudo... Isso. – ergo as sobrancelhas, e olho para ele. Seus olhos eram bonitos. Muito bonitos.

— Pensou que fosse levá-la a cafeteria do hotel, pagaria o mais caro lanche e depois a levaria para casa? – ele não esperava por uma resposta, mas sabia que eu pensei algo assim. — Esse não seria o meu jeito de lhe oferecer um bom café da manhã.

Meu estômago cai.

Talvez ele fizesse isso para todas as garotas com que saia. As revistas de fofocas e tabloides sempre mostravam suas acompanhantes, e eram lindas. Altas, bem vestidas e ricas. Tudo o que eu não era. E isso pode fazer com que ele esteja arrependido, e sinta pena de mim.

— Hope? – sua voz me faz piscar duas vezes. — Perguntei se prefere leite ou café?

— Os dois. – balbucio baixo, tentando não transparecer toda a decepção que sentia. Com ele, e comigo mesma. — O que?

— Isso é uma ofensa. Prefere misturar os dois que ter um pouco de cafeína pura em suas veias. – faz um estranho som com a língua no céu de sua boca. — Então aquele café, daquela noite em que derramou sobre meu braço, não era seu?

— Não. Estava fazendo um favor. – digo e vejo-o misturar um pouco de café e a mesma quantia de leite.

— Você conhece as pessoas no hospital? – pergunta, e arrasta pela mesa a caneca. Espero seus dedos deixá-la, para, em fim, segurá-la.

— Passo mais tempo no hospital que em minha própria casa. – digo, naturalmente. Era comum, para mim. — Estou sempre pelos corredores, tentando me distrair, apenas para não enlouquecer. Ou algo assim.

Forço um sorriso, e ergo a caneca. O vapor quente atinge minhas narinas, e aspiro o cheiro único da cafeína e lactose em uma junção agradável.

— Isso não te incomoda?

— Na maioria das vezes, sinto-me prestes a surtar e quebrar coisas. – olho para cima, observando o céu azulado, com rastros de nuvens acinzentadas, mas dando espaço para o sol brilhar. — Mas, de que irá adiantar? Continuarei tendo que carregar essa coisa para onde quer que eu vá, e continuarei sendo... Da maneira que sou.

Um silêncio se instala.

Dizem que quando não se tem nada a dizer, é a melhor opção.

Dou de ombros, fracamente, e beberico alguns goles da minha bebida. Justin se move apenas para olhar para frente, e para manter-me ocupada, começo a comer. Estava faminta, e os bolos e doces estavam me convidando, então, iria devorá-los.

Sugo dos meus dedos, os grãos brilhantes do açúcar da quarta rosquinha que devorei, e termino a minha bebida. Ainda estava tudo silencioso, e as buzinas, e pássaros cantando era tudo o que podia se ouvir.

Meu celular toca, e eu preciso apenas dar uma espiada na tela para saber que se tratava da minha mãe. Ignorei a primeira chamada, mas o telefone não iria parar de tocar até que eu estivesse em casa, dando-lhe certeza de que estava verdadeiramente bem. Uma mensagem afirmando isso, a deixaria ainda mais agitada e nervosa.

— Não irá atender? – a voz de Justin volta a soar, e isso fazia apenas os tremores em meu corpo retornarem.

Maldito timbre único e arrebatador!

— É apenas minha mãe. – umedeço os lábios, e olho para a mesa, sentindo-me culpada por ter sido a única a comer tanto. Ele, nem mesmo tocou no café que colocou na caneca ao lado de sua mão grande, e cheia de veias aparentes. — Ela fica preocupada sempre que saio de casa. Se pudesse, estaria aqui comigo.

— Ela parece ser uma boa mãe. – comenta, sem emoção em sua voz.

— Ela é. – concordo. Jamais poderia negar. — É só que... Todos me tratam assim. Isso me priva de tantas coisas.

Suspiro. Não sabia o motivo de estar desabafando para um estranho.

— O que faria se pudesse?

— Como assim? – olho para ele, sentindo meu cenho franzir.

— Se pudesse ter alguns dias livres, gostaria de superar medos, encarar desafios e viver?

Eu gostaria disso? Eu, realmente, poderia fazer tudo isso?

— Eu... Acho que sim.

— Ótimo. – Justin se coloca de pé, rapidamente. — No nosso próximo encontro, iremos começar com isso.

— Desculpe? – arregalo os olhos, e tinha certeza que tinha a expressão mais confusa de toda a existência humana. — O que quer dizer com nosso próximo encontro? Isso aqui foi um encontro?

— Podemos chamar da maneira que desejar, Hope. – diz, brevemente.

— Sabe, pessoas normais devem fazer coisas como jantar quando saem dessa maneira. – resmungo. — E quem disse que eu quero um próximo... Encontro?

— Podemos jantar, em algum momento. Mas... – ergue um de seus indicadores para o alto, indicando o número um. — Vamos fazer algo para ajudá-la. E, eu continuo não estando disposto a ter um não como resposta.

— Eu não preciso de ajuda. – coloco-me de pé, também. Coloco as mãos na cintura, e encaro-o, como posso. Ele era mais alto, mais forte, e estupidamente intimidador. Eu era baixa, fraca e doente. — E você precisa mesmo aprender a aceitar pessoas lhe negando algumas coisas.

— Talvez um dia. – dá de ombros. — Agora, vamos. Irei levá-la para casa, sua mãe deve estar preocupada.

— Porque está fazendo isso? – pergunto, enquanto vejo-o apanhar o molho de chaves no bolso de trás. — É algum tipo de piada entre você e seus amigos lutadores?

Era doloroso e arriscado demais perguntar, mas precisava saber.

— O que?! – o lutador parecia alarmado, e irritado. Uau, era um grande passo conhecer vários lados de seu humor em algumas horas. — Acha mesmo que eu seria capaz de algo assim? Que eu faria algo tão estúpido para magoá-la?

— Eu não sei. – abaixo minha cabeça. — Não conheço você.

— Ai está o ponto. – vocifera, como se tivesse toda a razão dentro de seu interior. — Tudo isso serve para que nos conheçamos melhor. Eu quero aprender sobre você, e descobrir mais que seu péssimo gosto musical e hábito horrível de misturar café com leite. Eu quero... – ele faz uma pausa. Minha cabeça ergue, e como em um passe de mágica, em um misero segundo, nossos olhares se encontram. Faíscam. Explodem. — Eu quero mais do que me sentar na beira de um prédio e admirar a cidade com você. Eu quero que você me deixe entrar, Hope. Que me permita subir no ringue, e descobrir se sou capaz de enfrentar essa luta com você.

Engulo em seco.

Era informação demais.

Eram palavras demais.

Era tudo demais.

Menos o ar em meus pulmões, este, nem mesmo a cânula conseguia drenar para preenchê-los, e sentia-me tão cansada. Exausta. Precisando apenas dos meus remédios.

— Você está bem? – a voz de Justin torna-se próxima de mim, e consigo sentir seu hálito quente e com frescor de menta bater contra meu rosto.

— Só estou... Acho que preciso de um tempo antes de voltar a descer a escada. – sou sincera, e, lentamente, massageio o centro do meu peitoral.

Mais silêncio.

Eu tive alguns minutos.

— Acho que estou pronta. – anuncio, minutos mais tarde.

— Nós vamos de elevador. – ele diz, e eu o olho com pura surpresa.

— Pensei que não fosse um fã de elevador.

— Às vezes, temos que superar algumas coisas que nos assustam. – repete a minha frase de mais cedo, mas são suas últimas palavras que me baqueiam. — Você estará ao meu lado, tenho certeza que poderá me distrair enquanto cantarola alguma música tola da One Direction.

Eu estaria ao seu lado, e o distrairia com alguma cantoria boba.

Eu queria que ele entrasse, e lutasse comigo. Mas, e se a luta já tiver sido ganha pelo tempo?


Notas Finais




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