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História Carta à suicida - Aurora


Escrita por: Mittyh

Notas do Autor


Esse deu um trabalhão, foi um tempo generoso escrevendo.
A partir de agora os capítulos serão separados por dia/semana/acontecimento, do contrário a história ficaria muito "picada".
Espero que aproveitem!

Boa leitura.

Capítulo 3 - Aurora


Pressionei o botão esquerdo do mouse sobre o nome “NiCK”, uma nova página começou a carregar, era seu perfil, busquei por alguma informação, nada útil, nem idade, nome, local, a única informação era sua última conexão “23 de julho de 2013”. Respirei fundo, havia chego a um impasse.

“Ok, NiCK, eu vou descobrir quem você é. Ah, eu vou!”

Irritada peguei uma presilha verde que estava sobre a mesinha e prendi meu cabelo em um coque todo bagunçado, fechei o notebook e levantei da cadeira, andei até a sala e segurei o prato, carreguei-o até a pia, resolvi lavar a louça.

“Caralho, quanta coisa! Por que eu sempre deixo tudo pra depois?”

Comecei pelos pratos, em seguida os talheres, terminei com copos e panelas. No fim, não era tanta coisa. Em passos lentos e regados de uma preguiça crescente, caminhei em direção ao banheiro, no recinto, fechei a porta e iniciei o processo de me despir. Era um processo doloroso e eu especialmente detestava, com o passar do tempo às marcas das tentativas de suicídio sumiam, entretanto eu sempre saberia da existência delas. Tirei a camisa de manga longa do pijama amarelo que eu usava e as cicatrizes ficaram visíveis, depois foi à vez da calça, alguns hematomas ficaram evidentes, variavam de tons amarelados, os mais antigos, à tons avermelhados, os mais recentes, na sequência tirei o sutiã, os seios pequenos tornaram-se a mostra, por fim a calcinha e adentrei o box, girei a torneira do chuveiro, um jato de água morna percorreu meu corpo e eu me senti aliviada.

Quando terminei o banho, enrolei-me na toalha, desloquei-me até o quarto. Escolhi um vestido amarelo, talvez eu gostasse muito de amarelo, coloquei qualquer calcinha e o vestido, resolvi usar um sapato azul, peguei o guarda-chuva e a carta, dirigi-me à sala, abri a porta e sai de casa, girei a chave e tranquei a casa. Liguei para Aurora, uma amiga.

“Vamos ao jardim botânico?”

Ela pareceu entusiasmada com o convite.

“Sim, vamos! Quando?”

“Agora.”

“Estou lá em 5 minutos.”

Em 5 minutos Aurora estava lá. Ela era alta, acima do peso, e seu black power era visto de longe, eu estava sentada em um banco próximo a um carvalho quando ela chegou, acenei para que ela se aproximasse. Ela sentou e respirou fatigada.

“Oi, Aurora.”

“Porra, Mariana. Quanto tempo!”

E fazia tempo mesmo, uns 6 meses que não nos víamos ou trocávamos meia dúzia de palavras. Eu adorava Aurora, porque não importava quando, se eu falasse “Vamos fazer isso?”, ela topava, mas nos últimos meses o alto astral dela me sufocava, o meu egoísmo afastou dela, eu me afastei, chegou a um momento que o “Oi” feliz dela me estressava, porque eu queria ser infeliz, eu precisava viver a tristeza e ela não permitia, eu queria reclamar e ela queria ir a um bar.

“Sim. Tenho uma novidade.”

“Já é uma novidade você sair, mas, vamos lá. O que você tem pra mim?”

Ela fechou os olhos e estendeu as mãos com as palmas voltadas pra cima, eu depositei a carta e ela riu.

“Posso chutar?”

“Vá em frente.”

“Carta?”

“Puta merda, você é muito boa nisso. Pode abrir os olhos agora.”

Ela abriu os olhos, analisou o envelope, desconfiada, pediu permissão para abrir com o olhar.

“Claro.”

Devagar tirou o papel do envelope, novamente pareceu procurar uma assinatura e falhou.

“Não tem remetente.”

“Exato, a única coisa que verá é uma marca d’água se colocar contra a luz.”

E ela o fez.

“Quem porra é NiCK?”

“Eu ainda não sei, recebi a carta de manhã e pesquisei o nome no Google, infelizmente, o único resultado possível era bem bizarro, um fórum cuja pergunta era ‘Como lidar com uma paixão platônica?’. Você quer ler antes e depois fazemos uma lista de ‘suspeitos’?”

“Tudo bem.”

Ela leu. Estarrecida com o conteúdo da carta o olhar dela procurou o meu, ela fixou o olhar no meu por dez segundos e me abraçou, sem dizer nada, o silêncio dela era a única coisa que eu precisava ouvir, ela tinha um cheiro doce e o abraço me deu uma sensação de proteção, enquanto me sentia acolhida, tive a sensação de que ela se acolhia também.

“Isso, essa pessoa. E se ela for seu anjo? Você precisava ler essas palavras. Eu não sei o que dizer. É assustador.”

“Eu não sei o que você entende por anjo. Estou feliz por alguém me mandar isso, contudo me espanta que não tenha um remetente. Deus sabe quem é essa criatura. E se não for desse mundo?”

Soltei um riso com o pensamento ridículo.

“Nicole! Mariana, lembra dela?”

Neguei veemente com a cabeça.

“Ela tinha uma paixonite esquisita por ti. A ruiva, cabelo nos ombros, nós trabalhávamos com ela, caralho, a bonitona!”

“Aaaaah! O que tem ela?”

“NiCK, Nicole. Vamos, Mari.”

“É. Improvável, coisa da sua cabeça essa paixonite que ela tinha por mim.”

“Depois que você teve as crises e pediu afastamento, bem, ela me procurou, perguntou de você, ela se importava com você.”

“Éramos amigas, Lola. Nada de mais.”

“Ela é a primeira suspeita. Pode escrever.”

Eu obedeci à contra gosto. Depois vieram infinitos Nicolas, Nikolas, Nicolly’s, Nicolle’s e qualquer um que tivesse o apelido “Nick”, eram vários. Descartamos pessoas que eu não havia tido contato, na nossa lista final tínhamos um total de dez pessoas entre amigos, colegas de trabalho e parentes, até conhecidos. No entanto nenhum deles parecia um suspeito tão convincente quanto Nicole, não que eu suspeitasse dela, mas nenhum dos outros era tão próximo ou sabia das crises.

“Ainda não estou convencida. Você mantem contato com ela?”

“Trabalhamos juntas, posso falar com ela amanhã.”

“Diga que quero vê-la, o quanto antes.”

“Sim, senhora.”

Eu ri da fala debochada de Aurora e me despedi, o sol estava se pondo e o pensamento de que vagaria de noite me deixava desconfortável. Inalei o perfume do jardim uma última vez antes de deixar o local, eu gostava da umidade, do verde, do coaxar e de como os raios solares atravessavam as copas das árvores dando ao lugar um contraste sombrio e calmo, então, mais uma vez, eu me vi em algo.

Em casa, preparei um chá de erva-doce, ao passo que o chá esfriava, eu vestia novamente meu pijama, depositei a carta no porta treco rosa que ganhei de natal de uma tia. Dirigi-me a cozinha, peguei o chá e voltei para o quarto, sentei na frente do notebook e fitei a tela, tomei alguns goles do chá e analisei a página novamente, perguntei-me como não havia pistas e não obtive respostas. Terminei o chá, abri a janela e uma brisa gelada com cheiro de “verão” invadiu o quarto, soltei meu cabelo, pensei em cortá-lo qualquer dia e fechei a cortina, apaguei a luz e deitei, era engraçado o movimento que a cortina fazia, o vai-e-vem me deixou hipnotizada e acabei adormecendo.


Notas Finais


Vocês preferem que eu descreva a personagem ou vocês imaginam?
Se vocês imaginarem ela pode ser como vocês quiserem/se identificam, no entanto se acharem melhor imaginar como eu "vejo" Mariana, eu detalho ela no decorrer da história.
Esse capítulo foi pra vocês conhecerem um pouco mais da história dela, como ela é e o fato especial: ela ama amarelo (e é uma cor que eu não gosto hsuaihdas), isso vai ser importante.


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