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História Cartas e Reis - O dia em que encontrei um homem nu em meu quarto


Escrita por: TheBystander

Notas do Autor


Perdão pela demora.
Eu tive um puto bloqueio de criatividade que somou com preguiça e falta de motivação que deu em uns quatro meses sem capitulo novo, mas eu vou tentar não fazer isso novamente.
MAS!
Eu fiz exatamente treze paginas de capitulo então espero q isso sirva como um presentinho de desculpa pela demora :3
Enfim, espero q gostem do cap.
E boa leitura.
#Sasukesejameumarido

Capítulo 3 - O dia em que encontrei um homem nu em meu quarto


Fanfic / Fanfiction Cartas e Reis - O dia em que encontrei um homem nu em meu quarto

 

Ino tinha uma paciência curta, isso era um fato que eu notei poucas horas depois de conhecê-la.

Foi no meu terceiro dia de depressão que sua paciência passou dos limites e ela foi me visitar em seu horário habitual, só que para minha surpresa, ela não veio me deixar mais um prato de comida que seria tristemente ignorado, mas sim para bater seus punhos contra minha porta repetidamente, gritando xingamentos e ordens para que eu, suas palavras não minhas, levantasse minha bunda da cama e saísse daquela droga de quarto.

Se me encontrasse em circunstancias diferentes, provavelmente teria aberto a porta apenas para ter meu gato saudável atacar minha amiga escandalosa enquanto eu ria como a terrível amiga que eu era.

Mas meu gato não era mais tão saudável e eu não sentia a mínima vontade de rir como uma terrível amiga. Porém a persistência de Ino me surpreendeu pois foi apenas depois de duas horas atacando minha porta que ela finalmente alcançou seu objetivo.

Mover-me doía. Nos últimos dias o mínimo de movimento que tinha feito foi mover meu torso de um lado para o outro fugindo dos raios do Sol que escapavam pela janela ou mover meus braços para espantar o rabo do gato que vivia fazendo cócegas no meu nariz.

Levei longos minutos e gritos de Ino para conseguir mover minhas pernas magrelas para o lado, até que elas caíssem para fora da cama, levantei o torso rápido demais sentindo meu cérebro girar dentro de meu crânio então me deitei novamente por alguns minutos, ignorando os gritos de Ino que parecia ter se tornado uma trilha sonora na atual conjuntura, e me levantei novamente, daquela vez, mais devagar.

Minha visão embaçou e eu fechei os olhos com força por poucos segundos até que se estabilizasse. O gato miou baixinho chamando minha atenção, eu levantei meu braço devagar em direção de meu pobre bichano sem nome e lhe afaguei o topo da cabeça delicadamente, como que com medo de quebra-lo.

- Acho que está na hora de voltarmos a viver, gato. - Ele miou de volta em resposta, levantando o corpo magrelo com as patas frontais enquanto seu torso tremia como um galho seco no vento.

Era uma cena triste. Meus movimentos não estavam tão ágeis devidos os três dias de vegetação então quando levantei meus braços para pegar meu gato, ele teve que juntar o restante de força que lhe sobrou nas pernas para saltar em meus braços abertos e paralisados, eu abracei seu pequeno corpo felino e me levantei da cama, sentindo meu joelhos estalarem com o peso, para depois serem estabilizados pelo o que me restava de força nas pernas.

Em passos curtos e desengonçados, fui em direção a porta, os gritos de Ino ficando cada vez mais altos e presentes em minha mente ainda lenta. Arrumei o gato para que o segurasse em apenas uma mão e peguei a chave pendurada no gancho ao lado da porta, enfiei na fechadura depois de algumas tentativas falhas por conta da visão turva.

As batidas e os gritos pararam quando eu virei a chave, destrancando a porta e virando a maçaneta, mas antes que eu pudesse abrir a porta a mesma foi empurrada, quase me fazendo cair para trás. Uma Ino descabelada e com uniforme escolar amassado entrou no quarto, os olhos azuis e arregalados passaram por toda sala até focarem em mim.

Imaginei como parecia a seus olhos, uma sombra do que ela chamava de amiga. Meu cabelos estavam descabelados, meu corpo desnutrido e enormes olheiras se pendurava em meus olhos, antes de um verde vibrante, mas que agora tinham perdido a cor, desfocados em pontos imaginários do quarto, qualquer ponto que não fosse os olhos preocupados de minha colega.

 

 

- Vamos Sakura, abra o túnel que la vem o trem. Tchuuu-tchuuu...

Fiz um lembrete mental de nunca mais deixar Ino encarregada de me animar. Isso se acabar caindo em uma depressão profunda no prazo de três dia novamente no futuro, o que eu espero de coração que não ocorra novamente.

No momento eu me encontrava no refeitório com um gato magrelo em meu colo e minha colega de classe segurando uma colher cheia de arroz e algo que eu deduzi ser o molho de carne rançoso que ninguém, literalmente ninguém, comia.

Pensando agora, acho que me fazer comer aquele molho horroroso com o arroz requentado mais de cinquenta vezes foi o jeito que Ino encontrou de me punir por ter a preocupado tanto nos últimos dias.

O modo como ela me agarrou e chorou desesperada no chão de meu quarto, apertando-me em uma abraço de quebrar as costelas, como se a qualquer momento eu fosse me desintegrar no ar, me provou o quanto ela se importava. Ela até me surpreendeu quando pegou o gato em seus braços e encheu seu focinho de beijos molhados, exclamando com olhos marejados enquanto o gato se remexia em seus braços arranhando-os com suas garras, fundo o suficiente para tirar sangue.

Mas Ino apenas riu alto e sorriu para o gato, o enchendo com mais beijos.

- Ah, eu também te amo seu gatinho dos infernos!

Ino podia ser muita coisa, mas depois daqueles poucos minutos de demonstração de afeto me provou que ela não era uma má pessoa para se ter por perto.

- Sakura, come logo essa bagaça antes que eu enfie essa colher na sua goela!
Acordei de meus devaneios pela voz raivosa de Ino me chamando para me alimentar como a mãe de um recém-nascido, ri baixinho abrindo a boca, dando caminho para colher cheia de arroz, engolindo antes que minhas papilas gustativas sentissem o gosto ruim e me mandasse tomar no cu por fazê-lo experimentar aquela monstruosidade.

Grunhi reclamando, sentindo meu estomago revirar, havia comido muito mais do que deveria para alguém que passara os últimos dias sem comer nem mesmo uma migalha de pão, mas Ino não parecia levar isso em consideração pelo modo como tentava forçar mais uma colher cheia entre meus lábios.

- Vamos, Sakura, só mais uma colherada e nós terminamos.

- Você disse isso há mais de cinco colheradas atrás, Ino. Se eu comer mais eu juro que vou vomitar tudo o que você me forçou a comer no seu uniforme.

E isso foi o suficiente para fazê-la abaixar a colher de volta para o prato.

- Okay, okay, entendi, passos pequenos.

Eu assenti, finalmente concordando com ela.

Passos pequenos.

 

 

-Então.... qual você disse que era seu nome? - Perguntaram vermelha e frustrada atrás do balcão, grossos óculos redondos fundo de garrafa se penduravam na ponta do nariz da mulher que tinha um rosto tão jovem, mas que se esforçava demais para parecer mais velha.

Meu cavaleiro resmungou, arrumando capuz sobre os cabelos negros e apoiando ambos os braços no balcão da secretária que engoliu em seco quando o rosto doentemente pálido se aproximou, um sorriso pontiagudo se abriu nos lábios finos.

- Ah, Deus. - A jovem murmurou baixinho, arrancando dele uma risadinha. A língua maldosa passou pelos lábios sorridentes, que eram seguidos pelos olhos virgens da secretária mal acostumada com o sexo masculino.

Nunca neguei o fato de que meu cavaleiro fora abençoado com um belo rosto, mas também nunca o afirmei, pois junto com sua aparência abençoada veio também uma quantidade nem tão saudável de arrogância. Eu sabia que ele era bonito e ele também reconhecia esse fato, usando e abusando do mesmo, como fazia naquele momento com a pobre mulher.

- Sasuke...

- Como?

Ele riu novamente.

- Sasuke Uchiha, meu nome.

- Ah, claro!- Exclamou digitando com pressa no teclado, lembrando-se só naquele momento que ainda se encontrava no trabalho. Arrumou os óculos sob os olhos e franziu o cenho para a tela do computador. - Perdão meu jovem, mas não parece que é matriculado neste instituto... - E a pobre moça engasgou com a saliva, se perdendo em suas próprias palavras.

Algo que nunca entendi bem sobre meu cavaleiro era que ele não parecia entender o conceito de “espaço pessoal”, invadindo o mesmo inúmeras vezes, não importando se fosse o espaço de conhecidos ou desconhecidos.

Como fazia naquele momento, braços apoiados no balcão sustentavam seu corpo inteiro, inclinado perto demais da mulher, os narizes quase se tocando com a proximidade.

- Tem certeza? - Os olhos negros dilataram e encararam a jovem por longos minutos. Ela logo sentiu sua consciência ser substituída por alguma outra coisa, como se uma massa tomasse conta de seu cérebro afogando sua habilidade de discernimento e destruindo seus sentidos. - Poderia checar novamente, coração? Eu tenho certeza de que me matriculei aqui, na verdade estudo aqui há anos.

Uma fina linha de baba escorreu pelo canto da boca da recepcionista e um de seus olhos se desviou, encarando o nada. Ela agora parecia ter algum tipo de doença mental séria, com voz mole e arrastada ela disse:

- Uh... claro, senhor Uchiha, perdoe-me pelo desentendimento, por favor passe pela catraca para retomar a suas aulas, irei abri-la para você.

O cavaleiro sorriu.

- Agradeço, coração.

Sasuke seguiu em direção as catracas recém-abertas, passando pelas mesmas e desaparecendo para olhos humanos.

Há suas costas a mulher chocou a testa contra a mesa para depois levantar a mesma com olhos arregalados e assustados, como se acordasse de um longo pesadelo do qual não conseguia lembrar.

E já ao longe, subindo as escadas devagar, Sasuke sorriu.

 

 

Neji tragou uma ultima vez e soltou fumaça pelo nariz e boca, jogando o cigarro no chão logo depois, pisando em cima e apagando a brasa. Olhos estreitos e focados no prédio que flutuava ao longe, vento açoitava seus cabelos sem piedade enquanto ele caminhava calmamente pela calçada da ponte que conectava Tokyo e a ilha de Konoha.

Ele poderia ser considerado um jovem normal a olhos de desconhecidos, provavelmente indo visitar algum parente ou amigo que teve a sorte de estudar em um Instituto tão prestigioso, o olhariam por alguns minutos, talvez reconhecessem sua beleza exótica e se perguntariam por alguns minutos quem seria aquele jovem de aura tão peculiar, porém logo se esqueceriam daquele assunto e voltariam para suas vidas.

E teriam o feito.

Se não fosse pela estranha figura que andava a seu lado, com seus babados e saias de varias camadas, seus passos sincronizados com o de Neji de uma forma extremamente natural, quase assustadora aos olhos de “forasteiros”.

Porém os irmãos andando de mãos dadas não era o que mais chamava atenção, mas sim a mulher mal humorada e os homens armados com tacos, facas e canos enferrujados que os seguiam. Andavam encolhidos em uma grossa linha indiana, andando calmamente pela calçada, usando roupas desleixadas e posturas que combinavam com sua aura ameaçadora.

Era uma visão ameaçadora, como soldados preparados para a guerra, seguindo sua comandante severa, que seguia seu Rei e sua irmã. Não importava quem, todos que cruzavam caminhos com o Rei Vermelho e seu exército de criminosos paravam para olhar, alguns por apenas poucos minutos e outros por longos décimos até serem ameaçados pelos olhares assassinos dos soldados, que balançavam suas armas para afastar curiosos.

Apenas alguns minutos de observação e o óbvio era revelado.

Aquele jovem era um Rei.

Neji mantinha seus olhos sempre a frente, sentindo olhares curiosos queimar seus ombros e costas, mas nunca desviando sua atenção de seu objetivo principal: Chegar aquela ilha e vasculhar todo canto atrás da megera que ousou matar um dos seus, encontra-la e...

- Neji-kun... - A voz calma e monótona de sua irmã o acordou de seus sonhos sangrentos, ele olhou em volta, percebendo que agora se encontravam na divisa eletrônica que oficializava a chegada de visitantes e novos alunos há ilha. Rodeando a divisa, robôs de limpeza cheios de atitude circulavam o lugar, se chocando um contra os outros e exclamando frases robotizadas, mas cheias de ira como “olhe por onde anda!” ou “você pagara por isso!”, logo atrás dos robôs cheios de atitude havia as cabines que regulavam a entrada de novos habitante ou visitantes.

- Kiba! - Tenten chamou se voltando para os soldados.

Do meio dos soldados vermelhos saiu uma figura com bochechas pintadas de vermelho e olhos finos, com um taco de baseball sobre um ombro e um skate no outro, ele sorria arrogante, mas nos olhos pontiagudos queimava uma fúria inigualável e um foco impressionante.

Um perfeito soldado.

- Yo. - Ele chamou, como uma continência informal a um general que não dava a mínima.

- Prepare-se. - Ela comandou. Assentindo, Kiba balançou o taco, como que testando seu peso ele deixou o mesmo pendurado ao lado de seu corpo e jogou o skate no concreto da ponte que andou um pouco antes de receber o peso de seu dono, Kiba tomou impulso com uma das pernas ganhando velocidade.

- Neji-kun – Hinata chamou. - Kiba-kun está pronto.

- Ótimo.

O Rei Vermelho tirou seu isqueiro do bolso, mas ao acende-lo uma chama diferente saiu, era de um vermelho mais vivo, um vermelho mais belo, bem em seu epicentro escuro como sangue e nas pontas claro como um rubor. Esse vermelho se estendeu em uma longa linha, indo em direção a mão esquerda do rei, rodeando seus dedos, se alojando em cada unha e se esgueirando por cada pedaço de pele até que não houvesse mais espaços.

Porém o Rei não queimava, pois o vermelho vinha dele.

Kiba dava voltas e mais voltas, sempre ganhando mais e mais velocidade, até que ele sentiu a tão familiar arrepio que tomava conta de todo o seu ser, como se um novo sangue se apossasse de suas veias. Ele parou de tomar impulso e pós os dois pés sob o skate, trocando o skate de rota e indo e direção a fronteira verticalmente, ele estendeu o taco ao lado do corpo, segurando firme os suficiente para tornar os nós dos dedos branco, de seus dedos o vermelho escorreu e subiu pela extensão do taco, se acumulando no topo, formando as mesmas chamas que as no isqueiro do Rei.

Kiba então balançou o taco novamente, travando o mesmo sobre seu ombro direito e girando em um golpe final, toda a fronteira foi destruída com um único golpe simultâneo, tudo que cruzava o caminho do soldado se partia em dois ou mais pedaços, queimados pelo vermelho do Rei. Pilastras foram partidas no meio como papel e robôs eram esmagados como latinhas, as rodas do skate marcavam o asfalto com a velocidade e Kiba se segurou para não ser soprado para longe com o vento e poeira que saia dos destroços.

Hinata segurou mais firme na mão do irmão, segurando seu chalé vermelho cheio de babados com a outra mão e Tenten firmou os pés no chão, se recusando a deixar o vento que vinha com a destruição da fronteira derruba-la, porém alguns soldados não tinham a mesma força e eram derrubados pela ventania e a poeira dos destroços que se levantou sobre todos como uma nuvem cinza.

Kiba saiu calmamente, uma das pernas impulsionando seu skate para frente, ele tinha um sorriso arrogante na cara e um taco de baseball em chamas sobre o ombro, atrás os destroços tomavam forma gradativamente enquanto a nuvem de pó se dissipava no ar.

As mãos de Neji queimavam com o vermelho que dividia com seus soldados, cada indivíduo que o seguia eram rodeados pela Aura vermelha que simulavam belas chamas que se apossavam de seus corpos, mas nunca o queimavam.

Estavam preparados para guerra.

Algo que sempre achei interessante era a habilidade que Reis chamavam de “aura” uma essência que dividiam com seus soldados com os homens e mulheres de seu clã e os davam poderes específicos, como que uma dádiva dada em troca da lealdade dos soldados. O clã Vermelho sempre trouxe à tona minha curiosidade e um dos motivos é por conta das propriedades de sua Aura, o clã vermelho era conhecido como um clã de ofensa, um clã que destrói seus inimigos e deixam um rastro de destruição por onde passam.

Para conviver com uma aura de tanta “personalidade”, é preciso ser muito forte.

Ou muito cabeça dura.

E Neji era os dois.

- Tenten. - Ele chamou, pegando total atenção de seu comandante. - Chame as tropas.

Ela assentiu, sentindo a aura de seu rei passeando por suas veias, emprestando-lhe sua força em troca de sua lealdade, seus punhos se encheram com o belo vermelho e ela ergueu seu punho esquerdo no ar, gritando:

- SEM SANGUE! SEM OSSOS! SEM CINZAS!

Os soldados então responderam cada um erguendo seus punhos e gritando de volta em uníssono.

- SEM SANGUE! SEM OSSOS! SEM CINZAS!

E repetiram até que seus gritos se tornassem uma sinfonia para os ouvidos de Neji.

- Sem sangue, sem ossos, sem cinzas... - Hinata murmurava baixinho para si mesma, ainda segurando a manga do casaco de seu irmão, que levantou o braço livre, colocando seu próprio punho no ar, silenciando seus soldados que agora apenas encaravam o punho flamejante.

Ele abaixo seu punho e as portas do inferno abriram.

Como se fossem um só homem, os soldados gritaram levantando suas armas e seguindo em direção de Konoha, com o tempo todos passaram pelos destroços e na ponte sobrou apenas o Rei, a boneca e a comandante.

Neji acendeu mais um cigarro e tragou fundo antes de soprar a fumaça pelo nariz e boca, ele então começou a andar em direção a Konoha.

- Vamos Hinata. - Chamou e Hinata obedeceu correndo para alcança-lo, Tenten encarou os irmãos enquanto os mesmos se afastavam.

Tenten então se voltou ao próprio punho, suas chamas queimavam altas e brilhantes, porém ela sentia que havia algo errado com seu Rei.

- Tenten. - Ela o olhou com o chamado, Neji já a olhava de volta. - Tome conta dos soldados para mim.

- Não vai lutar, meu Rei?

- Adoraria, mas tenho que fazer algo, espero que comande meus soldados por mim.

Ela enrugou o rosto com a arrogância de seu Rei e suspirou, não querendo gastar stamina discutindo.

- Sim, meu Rei.

 

 

Sasuke andava calmamente por entre os alunos procurando com os olhos por seu Rei, fazia meses que procurava e procurava por quem lhe deu todo o poder que possuía agora, tinha que acha-lo.

Sentia saudades.

Foi andando por um corredor cheio de alunos e uma das paredes formadas por janelas, ele olhou janela afora e parou em meio passo, centenas de delinquentes pareciam ocupar o pátio, agora isso não teria chamado tanto o interesse de Sasuke se não fosse pelas chamas que rodeavam todos os antes mencionados delinquentes, como se suas almas se manifestassem fora de seus corpos, como uma...

- Aura... - Ele murmurou, observando os homens ameaçadores mostrarem uma foto borrada de uma moça de olhos verdes e cabelos escuros para alunos que passeavam pelo pátio e perguntando se tinham a visto pelos arredores de Konoha. - Oh, merda...- Xingou baixinho se afastando da janela e chocando contra alunos que encaravam o ar confusos por terem se chocado contra nada.

Meow...

Sasuke voltou-se para o som encontrando sentado e o encarando com um grande par de olhos azuis, um gato ruivo. Pessoas pareciam evitar o gato sempre o circulando, nunca chegando menos de um metro, como se o gato fosse venenoso ou tivesse um tipo de doença contagiosa em seu pequeno corpo peludo.

Foi em direção do gato, se ajoelhando e estendendo a mão para toca-lo, mas parando quando os pelos do gato se eriçaram e seu rostinho enrugou em uma carranca, deixando a mostra sua presas pontiagudas, ele estava pronto para arrancar os dedos de quem quer que ousasse toca-lo.

- Okay, okay, você ainda não gosta que te toquem, entendi. - Murmurou para o gato. Que voltou em sua posição relaxada e apenas encarou Sasuke, que o encarou de volta. - Você sabe onde meu Rei está não sabe?

O gato enrugou o rosto em uma careta novamente, pronto para mordê-lo.

- Quer dizer, nosso rei. Sabe onde está nosso rei não sabe?

Assentiu.

- Vai me levar até ela?

Novamente, o gato assentiu seguindo caminho entre alunos. Sasuke levantou e seguiu o gato, um pequeno sorriso se abrindo em seus lábios pálidos.

- Obrigado, Naruto.

 

 

- Sakura!- Eu reconheceria aquela voz esganiçada em qualquer lugar, correndo descabelada e desengonçada por entre outros alunos, Ino acenava desesperada como se seus gritos não fosse o suficiente para chamar atenção, acenei discreta para ela.

Foram longas duas semanas desde o “acidente do vídeo” e foi depois dessas longas duas semanas que eu finalmente acreditei que minha vida estivesse voltando aos eixos. Ino foi um dos grandes motivos pelos quais eu não enlouqueci, nós primeiros dias ela agiu de uma forma que deixaria os guarda costas mais profissionais com vergonha.

Ela me rodeava a todo o momento, olhando de cara feia para qualquer um que ousasse chegar a menos de dois metros de mim, ela me esperava na porta da sala de aula de todas as minhas aulas, ações que me fizeram questionar se ela estava frequentando suas aulas – o que eu ainda duvido não importa quantas vezes ela afirme o contrário – e me levava de volta para meu quarto depois de ter certeza que eu tinha comida suficiente no estomago. Fora no sétimo dia que eu botei um limite em suas regalias, não preciso nem comentar que ela não gostou nada.

Agora ela apenas me seguia de uma forma nem tão discreta.

- Ino, que diabos aconteceu para te deixar tão animada?

Saltitando no lugar, Ino disse com uma ruga entre as sobrancelhas.

- Uns montes de delinquentes estão tomando posse da escola!

E foi naquele momento que levei em consideração a possibilidade de Ino estar passando tempo demais com suas más companhias.

- Tem certeza que não são seus amigos de Tokyo vindo te visitar?

Seu rosto se enrugou em uma careta.

- Ha ha ha! - Ela forçou risadas sarcásticas e revirou os olhos, parando de pular no lugar. - De qualquer forma, parece que eles estão... procurando por alguém. - Ela disse exitando em suas palavras.

Engoli em seco, o peso que fora tirado de meus ombros durante aquelas duas semanas, despencaram sobre os mesmos com tudo, quase me derrubando no chão.

- Sakura... pode ser que eles estejam procurando outra pessoa... - Mas a certeza que Ino sempre tinha em suas palavras não estava presente, ela mal conseguia convencer a si mesma, quanto mais a mim. Apertei o cabo do guarda chuva que sempre levava comigo, como se sua presença me acalmasse. - Além de que o Rei Vermelho só causa confusão, não é? Nós devemos estar se preocupando por nada, sabe, ia ser pior se fosse o Rei Azul, aquele cara é assustador...

Seu nervosismo era evidente, ela brincava com os dedos e falava sem parar tentando convencer a mim e a ela que tudo ia dar certo no final.

Eu não tinha mais tanta certeza.

- Acho... que devíamos ir dar uma olhada, não acha?

Ino assentiu, pegando minha mão e me guiando por entre os estudantes, a cada janela que passava conseguia ver mais e mais figuras aparecendo, homens ameaçadores com tacos e canos enferrujados sobre os ombros, perguntando para alunos confusos se eles tinham visto alguém parecido com a foto que exibiam e mesmo de tão longe, eu reconheceria aqueles pontos verdes em qualquer lugar.

Pois eram aqueles olhos verdes e loucos que me assombravam.

Se antes existisse algum espaço para duvida, agora não existia mais.

Eles estavam atrás de mim.

- Ei, olhe por onde anda! - Ino exclamou irritada. Um armário vestido de preto esbarrou contra ela com força demais, a jogando para o lado, consequentemente, me levando junto dela.

O armário parou e se virou, revelando um monstro pálido dentro das roupas pretas, os cabelos longos serviam como uma cortina que escondia seus olhos, os lábios finos se abriam em um sorriso pontiagudo.

Ino enrijeceu de meu lado, agora não me entendam mal, Ino geralmente perdia seu pensamento critico quando se tratava de garotos atraentes, paralisar e encara-los era algo normal e eu já havia me acostumado.

Mas aquilo era diferente.

O armário de preto era sim, muito atraente, de mandíbula definida e feições bem desenhadas, como uma pintura gótica, mas sua beleza era... assustadora e Ino pareceu perceber isso também.

Ele sorriu.

- Oh, mil perdões senhorita. Realmente não foi minha intenção machucar uma moça tão bela. - Cinismo pingava de suas palavras e seria óbvio para qualquer um, até para uma amante de rostos bonitos como Ino, mas para minha surpresa, Ino apenas sorriu como se seu cérebro tivesse explodido e escorria pelas suas orelhas, criando uma poça aos nossos pés.

- N-não se preocupe... eu não me machuquei... uh...

Atrevido, ele pegou a mão de Ino que segurava a minha e desenroscou nossos dedos, recebendo uma carranca irritada minha, que ele tratou de ignorar, e levou os dedos dela até os lábios.

- Sasuke Uchiha e você seria?

- Ino Yamanaka! - Ela exclamou alegre, eu me sentia incrivelmente desconfortável, como se minha amiga havia esquecido de minha existência, o que não era pouco provável. - Me chamo... Ino Yamanaka, seu nome... é muito bonito. - Sussurrou, suas bochechas queimando como se ela estivesse prendendo o fôlego e eu quase engasguei com minha própria língua.

Aquela não era minha amiga.

Ino... não agia daquele jeito.

O tal Sasuke sorriu deixando de lado a mão de Ino.

- Obrigado senhorita. Eu também gosto deste nome, fora dado por... meu Rei.

E seus olhos se voltaram para mim, meu corpo enrijeceu com o choque de seu olhar, aquilo tudo parecia errado e privado, como se Sasuke tivesse criado uma bolha ao redor de mim, Ino e ele.

Eu não queria fazer parte daquela bolha e desejava poder puxar Ino pelo braço e voltar a nossa missão inicial que era verificar se os tais delinquentes estavam atrás de mim, o que na atual conjuntura já não era mais uma probabilidade, mas sim uma certeza.

Porém meu corpo não movia, como se os olhos negros e sorriso pontiagudo tivessem colado meus pés no chão ou tirado minha habilidade de me mover.

- Seu... Rei?

- Sim, estou procurando por ele... por favor me avise se o vir por ai, amor.

Ele me encarou por poucos segundos antes de se virar e voltar a andar por entre alunos como se pertencesse aquele lugar. Bufei de maneira infantil e o encarei ir embora com uma careta estampada em meu rosto até ele sumir por entre os alunos.

- Já vai tarde. - Murmurei emburrada, não sentindo nem um pingo de simpatia pelo estranho de preto.

Voltei minha atenção para Ino que encarava a própria mão com um sorriso bobo no rosto e as bochechas em chamas, a encarei por alguns minutos, me perguntando que diabos tinha acontecido com minha amiga.

- Ino? - Ela não se moveu, pior ainda, ela trouxe os nós dos dedos aos lábios, dividindo um tipo de beijo indireto com aquele estranho. Bufei, descrente em como minha amiga estava agindo e estalei meus dedos em frente seus olhos repetidas vezes.

Estalei meus dedos uma última vez, finalmente a acordando de seu transe, para minha surpresa, Ino pareceu mais abatida do que eu esperava, cambaleando para trás, ela parecia que ia cair sobre os próprios joelhos naquele momento.

- Yamanaka? - Chamei, estendendo meus braços, querendo oferecê-la apoio. Ino se virou para mim, uma ruga formando entre as sobrancelhas, ela olhou seus arredores, confusa, como se acordasse de um longo sonho.

Os olhos azuis se voltaram para mim e confusão se aprofundou em suas feições. Ela endireitou o corpo e eu abaixei meus braços, certa de que ela estava estável o suficiente para se manter em pé.

- Uh, sim? - Perguntou incerta, me encarando como se eu fosse idiota.

- Se sente bem, Ino?

Ela assentiu.

- Claro, eu... estou bem. Perdão, mas... nos conhecemos?

Não tinha duvida de que minhas feições foram tomadas por choque, suas palavras penetraram meus ouvidos, mas pareceram apenas ecoar, meu cérebro se recusava a absorver informação.

Nos conhecemos?

- Uh... sim? - Agora quem se encontrava confusa era eu, observei com atenção suas feições, tentando encontrar qualquer sinal que comprovasse minhas suspeitas de que tudo aquilo não passava de uma piada de mau gosto.

Mas em seus olhos só encontrei honestidade... e confusão.

- Sou Sakura... Sakura Haruno? - Perguntei, tentando testar suas memórias, quando isso não pareceu funcionar, me senti sendo lentamente dominada pelo desespero.

Perdendo a compostura, comecei a listar todos os fatos que me vinham a mente, qualquer coisa que pudesse fazê-la parar de brincadeira.

- Eu tenho um gato? Ele odeia você e eu também passo mais tempo com você do que com ele? Eu nunca como nada nos recreios e isso sempre te deixa furiosa! Eu sempre durmo em todas as aulas?! Você lembra disso, né?! Por Deus você odiava isso, como não se lembra? Eu sempre ando com uma porra de um guarda chuva! - Gritei, balançando o guarda chuva mencionado antes com desespero. Ino já me olhava com olhos arregalados e assustados, uma plateia começava a se formar, mas eu não conseguia me importar.

- COMO DIABOS VOCÊ NÃO SE LEMBRA DISSO?! QUANTAS PESSOAS VOCÊ CONHECE QUE ANDAM COM UM GUARDA CHUVA POR AI?! - Agarrei seus ombros a balançando freneticamente, como se força bruta pudesse enfiar as memórias de volta em sua mente.

- Ei, me solta! Sua doida! - Ela gritou histérica, bem como eu sabia que ela era. Suas unhas postiças se prendiam em minha carne, tentando de todas as maneiras ficar longe de mim. - Eu não te conheço! Nunca nem ouvi falar de você!

- Qual é Ino! Acorda para a vida, por favor. Eu sou a Sakura! Sakura Haruno! Nos conhecemos a mais de três meses!

Desespero era um sentimento interessante e algo que eu nunca tinha realmente experimentado até o dia em que Ino Yamanaka afirmou com todas as letras que não tinha nenhuma recordação de mim.

E, honestamente, lembrar-se desses momentos doe fundo em meu peito.

- Ei, cuidado! - Reclamou uma voz diferente, no meio da plateia que eu e Ino estávamos começando a invadir com nossa “pequena” discussão. Um par de mãos foi postas em ambos os ombros de Ino, não lembro bem quem era o dono daquela voz e não me importava muito para descobrir, naquele momento tudo o que me importava era a aura vermelha que rodeava os dedos grossos e cheios de cicatrizes.

Meu encontro com o estranho de preto e a discução com Ino devia ter dado um longa janela de tempo para que os soldados vermelhos nós alcançassem, aquele era provavelmente o primeiro de muitos.

Merda...

- Espera ai... - O homem falou e eu já soube que ele reconhecera meus tão marcantes, olhos verdes, olhos que também pertenciam a Sombra.

Não pensei duas vezes, na verdade, não acho que pensei, minhas pernas se moveram por conta própria. O soldado gritou, me mandando parar, se apressando a correr, me seguindo.

- Hey, Kiba! Eu achei ela! Sim, melhor se apressar, a filha da mãe é rápida, chame os outros! - Ele gritou, sem ar por conta da corrida, eu não o tinha observado por muito mais que alguns minutos, mas pelo modo como suas mãos eram enormes e quase cobriam os antebraços de Ino, deduzi que estava lidando com um homem enorme ou um homem com mãos desproporcionalmente gigantes.

Era provavelmente a primeira opção.

O sinal para o intervalo havia tocado a menos de dez minutos, então os corredores ainda estavam cheios de alunos, o que era bom, pois eu conseguiria me infiltrar e perder meu perseguidor mais facilmente, mas também era ruim, pois enquanto não conseguisse me perder por entre alunos eu tinha que fugir de um armário ambulante que continuava a chamar mais armários ambulantes.

Empurrando alunos, eu tentava abrir caminho, a relance de olho eu conseguia ver mais auras vermelhas se acumulando por entre os alunos, todos balançando suas armas em minha direção e se havia algo que me motivava a correr pela minha vida com certeza era aquilo.

Mesmo com minha estamina impressionante, a cada passo que dava e a cada grito raivoso que ouvia, meus pulmões pareciam desesperados por ar e minhas pernas desesperadas por descanso, se eu conseguisse perde-los por apenas alguns minutos poderia ir correndo em direção aos dormitórios, me trancar em meu quarto e conseguir formar um plano para despista-los ou apenas me encolher em um canto e chorar até eles irem embora.

Qualquer uma dessas opções servia se eu conseguisse pelo menos chegar ao meu quarto.

Agora, o Instituto de Konoha funcionava assim: A área principal onde alunos passavam a maior parte do tempo em suas aulas e intervalos era separado dos mini apartamentos em que alunos dormiam e passavam seus fins de semana quando não saiam da escola para visitar parentes ou amigos em Tokyo, mas o que tornava os dormitórios tão interessantes é que apenas alunos e professores eram autorizados a entrarem, mas para garantir que essa regra não fosse quebrada, cada aluno e professor tinham consigo um cartão de identificação para catracas com sensores que barrava qualquer um não permitido nos dormitórios e permitia a entrada de alunos e professores, claro que apenas algumas porradas com aqueles tacos e canos e o sensor seria destruído abrindo caminho livre para qualquer um, mas barra-los com as catracas me daria algum tempo para perde-los no prédio e talvez conseguir chegar até meu quarto.

A área principal e os dormitórios eram dividas por um pátio de pelo menos dez metros.

Uma corrida de dez metros até a liberdade em um pátio cheio de tubarões prontos para enfiarem seus dentes em minha carne.

Suspirei mentalmente e apertei meu passo, os corredores começaram a esvaziar, me deixando mais a vista para os caçadores que agora faziam muito mais barulho sem toda a comoção e conversas individuais de outro alunos, me infiltrar na multidão não era mais uma escolha e agora eu só podia contar com a força de minhas pernas.

Virei à esquerda, provavelmente surpreendendo meus perseguidores com minha repentina mudança de rota, fui em direção às escadas, os passos pesados e gritos ficaram mais altos, ecoando pelo corredor, rude e imaterial, como fantasmas carregando facas. Pulei os primeiros degraus e escorreguei o resto da escada pelo corrimão, isso provou ser eficaz em me fazer ganhar tempo então repeti o mesmo processo com todas as outras escadas até chegar ao corredor principal, este ainda tinha alguns alunos vagando aqui e ali, mas nada que me ajudasse em minha fuga.

Enquanto chegava mais perto das portas duplas que davam para os pátios, dei uma pequena olhada para trás, querendo saber como estavam meus caçadores, alguns deles eram magros e pequenos o suficientes para copiarem minha manobra no corrimão, porém os homens maiores tiveram que se contentar em pular degraus, alguns se espatifando com tudo no chão.

Isso teria quase arrancado umas risadinhas de mim.

Se não fosse pela imagem assustadora que surgiu de trás deles.

Montado em um skate, segurando um taco de baseball e coberto em uma pesada aura vermelha – como se estivesse pegando fogo - ele surgiu saltando os degraus, mas aquilo não teria sido tão assustador se não fosse pelo olhar que eu recebi do soldado vermelho.

Ele estava pronto para abrir meu crânio com aquele taco em chamas.

Só aquele pensamento me motivou a apertar o passo novamente, minhas pernas já pareciam imunes a corrida, como se todo o esforço físico as fizeram dormir e eu não conseguia mais sentir meus músculos.

Me joguei contra as portas duplas, ignorando a dor nos braços por conta do impacto e corri pelo pátio aberto.

Mais soldados.

Haviam mais soldados dispersados pelo pátio.

Merda!

Quando os homens rodeados em vermelho finalmente percebiam o que acontecia sua primeira reação era sempre a mesma: se juntar a comoção.

Ótimos, mais soldados vermelhos na minha cola, que ótimo dia para sair da cama, Sakura!

Com mais soldados me perseguindo eu corri, gradativamente chegando mais e mais perto dos dormitórios.

Eu estava quase lá.

Mas como todos vinham de direções diferentes, tudo se tornou mais difícil, homens vermelhos vinham de todas as direções agora, me forçando não apenas a correr, mas também e me esquivar e a atacar alguns pobres coitados com meu guarda- chuva, que eu fiquei feliz em ter mantido próximo.

Meu corpo teria conseguido alcançar os dormitórios se sua missão fosse apenas correr em uma linha reta, mas não, agora ele tinha que fazer muito mais do que apenas correr, ele tinha que conseguir se esquivar enquanto corria, rolar no chão para evitar ataques e ainda juntar força o suficiente atacar quem quer que consiga chegar perto demais.

Eu não aguentei.

Foi na terceira esquivada em que eu tive que rolar sobre meu próprio corpo para evitar um soco lançado por um deles, que eu não consegui arranjar força o suficiente para voltar a correr, meus músculos estavam esgotados e minha mente já tinha se cansado de lutar a muito tempo.

Então me deixei ficar lá, jogada de cara no chão, como uma presa vulnerável para os predadores, os passos foram lentamente diminuindo e por debaixo dos cabelos que cobriam a maioria de minha visão eu consegui ver alguns alunos perdidos e confusos no meio daquela confusão.

Me senti culpada por rasgar sua realidade normal e chata.

Porém fui tirada de meu redemoinho de culpa quando um par de tênis surrados apareceram bem em frente de meus olhos. Eu quis me mover, eu quis correr, eu quis bater nele com meu guarda chuva, mas até piscar doía.

Tudo que conseguia fazer eram grunhir de forma patética e arranhar o concreto com minhas unhas.

- Bom, foi difícil te encontrar. - Ouvi alguém falar, não conseguia ver nada por cima dos cabelos e tinha medo demais para me mover.

Mas eu não precisei pensar demais sobre isso, o dono dos tênis surrados já tinha decidido por mim quando empurrou meu ombro com a sola do tênis me fazendo deitar de costas no chão. Encarei o céu por alguns minutos até que o mesmo fosse coberto pelo homem do skate, eu tive tempo o suficiente para observar suas feições. Ele tinha olhos pontiagudos, um sorriso maldoso estampado no rosto, dois borrões vermelhos nas bochechas e cabelos que castanhos e bagunçados que alcançavam o queixo.

Com o taco de baseball sobre o ombro, ele se inclinou sobre meu corpo caído e prensou um de seus pés contra meu peito, amassando meu uniforme com a sola do tênis.

- Mas... finalmente, tenho você ao alcance da mão. - Disse sorrindo de forma sombria por alguns minutos até que sua expressão se fechou de repente e ele apontou o taco para meu rosto, tão perto que quase conseguia ver meu reflexo na madeira. - Meu Rei disse que deveria trazê-la viva, mas nunca disse que tinha que trazê-la intacta. - Balançou o taco de forma ameaçadora sobre meus olhos que seguiram o pedaço de madeira, temerosos. - Estou curioso... porque? De todos que podia atacar... matar, você o matou, por que ele ? Alguém que nunca fez nenhum mal na vida?! - Gritou, exigindo respostas que eu não podia dar, perguntando sobre alguém que eu não conhecia, com a voz de alguém que perdera uma batalha, mas que continuava a lutar.

Eu grunhi pateticamente, não conseguia fazer nada, além disso, e ele pareceu não gostar já que seu rosto se enrugou em uma careta raivosa, levei alguns segundos para olhar ao redor e percebi que os rostos de todos os homens vermelhos que eu conseguia ver copiavam a expressão do homem de bochechas manchadas, todos pareciam querer partir meu crânio em dois, mas quando voltei minha atenção para o homem que me prensava no chão, percebi que ele ia ser quem teria tal honra.

Ele levantou o taco acima da cabeça e não hesitou nem um segundo para descer o pedaço de madeira, os nós dos dedos brancos e os músculos tensos mostravam toda a força que ele colocava naquele único golpe.

O que aconteceu com me deixar viva?

Tudo o que pude fazer foi fechar os olhos e esperar pelo impacto, era aterrorizante, como ficar em pé em frente a um trem que a cada segundo chegava mais perto carregando em suas rodas a morte certa, porém diferente de estar amarrado aos trilhos, você tinha toda liberdade de fugir e sair do caminho, mas por algum motivo suas pernas não se moviam, por mais que você tentasse, seu corpo estava paralisado da cintura para baixo.

Era assim que eu me sentia.

Esperei o impacto, esperei... e esperei... o impacto nunca veio. Me arrisquei a abrir os olhos e quase engasguei com minha própria língua, a ponta do taco se encontrava a centímetros do meu rosto, a madeira roçando meu ouvido direito, tão perto que eu conseguia sentir o frio que emanava do objeto.

O homem de bochechas borradas olhava ao redor, uma ruga de confusão entre as sobrancelhas, como se algo lhe incomodasse a visão, virei o rosto, olhando ao redor e encontrando os outros membros com a mesma ruga de confusão, como se todos vissem a mesma coisa que eu não conseguia ver.

Ou não vissem alguma coisa que eu conseguia ver.

Ele tombou para trás, tirando o pé de cima de mim, me permitindo respirar com mais facilidade, ele olhava em volta, a confusão em seu rosto gradativamente virava raiva.

- ONDE A VADIA FOI!? - Gritou seus pulmões para fora, balançando o taco ameaçadoramente, querendo atacar tudo e todos, seus colegas saiam de seu caminho enquanto ele parecia cego pela raiva, não se importando quem machucasse desde que machucasse alguém. Me encolhi, lentamente me arrastando para longe do homem raivoso, abraçando os joelhos com os braços.

- EU VOU ACHAR ELA! EU VOU MATAR ELA! EU JURO QUE VOU MATAR ELA NEM QUE SEJA A ÚLTIMA COISA QUE EU FAÇA! FILHA DA PUTA! - Acertou o taco contra o chão repetidamente, a força dos golpes tirando pequenos pedaços do concreto e criando rachaduras que demorariam em ser concertadas.

E como um zombi cheio de raiva ele andou de forma decadente e apontou seu taco em direção dos outros homens vermelhos que recuaram, com medo da personificação da fúria humana que o homem de bochechas borradas representava naquele momento.

Com uma voz sombria, mas cheia de ameaças silenciosas, ele disse:
- Ache ela... ou o próximo a ter seu crânio partido vai ser... - Ele passou o taco em frente dos homens, como se escolhesse sua vitima, passou mais uma vez o taco por entre as vitimas até parar em um deles. Um garoto, de pelo menos quinze anos que tremeu nas bases quando percebeu o taco em sua direção. - Você e depois você... e depois você... e você... - Disse enquanto parava o taco toda vez em frente de um homem diferente, até os gigantes tremiam com o olhar do homem e eu não os culpava.

Tudo naquele homem era aterrorizante.

- Não querem isso, querem? - Todos negaram apressadamente com olhos do tamanho de pratos. - Então... ACHEM ELA!

E todos se foram em direções diferentes, dispersando como ratinhos assustados, chocando uns contra os outros, mãos tremendo e olhos cheios de medo.

O homem jogou o skate no chão com raiva mal disfarçada e pisou no mesmo, preparado para voltar a caçada, ele pareceu olhar para mim por alguns minutos, mas apenas parecia, pois naquele momento eu já havia percebido que por algum motivo desconhecido por mim, eu estava invisível ao olho humano.

Esse dia não podia ficar mais estranho...

Impulsionando uma das pernas o homem saiu calmamente em seu skate, ele quase podia parecer um skatista normal dando uma volta apenas para aproveitar a leve brisa e fazer algumas manobras aqui e ali, mas o modo como ele deixava seu taco balançar ao lado do corpo, mostrava suas verdadeiras intenções.

Aquele era um homem que matava sem remorso.

Não querendo abusar de minha sorte, ignorei a dor que se apossava de meu corpo e corri de forma decadente até os dormitórios, paranoica, eu sempre olhava sobre meus ombros a cada cinco segundos com medo de que os homens vermelhos me atacassem por trás.

Os dormitórios estavam a poucos metros de mim, mas todas as dores que eu sentia fazia parecer que estava a mil quilômetros de distância. Quando finalmente cheguei nas catracas, quase me ajoelhei e agradeci aos céus por terem pelo menos um pouco de piedade de mim, com determinação renovada passei meu cartão de identificação no sensor e tentei correr até as escadas, porém minhas pernas doloridas me forçarem a parar e subi-las com menos pressa.

Enfiei as chaves na fechadura quando finalmente cheguei na porta de meu apartamento - o qual nunca fiquei tão feliz em ver – girei a chave e abri a porta me jogando dentro do quarto de qualquer jeito, eu cai em cima do carpete amarelo mostarda finalmente me permitindo pausar e apenas relaxar meus músculos.

Sem homens vermelhos atrás de mim.

Sem estranhos que apagavam a memória de minha amiga.

Sem malucos em skates.

Sem nenhum vídeo que destruía minha vida antes tão monótona.

Apenas eu e meu gatinho.

… Meu gato.

Estranhando a falta de miados ao meu redor, levantei meu corpo com dificuldade, sentindo minha cabeça doer como se fosse esmagada por barras de concreto, chutei a porta do apartamento que tinha esquecido aberta e tentei levantar.

Xinguei baixinho, me apoiando na parede e pela primeira vez desde que cheguei, olhei em volta de meu pequeno apartamento.

E o que encontrei quase me fez cair novamente.

Um deles, eu percebi, era o estranho de preto, alguém que eu já queria surrar á primeira vista, não só pelo o que ele obviamente fez com a minha amiga, mas também por que ele ousava sentar em minha cama com aquelas botas sujas como se fosse dono do lugar.

Mas fora o outro que quase me fez cair de cara no chão, ele tinha cabelos espetados de um loiro brilhante, olhos laranja envoltos por grandes círculos também laranjas, suas bochechas tinham três riscos cada uma, como se personificasse os bigodes de um gato e sua pele bronzeada combinava com o tema laranja que ele parecia adotar, seus músculos estavam a mostra e ele os exibia sem vergonha.

E ele... estava... completamente... nu.

O loiro então abriu o maior sorriso que eu já vira alguém dar, quase me cegando com a brancura de seus dentes, e falou:

- Olá, Mestre! Finalmente chegou! Como foi seu dia?

O apartamento foi tomado por silencio, tal silencio que passou comigo encarando as duas figuras paralisada e com olhos arregalados, o loiro pulando animado no colchão exibindo toda sua gloria sem qualquer hesitação e o moreno tomando toda aquela situação como normal.

Percebendo que nenhum dos homens iria iniciar um dialogo, decidi fazê-lo eu mesma:

- MAS QUE PORRA!?


Notas Finais


UFA!
Provavelmente um dos capitulos mais longos que já escrevi espero q tenha compensado a espera.
Enfim, comentem e favoritem se gostarem da estória.
vou tentar não demorar tanto da proxima vez U.U


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