História Cartas nas Sombras - Harley Loves U

“Ouvi dizer que você gosta de meninas más

Querido, isso é verdade?

É melhor do que eu já imaginei

Eles dizem que o mundo foi feito para dois

Só vale a pena viver se alguém

Está amando você

Querido, agora você é amado”

- Um, dois, três!

Joguei o saco em cima da caminhonete verde enferrujada, que roubei semanas atrás assim que metade do povo de Gotham decidiu fugir. Arrumei a peruca ruiva e puxei a jaqueta jeans surrada para mais perto de mim, puxando a touca para a minha cabeça.

Agachando-me, abri a porta do passageiro e olhei para uma Lucy que se encolhia embaixo do porta-luvas, segurando a pequena varinha de plástica, enrolada pelo cachecol amarelo e vermelho da Grifinória. Seus olhos minguados caíram sobre mim, marejados, não conseguia entender, e não quis perguntar, não agora. Então apenas beijei sua testa com cautela e voltei a olhá-la.

- Fique quieta, huh? Bud e Lou estão na parte de trás, mas você tem que ficar quietinha por enquanto!

- E se ele não gostar de mim? - sussurrou - E se ele achar que eu não sou boa?

- Se ele não gostar de você, nós cortamos a cabeça dele e colocamos em um balde de ácido! - pisquei, fechando a porta.

Senti o vento frio que vinha das montanhas ali perto e as gotículas minúsculas da garoa que vinham do céu nublado. Enfiei as mãos no bolso da jaqueta e consegui enxergar os dois esqueletos nas pontas do portão dianteiro. Brad e Teddy ainda assim pareciam mais apresentáveis do que qualquer capanga que estava ali dentro.

Coloquei meu revólver na cintura e andei até o portão, vendo rapidamente dois capangas com suas metralhadoras vir até mim, apontando-as em minha direção, enquanto se entreolhavam. Os rostos pintados de branco e negro nem ao menos se podia enxergar a expressão real deles, embora parecessem sempre estar sorrindo.

- O que temos aqui!? - disse um - A moça não sabe que aqui é campo restrito, não?

- Ah, desculpe, deveria ter feito isso antes! - gritei, sorrindo, tocando na peruca.

Ouvi o clic do destravamento da arma. Antes que visse o homem dois descarregar suas balas em mim, arranquei a minha da cintura, destravei, apontei e acertei o centro da sua testa, vendo-o cair no chão com uma poça escarlate se formando entorno do crânio perfurado. Deixei com que a peruca caísse e o meu cabelo platinado se soltasse em cascata entorno dos meus ombros.

- Então docinho. - disse eu ao homem um - Esqueceu-se da sua Rainha?

Ajeitei meus cabelos conforme eu andava para dentro do Parque de Diversões. As coisas pareciam descuidadas, mais do que normalmente seriam comigo aqui. Havia cadáveres espalhados por todos os lados, sorridentes, completamente duros e de olhos vidrados.

Um Gorila com a vestimenta de um palhaço, carregava nas costas uma aljava com três espécies de facões diferentes, enquanto ria, batendo os punhos fechados no chão de terra batida. O homem um, ainda atordoado com a minha presença, me levou até a beirada do Túnel do Amor, onde ele bem sabia, eu já conhecia o caminho de cor. Mas tudo parecia mudado ainda, tudo parecia uma tremenda merda misturada com morte. O cheiro era horrível. Os abutres sobrevoavam o topo, procurando encontrar alguma coisa para capturar, mas não havia nada que não fosse apenas ácido e vaselina.

O pequeno rio, que antes fluía límpido, agora estava parado e coberto de entulhos e lixos que eu não conseguia distinguir do que eram feitos. Havia pele espalhada e pendurada no muro da ponte, coberto de moscas varejeiras e vermes.

Subindo as escadas marcadas por musgos, consegui chegar ao topo, tampando o nariz ao ver um urso com as entranhas abertas e sem os olhos, repleto de jujubas em seu lugar. Era para ser engraçado, se não fosse o cheiro nauseante que fluía dele.

Assim como havia Harley’s em um cômodo fechado, agora havia Harley’s enforcadas por correntes em cima dos tanques químicos, perto dos sinalizadores.

Eu pensava onde estava aquele Sr. C que me deixou completamente apaixonada desde a primeira vez que o vi, desde o momento em que ele se tornou tudo aquilo que eu queria de um homem, tudo aquilo que eu queria numa pessoa que pudesse constituir uma vida comigo. Agora, passando por tudo isso, eu imagino como seria a minha vida se eu tivesse continuado naquele cativeiro. Se meu docinho teria me mantido trancada, se ele me soltaria ou se eu morreria tentando obedecer as suas ordens.

Eu o amo, sim, amo muito, mas agora eu amo mais Lucy e não posso evitar de proteger ela mais que tudo!

Então agora me pergunto se isso é certo. Se tê-la trago para lhe apresentar foi certo. Se ter trago o corpo morto de Bobby Boboca foi o certo a fazer, só para dizer o potencial que nossa princesinha tem!

“Droga, Harley! Estava na hora de revisarmos os pontos dessa história! Ele é pior do que aquele homem que você conhecia. Fuja daí! Ele não precisa conhecer a Lucy! O que tem de errado em ser uma mãe solteira com uma filha linda e um tanto psicopata!? Nada que algumas consultas psicológicas e tratamento não resolvam!”, podia ouvir a Harleen se intrometer mais uma vez.

“Não!”, gritei para mim mesma em pensamentos “Eu não vou fazer tratamentos na minha filha porque ela não sabe brincar como uma criança de verdade!”.

Respirando fundo, fechei as mãos em punho e andei em direção ao que deveria ser o nosso ninho de amor, já que eu não o havia visto em todo esse alvoroço de podridão e morte.

Girei a maçaneta e empurrei a porta, mas ela não saiu do lugar.

- Quantas vezes eu já disse que não quero interrupções? - gritou uma voz esganiçada do lado de dentro - Estou tendo uma conversa séria com a Harley aqui!

Revirando os olhos, dei dois passos para trás e atirei contra a maçaneta, que estourou numa minúscula explosão de filetes de madeira e ferro.

Chutei a porta e entrei, vendo como ele terminava de colocar uma peruca platinada na cabeça raspada do cadáver da filha de Bill Kane.

Ao me ver, seus dentes surgiram mais risonhos.

- Olá, Harley, ainda bem que você chegou! Não sabe a surpresa que eu estou planejando para o Batsy!