História Cartas nas Sombras - Duas-Caras

“Você sabe

Para onde as coisas selvagens vão?”

O BatWing lançava um raio azul contra as plantas, cortando-as em pedaços, enquanto a blindagem aguentava os disparos dos homens abaixo dele.

- Por que a Hera faria isso? - perguntou Asa Noturna.

De certo, eu não sabia, portanto, continuei quieto, dirigindo o BatMóvel. Sabia que o pássaro seria uma boa isca, logo, comecei a avançar com as rodas, que soltavam fumaça para trás conforme tentavam ultrapassar as grossas raízes de espinhos, até que elas cederam, estourando sua vegetação contra os capangas do Coringa, enchendo-os de um veneno esverdeado que os deixou rapidamente paralisados no chão.

Sem pensar em checar se ainda estavam vivos, pois sabia que não estavam, pisei no acelerador. E rapidamente, Asa e eu fomos injetados para fora, posando acima das escadas, onde tivemos que recuar, vendo cerca de quatro homens completamente deformados, com os rostos mastigados e parte dos órgãos para fora.

- Killer Croc? - chutou Asa.

- Não… - agachei-me, olhando com mais afinco - Parecem mordidas menos pontudas… Cães, talvez.

- Bud e Lou! - exclamou.

- Exatamente! - me ergui.

Olhando ao redor, sem ver qualquer capanga ou indícios de uma emboscada, entramos. Asa correu rapidamente para o que parecia ser HiEma. Ela sangrava pela boca, com raízes ensanguentadas caídas ao redor de seu corpo. Asa apertou a artéria do pescoço dela, procurando algum batimento cardíaco. Os olhos heterocromáticos estavam abertos, olhando para cima em combustão, pareciam prestes a explodir.

- Ela não morreu - avisou Asa - Mas parece não estar viva também… Vegetando?

- Parece válido para mim, levando em consideração quem fez isso - olhei para os galhos - Mais uma vez, a Hera Venenosa… Quero que coloque HiEma no BatMóvel. Se eu não contatar você daqui meia hora, não venha atrás. Leve-a para o Hospital Central de Gotham.

- Não, Batman! Não vou deixar você!

- E vai deixar que ela possivelmente morra? Não, nem pensar, volte e a leve!

Estalando a língua, ele a pegou no colo, levando-a para fora, e eu segui mais afundo no Gotham Merchant Bank. As luzes pareciam mais fracas, então acionei a visão noturna, enxergando com mais precisão cada canto em que eu caminhava.

    Havia caixotes com explosivos desativados por todo lugar, assim como armas, mas também estavam sem munição. Mesmo que eu sempre estivesse a um passo de tudo, não consegui imaginar o que o Coringa estava aprontando com todas essas armas, sem qualquer indício de futuro uso.

    Dei mais passos, chegando a uma porta de aço, de camadas grossas e uma grade de fios desencapados, mas como não havia maneira deles estarem ligados, a empurrei. A visão noturna tornou-se menos intensa, dando vazão para um salão de madeira, com as cadeiras e mesas do mesmo material, empilhados num canto.

    Minha primeira vontade fora correr em direção ao Harvey Dent, mas se eu desse mais um passo devido a corrente elétrica que vibrava a minha frente, ele rapidamente seria morto.

    Duas-Caras estava de joelhos, com os braços presos por cordas atrás da cintura, sua respiração fatigada ressoava pelo cômodo. A parte deformada de seu rosto pingava sangue no que parecia ser um medidor. E pelo visto, já chegara à metade. Pelo fio que o seguia, dava para notar até onde se estendia. O fio se encaixava abaixo de um baú de cobre, onde recebi diversos impulsos elétricos.

- Você pode se mexer? - consegui perguntar.

Minuciosamente o vi balançar a cabeça em negativa.

- Certo… - parei para pensar - Em que direção ele foi?

Seus olhos apontaram para o teto.

Então logo pude notar, que o sangue que escorria do canto deformado do seu rosto, não vinha dele, e sim do corpo do que parecia ser Jeovana Smith, a mulher de Jorge Stevenson, morto a poucas horas. Não havia órgãos em seu interior, ali dentro havia uma bomba, que conforme o sangue pingava, menos tempo ela jazia, mas não conseguia ver quanto tempo restava para tirá-la dali.

O baú tremeu, e o sangue que escorria do medidor e ia em direção a ele, vazava pelo chão, criando palavras rubras que logo eram esticadas, conforme se interligam.

Sou duro como pedra, mas apenas uma palavra pode me quebrar…

Quem sou eu?

A bomba explodiu no mesmo instante. No entanto, no que pareceu ser um campo elétrico, na verdade mostrou-se ser um campo magnético, que impediu a minha morte e a de Harvey, apenas explodindo o teto, trazendo consigo, um homem de rosto enfaixado.

Esta era a resposta.

Silêncio.