História Cartas Para Mim Mesma 2 - Outra chance

-O que houve?! -Perguntei, já com os olhos cheios de lágrimas novamente. Não, isso não podia estar acontecendo! Nada parecia estar certo nesse dia...

Bom, em relação ao acidente que houve com meu irmão, o que aconteceu foi o seguinte: Meu irmão já tem 24 anos, é formado em engenharia e trabalha em uma empresa aqui perto, mas ainda mora em casa conosco. Ele e um amigo foram procurar um apartamento pra dividir, para que o aluguel não fosse tão caro. Eles foram ver o prédio, e o amigo do meu irmão estava dando carona pra ele. Depois de verem o apartamento, eles estavam voltando para nossa casa e, num cruzamento, um maluco em alta velocidade se chocou contra o carro do amigo do meu irmão. Meu irmão não sofreu grandes lesões ou sequelas, mas havia se machucado bastante. Já o amigo dele, bom, este ficou em estado mais grave, bem mais grave...

Minha mãe já havia ligado para avisar meu pai do acidente. Meu pai, super preocupado, saiu do trabalho e foi para o hospital. Eu e minha mãe iríamos de táxi para o hospital também. Minha mãe chamou o táxi,  ainda chorando descontroladamente, e eu estava encolhida no sofá sem conseguir pensar em nada direito. Por que tudo isso estava acontecendo? Como estaria agora o idiota de meu querido irmão? Estava simplesmente petrificada no cantinho do sofá.

O táxi chegou e minha mãe enchugou as lágrimas, me chamando para entrar no carro. Sair e fechei a porta atrás de mim.

Assim que chegamos ao hospital, meu pai havia acabado de chegar. Subimos juntos até o quarto do meu irmão. Ele estava bem machucado, cheio de ferimentos e faixas em alguns locais do corpo, mas, em geral, estava até bem para o acidente feio que levou. Assim que ele nos viu nos acalmou dizendo que estava bem, e que, segundo os médicos, teria alta em uma semana. Meus pais ficaram mais aliviados e conversaram um pouco com ele, já eu fiquei quita parada no canto do quarto. 

Estava imensamente feliz que meu irmão estivesse relativamente bem, mas ainda tinha minhas preocupações naquele dia maluco. Como por exemplo o que aconteceu com Erik. Vendo o que havia acontecido com meu irmão, parei para refletir se Erik houvesse tido um acidente e não sobrevivesse. Se eu o perdesse não conseguiria viver em paz sabendo que minhas últimas palavras para ele foram palavras de raiva. Eu havia sido uma idiota. Erik não fez nada, minha mente é que começou a criar loucuras que não existiam. Se eu havia o escolhido, precisava respeitar seu jeito de ser. Sempre soube que ele não era muito social e muito menos romântico, mas mesmo assim o escolhi, e agora precisava aprender a lidar com esse jeito, afinal, era por esse jeito que me apaixonei. Estava me sentindo muito culpada. Percebi que só valorizava quando me lembrava que um dia podia perder...

Estava eu quieta e perdida nesses pensamentos desagradáveis, quando de repente escutei a voz um pouco rouca de meu irmão:

-E você maninha, como está?

-Estou bem. -Disse me aproximando da maca com um sorriso forçado.

Ele me observou por alguns instantes e por fim disse:

-Vai falar com ele.

-O que? -Perguntei absolutamente pasma.

-Acha que não te conheço? Sei quando alguém brigou com quem ama. Pode ir falar com Matt.

-O-obrigada! -Eu gaguejei, ainda muito surpresa.

Sai correndo da sala. O filme devia terminar em uns 10 minutos. Se desse sorte, conseguiria pegar o ônibus que ia para o shopping e chegar antes que Erik fosse embora. Corri para o ponto de ônibus e o ônibus certo pareceu demorar décadas para chegar. Comecei a ficar aflita demais, achando que não daria tempo. O filme já deveria estar acabando... De repente, para minha sorte, o ônibus chegou.

Cheguei no ponto próximo ao shopping e corri loucamente. Quando cheguei em frente a entrada principal, Erik estava saindo. Corri em sua direção e o segurei pelo braço. Acho que ele ainda não havia me visto, pois levou um enorme susto ao ver que alguém o segurava. Assim que me viu, fez um olhar de espanto, que imediatamente se tornou um olhar de descaso.

-Erik, me escute. -Disse sem fôlego de tanto correr. -Eu fui uma completa idiota. Por favor, me dê outra chance. Vamos nos encontrar amanhã na sorveteria perto de minha casa. 

Ele me olhou um pouco intrigado. Até que respondeu por fim:

-Certo, mais vai levar pontos negativos de qualquer maneira...

Eu apenas sorri e disse que precisava ir para o hospital. Ele se ofereceu para ir comigo, mas eu recusei. Precisava de um tempo a sós para assimilar tudo. No caminho de volta, dentro de um ônibus lotado. Fiquei pensando no que diria para Erik amanhã na sorveteria...