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História Cartas para o Amor que se foi sem chegar - Sexta Carta


Escrita por: brullf

Notas do Autor


Que o mar, numa noite, lhe faça ancorar nos braços meus, filho, num tempo outro que a sua presença em mim traduz.

Capítulo 6 - Sexta Carta


Fanfic / Fanfiction Cartas para o Amor que se foi sem chegar - Sexta Carta

Guardo nos olhos um lugar de calmaria, um fio de saudade em lágrimas soltas, compassos de água e melodias de Outono a caírem do céu. E o meu coração muda o compasso quando o seu voo encontra as marés de mim, Dom. Uma onda se desfaz em algum pedaço de chão azul e deixa o perfume da maresia caminhar à frente.

Queria tanto ter podido lhe contar histórias à beira mar, filho, embaladas pelo canto místico de uma sereia. E então eu riria o seu riso mágico e depois lhe ensinaria a colher conchas, a encontrar entre as algas uma ou outra estrela do mar, a ver as anêmonas, que são as flores do oceano, desabrochando em alguma pedra.

Ah, meu menino-flor, que importa se sol se lua, se noite ou dia, se a saudade se alongasse em braços e alcançasse o seu nome, Dom! Sabe, eu me pego pensando em como seria tê-lo em meu colo, tê-lo ao meu lado, enquanto as árvores, ao longo das estações, passam devagar a ensinar sobre a vida e a metamorfose do vento.

Nos contos de areia de nossos dias, Dom, haveria uma manhã quando nos sentaríamos sobre uma pedra, bem perto do mar, e você riria solto cada vez que visse uma onda explodir contra a rocha e lhe deleitar com os salpicos de água e sal. Ficaríamos nós dois fitando as ondas e, quem sabe um dia, descobriríamos juntos a estranha alquimia que faz o oceano e nos transformaríamos em golfinhos ou baleias.

Deitada no aconchego de sonhos inacabados, penso você aqui comigo. Seu pequeno rosto sereno e lindo ao ressonar, seus cachinhos espalhados pelo travesseiro ao meu lado, sua mãozinha segurando um dedo meu.

Assim seria o mundo feito de nós, Dom, numa cabaninha de lençol no meio da sala para acamparmos numa tarde qualquer de uma terça-feira besta com festa de nuvens no céu: ternura em todos os tons de azul; sussurros de mel; olhares que tudo dizem; mãos dadas em passeios à beira do horizonte; danças ao redor de flores; ventos penteando as cristas das ondas; águas em flor...

Hoje vi o seu sorriso, filho. Foi por alguns instantes, da janela do ônibus, a caminho do trabalho. Apenas olhei para o lado e lá estava o seu pai e o sorriso dele que, eu apenas sei, seria também o seu. O que lhe posso contar sobre ele? Seu pai é um espírito livre, Dom, sem nós que possam apertar-lhe os dedos, o pulso, o querer. Filho do Ar! Ele desenha em nuvens e toma banho de chuva de madrugada para depois rir dessa travessura. A presença dele, Dom, multiplica o vento. Seu pai tem olhos de quem colhe estrelas, como você também teria. 

E há algo sobre ele que preciso muito lhe contar, meu pequeno. Os abraços do seu pai são mágicos! Ele esculpe infinitos entre um amplexo e outro. E você o amaria com um amor infindo, filho. Porque ele é cheio de cores e pores do sol, e carrega nuvens no olhar e um céu no sorriso. Seu pai também tem em si um oceano de ondas altas e marés próprias, parecido a um poema longo, talvez de Homero, com sabor a maresia.

É de mar esse meu devaneio no qual medusas gigantes e belas singram o azul. E há uma lua num menear de cílios, maré de amor. É de mar esse meu anseio de abraçar você, meu menino-flor. E há um cavalo-marinho num sorriso duplo, maré de luz. É de mar esse sussurro que guardo no peito, sempre o seu nome, no marulhar dos meus sentimentos, Dom.

 

Com amor,

Mamãe.
 



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