História Cartas para o Deus Desconhecido - Benevolência

"Nenhuma das boas pro­messas que o Senhor, o seu Deus, fez dei­xou de cumprir-se. Todas se cumpriram; nenhu­ma delas falhou" 
Josué 23:14

// BEATRICE //

Há uma pilha de roupas jogadas na minha cama como se eu tivesse indo para um baile do oscar. Desde quando eu tenho tanta roupa brega e vulgar? Droga. O relógio de passáros da minha mãe soa pelos quatro canto da casa dando sinal de que falta menos de meia hora para ir ao encontro de Nicolas. Ótimo e eu não tenho nenhuma roupa que diga " olá sou uma boa e adorável moça, que tal irmos para minha casa Nicolas?" . Rolo os olhos em deboche do meu próprio pensamento e jogo uma das últimas peças de roupas na enorme pilha.

– Que bagunça é essa querida? –  minha mãe questiona quando está parada encostada na porta

– Estou tentando escolher uma roupa para ir no evento da igreja, mãe– digo desapontada

– humm...– Ela exclama e percebo a surpresa dela em saber que pela a primeira vez vou em algo relacionado a igreja. Eu e meus pais tivemos algumas brigas porque eles queriam que eu fosse a todo custo para a igreja deles mas sempre achei que era uma total perda de tempo – Querida, tem algum garoto envolvido nessa história?

– NÃO! quero dizer... mais ou menos. O nome dele é Nicolas, ele me convidou para participar do evento para as crianças da igreja dele

– Por acaso é o filho do apóstolo Marcus? Ele é um rapaz adorável, Beatrice. Oh meu deus, estou tão feliz que esteja saindo com ele – Minha mãe dá pulinhos de alegria e sua voz demonstra a grandiosidade da sua felicidade em saber sobre Nicolas 

– Mãe, não estamos saindo! Somos apenas conhecidos e ele me convidou a ir nesse evento – explico para cortar quaisquer expectativa que minha mãe pudesse criar entre nós – Mas não tenho nenhuma roupa decente para ir nessa droga 

– Doçura um conselho de mãe e talvez clichê: seja você. Não precisa usar uma roupa em que não se sinta bem apenas para agradar os outros, seja você. Deus não ama o que você veste, ele ama seu coração e isso é o que importa 

– Obrigada mamãe – agradeço e abraço-a. Minha mãe é a mulher mais incrível do mundo, será que algum dia conseguirei ter pelo menos 5% da sua personalidade e caráter?

Agora estou sozinha outra vez no quarto guardando todas as roupas amassadas no guarda roupa, prometendo arrumar toda essa bagunça quando retornar. Decidi pela a primeira vez ouvir o conselho da minha mãe, escolhendo uma calça jeans com uma t-shirt mais folgada e nos pés optei pelo tradicional all star branco. 

Gasto poucos minutos para chegar no parque. Há uma quantidade razoável de pessoas e logo meus olhos procuram por Nicolas que está cercado de crianças. Encosto em uma árvore e observo todo o local iluminado, cheio de enfeites coloridos e sinto-me em completa paz. Lembrei-me de relapse dos orfanatos que passei até chegar aos meus pais adotivos e pergunto-me quais eram as histórias de cada uma daquelas crianças; Mas claro, é tudo muito mais fácil quando se é criança.

– Pensei que não ia conseguir vim até aqui. As crianças estão eufóricas – Nicolas aparece radiante ao meu lado, sempre sorridente e bem humorado – Como você está Beatrice? Parece um pouco cabisbaixa

– Estou bem. É que nunca vim em nenhum evento assim – Confesso acenando para Emily – Mas quero ajudar, ser útil; Sei que há muitas coisas para serem feitas por aqui

– Isso é ótimo Beatrice! As crianças vão adorar te conhecer – ele diz

– Igualmente.Onde você precisa de mim mesmo? – questiono e Nicolas faz sinal para acompanhá-lo

Inicialmente Nicolas me apresentou para toda a equipe de voluntários da igreja anunciando que estava me disponibilizando para servir. Nós nos juntamos alguns minutos para refletir em uma passagem bíblica onde o líder falava sobre a importância daquela ação e a influência que aquele dia teria na vida de cada criança, principalmente por muitas delas serem de lares desestruturados e financeiramente pobres. Depois desse momento, fizemos uma pequena oração e claro eu não participei, fiquei de olhos abertos observando todos orando e falando com o seu Deus. 

– Beatrice você fica na parte da organização junto com a Grace e John. Vou estar no palco ajudando no som, qualquer coisa pode fazer sinal que eu venho até você – Nicolas diz e eu assenti vendo-o afastar

Grace e John são casados e a primeira impressão que tive deles é que ambos são incríveis e gentis, aliás todos os voluntários aparentemente são. É extremamente comovente e lindo a forma com que eles trabalham naquele ministério, cada um dando o seu melhor sem receber nada em troca. 

Ajudei as crianças se acomodarem no centro e organizei junto com o John as cadeiras para os pais ao fundo; Quando estava tudo certo, a celebração foi iniciado; Um grupo de quatro pessoas entraram vestidos ridiculamente coloridos e com adereços estravagantes no palco, animando as crianças para o momento do louvor.  A moça vestida de joaninha pediu que todos presentes no evento cantassem e dançassem conforme a coreografia que seria ensinada pelo grupo e olhei desesperada por Nicolas, completamente sorridente. 

Por Deus, eu sou péssima em danças. Então pensei que quando todos estivessem reunidos na multidão, iria sair de fininho para não ter que demonstrar e poderia me encolher em uma das cadeiras ao canto; Infelizmente quando a música começou ser tocada, Grace me segurou como se falasse " você não vai para lugar nenhum", me envolvendo em um passo ridiculo inventado por ela para me prender à ela. Deixei com que o ritmo tomasse conta e acabei me envolvendo, deixando a vergonha de lado e repetindo desengonçadamente a coreografia do grupo em cima do palco. 

Nicolas mostrou do palco um sinal de positivo para mim, talvez debochando por me ver tão fora de ritmo dançando com as crianças. Mas agora já não importava, dancei várias músicas que cultuavam Deus com as crianças e os voluntários até que mal conseguisse respirar. Quando a música cessou, um jovem rapaz adentrou o pequeno palco e começou a leitura da palavra para as crianças que se acomodaram novamente ao lugar de origem. 

Depois daquele momento, achei que iria aquietar e recuperar as forças perdidas no momento do louvor mas foi exatamente o oposto:  não consegui ficar um milésimo de segundo parada; Havia muitas coisas para serem feitas: entregar os lanches para as crianças, ajudar as crianças  menores irem ao banheiro ou tomar água, recepcionar os pais que chegavam mais tarde e por último organizar as crianças em filas para brincarem no touro mecânico e cama elástica.  Quando tudo acabou e limpamos toda a bagunça deixada no espaço, dei-me o luxo de sentar na grama.

– Espero que não esteja assustada ao ponto de não querer mais ter contato com nenhuma criança na vida – Nicolas se acomodou ao meu lado me entregando uma lembrança que foi entregue ao final para as  crianças, junto com pipoca e suco de uva

– Foi uma experiência diferente, obrigada por me deixar participar Nicolas – digo enquanto coloco algumas pipocas na boca para saciar um pouco da minha fome

– Você se saiu muito bem, acabei me surpreendendo 

– Por que? achava que não era capaz? – questiono com uma sobrancelha arqueada

– Claro que não! É que você fala sobre Deus com indiferença e por essa razão achei que não iria aguentar um evento voltado para evangelização – Ele se explica com um tom preocupado e me questiono o por quê daquilo

– Quando muitas coisas ruins acontece na sua vida, você para de acreditar que há algo cuidando de você – respondo ceticamente

– Nada na vida acontece sem a permissão dele, Beatrice. Nem se quer uma singela folha caí da árvore sem que ele permita que isso aconteça; Sei que há um propósito maior na sua vida e são essas coisas ruins que evidenciam isso – Sua voz sai suave e uma vontade de chorar me invade.

–Preciso descobrir o que é esse propósito que tenho ouvido tanto nos últimos dias. 

– Encontre o seu propósito e então finalmente encontrará todas as respostas que te impede de conhecer verdadeiramente Deus