História Cartas para você - Segunda carta

Havia chegado em casa cedo. Tudo estava silencioso e agradecia por isso, pois minha cabeça estava estourando.

Subo para o quarto e me deito na cama, ao lado de Hannah, que dormia profundamente. Não demora muito e durmo.

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Acordo com Hannah me chamando para almoçar, não estava com fome, não tinha estômago para comer nada no dia de hoje, apenas mando ela sair e tento dormir novamente, sem sucesso.

Bufo de irritação e me sento, minha cabeça rodava e meu estômago fazia a mesma coisa. Respiro fundo com os olhos fechados, uma imagem me vem a cabeça.

As cartas

Penso já abrindo os olhos e levando a mão até a gaveta da escrivaninha. Pego a primeira carta do monte e a abro.

29/10/2002

Uma tristeza enorme me atingiu horas atrás, meu pai, com uma fúria repentina, me puxou a força tacando-me em uma cadeira e fazendo com que eu ficasse quieta sem me mexer, subiu até seu quarto e voltou com uma tesoura na mão.

Disse-me que meu cabelo estava grande de mais e que isso atraia olhares para onde não devia.

Perguntei o que quis dizer com isso, mas logo percebi que não responderia, pois estava preocupado de mais cortando meu cabelo. E por mim mesmo descobri sobre o que ele dizia.

Meus lindos cabelos eram de um tom natural de ruivo, eles chegavam na altura da cintura, ondulados e brilhantes. Por onde passava as pessoas ficavam a observar o quão grande era, o quão brilhante ficava sobre a luz do sol.

Devia ser disso que ele falava, das pessoas admirando meu cabelo, olhando até o último fio.

Mas mesmo assim isso não era motivo para fazer isso comigo, não podia ter cortado meu cabelo sem permissão, mas assim ele o fez.

Agora meu cabelo está na altura dos ombros, sem nenhum cacho, completamente acabado.

Minha dor, talvez não seja entendida por mais ninguém além de mim mesma, pois eu amava ele, amava como ele brincava quando uma brisa mexia com o mesmo. Ele parecia ter vida própria, pois estava sempre a se mexer, me fazendo cócegas ao pé da orelha. Ah como irei sentir saudades de meu cabelo.

Nada poderei fazer quanto a isso, minhas lágrimas, aqui derramadas, não me ajudaram, não mudaram o passado, por mais que eu queira que isso aconteça, elas apenas irão secar e depois irão sumir.

Ela estava errada, suas lágrimas não sumiram, ainda dava para ver seus contornos por cima de algumas letras, as mesmas se encontravam manchadas.

Mas de algo tinha razão, não iria poder voltar para o passado, assim como eu não poderia voltar e desfazer o que fiz.

Me sentia um inútil, um ser sem coração. Mas esse era meu trabalho como pai, educa-lá de uma forma correta, mostrar de diferentes formas o que era bom para ela.

Eu não me arrependi do que fiz naquele dia, pois ensinei à ela que não era para deixar os outros olharem para aquilo que não deviam, o que não lhes diziam respeito, e com seus cabelos curtos, não teriam mais o que olhar.

Guardei a carta longe das demais e desci para a sala, onde Hannah assistia a um filme de suspense. Me sento ao lado de Hannah e fico tentando assistir o filme, mas imagens aleatórias sobre o dia em que cortei o cabelo de Anne não saía de minha cabeça.

*Ele ficou lembrando desse dia, mas logo se irritou.

Hannah levanta para guardar o copo em que bebia refrigerante, mas acaba tropeçando e deixando o copo cair de sua mão e quebrar-se no chão.

Já irritado com tudo, ele levanta e começa a brigar com sua esposa, por ela ser uma distraída, que deveria prestar mais atenção por onde anda. Ele lhe deu um tapa no rosto e mandou-a à juntar todo o caco que havia se espalhado pela sala, e que era para estar limpo assim que ele voltasse.

O homem foi para a sua segunda casa e lá ficou até o anoitecer. Quando voltou para sua casa, ela estava limpa e estaria silenciosa, se não fosse pelo fraco barulho de choro que vinha do andar de cima, ele foi atrás desse barulho, e achou sua esposa deitada na cama que era de Anne chorando o mais baixo que conseguia.

Ele a deixou chorar, por mais que isso o deixasse irritado. Foi para seu quarto e lá adormeceu, escutando os fracos choros de Hannah*