História Cartas para você - Carta quatro

Ela haviam ido embora todas elas, as duas mulheres mais amadas da minha vida.

Há mais de uma semana, Anne se matou. A quase uma semana, Hannah me largou. Me deixou sozinho nessa casa, que agora parece falar comigo, jogar-me cara que tudo o que acontecera foi minha culpa. Que se tivesse deixado os quadros, vasos, pratos, copos dentre outros moveis quietos, nada disso teria acontessido. Eu me pego acreditando no que eles dizem, mas só posso estar louco, são objetos, não falam.

Sentado no sofá, olhando o relógio marcando as horas, seu ponteiro andando lentamente por sua volta, até chegar no 12 e voltar a fazer o percurso novamente, repetindo isso até que uma hora o relógio para, mas o meu não parou, ele continuou, continuou assim como minha vida medíocre, minha vida sem sentindo onde ninguém conseguiu ficar muito tempo, nem mesmo meus considerados amigos.

A quarta carta do pequeno monte ainda estava lacrada na escrivaninha, não as guardavam como antigamente, já não tinha quem descobri-las.

Você está com medo

Dizia a televisão, não, a televisão não, a minha imaginação. Eu não estava com medo, por que teria medo de uma carta escrita por minha falecida filha? Por que temeria as palavras escritas? Por que temeria algo que não pode me atingir? Algo que apenas falam coisas que eu já sei, na maioria das vezes, que aconteceram. Como alguém poderia ter medo apenas de cartas?

Palavras machucam mais que quaisquer coisas

A folha e o papel que se encontravam na mesinha ao lado do sofá me disseram. Como se soubessem de algo, não serviam para nada, além de escrever e ser escrito.

Servimos para mais que isso, matamos corações, sepultamos almas, criamos o mundo que qualquer pessoa quer, ou transformamos o mundo perfeito no maior pesadelo que faria-lhe chorar e pedir para voltar

-CALEM-SE! - gritei, foi inevitável.

Sabia que eles não estavam falando de verdade, mas meu sub consciente está me matando. Está fazendo com que essas criaturas horríveis ganhe forma e tentem me destruir. Todos querem me ver louco, um louco sepultado em meio as suas loucuras.

Hahahahaha — riram todos os móveis juntos — conseguimos, o deixamos louco, pirado, doente mental, mas anormal que os normais. Hahahahaha

Eles não paravam de rir, quanto mais mandava eles calarem a boca, mais gritavam enquanto riam.

Ronald, Ronald, Ronald

Alguma coisa gritou mais alto que os móveis.

Tem correspondência, lá no quarto, te esperando para ser lida, queremos saber o que você fez de ruim dessa fez querido, vamos, ainda não disseram quando você as fizeram rolar por mim

Então descobri que era a escada quem dizia, não conseguia me concentrar, tinha que acabar com isso e a única forma disso era lendo aquela maldita carta.

Todos os dias na mesma hora, os moveis falam comigo, querem que eu leia as cartas, mas resisto, não vou contar para eles o que dizem nas cartas, já que não são confiáveis, podem sair espalhando por ai, não é mesmo?

Rio e subo as escadas correndo, tinha que chegar mais rápido que os outros, eles não vão ler minhas cartas, elas são minhas não são, apenas minhas.

Cuidado, isso me deixa dolorida

A escada reclamava, a voz dela estava próxima, muito perto para meu gosto, logo logo estaria do meu lado e talvez chegaria primeiro que eu no quarto para pegar minhas cartas.

Acelero os passo, praticamente correndo, não poderia deixa-los ler minhas cartas.

Chego no quarto e pego a carta na mão, meus pensamentos paranóicos já se misturavam a minha ação, não sabia o que estava realmente acontecendo, se estava pensando, ou se estava fazendo uma ação, que se parecia muito a um pensamento.

-Vamos, vamos lê-la, vamos sim... Mas xiiii, não fala para os outros que está escrito, se não eles irão espalhar. - rio baixo e começo a ler.

                  Carta on

Já não marco os dias que escrevo essas "cartas" deixadas a ninguém, nada mais faz sentido, já que tudo vai se acabar. Essa é a lei da vida, não? Tudo tem seu começo, meio e fim. Posso dizer que meu fim não era para ser agora, mas eu não aguento, preciso partir, preciso fazer que isso acabe.

Minha mãe já não está mais presente como sempre esteve, disse algo sobre não estar sendo capaz de ajudar com coisas que não tenha grandes importâncias, ou seja, já não se importa com a minha vida. Nada importa na minha vida. Meu coração está batendo e não consigo faze-lo parar, não consigo fazer nada que não seja respirar e obedecer.

Meu pai não para mais em casa, o bar não o deixa voltar, seus gastos já se acomulam e não sabemos o que fazer para que isso se resolva. Não se pode falar com ele calmamente, que já desconta em algo que estaja por perto, sempre desejo que não seja eu.

O plano está quase pronto, só tenho que sobreviver por mais alguns dias, logo, logo estarei em um lugar melhor, onde nada que uma vez já aconteceu comigo acontece, eu irei ser livre, eu poderei ser feliz do meu jeito.

Há, como sonhei com isso, sempre sonho na verdade, um lugar lindo, florido com o céu azul, animais selvagens, mas mansos a minha volta, eu correndo pela grama.

Mas sonhos não me levaram a lugar nenhum, pesadelos é as únicas coisas que entran na minha vida sem que eu queira, é a única coisa que realmente tem na minha vida.

Teria continuado a escrever sobre como seria meu mundo perfeito e sobre o que realmente tem nesse meu mundo, mas não vou fazê-lo, pois tenho que comer, aumentar meus momentos de pesadelo.

Já terminei de comer a um bom tempo, estava criando corangem de voltar a escrever.

Me encontro em casa sozinha, pois minha mãe foi levada as pressas para o hospital. Alguém havia posto camarão em sua comida, ela é alérgica a camarão, e todos sabíamos disso. Mas nada que eu fale aqui contém alguma prova, são apenas suposições.

Ronald colocou pequenos pedaços de camarões no prato dela, sem que ela percebesse. Não acredito que minha mae tenha colocado sem querer camarão em seu prqro, ela não seria idiota a esse ponto... Mas ele, ele seria capaz de tudo para fazer alguém sofrer, principalmente se esse alguem for eu ou minha mãe.

Minhas mãos já doem e sou obrigada a parar de escrever, mas vira mais em breve, masi cartas que nunca serão lidas, e que se forem , serão queimadas para que ninguém saiba da verdade escrita aqui.

                    Carta off

Era para que essa carta me deixasse em êxtase? Se era, não conseguiu, meu coração já não estava se emocionando com as coisas escritas por uma criança, que se matou por infantilidade, por querer aquilo que nunca teria de ninguém, atenção.

Como não me importava, não tinha razão de ficar adiando, amanhã leria todas as três ultimas cartas, sim eu faria isso, e é o que vou fazer.

Não vai não, como acha que iremos ficar, sabendo que logo, logo você voltará a ser aquele babaca que sempre foi? Assim está melhor.

A cama dizia por ela e pelos outros moveis presentes no quarto. Não, não isso não estava acontecendo, minha casa não estava falando comigo, não é possivel.

Então tenho uma ideia magnífica, genial, irei sair e eles não falarão mais comigo, irão se esquecer que eu existo e não se lembrarão que eu sei que eles podem falar comigo por meio de algo que ainda não sei o que é.

E assim o fiz, sai de casa, fui esvaziar a cabeça, não poderia ficar mais nenhum minuto naquela casa, ou iria endoidar, ficar mais doido do que já estava.

*E assim, Ronald saiu da sua casa "falante" e foi conversar com os animais que encontrava na rua, dizendo que não estava louco e que sua casa não fala com ele, que era apenas uma coisa criada por seu sub consciente, já que sua mulher o deixou e que sua filha se matou, e não tinha mais ninguém para conversar

Deixava os donos desse animais com medo de Ronald, tentavam apressar seus animais para poderem fugir da loucura.

Ronald já se auto declarava louco, mas não confessava em voz alta. Ele nunca falaria, nem mesmo para sua casa.

Depois de muitas horas conversando sozinho, ele volta para sua casa, ela estava silenciosa. Sobe para seu quarto e deita na cama, sua noite seria longa e fria com a cama cantando-lhe uma música de ninar*