Acorde! Socorro! Me salve!
Ela gritava, mas não conseguia ajuda-lá
Me ajude, por favor, não me deixe
Eu tentava, com todas as minhas forças, mas estava preso, a cama não me deixava sair. Não conseguia chegar até ela.
Por favor — a voz estava mais fraca — me sal...
Não! Não podia, ela não pode ter partido. Me liberto da cama e corro para a voz que me chamava, abraço seu corpo frágil, mole e quente. Não, não, não, por que com ela?
Acordo assustado, meu sonho havia sido tão real, eu tinha perdido minha menina novamente, mas de um jeito mais agoniante. Eu estava vendo ela, ali, se matando e pedindo ajuda. Ajuda para se salvar, para me dar uma segunda chance, mas não pude ir ajuda-la, a cama me prendia.
Eu vou te prender nos momentos que você mais precisa correr
Não era verdade, ela não me prenderia, pois não se pode prender quem não está em seu alcance.
Mas se a cama não te prender, eu te derrubo, lhe deixo aos meus pés, abaixo de mim.
O chão queria se sentir maior, queria mostrar que poderia ser melhor que eu, que um dia poderia estar por cima de mim, coisa que nunca aconteceria, ele não poderia ser mais que eu, pois era a coisa mais insignificante da casa.
Ele se calou, consegui faze-lo calar-se.
Abra a próxima carta, abra, abra, abra. Não estou aqui para nada, quero iluminar o suficiente para que leia
A janela dizia, ela tinha razão, estava lá para fazer algo.
Abro a escrivaninha e começo a ler a carta.
CARTA ON
Querido papai, como já pode perceber, estou colocando seu nome na carta, pois quero e vou lhe entrega-las.
Não tenho muitas coisas para dizer sobre o senhor de bom ou de ruim, não tenho mais verdades para dizer, já que ultimamente vem me tratando um pouco melhor, talvez sinta que não vai mais ter aquela com que brigar, sem ser a minha mãe. E vai ser sobre ela que irei falar nessa mísera carta.
Quando eu me for, não quero que a trate mal, ela não merece, você sabe o quanto ela te amava e o quanto amou e vai amar. Ela é um poço de emoções, ou ama ou odeia, não faça com que ela te odeie, não faça com que ela SE odeie por odiar você.
Faça com que ela seja a mulher mais feliz de todo o mundo, que se sinta assim, e se achar que nunca conseguirá fazer, a deixe voar, liberte-a de sua gaiola que ela saberá para onde ir.
Não deixe que ela sofra mais do que já sofreu. Não me deixe mais desgostosa do que já estou. Mostre que não é ruim do jeito que parece, mostre que pode ser a melhor pessoa que alguém pode conhecer e esse alguém tem que ser minha mãe, aquela que mais merece conhecer o seu lado bom.
Sem mais delongas acabo aqui essa carta que nada tem haver comigo, mas sim com a minha mãe, a única que sobrou para te aturar.
CARTA OFF
Hahahahaha — ria os móveis — foi deixado antes de conseguir fazer algo que sua menina pediu, que dó de você... Hahahahaha
-Mentirosos! Todos vocês, ela não me deixou, ela apenas foi libertada... Isso, eu a deixei voar, ser livre para seguir sua vida, nada mais cai prende-la, ela sera feliz, assim como Anne pediu.
Se enganando, poderíamos deixar isso acontecer, mas gostamos de ser realistas. Não foi você que libertou, ela fugiu da gaiola e foi se salvar longe das garras do gato malvado.
-Como podem dizer isso? Ela nunca me deixaria, não sem eu deixar, não se eu não dar-lhe essa opção, a opção de fugir, eu deixei que fugisse.
Por isso é um fraco, deixou que a mulher da sua vida fugisse de medo, medo de quem ela casou, pensando que amava, mas não, não amava. Ela o deixou, porque se cansou.
Não vou escutar, eu não vou escutar, Hannah não me deixaria assim, eu a deixei sair, voar, ser feliz, seguir a sua vida.
Mas não era isso que meus moveis diziam, eles conviviam com Hannah o tempo todo, sabia o que ela pensava e achava sobre mim, já que eu só chegava em casa ao anoitecer e Hannah não me dizia nada, nada do dia dela, nada do que achava ruim em casa, nada, nada, nada. Me deixava cego quando o assunto era a vida pessoal dela.
-Vou sair, não quero escuta-los, já me irritaram.
Cuidado para não cair da escada, o chão pode não estar lá para segura-lá
Saio rápido de casa e vou para o parque perto de casa, me sento no banco onde ficava observando Anne brincar quando tinha sete anos.
Papai, olha! Estou balançando tão alto, quase relei no céu dessa vez
Ela adorava os balanços, era onde se deixava ser ela mesma, a menina alegre e solta, que não tinha medo de quase nada. Mas ao descer do brinquedo, a menina fechada voltava e a aberta, feliz, leve e solta, voltava para dentro do casulo, se fechava.
Isso porque você parava de ser o pai que era, ao vê-lá longe
-Eu nunca fiquei feliz ao vê-lá distante, nunca.
-Quero essa menina longe de mim! Só me traz desgosto. Tinha que ser sua filha, não é Hannah! Tal mãe tal filha, duas vagabundas que não servem para nada nessa merda de casa, a não ser bagunçar mais, deixando tudo para que eu arrume.
~Não é o que sua memória diz
-Quem é você e por que está falando comigo?
Eu sou o céu, aquilo que você mais queria de volta está comigo, seus pensamentos pairam pelas nuvens o tempo todo, assim posso saber a verdade de tudo o que diz, ou pensa. Nada se passa despercebido no céu, nada.
Me levanto.
-Cansei de conversar com você céu irei para o meu bar que ganho mais.
*E ele foi, foi para o bar se divertir, beber até não aguentar e no meio da noite achar uma mulher de programa para satisfazer-lhe os desejos sexuais.
Antes de acabar o ato sexual ele já havia dormido, a mulher pegou-lhe todo o dinheiro que acho na carteira e saiu da casa, deixando um bilhete, lhe agradecendo pelo pagamento.
Ronald já não tinha emprego, pedira as contas semanas depois da morte de Anne, e logo não teria como se sustentar
Hannah estava feliz, assim como todos os outros que Ronald deixou para trás*
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