Sarah
A coisa estava ruim. Ou melhor: estava péssima.
Minha relação com Klaus estava num estado em que a única hora que nos víamos era durante as refeições, e olhe lá, porque passei a preferir comer no quarto, já que não aguentava mais aquele ar tenso. E ele apenas direcionava, no máximo, um bom dia, boa tarde ou boa noite à minha pessoa.
Era desagradável. Me lembrava muito a época em que eu era pequena e como era exatamente desse modo que meu pai agia comigo. Até que cresci e parei de me importar – bem entre aspas, digamos assim.
E era isso que eu esperava; parar de me importar. Mas convenhamos, se passou dois meses desde aquele dia e eu já estou por aqui com essa merda.
O negócio é que havia demorado anos para eu parar de me importar – bem entre aspas, novamente – se Rodolphus me dava atenção ou não, então imagina Klaus, que é meu marido.
Tsc, desde quando passei a ligar para este ser?
E aí está mais uma questão a ser indagada. Não gosto de pensar muito nisso, então apenas me contento em pensar que uma relação assim, seja com quem for, não é agradável.
Mas não vou dar o braço a torcer, não, humilhação não é comigo. Ok, eu sei que é mais que minha obrigação me redimir com ele, admito, mas não quero. Não, não.
Ou talvez, eu devesse parar de ser orgulhosa.
Ou não.
Não consigo entrar em um consenso — massageei a têmpora.
Ouvi uma batida na porta.
— Entra — resmunguei, voltando a digitar o capítulo de minha fanfic yaoi no notebook.
— Sarah? — arriscou uma voz conhecida.
— Katherine… — tirei a atenção da tela, elevando minha cabeça até visualizar a silhueta magra passar pela porta.
— Seus pais estão lá embaixo. — foi direta.
Arregalei os olhos, tirando rapidamente o objeto tecnológico de minhas pernas e saindo da cama, até me aproximar da garota, segurando firmemente seus ombros.
— Isso é sério? — olhei fundo em seus olhos.
— Sim. — confirmou, parecendo entediada.
Soltei seus ombros, levando as mãos aos meus cabelos, puxando-os com força.
— E Klaus? Onde está Klaus? — perguntei, a encarando com desespero.
— Ele foi para a empresa Mikaelson — deu de ombros. — Só vim aqui te avisar, tchau — e saiu.
Droga! — praguejei mentalmente. — Agora essa.
Saí do quarto respirando forte, pisando duro até chegar perto da escada, onde me recompus, criando uma cara falsamente calma e serena. Enquanto descia os degraus, fui inventando várias histórias lindas sobre a lua-de-mel e de como minha vida estava maravilhosa e completa, caso eles perguntassem.
Ok, Sarah, seja convincente.
— Pai, mãe! — saudei com um sorriso mais falso que cabelo da Barbie ao chegar à sala, onde estavam sentados no sofá. — A que devo à ilustre presença de vocês em minha casa? — levantei as sobrancelhas.
— Não se faça de cínica para nós, Sarah — meu pai bebericou calmamente o conteúdo da xícara. Provavelmente chá. —, somos seus pais, sabemos quem você é — acrescentou, olhando-me friamente.
— Seu pai está certo — concordou minha mãe, e eu mordi os lábios para reprimir a vontade de perguntar, dessa vez grosseiramente, o que eles faziam aqui.
— Ok — cocei a cabeça, me sentando numa das poltronas ali. —, mas é sério, o que vocês estão fazendo aqui? — encarei-os seriamente dessa vez, fazendo Rodolphus erguer uma das sobrancelhas.
— Um herdeiro… — inclinou o corpo, pousando a xícara na mesinha de centro, voltando à posição anterior para continuar a falar. —, já está esperando um herdeiro?
Meu pai é inconveniente, na minha concepção, mas agora, agora, ele está de parabéns. Fiquei em silêncio por um tempo, tentando processar a pergunta.
— Espera, espera, espera — ergui o braço para frente, fechando os olhos. —, o senhor e a minha mãe vieram aqui para isso? Perguntar essa merda? Quanta vodka vocês beberam hoje? — fitei-os com descrença.
— Controle a boca, Sarah. — advertiu minha mãe, e minha vontade foi mandar ela tomar no lugar onde o sol não bate, mas me contive. — Uma mulher nunca deve usar…
— Palavras que não sejam cultas, eu sei. — revirei os olhos.
Como se eu realmente me importasse com isso, saco.
— Não revire os olhos, sabe como repudio esse tipo de ação, principalmente vinda de você. — que palavras amorosas, pai.
Inspirei e soltei o ar, procurando calma para lidar com aquilo. Era por isso que eu não gostava de ficar no mesmo ambiente que meus pais, e com razão, por que quem diabos iria querer ficar com pessoas que na maioria das vezes só te criticam?
— Certo, certo — sorri forçadamente. —, agora, por que o senhor me perguntou se estou grávida ou não? — indaguei, mesmo já tendo certa noção do que se tratava.
— Pensei que a este ponto já tivesse adivinhado. — semicerrou os olhos, me encarando como se quisesse ler minha alma.
Me remexi na poltrona, desconfortável.
— Hm, tenho o palpite que seja para continuar o negócio da família — mordi o lábio, reprimindo um palavrão.
— Correto. Temos um sobrenome a zelar e Mikael se sente ansioso para ter alguém que cuide futuramente de sua empresa, já que seus outros filhos não pretendem ter crianças. — disse Elizah, de pernas cruzadas. — Provavelmente deve estar falando sobre este mesmo assunto com seu marido no momento — sorriu de lado.
Mais de cinco filhos naquela porra e sobrou pra mim ter filho? Mas que vida fodida eu tenho.
— Hm — encarei a mesinha de centro, antes de voltar meu olhar a eles. —, não estou esperando nada, mas isso vocês já devem ter percebido.
— Uma pena — comentou papai. —, entretanto, espero que isso seja resolvido logo, certo, Sarah? — me encarava inquiridor. Engoli em seco, sentindo meus olhos arderem.
Não, não, não! Filho não!
— S-sim — respirei fundo; entrar em pânico não ajudaria em nada. —, logo, logo vai ter um bebê à vista — completei e mordi os lábios mais uma vez, antes que meus pais percebessem que estes começaram a tremer.
— Assim espero — devolveu minha mãe, levantando-se. Rodolphus fez o mesmo.
— Tenho mais coisas a resolver, já fiz muito com a sua mãe me obrigando a vir aqui conversar sobre algo que você já deveria ter cumprido — olhou-me com indiferença, e até mesmo… desprezo…?
— Hm.
— Cuide-se — finalizou Elizah, com o que eu respondi com um aceno depois de me levantar. Levei-os até a porta, fechando-a depois de terem saído.
Escorreguei por ela, até estar no chão. Me sentia em choque, mal, horrível, acabada.
— Senhora, a senhora está bem? — ouvi a voz de Elena soar pela sala, mas não respondi.
Levantei e corri, subindo escada acima, correndo mais até chegar num dos banheiros do corredor, onde abri a tampa do vaso e despejei todo o nojo daquela conversa em forma de vômito.
Fiquei um tempo ali, parada, olhando um ponto inexistente além da parede do banheiro. Foi com muito custo que levantei e dei descarga, escovando os dentes logo em seguida. Fui calmamente para o meu quarto, fechando a porta atrás de mim.
S•K
— Um filho, né — falei baixo, mexendo a comida com o garfo, olhando fixamente o prato ao invés de Klaus na ponta do outro lado da mesa.
— Sim... — suspirou.
Ergui a cabeça, encarando-o olho a olho.
— Eu quero te conhecer melhor — ditei, tentando passar firmeza em minhas palavras e ignorar a queimação em minhas bochechas.
Eu soei tão patética.
— Tudo bem — era visível a surpresa em sua face, assim como era possível vê-lo sorrir como se acabasse de descobrir que a terceira guerra mundial tivesse acabado. Não que ela ao menos tenha começado, é só um exemplo. —, eu também quero te conhecer melhor.
Mordi os lábios – preciso parar com essa mania, aliás –, sorrindo de leve. Afinal, se Klaus havia se esforçado, por que eu também não?
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