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História Caso 287 - Deus Rá


Escrita por: iTaevil

Notas do Autor


Antes de tudo, deixem-me pedir desculpas pelo tamanho do capítulo. Fiquei um tempinho sem postar, então quis recompensá-los de alguma forma. <3
Obrigada, obrigada por todos os trinta e dois favoritos. Eu adoraria me prolongar nos meus agradecimentos, porém, estou caindo de sono sobre o teclado. :(

Nos vemos nas notas finais <3

Capítulo 5 - Deus Rá


Fanfic / Fanfiction Caso 287 - Deus Rá

Jungkook acocorou-se no canto de uma das curvas do térreo daquele prédio de apartamentos, ao lado de Jimin e Jihyun, que haviam se aconchegado ali. O mais velho, agarrado ao pescoço do irmão e o puxando contra si a cada segundo mais para um abraço que o líder julgou impossível de acontecer por conta das leis da física, sussurrava murmúrios de lástima, preocupação e arrependimento para o mais novo, de quem Jungkook podia ver, mesmo sem interesse algum, as suas maçãs do rosto avermelharem-se de vergonha e arrependimento.

Jeon suspirou, desinteressado dos dramas alheios os quais tinha que lidar todos os dias, e desviou o olhar para o horizonte, onde o sol nascia tão vermelho quanto o líquido que corria por entre as suas correntes sanguíneas. Talvez aquela fosse a primeira vez, em todos os seus vinte anos, que havia parado para ver o sol nascer. Era bonito, muito bonito, como ele parecia rasgar toda a gravidade e os átomos da atmosfera em sua subida magistral e divina.  Ele o fazia sem dificuldades, apenas subindo como um balão de gás hélio solto no ar, e nada parecia ser o suficiente para pará-lo. Era o poder de Eos, a deusa do amanhecer, que banharia toda a humanidade por longas horas em suas vidas corriqueiras e medíocres.

O líder que ainda usava as mesmas roupas negras da madrugada que havia acabado de morrer, começou a julgar o quão possível era que os povos antigos estivessem certos na sua escolha de deuses para enaltecer. Rá, o deus sol, provavelmente realmente o era uma deidade. Era por causa dele que todos os seres vivos podiam-se manter vivos, e ele era o centro de tudo. Todos giravam ao redor dele e ansiavam por ele graças ao seu poder e a sua relevância.

Ele se levantou, percebendo que o nascer perdia sua cor forte e passava a amarelar. Não parecia mais tão imponente, mas ainda assim, tinha a sua robustez. Jungkook apoiou os cotovelos na balaustrada de concreto que meia hora antes suportava o peso de Jihyun e descansou o seu rosto em suas mãos. O vento frio da alvorada soprou seus cabelos e o acastanhado sentiu seus pelos se arrepiarem sob a jaqueta de couro negra.

O garoto fechou os olhos, e apreciou como tudo estava completamente silencioso. Não havia os murmúrios exagerados de lamentação dos Casos, a cobrança de Namjoon, os sermões intermináveis de Hoseok e nem os gritos e as músicas chatas de grupos pop femininos que o último citado amava escutar, mesmo que odiasse admitir. Ainda que ele insistisse em dizer que as acompanhava por conta da beleza do corpo e do rosto das ídolos, não eram raras as vezes que o mais novo flagrara o mais velho a tentar imitar os passos. E Jungkook tinha que admitir: ele era muito bom naquilo.

 Ele sorriu ao pensamento, e abriu os olhos para apreciar cada segundo daquele glorioso nascimento. O sol já estava alto e gracioso com aquela coloração amarelada que teimava em agredir sem dó os olhos negros do jovem líder com os seus raios, porém, Jungkook tampouco se importava se aquilo lhe causaria uma dor de cabeça em poucos segundos. Tudo que era muito bonito, tendia a ser muito doloroso. E com certeza, não havia nada mais lindo e gracioso que o nascer daquele sol.

Jungkook assustou-se ao sentir um peso incomum cair sobre as suas costas. Sempre odiou contato, todavia, aqui estava ele, tendo o seu espaço pessoal tão estimado sendo invadido sem convite. Ele tentou se virar, mas congelou ao sentir o gemido de negação daquele sujeito. Jeon engoliu em seco e encheu o pulmão de ar ao sentir uma risadinha vibrar o seu dorso.

— O que está fazendo, Jungkook?

Ele sentiu seus pelos se arrepiarem mais uma vez, embora agora o motivo fosse outro: o seu nome ter sido pronunciado tão melodiosamente por aquela voz tão doce, e tão baixo em sua percepção auditiva. Podia jurar que ele estava sussurrando em seu ouvido, e aquilo fez os batimentos do seu coração acelerarem. Não estava acostumado, não com aquela proximidade, não com aquele contato todo, mesmo que ele próprio tenha invadido o espaço pessoal do outro, horas atrás. Era confuso.

— Observando o sol nascer. E você, Jimin?

— Ah. — Jungkook sentiu o corpo do outro aconchegar-se ainda mais ao seu, e o mais velho descansar a cabeça em sua nuca. — Eu sempre vinha ver o sol quando acordava antes do despertador. — Ele bocejou. — Não é como se eu fosse conseguir dormir novamente mesmo...

O mais novo soltou o ar que prendia no alto da traqueia quando enfim Jimin parou de falar. Ele o havia confinado em si quando sentiu as palavras do menor vibrarem suas costas mais uma vez, e suas ondas atravessarem o seu corpo. Nunca havia ficado tão próximo de alguém antes, nem mesmo de Hoseok, com quem morava há anos. A sensação era desconcertante, tê-lo ali, grudado a si como se o seu corpo fosse um travesseiro. E não era, nem mesmo de longe, ruim.

— Eu...

— Shh.

Jungkook, quando finalmente havia encontrado palavras para respondê-lo, foi censurado por Jihyun que, apoiando-se pelos cotovelos ao lado de Jeon, mas um pouco mais afastado, olhava para ambos divertidamente.

— O quê? — Jungkook apertou os olhos, o que apenas aumentou o sorriso do irmão de Jimin.

— Ele dormiu. — Respondeu baixinho. — Fala baixo.

 O líder entreabriu os lábios e, virando-se com cuidados maiores do que os necessários, contemplou o rosto adormecido de Jimin. Jungkook engoliu em seco e sentiu que havia cometido um grande erro, ou melhor, mordido a língua — ou o neurônio —, ao julgar o sol como a maior beleza que seus olhos poderiam contemplar.

Desculpando-se com o deus Rá, Jungkook encantou-se completamente. Os cabelos negros, aqueles os quais não estavam grudados pelo suor, bagunçados, caiam-lhe sobre os olhos fechados, elegantemente. Seus cílios, pretos, tocavam a sua pele alva que, de tão perto, parecia ser tão macia quanto a de um bebê, e como ele quis tocá-lo para ter a certeza. As suas bochechas, gordinhas e vermelhinhas, além de inchadas pelos minutos que chorou agarrado ao pescoço de seu irmão, eram absolutamente graciosas; talvez devesse apertá-las, mas isso o acordaria. Ah, e sem falar nos seus lábios, rosados e fartos, os quais Jungkook finalmente havia percebido que nenhuma palavra seria suficiente para descrevê-los. Eram almofadados, tenros, e caramba, entreabertos como estavam, o líder podia ver o dente sinuoso do outro aparecer acanhadamente. Aquele dente, que tanto o havia fascinado apenas algumas horas atrás, porque era, de fato, a coisa mais bonitinha e adorável que o mais novo julgou ter encontrado em toda a sua caminhada.

Talvez Jimin todo o fosse, e não era nada fácil continuar encarando-o de tão perto com o perigo de que, a qualquer momento, ele pudesse abrir os seus olhos. E então, assim como aconteceu consigo quando pegou-se encarando o dente do outro mais cedo, o seu coração acelerou em adrenalina, do jeito que o faria se estivesse cometendo um crime, e prestes a ser pego em flagrante. Por que ele se sentia assim? Ele apenas estava observando os detalhes do rosto de um garoto, por que o seu coração acelerava tão desconfortavelmente em seu peito como se fazer aquilo fosse tão errado?

Jihyun pigarreou, desviando a atenção do líder de roupas negras para si. Estava tão mergulhado em suas sensações, que havia esquecido completamente da presença do outro ali e do resto do mundo ao seu redor. Por um momento, o universo havia-se limitado tão somente a ele e a Jimin.

— O que eu faço, então?

— Deixa o hyung dormir, ele desmaiou de sono. Faz tempo que não dorme. — Deu de ombros, e se aproximou. — Mas me diz, como vocês se conheceram?

— Não é uma posição muito confortável. — Jungkook resmungou. — Taehyung nos apresentou.

Jihyun ergueu as sobrancelhas, surpreso.

— Taehyung-hyung? — Jungkook assentiu em resposta. — Uau, inesperado.

Jungkook franziu o cenho, virando-se com cuidados meticulosos em prol de segurar Jimin com seus braços, sem acordá-lo.

— Inesperado por quê?

— Não te incomoda?

— O que não me incomoda, garoto? — Jungkook já estava sem paciência para os rodeios do outro.

— Mas você e o meu irmão não estão juntos?

Jungkook engasgou-se e, tendo vencido na sua batalha de voltar-se meticulosamente, olhou para o outro com os olhos arregalados.

— Mas de onde você tirou isso?

— Ué. — Ele deu de ombros outra vez. — Meu irmão parece gostar muito de você, e o jeito que você estava olhando para ele, hyung, eu só... sei lá, assimilei.

— Assimilou errado. — Jungkook agachou-se, tentando ignorar por completo o jeito que você estava olhado para ele, e passou as pernas de Jimin por um dos seus braços, o levantando. Jihyun apenas o observava intrigado.

— Para onde vai leva-lo?

— Me diga você. Vocês moram aqui, certo? — Jihyun assentiu. — Vou colocá-lo na cama.

— No nosso apartamento? — Jungkook ouviu a voz do outro falhar. — Não é uma boa ideia. O pai está lá. — Disparou.

Jungkook entreabriu os lábios, vendo como o outro estava extremamente desconfortável tendo que explicar o porquê de não ser uma boa ideia. Ele suspirou: seu dever como líder não era julgar, apenas ajudar.

— E aí, o que eu faço com o Jimin?

Jungkook indagou, e Jihyun apenas deu de ombros uma terceira vez.

 

[...]

 

Hoseok encostou a cabeça no vidro do carro e observou, por sobre as lentes de grau dos seus óculos redondos, as ruas de Jung-gu correrem pelos os seus olhos. Era um bairro calmo, residencial, perfeito para quando quisesse fugir da sua vida estressante e, acima de tudo, esgotante. Todavia, diferente das férias que o mentor idealizava em sua mente cansada, ele estava ali à trabalho, e suspirou ao sentir as rodas da Mercedes-Maybach Pullman preta de Jungkook estacionarem à frente de uma grande casa, tipicamente coreana, mas levemente moderna, de telhado cinza.

Ele desceu do carro, sinalizando para o motorista que o esperasse porque, com o curto pavio de paciência que tinha depois de ter sido obrigado a cancelar a sua viagem para resolver os problemas de Jungkook — mesmo que ele tivesse a sua parcela de culpa pelo mais novo estar naquela situação —, não tinha pretensão alguma de se demorar em sua visita a Taehyung.

Hoseok andou sobre o caminho de pedrinhas brancas até a porta de madeira e tirou a mão destra do bolso de seu sobretudo verde-escuro para dar-lhe leves batidas. Podia escutar, através desta, o barulho de um desenho animado infantil ressoar para fora. Em poucos segundos, a porta se abriu, e Hoseok enfim encontrou Taehyung.

Taehyung, melhor amigo de Jimin, que usava apenas uma calça folgada escura e meias coloridas nos pés. Combinação esquisita, todavia, o seu dorso nu não deixava nada a desejar. O mais novo franziu o cenho, sentindo os olhos de Hobi cravarem em seu corpo e o analisarem de cima a baixo.

— Quem é você?

O mais velho ergueu o olhar ao do outro e o encarou. Tae conseguia ser ainda mais bonito de rosto e, graças a isso, por um momento, Hoseok até mesmo tinha esquecido o que havia ido fazer ali.

— Jungkook, conhece?

E em um segundo, o rosto do mais novo perdeu toda a cor. Ele engoliu em seco e contemplou o rosto do homem mais baixo que ele. Sabia que algo assim iria acontecer mais cedo ou mais tarde, porém, jurava que não seria tão cedo assim.

— Conheço, e você não é ele.

— Não, não sou, porém, você não deveria conhece-lo. — Hoseok franziu a testa. — Como sabe sobre ele?

— Você trabalha para ele ou algo assim?

— Algo assim.

Taehyung encheu os pulmões de ar. Estava na hora de usar e abusar do seu dom para a atuação.

— Se você veio pela confusão na boate ontem, pode deixar que eu e Jimin não vamos mais incomodar vocês.

— Esse não é o ponto, Taehyung.

O mais novo suspirou. Aparentemente, não seria tão fácil dobrá-lo como julgou que seria.

— Eu estou ocupado, então, irei direto ao ponto. — Hoseok ergueu as sobrancelhas ao ocupado. O barulho do desenho infantil era completamente insuportável aos seus ouvidos, e esse havia apenas aumentado quando Taehyung abrira a porta. — Eu estava preocupado com Jimin e procurei ajuda. Fim.

— Isso não explica como você —

— Eu não tenho mais nada a dizer.

Taehyung, envolvendo seus dedos longos na lâmina de prata que ornamentava a porta, a empurrou e incitou a fechá-la. No entanto, foi impedido por Hoseok que, usando de seus pés calçados por botas pretas, adentrou por ela e se aproximou do mais novo.

Jung estava perto, muito perto. Próximo o suficiente para que o mais novo pudesse ver o brilho esverdeado na lente do outro, e o mais velho sentisse a rápida respiração de Kim em suas bochechas. Tae recuou dois passos ao dar-se conta da iminência, porém, não sendo rápido o suficiente em sua escapada, grunhiu ao sentir o de cabelos de mel alcançar o seu pulso e o torcer.

O seu corpo acompanhou o movimento, ajoelhando-se para uma melhor comodidade diante da situação. Taehyung tentou se livrar, mexendo os seus ombros e tentando usar de sua força, todavia, a velocidade era a arma chave de Hoseok, e logo o mais novo gritava por ter o seu braço livre também imobilizado, em poucos segundos, nas suas costas. Queimava, e como doía sentir como se as suas articulações estivessem sendo arrancadas, mesmo que o mais velho parecesse não estar usando de força alguma para mantê-lo ali daquela forma.

Taehyung enfureceu-se. Ninguém podia trata-lo daquela forma, a não ser ele.

— O que você quer, cara? — A voz do mais novo soou rasgada e irada, e Hoseok sorriu a isso.

— A verdade, Taehyung.

— Mas eu já falei—

— Não, você não falou. — Hoseok apertou mais o laço que os braços de Tae davam, e o mais novo apertou as mandíbulas para suportar a dor.

— Eu estava preocupado com o Jimin e fui procurar ajuda na internet. — Grunhiu entredentes. — Tinha um fórum, falava sobre o Jungkook.

— Um fórum? — Hobi franziu o cenho e afrouxou o nó.

Kim assentiu.

— Diziam que o nome dele era Yugyeom e ajudava as pessoas, mas aí eu peguei a foto e fui pesquisar mais. — Molhou os lábios. Aquela merda doía, mas não era o tipo de dor que Taehyung gostava de sentir. Talvez, se fosse ele, havia altas chances de que o garoto gostasse. Sorriu interiormente à sua reflexão suja. — Descobri que o garoto da foto era, na verdade, Jungkook, que estudou em uma escola em Busan no ensino fundamental.

— Um fórum?

— É. — Assentiu com dificuldades outra vez. — O administrador dizia que era... sei lá, um caso, algo assim. Disse que o Jungkook ajudou ele.

— O Yugyeom, você quis dizer. — Apertou mais. O mais novo estava começando a apreciar aquela sensação...

— Não, Jungkook mesmo. — Sorriu sacana. Aquela dorzinha era mesmo deliciosa, embora ainda se sentisse irritado com aquilo. — Não sei porque ele usa outro nome, mas achei que se tivesse algo contra ele, ele se sentiria obrigado a ajudar o Jimin. Bom, não funcionou.

— Sei... — Hoseok suspirou. — O nome Min Yoongi significa alguma coisa para você?

O maior gemeu, sentindo o mais velho reforçar o nó.

— Quem?

Taehyung suspirou aliviado quando Hoseok o soltou, e usou das palmas de suas mãos para se apoiar quando caiu para a frente, no chão frio de madeira clara. Não havia sido tão ruim quanto Tae julgou que seria quando a hora de ser perseguido pela gente de Jungkook chegasse, mesmo que ele sempre soubesse exatamente o que fazer.

 Quando alguém não tem o que esconder, ela abre o jogo relativamente fácil. Há um pouco de relutância por ela estar sendo acusada, algo de orgulho ferido, mas sempre folgam e falam. Não se preocupe, Taehyung, apenas aja conforme o plano.

E assim, como ele o havia instruído, o garoto de meias coloridas o fez. Seu coração acelerou, porém, logo atenuou-se ao sentir, ou melhor, não sentir, Hoseok atrás de si. Kim olhou para trás, e suspirou aliviado ao ver que a sua cena havia sido o suficiente para o mais velho se convencer. Ao que parecia, não seria agora que iria ser caçado, embora Taehyung soubesse que era apenas questão de tempo.

Hoseok acocorou-se ao lado de Taehyung e o tocou a tez. Tae franziu levemente o cenho ao contato, mas preferiu ignorar e devolver o olhar intenso que Hobi lhe lançava.

— Você quer fazer um acordo? — Sua voz soou afetuosa.

— Que tipo de acordo?

— Você mantém a sua boca fechada, e nós cuidamos de Jimin. O que acha?

Taehyung entreabriu os lábios, levemente surpreso. Não esperava uma reviravolta tão vantajosa para ambos os lados como aquela. Bom, talvez nem tão vantajosa para o pobre líder de Seoul.

— Eu acho que essa é uma ótima ideia.

 

[...]

 

Jungkook escorregou o seu corpo pelo tecido percal azul-claro da colcha da cama e apoiou a cabeça em seu travesseiro Tailormade, logo antes de encher o pulmão de ar e sorrir. Era certo que aquele travesseiro lhe havia custado pouco mais de 50 mil dólares, e que, graças a isso, teve que escutar Hoseok initerruptamente reclamar sobre os seus gastos excessivos durante duas longas semanas, porém, Jeon tinha que admitir como aquilo valia cada centavo. A capa de ouro de 24 quilates, o zíper de safira de 22,5 quilates e os cinco diamantes que o ostentavam não era, nem de longe, a parte a qual ele se orgulhava. Era macio, tão macio quanto se estivesse deitado sobre uma nuvem ou algo ainda mais fofo. E por falar em fofo....

            O líder abriu os olhos. Diante de si, do outro lado da sua cama de casal branca Monarch Vi-Spring, a qual havia lhe custado apenas quase 60 mil dólares, estava Jimin. Ele ainda dormia, tão calmo e contemplativo como um anjo que não houvesse problema alguma em sua taciturna vida.

Jeon suspirou. Talvez Hoseok tinha razão quando dizia que o mais novo não tinha limites para gastar. Claro que a sua cama havia custado 60 mil, todavia, ela vinha com mais de 3 mil incríveis molas! O Merchant mesmo dizia como aquele leito dos deuses trazia uma sensação de conforto inigualável ao seu dono, e caramba, eles estavam certos!

— Maldito capitalismo. — Resmungou. Quiçá, seria bom se ele aprendesse a controlar o dinheiro que possuía. Se começasse a pensar no preço da sua Mercedes blindada, ele choraria sem dúvidas. Quantos milhões de dólares havia sido mesmo?

Jimin gemeu, queixando-se do barulho que Jungkook fazia ali, o que chamou a atenção do mais novo. Ele havia entreaberto os lábios e franzido o cenho por poucos segundos, mas os suficientes para que o maior pudesse o tê-lo visto fazer. Park apertou os lábios, como se ainda reclamasse, e Jungkook riu abafado àquilo. Ele era fofo para um caralho.

No outro segundo, Jimin abriu os olhos vagarosamente. E toda aquela demora foi torturante para Jungkook, que ansiava há horas por ver os olhos tão castanhos do outro. Não eram como os seus: pretos, feios e sem-graça. Eram marrons, dóceis e benevolentes. Em meio a todos os seus Casos e a sua convicção de que o mundo se havia perdido em todo o mal, aquelas irises suaves como latte — o seu café expresso favorito —, lhe davam a estranha sensação de que ainda havia algo nos cosmos que valesse à pena. Apenas de olhá-lo, Jungkook tinha o sentimento de que, dentre todos os 285 casos, Jimin era o mais merecedor de o sê-lo um.

— Jungkookie... — Murmurou com a garganta seca.

Jeon piscou, e só então percebeu que o estava encarando. O estava encarando, novamente, e dessa vez, com certeza ele havia percebido porque caramba, seus olhos estavam fixos nos do outro. Seu coração, que dois minutos atrás já havia começado a bater com mais força, acelerou, e mais uma vez Jungkook se viu sufocando naquela sensação de erronia. Suas mãos começaram a tremer, e ele as apertou. Por que cacetes Jimin mexia com ele assim?

— Boa tarde, Jiminie.

Jiminie? Por que Jiminie? Jungkook se xingou internamente e jogou para o alto a intimidade que havia acabado de forçar com aquele apelido. Bom, Jimin havia sido o primeiro, mas...  Ah, estava nervoso!

— Tarde? — Ele bocejou, e usou de seus dedos gordinhos para coçar os olhos, o que forçou Jeon a fazer mais uma anotação mental: aparentemente, as mãos de Jimin também eram extremamente fofas.

— Quase noite. — Jungkook sorriu de canto. — Você hibernou mesmo, hein? Seu irmão disse que não dormia há dias, então deixamos você dormindo. Desculpe ter te acordado.

— É.... — Jimin apertou os lábios e, usando da mão canhota, jogou sua franja para trás. — Eu tenho que terminar um trabalho para a faculdade, e tem o meu emprego, então... — O menor interrompeu-se, levantando-se e se sentando abruptamente na cama, o que assustou o mais novo. — O meu irmão? Onde está o Jihyun? — O moreno olhou apressadamente para o quarto ao seu redor, e já pode sentir o seu órgão pulsante agilizar-se em seu peito. — Onde eu estou?

Não, aquilo de novo, não!

Jungkook riu-se da forma apavorada do outro e se sentou na cama, seguindo os seus movimentos.

— No meu quarto. — Respondeu. — Jihyun disse para não o levar para o apartamento de vocês, então eu te trouxe para a minha casa. Não sabia mais onde te levar.

— O... Jihyun...

Jimin levou a mão canhota ao peito, enquanto usava da outra para se apoiar no colchão. As batidas estavam fortes, violentas o suficiente para fazer o seu peito doer.

— Ele está lá em cima. — Jungkook se aproximou. — Você está bem, Jimin?

Bem.

Jimin sorriu debochado, e encolheu-se entre as suas pernas. Fora o seu peito que doía, o mais velho sentia-se sufocar em si mesmo. Suas mãos tremiam, e logo o ar parecia rarefeito demais para que ele pudesse respirar. Aquela sensação estava voltando, com tanta força quanto nas suas outras crises. Não havia para onde correr, não havia escapatória. Jimin estava preso em si mesmo e não havia saída para aquilo. Era assustador, aterrorizante. Ele queria fugir, mas não haviam caminhos livres quando você próprio é o seu maior medo. Na verdade, ele não tinha medo de si, mas medo de sentir medo. E ele se sentia débil, inútil. Seu coração apertava ainda mais em seu peito. Estava morrendo. Sabia que estava morrendo. Ele iria morrer ali, naquele quarto que nunca vira antes, e ninguém se importaria. Ninguém sentiria a sua falta, sabia disso, porque o seu irmão o odiava ao ponto de tentar tirar a própria vida. Taehyung havia cansado de si, como todos já haviam cansado, e o empurrado para outra pessoa. Essa outra pessoa, a qual estava ao seu lado, observando a sua crise. E que, com certeza, depois disso, sentiria nojo de Jimin e o afastaria. Porque Jimin não era normal. Não havia nada de normal em seu corpo.

— Jimin?

Jungkook o chamou, porém, o mais velho estava enterrado demais em sua instabilidade para ouvi-lo. De repente, os seus olhos encheram-se de lágrimas, e Jimin apertou-se ainda mais entre as suas pernas. Por que ele tinha que viver assim, com todos aqueles problemas que às vezes pareciam não ser suficientes para a sua merda de vida?

Ele só queria... desaparecer. Afinal, não faria falta alguma na vida de ninguém de qualquer forma.  

— Jimin! — Jungkook o tocou, o que assustou o mais velho e o obrigou a encará-lo. O mais novo ergueu as sobrancelhas, surpreso, ao presenciar o seu rosto cheio de lágrimas. — O que foi? Eu fiz algo errado?

— Não me toca!

Jimin fungou, e Jungkook pode perceber todos os outros sinais. A respiração descompassada, o suor que molhava as suas têmporas, as mãos que tremiam. O seu rosto amedrontado, o aumento brusco do medo, a mão no coração.

Jimin estava tendo um ataque de pânico?

Jeon pulou da cama e se ajoelhou à frente de Jimin. Não seria a primeira vez que ele ajudaria a um Caso a controlar um ataque de pânico, mas era a primeira vez que ele se sentia tão nervoso daquele jeito. Talvez, por ver Park naquela situação. Por ser ele.  

Ele alcançou as panturrilhas de Jimin e puxou-as para baixo, fazendo-o sentar na cama e seus pés encostarem o chão gelado da madeira meio alaranjada. O mais velho se assustou e tentou puxá-las de volta, porém Jeon rapidamente alcançou as mãos do outro e entrelaçou os seus dedos. Mais do que qualquer coisa, precisava passar confiança e calma a Jimin naquele momento.

— Jimin... — Sua voz soou suave.

— Eu vou morrer, Jungkookie, eu vou morrer. — Engasgava-se entre as palavras.

Jungkook engoliu em seco. Uau, ouvir aquilo tinha doido.

— Não vai, Jimin.

— Eu vou sim, eu vou...

— Não vai! — Soou mais firme, porém, ainda doce. Jungkook sentou-se sobre os seus calcanhares e grudou sua testa na de Jimin. — Confia em mim, eu não vou deixar nada acontecer com você.

Jimin piscou com a proximidade e ofegou. Ainda assim, sentia que ia desaparecer e desmoronar a qualquer segundo.

— Jungkook...

— Por que você me chama de Jungkook? — O mais novo forçou uma risada. Manter um diálogo com Jimin e desviar a sua atenção era o ponto chave. — Já disse que é Yugyeom.

Jimin entreabriu os lábios.

— Você não tem cara de Yugyeom, eu sinto muito. — Ele riu fracamente, e Jungkook já sentiu-se aliviar. — Combina mais com Jungkook.

— Sabe uma coisa que combina mais? — Jimin murmurou como resposta. — Minha jaqueta em você.

Jimin arregalou os olhos e desgrudou suas testas para olhar para os braços. Nem havia notado que estava vestido com a jaqueta de couro de Jungkook.

— Eu nem havia notado...

— Percebi. — Riu-se. — Mas preto é uma cor que fica bonita em você. É a melhor cor para roupas. Qual a sua favorita?

— Ahm... Para roupas?

— Geral.

— Gosto de azul.

— Azul? Como a cor da minha colcha?

Jimin olhou para o lado, fitando a citada. Era uma cor clara, que trazia muito a sensação de paz e tranquilidade.

— Um pouco mais escuro...

— Jimin, olha para mim. — O mais velho obedeceu sem pensar duas vezes. — Repete o que eu fizer? — Jimin franziu o cenho, mas, pendendo a cabeça, assentiu. — Respirar devagar, até encher o pulmão. — Jungkook o fez, e o outro repetiu, segurando uma risada. Sabia bem o que o mais novo estava querendo fazer. — Segura. — E assim, o comprimiram por cinco segundos. — Solta devagar.

O gás carbônico soprados lentamente pelo hálito quente de ambos se fundiram no ar tão perfeitamente quanto os átomos de oxigênio se ligavam aos de carbono na composição da molécula. Alguns, teimosos, escapavam e tocavam na pele do outro, mornos como a temperatura de suas bocas. Eles repetiram o processo mais algumas vezes, e Jimin não pode evitar que sua risada reprimida escapasse. Jungkook, ainda com os dedos entrelaçados com o do mais velho, franziu o cenho.

— Você está tentando me acalmar, não é?

Jungkook ergueu as sobrancelhas e sorriu incrédulo, abaixando a cabeça.

— Talvez. — Voltou o seu olhar ao de Jimin. — Está funcionando?

Jimin colou suas testas mais uma vez, e assentiu timidamente.

— Como sabia que eu estava tendo uma crise?

— Já presenciei outras algumas vezes. — Ele deu de ombros. — Você é ansioso? — Jimin congelou, mas assentiu após alguns segundos. — Tudo bem, você vai ficar bem. Eu vou te ajudar e cuidar de você.

Jimin sentiu seu coração palpitar uma vez, enquanto as mãos grandes de Jungkook apertavam as suas com força.

— Obrigado... pelo Jihyun. — Molhou os lábios. — E por mim agora, também.

Jungkook entreabriu os lábios, levemente surpreso.

— Não precisa agradecer. — Jeon se levantou, puxando Jimin levemente e o obrigando a também ficar em pé. — Vem, eu vou te levar até o seu irmão.

O mais novo o puxou, porém, Jimin se firmou no chão e o puxou de volta. Seu coração estava nervoso, todavia, precisava daquilo naquele momento.

— Certo, mas... você pode me abraçar antes?

Jungkook piscou.

 

[...]

 


Notas Finais


Eu tô sentindo que esse capítulo beirou ao péssimo, mas eu me esforcei nele. :(
Sinto muito por qualquer coisa.

Uma perguntinha: devem ter percebido que as preferências de TaeTae são meio... masoquistas? Vocês se importariam de que eu fizesse um lemon no próximo capítulo, um pouco mais rough? Digo, selvagem? KEPOSKOS Estou realmente bem afim de testar algo assim!

Por favor, comentem. :) Criticas construtivas e opiniões são sempre bem-vindas!
Eu não beto os capítulos então me perdoem qualquer erro.
Estou morrendo de sono, então, me perdoem por isso também.

Vejo-os em breve. :)


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