História Castaway. - Capítulo Único - Amizade ao Amor.

Jeongguk e Jimin eram aqueles típicos  melhores amigos que estavam sempre juntos por onde quer que fossem, partilhavam segredos, dormiam um na casa do outro e saíam frequentemente. Aquele tipo de melhores amigos que faziam todos os trabalhos em duplas juntos - e os que não eram em dupla também -, riam juntos de piadas bobas, faziam coisas idiotas, caçoavam um do outro e passavam a tarde jogando videogame.

Ambos cultivavam essa bonita relação a mais ou menos sete anos. Se conheciam desde pequenos, quando ainda Jeongguk não entendia o significado da palavra "gostar", ou "amor" e quando passou a conhece-las estava já no oitavo ano escolar e foi porque de fato, começou a amar alguém.

 
E surpreendentemente esta pessoa era Jimin.

No começo não sabia responder o que era aquele sentimento incômodo que brotava em seu peito toda vez que eles se aproximavam demais, ou quando via o amigo conversando com garotas. Seus sentimentos desenvolveram-se lentamente com tamanha sutileza, como uma porção de pinceladas singelas em uma tela em branco produzidas por um artista meticuloso. Toda vez que enxergava Jimin, sentia o estômago dar uma cambalhota, o coração acelerar e as mãos soarem frio. Porém nada era tão fácil. Descobrir o que estava sentindo, foi mais difícil do que aparentava, já que nunca tinha sentido isso antes, e certamente precisava de ajuda para descobrir o que significavam aquelas sensações. Foi em uma tarde chuvosa, sentado de frente para seu primo, o mais velho da família, SeokJin, que segredou tudo o que estava acontecendo a si nos últimos tempos. Com toda a calma do mundo Jin distribuiu tapinhas amigos no ombro do primo e sorriu dizendo "Ah, você está apaixonado Jeongguk!" Apaixonado. Foi a primeira vez que ouviu aquela palavra tão forte ser jogada em sua cara, e de alguma maneira, pareceu chocante, pois era a verdade crua. Foi então que SeokJin falando daquela maneira, parecia mais como se ele estivesse sido descoberto, pego por fazer algo ilegal. Era como se já soubesse daquilo bem no fundo, mas precisasse de alguém para jogar-lhe na cara, mostrar as evidências e confirma-las. Depois da conversa, ambos ficaram em silêncio, ao som da chuva caindo lá fora se despediram, e nenhuma palavra a mais foi trocada.

Lembrava-se de como praguejava no silêncio de seu quarto após ver Jimin o deixar de lado para ficar com as garotas de sua sala, ou de como o amigo tentava de todas as maneiras arranjar uma menina para si. Jimin dizia que se Jeon continuasse a agir daquela maneira recatada, nunca beijaria uma menina, e bom, ele não fazia questão. Ainda naquela época, seus sentimentos eram recentemente aceitos e por isso eram intensos e queimavam como uma chama forte. Era como se o tempo inteiro precisasse tocar Jimin, falar com Jimin ou estar perto do mais velho.

Anos depois um problema surgiu. Após sustentar seus sentimentos por tempo suficiente, no último ano de ensino médio, mesmo que Jimin aparentasse apenas gostar de meninas, ele estava convicto em revelar seus sentimentos a ele. Toda vez que encarava a face sorridente do amigo sentia como se fosse sufocar com a pressão, com a dor no peito e com a falta de ar. Estava cansado de disfarçar, de desviar seu olhar ou inventar desculpas para se aproximar ou toca-lo.  Planejava se confessar para o amigo logo no dia seguinte a volta das férias, mas seus planos se arruinaram quando uma aluna nova ingressou na escola, e caiu em sua turma. Uma garota bonita, de  nariz arrebitado e pequeno, cabelos castanhos, os olhos como duas pequenas amêndoas e a boca cheinha. Sua visão se tornou turva assim que ela sentou-se entre a carteira que o separava de Jimin e os dois se tornaram bons amigos. Passaram a se falar quase todos os dias e aquilo era quase uma tortura. Com sua amizade, Jeon sentia-se traido e posto de lado. Lanchavam juntos, havia dias que até iam embora juntos, e deixavam Jeon para trás andando em silêncio. Nos dias de chuva dividiam o guarda-chuva, e nos dias de sol ambos estavam sempre sorrindo animados. Minjee era simpática, doce, leve e alegre. Combinava muito mais com Jimin do que ele próprio, que era fechado, silencioso, ruim com palavras e... um garoto. MinJee era comunicativa, dava-se bem com todos os professores e também tirava ótimas notas, perfeita para Jimin. 

Em um dia qualquer de chuva, quando o céu estava uma mistura de nuvens cor de carvão e azul cobalto, a professora de Química Prática resolveu trocar as duplas, fazendo com que MinJee e Jimin caissem juntos quase que por destino. Nunca conseguiu se esquecer a maneira da qual o amigo corou quando sentaram-se juntos e a turma começou a fazer piadinhas sobre os dois. Acabou sendo colocado numa dupla com um dos alunos mais desleixados da sala e tudo o que recebeu de seu melhor amigo fora um mísero olhar de pena. Foi naquele dia que levou um tapa da realidade. Aos poucos, Jeon não conseguia mais esconder o ciúmes que crescia cada vez mais e seus olhares amargos aos dois. Mas ninguém notava, era como se a nova diversão da sala fosse MinJee e nada mais. Sentia seu amor murchar e as expectativas reduziram-se a zero. Sentia-se um tolo por mentir para si próprio. Mesmo que Jeon dissesse estar conformado com tudo, seu interior chorava com as coisas que tinha idealizado, sobre as expectativas que havia criado na mente. Nada mais que um tolo, afundando-se em suas próprias mentiras, tudo que podia fazer daqui para frente era assistir seu coração se partir aos poucos.  

Em uma tarde qualquer, quando o sol estava brilhante no céu, Jimin, ele e MinJee resolveram sair juntos. Sentados ele e a garota sozinhos, ela se inclinou sobre seu ouvido e confessou tudo o que sentia por Jimin, terminando tudo com um pedido que ajuda para conquistar o amigo. Seu coração se comprimiu tanto que ele ficou sem ar, a saliva se assemelhando com espinhos doloridos era difícil de engolir. Sentado em um banco de uma praça, a primeira reação que teve foi se afastar bruscamente e sair daquele lugar, sair de perto daquela garota detestável. Detestável por se apaixonar, por se meter em sua relação, por se achar no direito de cultivar sentimentos sendo que ele o amava a muito mais tempo, um amor egoista, Jeon sabia, mas ainda o amava. A medida que corria em direção a casa dizia a si mesmo que esqueceria aquilo, que deixaria seus sentimentos de lado pela felicidade de Jimin. Que aprenderia a amar verdadeiramente deixando-o ir. Mas a verdade era que Jeongguk queria ter a chance de ser amado como tinha certeza de que Minjee era, tocado e olhado com tanto carinho como Minjee era. Porém não podia fazer mais nada. Além de covarde, podia dizer que era um fracasso rodeado por um estranho sentimento de total impotência, como se lutasse em uma guerra perdida. 

Era por aqueles motivos que ele se encontrava chorando silenciosamente no terraço, com os joelhos encolhidos contra o peito, em uma posição miserável. A sua volta, milhares de bolinhas de papéis amaçadas com força e cadernos espalhados. Jimin e Minjee estavam namorando, mas não conseguiu fazer mais do que dar parabéns a Jimin e logo após se esgueirar por entre os corredores para lamentar sua desilusão sozinho. Sentado naquele chão frio e duro como mármore, sentia o gosto salgado das lágrimas, e a cada vez que mais delas caíam, Jeon passava as costas das mãos nas bochechas para limpa-las. Estava com raiva de tudo no momento e meio que se sentia um tolo chorando, sendo que já sabia das consequências daquilo tudo. Mas o que ele podia fazer? Tinha o direito de se lamentar sem ao menos ter feito algo? Sem ao menos ter impedido? Não. 

Um tolo, pensava. 

Mais do que antes, agora Jeon tinha certeza. Ele amava Jimin, mas não seria correspondido.