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História Castelo de Cartas - Como ser a protagonista de um filme de terror


Escrita por: Miss_Giannini

Notas do Autor


Konbanwa minna-san ^^

Capítulo 8 - Como ser a protagonista de um filme de terror


Fanfic / Fanfiction Castelo de Cartas - Como ser a protagonista de um filme de terror

            Eu já havia dado tantas voltas no mesmo lugar que seria perfeitamente possível o chão ruir a qualquer momento. Pois é só isso que eu consigo fazer quando estou nervosa ou ansiosa: andar em círculos feito louca. Nessas situações, gostaria de ser calma como Aurora, que buscaria um lado positivo na situação, ou até como Jimin, que procuraria algo com que tirar sarro.

            Até eu chegar em casa, o dia foi perfeitamente normal. Consegui tirar um belo 8 na tão temível prova de biologia e Lisa e eu levamos Alice para ver o treino dos meninos depois da aula. Ela estava muito animada, sentia como se fosse um jogo para valer e queria gritar palavras motivacionais – era até engraçado, como se ela nunca tivesse visto um jogo de futebol.

            - Por que o Hobi-oppa não sai daquela área? Deve ser solitário ver os outros jogando e não sair do lugar – perguntou Alice em algum momento com uma carinha confusa que fez Lisa rir.

            - Você não é ligada em esportes mesmo, hein, garota!

            - É bom para o Hobi, ele tem uma visão bem ampla e consegue perceber os padrões adversários para bolar estratégias depois – expliquei, depois de dar uma cotovelada de leve em Lisa. – Hobi é o maior orgulho do time, dificilmente perde uma bola.

            O tempo passou rápido porque estávamos nos divertindo, havia um certo sentimento de nostalgia em ver Lisa explicando as regras do futebol para Alice e ajuda-la, fazia com que eu me lembrasse de nossa infância, quando Tae me ensinou a jogar e Lisa me ensinou as regras, porque para Tae elas não eram importantes. “Do que adianta saber teorias se na prática você não tem técnica?”, dizia ele, e nem preciso dizer o quanto foi difícil para o garoto se acostumar que a vida é assim, né?

            - Ah, cara, eu preciso de um banho gelado – Hobi jogou a cabeça para trás e apoiou os braços nela, passando a andar despreocupado, Lisa me lançou um olhar e eu rapidamente captei suas intenções: apertamos nossas garrafinhas d’água em sua direção e ele deu um grito agudo e engraçado. – Eu vou matar vocês duas!

            Nossa breve guerra de água foi bem divertida até o técnico aparecer do além e começar com sermões para cima de nós, ele disse pelo menos cinco vezes sobre o quanto a água é um bem raro e finito e que há países sem enquanto nós, os baderneiros desordeiros, a usamos como bem queremos como se não houvesse amanhã.

            O técnico disse para ficarmos onde estávamos pois ele iria pegar o material de limpeza para enxugarmos a quadra. Claro, até porque se você abrir a jaula e dizer para os macacos “ei, não saiam daí, vou ali pegar umas bananas e já volto” eles certamente iram lhe ouvir.

            - Acho que já estamos longe o suficiente, podemos andar agora? – Perguntou um Taehyung ofegante que havia parado de correr.

            - Acho que alguém está fora de forma...

            - Falou a sedentária – revirou os olhos e mostrou a língua -, eu tenho razão para estar cansado, acabei de sair do treino!

            - Isso é desculpa esfarrapada! Tenho certeza que se você quisesse, poderia correr uma maratona agora mesmo!

            - Por que viver tão na correria e perder as pequenas coisas quando podemos andar e aproveitar a jornada? – Perguntou com um sorriso, olhei para ele com uma sobrancelha arqueada e ele riu.

            - Okay, tirou isso de que livro, Lispector?

            - Da minha mente mesmo! Ainda acha que eu sou 90% idiota e 10% gênio?

            - Não, agora é 95% idiota e 15% gênio.

            - Mas aí dá 110%...

            - Nunca disse que eu fosse boa em matemática! Eu sou de humanas, Einstein. – Ele riu mais ainda e minha risada se uniu à sua em instantes, era minha melodia favorita, demorei um bocado para recuperar o fôlego. - Mas sério, acho melhor a gente ir mais rápido, logo vai chover.

            Com isso, consegui convencê-lo, aceleramos um pouco e durante o caminho tivemos uns papos muito loucos, concordamos que nossa melhor opção de futuro era vender nossa arte na praia. O que na verdade não seria ruim, afinal, Taehyung e eu não somos nem de humanas nem de exatas, somos de indecisas, então poderíamos vender meus quadros na beira do mar enquanto não decidirmos se querermos ser astronautas ou mergulhadores.

            Meu pesadelo começou quando cheguei em casa, perto do anoitecer.

            - Kook? – Aurora abriu a porta antes que eu entrasse e fez uma careta. – Ah, é só você.

            - Também estou muito feliz em te ver, Aurora – resmunguei e passei por ela, finalmente entrando em casa. – Obrigada pela recepção.

            Subi para o segundo andar e fiquei aliviada ao encontrar a porta de Jungkook fechada, ele só a deixa assim quando está dormindo, então significa que ele já está em casa. Concluí que ele devia ter tido um dia difícil na faculdade e preferi não abrir a porta feito louca como ele costuma fazer.

            Segui para o meu quarto e tomei um banho quente, a chuva já havia começado a cair e trazia consigo um vento gelado. Vesti um conjunto de moletom confortável e minhas pantufas de coelhinho favoritas, estava secando o cabelo quando vi um envelope sobre meu travesseiro.

            E eu o abri, ainda que um pouco relutante.

            Busan, 10 de janeiro de 2028

            Mahina,

            Quando estiver com esta carta em mãos, a noite já terá caído. Como eu sei disso? Porque hoje foi dia de ver o treino dos meninos, e se tudo tiver dado certo desde a última vez que nos falamos, essa foi a primeira vez que Alice assistiu ao treino.

            Preste atenção quando eu digo que a chuva sempre lhe trará confusão, e que fique aqui anotado como lembrete: às vezes, depois da chuva vem a calmaria, e outras vezes, um tsunami. E é isso o que virá para você hoje à noite: o maior tsunami de sua vida.

            Não pedirei que o evite, evita-lo seria o mesmo que pular o conteúdo da história e ir direto para o final. E não estou dizendo isso porque seria o caminho mais fácil e totalmente sem graça, mas porque ele faz tão parte do todo do que todo o resto, entendeu? Tudo bem, eu também não entendi no começo, mas prometo que um dia fará sentido.

            O que importa agora é cuidar de Jungkook.

            Você, como uma excelente cabeça oca, não confirmou se ele efetivamente estava dormindo. Não a culpo, eu também fiz isso no passado, e é por isso que estou aqui hoje: você precisa abrir a porta daquele quarto.

            Mahina, cuide de seu irmão, ele tem vinte e dois anos, mas tem a mente de uma criança de três. Saiba que você não o conhece de verdade, e quando o conhecer, será tarde demais, se aproxime dele, vocês são irmãos! Pergunte mais vezes como ele está ou como anda a faculdade, garanto que não se arrependerá.

            Nem todos sorrisos escondem felicidade, Mahi.

            Por favor, proteja Jungkook, é só o que te peço.

                                                                                                                                  Mahina

 

            Não sabia dizer se as lágrimas que manchavam o papel eram minhas ou da Mahina do futuro, possivelmente de ambas, tinha certeza de que ela havia chorado ao reler isto. Estudando o papel com mais cuidado, pude notar que havia uma mancha sutil de sangue em uma das laterais, resta saber se isso foi apenas um corte com o papel na correria ou se foi intencional, já nem sei mais o que pensar.

            E outro maldito número no verso: 2

            Guardei a carta junto das outras e fui até o quarto de meu irmão, abri a porta sem pensar duas vezes. Intacto. A cama estava arrumada e a janela fechada havia deixado o quarto abafado, seu uniforme estava dobrado sobre a cama, a bolsa não havia sido tocada, os enormes livros de anatomia e corpo humano repousavam tranquilamente sobre a escrivaninha lotada de papéis.

            Na verdade, o quarto inteiro estava lotado de papéis, a lixeira transbordava e podia jurar que havia papéis saindo até debaixo de seu colchão, mas não perdi tempo levantando-o para ver do que se tratava. Voltei para o meu quarto e liguei para Taehyung com as mãos um pouco trêmulas.

            - Já estava indo dormir, espero que seja importante – ele bocejou e tenho certeza que esfregou os olhos, sempre faz isso.

            - Kookie está por aí?

            - Não, por que estaria?

            - Ele deu notícias ou algo do tipo?

            - Disse que iria em uma festa, não lembro bem -  ele bocejou outra vez e eu estava a ponto de abrir um buraco no chão. – Por quê?

            - Você sabe para onde ele foi?

            - Aish, Mahina, como é que eu vou saber?! Ele é seu irmão, não meu.

            - Mas é seu melhor amigo...

            - Pode me contar o que está acontecendo com o hyung? Está me deixando preocupado! – Sua voz tornou-se impaciente e eu engoli em seco, já sentindo um nó se formando em minha garganta.

            - A última vez que o vi foi ontem antes de ir para a aula, Tae, estou com medo de algo ter acontecido...

            Eu não estava com medo, eu estava aterrorizada. Havia sangue e lágrimas na carta, se isso não for uma metáfora, eu não sei mais o que é. O que aconteceu com o Jungkook do futuro? Ele sequer foi para a faculdade ontem e muito menos hoje, onde raios ele pode estar? Eu fui muito estúpida de não ter ligado para a polícia quando recebi aquela mensagem – teria sido essa a minha culpa?

            - Mahi... – a voz de Tae falhou um pouco, tive certeza de que ele sabia que eu estava a ponto de perder a cabeça – Quer que eu vá até aí? Sei que sua mãe não fica em casa hoje, então ela nem iria saber que eu estarei aí...

            - Não precisa, melhor não arranjarmos problemas desnecessários – suspirei, a verdade é que eu queria sim que Tae viesse para cá, mas algo me dizia que eu precisava enfrentar essa situação sozinha. – Ligarei caso souber de algo, esperarei Kook voltar.

            Desliguei o telefone e sentei em minha cama com os cotovelos apoiados nos joelhos. Eu devia ligar para minha mãe? Ela voltaria para casa no mesmo instante e ficaria maluca, de nada adiantaria, além do mais, sabia que Kook não gostaria que eu fizesse isso.

            Ouvi batidas na porta e me assustei nem sei por que, afinal, Aurora bate com medo de machucar a porta e só há nós duas em casa. Minha irmã estava com uma camisola de seda e uma expressão que não sabia dizer se era de sono ou preocupação.

            - Estava chorando?

            - Não estava – enxuguei o rosto com força na manga de meu moletom e desviei o olhar. – O que foi?

            - Estou achando estranho o Kook ainda não ter chegado, acho que ele ficou preso na faculdade por conta da chuva.

            - Acho que sim – menti. – Ou deve estar a caminho.

            - O telefone dele diz que está sem área, devemos ligar para a mamãe?

            - Não, Kook está bem, já deve estar vindo – suspirei, queria conseguir acreditar em minhas próprias palavras e ser capaz de lutar contra este nó em minha garganta. – Você devia dormir agora, Aurora, está tarde e amanhã tem aula.

            - Você também devia dormir, Mahina – respondeu com um bocejo, dei um sorriso fraco.

            - Não estou com sono, vou esperar o Kook chegar.

            Tentei passar confiança em minhas palavras, acho que consegui, visto que ela acabou por aceitar ir dormir. Ou nem tanto assim, já que ela perguntou o que eu estava escondendo e eu insisti em dizer que nada.

            Não estava no clima para ver televisão, mas deixei-a ligada apenas para que o silêncio ensurdecedor de casa não me enlouquecesse. Será que ele estava realmente bem? Jungkook vive dizendo que não tem frio, por isso nunca leva jaqueta, mas seu toque é frio como gelo, ele certamente voltaria resfriado.

            Meu irmão e eu não somos distantes um do outro, mas também não somos lá tão próximos, vivemos nossa vida sem compartilharmos um com o outro, tudo que precisamos ter em mãos são informações para chantagens ou implicâncias, o resto sempre foi o resto. Mas agora era diferente, sentia que pelas palavras enigmáticas da carta, não era apenas legal conhecer Jungkook de verdade, mas de suma importância para o futuro.

            De súbito, lembrei do número anônimo que havia mandado mensagem para mim na noite anterior. E se não fosse um amigo, mas um sequestrador? Meu irmão nunca fez nada de errado depois de entrar na faculdade, pelo menos não que eu saiba, que motivos ele teria para ter problemas com um sequestrador? Nós nem temos tanto dinheiro para oferecer pelo resgate.

            E então tomei uma decisão louca.

            Eu: Onde está Jungkook? Ele ainda não veio para casa.

            Unknown: Está comigo, gatinha, não é o bastante?

            Eu: Se ele não estiver aqui em uma hora, ligarei para a polícia.

            Unknown: Ameaçando um desconhecido? E se eu fosse um sequestrador?

            Eu: Traga-o ou ligarei para a polícia agora.

            Unknown: Às suas ordens, gatinha.

            Uma hora. Duas horas. E nada. Nenhum sinal de Jungkook. O sono mal tinha espaço em mim de tanta preocupação que eu tinha. A chuva não dava trégua e os trovões me assustavam, vez ou outra um clarão iluminava a janela, o que não melhorava em nada a situação.

            Era o cenário perfeito para um filme de terror: a garota sozinha em casa em uma tempestade, ela estava aterrorizada e qualquer barulhinho já era motivo para um olhar desconfiado até mesmo para a lâmpada. Ela foi a última a sobreviver e o assassino ainda estava à espreita, apenas esperando o melhor momento para o bote. E por que raios ela ainda não ligou para a polícia?! – Sempre tem a cena em que nos perguntamos isso.

            Quando caiu a ficha de que eu estava agindo tipicamente como uma garotinha assustada e clichê de qualquer filme de terror, tive a brilhante e tardia ideia de ligar para a polícia. E como em todo filme clichê de terror, foi exatamente nesse momento em que alguém bateu na porta. Exatamente às 2:43 da madrugada.

            Contudo, aquela era apenas a primeira de muitas vezes que ele apareceria em minha porta, passando, infelizmente ou não, a ser parte de minha vida.

            O assassino?

            Não. Meu tsunami.


Notas Finais


><


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